Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo!



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A quilômetros dali, Pain comia uma costeleta de porco. Tirara-a, juntamente com algum pão e queijo e uma garrafa de Jim Beam, de uma casa que assaltara. Fora muito simples, enquanto a família estava na igreja. Vira-os sair de casa, todos elegantes nas suas roupas de domingo, e apinharam-se numa minivan reluzente. Hipócritas. Iam à igreja para mostrarem os seus bens materiais. À casa de Deus para ostentarem o que tinham.


    Deus ia castigá-los, como castigava todos os orgulhosos e presunçosos. E Deus não o abandonava, pensou, enquanto limpava o osso de porco.


    Encontrara muita comida naquela casa grande. Carne que sobrara do jantar de ontem. Suficiente para voltar a dar-lhe forças. E bebida para matar a sede, nesta hora de necessidade. Este era o seu teste, a sua travessia do deserto.


    Atirou o osso para o lado e bebeu um longo trago da garrafa.


    Por momentos, desesperou. Porque estava a ser castigado, um homem que se regia pela moral e pela justiça? Depois, tudo se tornou claro. Estava a ser testado, para provar o seu valor. Deus o pusera diante da tentação, uma e outra vez. Algumas vezes fora fraco, algumas vezes sucumbira. Mas agora lhe era dada esta oportunidade.


    Satanás vivera em sua casa, debaixo do seu teto, durante dezoito anos. Ele fizera tudo o que pudera para expulsar o demônio, mas falhara. Desta vez, não falharia.


    Pegou na garrafa e deixou que o calor do uísque lhe desse força. Em breve, muito em breve, completaria a tarefa que lhe fora dada. Descansaria, rezaria. Depois, o caminho seria revelado.


    Fechou os olhos e enrolou-se para dormir. Deus não o abandonava, pensou, e pôs a mão sobre a arma que tinha a seu lado.


    


    Sakura viu o carro do chefe Hatake rolar devagar pelo caminho de acesso à sua casa, afastar-se e tomar a estrada na direção de Progress. Estava sentada no mesmo lugar desde que o tio lhe contara o que acontecera à sua mãe, no velho balanço do alpendre da frente.


    Era a sua imobilidade que preocupava Sasuke. A sua imobilidade e o seu silêncio.


    - Saki, vem para dentro e se deite um pouco.


    - Não quero deitar-me. Estou bem. Gostava de sentir mais do que sinto. Há um nada dentro de mim, onde deveria haver dor. Estou a tentar inscrever lá qualquer coisa, e não consigo. Que tipo de pessoa sou eu, que não consigo sofrer por ter perdido a minha mãe?


    - Não te martirizes.


    - Senti mais dor e mais pena pela Matsuri. Uma mulher com quem estive uma vez. Senti mais horror e mais choque por uma estranha do que por alguém que é do meu próprio sangue. Olhei para os olhos do meu tio e vi a dor, a tristeza. Mas não nos meus. Não tenho lágrimas para chorar por ela.


    - Talvez já tenha chorado as suficiente.


    - Falta qualquer coisa dentro de mim.                        


    - Não, não falta. - Deu a volta e se ajoelhou diante dela. - Ela deixou de fazer parte da tua vida. É mais fácil lamentar a morte de um estranho do que a de alguém que devia ter feito parte de ti e não fez.                                                                                                                                                                                


    - A minha mãe está morta. Acham que foi o meu pai que a matou. E a pergunta que está na minha cabeça, que ocupa o meu pensamento neste momento, é por que razão queres ficar com alguém que vem de uma coisa destas?   


    - Tu sabe a resposta. E se o amor não for suficiente, acrescentemos o bom senso. Tu não é os teus pais, assim como eu não sou os meus. A vida que começarmos e construirmos juntos é nossa.


    - Eu devia ir embora. Mas não vou. Preciso de ti. Quero tanto ter o que podemos conseguir juntos. Por isso, não vou me encher de coragem para ir embora.


    - Minha querida, não conseguiria dar dois passos. Soltou o ar numa gargalhada trêmula.


    - Talvez eu saiba isso, Sasu. - Era tão fácil tocar-lhe, passar as pontas dos dedos pelas pontas douradas do cabelo dele. - Achas que estaríamos juntos, se a Hope estivesse viva? Se nada do que aconteceu tivesse acontecido e tivéssemos crescido aqui como pessoas normais?


    - Sim.                                                                                                                                      


    - Às vezes a tua confiança é um conforto. - Foi até ao outro extremo do alpendre, para olhar para as árvores que mergulhavam o pântano em sombras. - Esta é a segunda morte, desde que voltei a casa. Achei que a segunda ia ser eu. Mas ele virá à minha procura.                                                                                  


    - Não vai conseguir se aproximar de ti.


    Sim, pensou ela, a confiança dele podia ser reconfortante.


    - Ele virá. Tem de tentar. - Endireitou-se e virou-se para trás. - Pode me arranjar uma arma?


    - Saki...


    - Não diga que vai me proteger, ou que a polícia vai encontrá-lo e impedi-lo. Acredito nisso tudo. Mas ele virá tentar apanhar-me, Sasuke. Sei isso com toda a certeza. Tenho de ser capaz de me defender, se for obrigada a isso. E vou defender-me. Não vou hesitar em acabar com a vida dele para salvar a minha. Já fiz isso uma vez. Mas agora a muito em jogo. Agora, tenho a ti.


    Sasuke teve uma sensação de náusea no estômago, mas acenou com a cabeça. Sem dizer nada, foi até ao carro e abriu o porta-luvas. Começara a trazer aquele revólver consigo desde o homicídio de Matsuri.


    Levou-o a Sakura.                                                                      


    - Isto é um revólver, um trinta e oito.


    - É menor do que eu imaginava.                      


    - Era do meu pai. - Sasuke virou o velho Smith & Wesson na mão.


    - É aquilo a que poderia chamar um revólver discreto, porque é compacto. Sabe dispará-la?


    Ela pressionou os lábios um contra o outro. Parecia sinistro e eficaz na mão dele. Na sua mão elegante de agricultor.


    - Puxo o gatilho?


    - Bem, há mais umas coisas, a saber. Tem a certeza de que é isto mesmo que quer Saki?


    - Sim. - Suspirou. - Sim, tenho certeza.


    - Então vamos lá para fora para eu te dar umas lições.


 


 


 


    Hinata cantava numa voz surpreendentemente leve e doce enquanto levava as compras, escada acima, até ao apartamento de Naruto. A Abelha saltitava atrás dela, cheirando o ar que guardava inúmeras recordações de cães, gatos e ratinhos de estimação. Encantada consigo própria, Hinata mudou os sacos para a outra mão, pegou na maçaneta e abriu a porta com o quadril.


    No meio da sala, deitado num tapete velho, estava Mongo, com a cabeça entre as patas. Bateu com a cauda no chão e levantou a cabeça quando Hinata entrou.


    - Olá, olá. Está muito melhor, sua coisa grande. Abelha, o Mongo está se recuperarando. Não lhe morda as orelhas. Ele vai engolir-te num instante. - Mas a Abelha já estava a cheirar, a mordiscar e a empurrar.


    - Bem, acho que é melhor conhecerem-se, afinal. Onde está o doutor?


    Encontrou-o na cozinha, a olhar para uma chicara de café.


    - Aqui está ele. - Deixou cair os sacos em cima da bancada e depois se virou para lhe lançar os braços à volta do pescoço e beijá-lo no alto da cabeça. - Tenho uma grande surpresa para ti, doutor Naruto. Hoje vai jantar comida caseira. E, se se portar bem, tenho uma surpresa para a sobremesa.


    Uma metralhadora de latidos vinda da sala fê-la sair da cozinha a correr.


    - Oh, mas que amores! Naruto, venha ver isto. Estão brincando. Bem, o cão está quase a esmagar a Abelha com uma pata, mas estão se divertindo muito.


    Ainda estava a rir quando voltou à cozinha, mas parou ao ver a cara de Naruto.


    - Querido, o que se passa? Correu alguma coisa mal com o cavalo, ontem à noite?


    - Não, não. A égua está bem. A minha tia, a irmã do meu pai, morreu. Foi assassinada hoje de manhã.


    - Oh, meu Deus! Oh, Naruto, isso é horrível. Mas o que é que se passa aqui? - Sentou-se diante dele, desejando saber o que fazer. - A irmã do teu pai? A mãe da Saki?


    - Sim. Nunca mais fui visitá-la. Meu Deus, já nem me lembro da última vez que a vi. Nem sequer me consigo recordar da cara dela.


    - Está tudo bem.


    - Não está nada tudo bem. A minha família está a desfazer-se. Por amor de Deus, Hinata, pensam que foi o meu tio que a matou.


    Foi o horror nos olhos dele que a fez controlar o seu.


    - Ele é um homem mau, Naruto. Um homem mau e perigoso, e não tem nada que ver contigo. Lamento pela Sakura, juro que sim. E pela tua tia e pela tua família. Mas... Bem, vou dizer o que penso, mesmo que fique zangado comigo. Ela o escolheu, Naruto, e ficou com ele. Talvez isso seja um tipo de amor, mas é um mau tipo. É um tipo lamentável.


    - Não sabemos o que vai às vidas das outras pessoas.


    - Ora, a droga é que não sabemos. Estamos sempre a dizer isso, mas sabemos. Eu sei o que se passava nas vidas dos meus pais. Sei que se tivessem tido coragem e determinação, teriam feito o casamento deles dar certo, ou então teriam posto fim. Em vez disso, a minha mãe agarrou-se ao nome Uchiha como se fosse uma espécie de troféu, e o meu pai meteu-se com outra mulher. E de quem foi à culpa? Passei muito tempo a acreditar que a culpa foi da outra mulher, mas não foi. Foi do papai, por não ter respeitado os votos do casamento, e da mãe, por ter permitido isso. Talvez seja mais fácil dizer que a culpa de tudo isto é do Pain. Mas não é. Mas também não é tua, nem da Sakura, nem do teu pai.


    Afastou-se da mesa.


    - Gostava de ter qualquer coisa agradável para dizer. Ter coisas doces e agradáveis para dizer, mas não tenho jeito para isso. Acho que deve querer ir ter com o teu pai, agora.


    - Não. - Manteve os olhos fixos no rosto dela desde que ela começara a falar. - Ele está melhor com a minha mãe. Ela sabe confortá-lo. Quem diabo teria pensado que tu sabe me confortar? - Estendeu a mão. Quando ela a agarrou, ele puxou-a para si e ficou com a cara junto da barriga dela. - Fica comigo?


    - Claro que sim. - Passou-lhe a mão pelo cabelo. Sentia-se a tremer por dentro, uma sensação estranha. - Vamos ficar aqui sossegados, durante um tempo.


    Ele abraçou-a, surpreendido com o fato de ela ser uma âncora para ele.


    - Estou aqui sentado desde que o meu pai telefonou. Não sei há quanto tempo. Meia hora, uma hora. Gelado por dentro. Não sei o que vou fazer pela minha família.


    - Vai saber, quando chegar à hora. Sempre sabe. Quer que te faça café?                                            


    - Não, obrigado. Tenho de telefonar à minha avó e à Saki. Mas primeiro tenho de pensar no que vou dizer. - Com os olhos fechados e o rosto pressionado contra ela, ouviu os cães a ladrar na sala. - Vou ficar com o Mongo.              


    - Eu sei querido.


    - A pata dele está ficando boa. Vai demorar algum tempo para sarar completamente, mas ele vai ficar bem. Talvez um pouco coxo. Pensei em encontrar uma boa casa para ele ficar, mas... Não consigo. - Olhou para cima, confuso. - Porque é que disseste eu sei? Eu nunca fico com cão nenhum.


    - Ainda não tinha encontrado o cão certo, pronto.       


    Olhou para ela com os olhos semicerrados, mas as covinhas da sua cara tornaram-se mais profundas, como acontecia quando estava divertido.


    - Estás ficando muito esperta e sensata.                            


    - É o meu novo eu. Pela parte que me toca, estou satisfeita.


    - E este teu novo eu faz o jantar?


    - Em ocasiões raras. Comprei uns bifes e uns acompanhamentos.


    Foi até à bancada, remexeu no saco e tirou de lá duas velas brancas. - Lá no mercado, a Lucy perguntou-me que tipo de jantar estava eu a planejar, para comprar carne de vaca e velas brancas e um apetitoso cheesecake que estava numa caixa.


    Ele sorriu um pouco e levantou-se da cadeira.


    - E que disseste tu à Lucy, lá no mercado?


    - Disse-lhe que ia preparar um jantar romântico para dois, eu e o doutor Naruto. Alguns ouvidos interessados ficaram radiantes com este pedacinho de informação. - Pousou as velas. - Espero que não te importe com a minha indiscrição e que passemos a ser assunto de conversa e especulação consideráveis.


    - Não. - Abraçou-a e pousou o rosto no cabelo dela. - Não me importo.


    - Karin, querida, não acho isto bem.


    - Ora, Suigetsu, vamos dar os sentimentos a amigos e a vizinhos.


    - Tentando encontrar uma posição confortável, Karin mexeu-se no assento do carro, apoiando a barriga num braço. - A Sakura acabou de perder a mãe e vai fazer-lhe bem algum carinho.


    - Talvez amanhã. - Suigetsu lançou um olhar aborrecido à estrada que tinha à sua frente. - Depois de amanhã.


    - Ora, nesta altura é que não deve estar em condições de cozinhar uma refeição decente. Por isso, vou levar-lhe este guisado de frango. Vai ajudá-la a manter as forças. Meus Deus, deve ser uma provação difícil para ela.


    Apesar do seu suspiro piedoso, um fascínio irreprimível dançava dentro dela. A mãe de Sakura morta pelo pai. Parecia mesmo uma coisa tirada dos tablóides ou de Hollywood. E como arrancara Suigetsu de casa apenas uma hora depois de a notícia ter chegado, devia ser a primeira a ver Sakura.


    Não que não sentisse pena de Sakura. Claro que sentia. Não levava ali a comida que a sua mãe lhe preparara para ela aquecer depois do nascimento do bebé? A comida era para a morte, toda a gente sabia.


    - Não deve estar a apetecer-lhe companhia - insistiu Suigetsu.


    - Nós não somos companhia. Ora, eu andei com a Saki na escola. Conhecemo-nos desde crianças. Não suporto a idéia de vê-la sozinha numa altura destas. - Nem que alguém chegasse lá primeiro. - Além disso, Suigetsu, tu é o presidente da câmara. É teu dever consolar os infelizes. Meu Deus, cuidado com os solavancos, querido. Tenho de fazer xixi outra vez.


    - Não quero que te emocione demais. - Estendeu o braço para lhe fazer carinho na mão. - Não quero que entre em trabalho de parto aqui, Karin.


    - Não te preocupe. - Mas ficou satisfeita por ele se preocupar. - Ainda faltam três semanas, pelo menos. Meu Deus estou bem? - Ansiosa, puxou o espelhinho do carro. - Devo estar um susto, depois de ter saído às pressas como saí. Uma vaca grande, gorda e horrível.                                                              


    - Estás linda. Continua a ser a moça mais bonita de Progress. E é toda minha.


    - Oh, Suigetsu. - Ela corou e ajeitou o cabelo. - É tão doce. É que me sinto tão gorda e feia, ultimamente. E a Saki está tão elegante.


    - Pele e osso. A minha mulher tem curvas. - Estendeu a mão e passou-a pelo peito dela, fazendo-a soltar um gritinho.


    - Pára com isso. - A rir, deu-lhe uma palmada na mão. - Que vergonha. Estamos quase chegando e agora estou toda agitada. - Meteu a mão entre as pernas dele. - E parece que tu também estás. Lembras de como costumávamos estacionar para estes lados, quando éramos jovens e loucos?                                                   


    - E eu convenci a ir para o assento de trás do carro do meu pai.


    - Não foi preciso muito esforço para me convencer. Eu estava doida por ti. A primeira vez que fizemos amor foi aqui. Estava tão escuro, um ambiente tão sensual. Suigetsu - Passou os dedos pela perna dele. - Depois de o bebê nascer e eu recuperar a minha figura, vamos pedir à mamãe que venha ficar com o bebê. E tu me traz para aqui e vês se ainda consegues convencer-me a ir para o assento de trás.                                                                                 


    Ele soltou um sopro.


    - Se continuar a falar assim, Karin, quando eu sair deste carro vou passar vergonha.


    - Vai um bocadinho mais devagar. Quero pôr batom. - Tirou-o da mala. - A mamãe disse que ficava com o Luke durante a noite. Devíamos ir ver a Tsunade e Jiraya depois de sairmos de casa da Sakura. Acho que vão fazer o funeral em Florence. Nós vamos ter de ir, claro, em representação da cidade e essas coisas. Não tenho nenhum vestido preto que me sirva. Acho que vou ter de me arranjar com o azul-escuro, embora tenha aquela gola bonita, branca. Mas as pessoas vão compreender se eu usar o azul-escuro, não acha? E vamos ter de mandar flores.


    Continuou a falar até entrarem no caminho de acesso à casa de Sakura. Suigetsu já não estava excitado, mas estava ficando com uma leve dor de cabeça.


    Quinze minutos, prometeu a si próprio. Iria dar a Karin quinze minutos para tratar de Sakura, e depois iria levá-la para casa e fazê-la deitar-se com os pés um pouco elevados. Assim, ele podia beber uma cerveja, estender-se e ver o que estivesse a dar na televisão.


    Ninguém em Progress ia chorar a morte de Konan exceto a família mais chegada. Não via porque é que uma morte tão distante dele e da sua cidade haveria de ocupar-lhe mais do que o tempo estritamente necessário, fosse pessoal ou oficial. Ia cumprir o seu dever e depois esquecer o assunto. - Não sei por que alguém iria querer viver neste deserto, sem uma única alma por companhia - disse Karin, enquanto Suigetsu a ajudava a sair do carro. - Mas a Sakura sempre foi estanha. Estranha como um pato com duas cabeças, costumava dizer a minha mãe. Mas afinal... - Começou a andar na direcção da casa e lançou um olhar significativo ao carro de Sasuke. - Acho que não tem falta de companhia. Juro que não consigo imaginar aqueles dois juntos, Sui, nem por um só minuto. Não consigo ver que tenham alguma coisa em comum, e tanto quanto sei a Sakura não é do tipo de aquecer um homem, se é que me entende. Pode se dizer que é bonita, para quem gosta daquele tipo, mas não é nada, comparada com a Deborah Purcell. Juro pela minha vida que não consigo entender o que é que o Sasuke vê nela. Um homem na situação dele podia ter escolhido bem melhor. Deus sabe que eu tentei que ele fosse por melhores caminhos.


    Suigetsu disse “humm” e “hã-hã” e “sim, querida” algumas vezes, enquanto tirava a comida do carro. Não era realmente necessário ouvir o que dizia a sua mulher, quando começava com as suas divagações. Após vários anos de casamento conhecia de cor aquele ritmo, por isso conseguia pontuar as suas afirmações nos momentos exatos, sem fazer a mínima idéia do que ela estava a dizer.


    Era um bom sistema para ambos.


    - Acho que não vai demorar muito até ele se cansar dela e ir cada um para seu lado, como acontece às pessoas que não têm um laço forte entre elas, como nós temos.


    Piscou-lhe o olho, deu-lhe uma pequena palmada no braço, e ele leu o sinal corretamente. Ofereceu-lhe um olhar quente e apaixonado.                                                                                                     


    - Depois de ele estar livre outra vez, o convidamos para jantar com... Bem, talvez a Crystal Bean. Talvez também consiga encontrar um homem para a Sakura, que faça mais o gênero dela. Isso vai me dar bastante trabalho, porque acho que não há muitos homens dispostos a ficar com uma mulher tão estranha. Juro que às vezes quando ela olha para mim fico cheia de arrepios. Saki!


    Soltou a exclamação assim que Sakura abriu a porta, e abriu imediatamente os braços.


    - Oh, querida, lamento tanto o que aconteceu à tua mãe. O Suigetsu e eu viemos assim que soubemos. Pobrezinha. Porque não está descansando? Pensei que o Sasuke te convencesse a deitar, numa altura como esta.


    O abraço foi apertado e quente.


    - Eu estou bem.


    - Claro que não está bem, e conosco não tem de fingir. Somos velhos amigos. - Deu uma pequena palmada nas costas de Sakura. - Agora senta-se, que eu vou te fazer um belo chá. Trouxe qualquer coisa para comer. Quero que coma uma refeição quente, para conservar as forças neste período difícil. Sasuke.


    Soltou Sakura para virar a atenção para Sasuke, quando este saiu da cozinha.


    - Ainda bem que está aqui, a tratar da Saki. Numa altura como esta, ela precisa de todos os amigos. Agora vem comigo, querida. - Pôs o braço à volta da cintura de Sakura, como se fosse ampará-la. - Suigetsu, traz esse prato para a cozinha para eu poder aquecê-lo para ela.


    - Karin, é muito simpático da tua parte - começou Sakura.


    - Não há nada de simpático nisto, somos amigas. Sei que deve estar meio fora de si, mas estamos aqui contigo. Dê por onde der, pode contar connosco, não é, Sui querido?


    - Claro que sim. - Lançou a Sasuke um olhar aborrecido enquanto Karin empurrava Sakura para a cozinha. - Não consegui impedi-la - murmurou. - A intenção dela é boa.


    - Tenho certeza que sim.


    - É uma coisa terrível. Terrível. Como está a Sakura a aguentar-se?


    - Bem. - Sasuke olhou na direção da cozinha onde soava a voz de Karin. - Estou preocupado com ela, mas está bem.


    - Dizem que foi o Pain que fez isto. As notícias espalham-se depressa. Achei que gostaria de saber que é o que dizem por aí. Acho que vai ser pior ainda, mas depois as coisas vão se acalmar.


    - Acho que já não pode ser pior. O chefe Kakashi te deu alguma informação sobre a caça ao homem?


    - Está fazendo o melhor que pode. Não houve uma coisa como esta por aqui desde que perdeu a tua irmã, sasuke. - Hesitou, e depois mexeu-se um pouco, ainda com o prato na mão. - Também não deve ser fácil para ti, recordar tudo aquilo outra vez.


    - Não, não é. Mas vou te dizer quais são as últimas suspeitas, e se for assim o assunto pode ficar encerrado de uma vez por todas. Começa a se suspeitar de que pode ter sido o Pain a matar a Hope.


    - Matar... - Respirou bem fundo, soltou o ar num sopro e depois olhou na direção da cozinha. - Deus Todo-Poderoso, Sasuke. Não sei o que dizer. Nem o que pensar.


    - Nem eu. Ainda.                                                                                      


    - Suigetsu, traz esse prato, faz favor.


    - Vou a caminho - respondeu ele. - Vou levar a Karin assim que puder. Sei que não querem companhia.


    - Ficaria agradecido. E ficaria agradecido se não falasses na ligação do pai da Saki com a Hope. Nem à Karin, nem a ninguém, por enquanto. As coisas já são suficientemente difíceis para a Sakura, tal como estão.                                                                   


    - Pode contar comigo. Sério, Sasuke. Diz se precisar de alguma coisa, que eu trato disso. - Conseguiu esboçar um sorriso. - Tu, eu e o Naruto somos amigos há muito tempo.


    - Conto contigo. Conto mesmo. Eu...


    - Ouviu-se um guincho súbito na cozinha, que fez Suigetsu correr como um raio, muito assustado. Quando entrou de rompante, viu Karin, com os olhos e a boca muito abertos, com a mão de Sakura presa nas dela.


    - Noiva! Não posso acreditar! Suigetsu, olha para o que a Sakura tem no dedo. E nenhum deles dizia uma palavra sobre o assunto. - Puxou a mão de sakura para a frente, com o rosto animado pela convicção de que era a primeira a saber. - Não é uma maravilha?


    Suigetsu observou o anel e depois olhou Sakura nos olhos. Viu o cansaço, o embaraço, a leve irritação.


    - Claro que sim. Espero que seja muito feliz.


    - Claro que ela vai ser feliz. - Karin largou a mão de Sakura, para poder dar a volta à mesa e abraçar Sasuke. - Mas que grande malandro. Sem nunca te prender e depois agarra a Saki tão depressa. Bem, ela ainda deve ter a cabeça à roda. Temos de celebrar, fazer um brinde ao feliz casal. Oh!                                                    


    Calou-se e corou, embora os seus olhos continuassem a dançar.


    - Onde é que eu tenho a cabeça? Sou mesmo tonta. -Voltou a correr para junto de sakura, o mais depressa que conseguiu. - Ficou noiva e perdeste a tua mãezinha, tudo ao mesmo tempo. A vida continua, não te esqueça.


    - Obrigada, Karin. Desculpa, espero que compreenda, mas preciso telefonar à minha avó. Temos coisas a combinar.


    - Claro que compreendemos. Mas diz-me, se eu puder fazer alguma coisa. Qualquer coisa que seja. O Suigetsu e eu ficaremos muito satisfeitos se pudermos ajudar. Não é verdade, Sui?


    - Sim, sim. - Pôs o braço sobre os ombros de Karin, com firmeza. - Agora, vamos andando, mas telefonem se precisarem de alguma coisa. Não se levantem. - Encaminhou Karin para a porta. - Saimos sozinhos. Telefonem, ouviram?                                        


    - Obrigada.


    - Imagina só! Imagina! - Karin mal conseguiu esperar até chegarem à porta. - A usar um diamante suficientemente grande para cegar uma pesoa, e no mesmo dia em que descobre que o pai matou a mãe. Juro, Sui, não sei o que pensar. Está fazendo planos para um casamento e um funeral, ao mesmo tempo. Eu te disse que ela era estranha, não disse?                                                                    


    - Disse, querida. – Fez ela entrar no carro e fechou a porta. - Claro que me disse - murmurou.


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Notas finais do capítulo

Gente a fic só tem mais 5 capitulos. Estamos no fim...
Buáaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Q triste.
Nah recebi reviews no ultimo que postei, mas nah desanimei e estou aqui de novo postando!!!



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