Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Mas um capitulo novinho para voces!!! Espero q gostem...



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Encontrou Sasuke a andar de cá para lá, ao fundo das escadas.

    - Podes subir e ir falar com ela. Acho que ela precisa de um ombro amigo. A tua irmã está por aqui?

    - Está lá atrás, com o Naruto. Ele está vendo o cão.

    - É uma pena o cão não poder falar. Foi o Piney que o apanhou, não foi?                                     

    - Disseram-me que sim.

    - Pois, pena o cão não poder falar. - Meteu o bloco no bolso e dirigiu-se à sala do fundo.

    Sasuke encontrou Sakura ainda sentada no sofá.

    - Devia ter ido embora e pronto. Ou melhor, devia ter sido mais esperta e ter deixado a Hinata entrar, como ela queria. A Hina teria a encontrado, teríamos chamado a polícia e não haveria perguntas.                                                                                                

    Ele aproximou-se e sentou-se ao lado dela.

    - E porque não fizeste isso?

    - Não quis que ela visse o que estava lá dentro. E eu também não quis ver. E agora o chefe Kakashi espera que eu entre em transe e lhe dê o nome do assassino. Não sou um tabuleiro de jogo!

    Ele pegou-lhe na mão.

    - Tens todo o direito a sentir-te zangada. Com ele, com a situação. Mas porque estás zangada contigo própria?

    - Não estou. Porque estaria? - Olhou para as mãos de ambos, enlaçadas. - Machucaste os nós dos dedos.

    - Dói como o raio.

    - Verdade? Não pareceu nada, quando lhe deste. Parecia que não estavas a sentir nada, exceto uma ira controlada. Como se pensasses: tenho de livrar-me desta mosca irritante e depois voltar ao meu livro.

    Ele sorriu e levou a mão dela aos lábios.

    - Um Uchiha tem de manter a dignidade.

    - Eu disse que parecia, mas a realidade foi diferente. A raiva e a revolta foram à realidade, e eu sei bem que gostaste de deixá-lo estendido no meio do chão - disse ela com um suspiro. - Porque foi isso que senti. Ele é um homem horrível e agora vai tentar encontrar outra maneira de te magoar. Mas vai te atacar pelas costas, porque tem medo de ti. E isto é apenas bom senso e uma compreensão razoável da natureza humana, não tem nada que ver com os meus fabulosos poderes psíquicos.

    - O Sai não me preocupa. - Passou os nós dos dedos machucados pelo rosto dela. - Não deixe que te preocupe.

    - Quem me dera conseguir. - Pôs-se de pé. - Quem me dera conseguir preocupar-me com ele, para que ele me ocupasse o pensamento. Porque querer me sentir culpada?

    - Não sei Tory. Por quê?

    - Mal conhecia a Matsuri. Passei menos de uma hora com ela, apenas aflorou a minha vida. Lamento o que lhe aconteceu, mas isso significa que tenho de envolver-me?

    - Não.

    - Não vai mudar o que lhe aconteceu. Nada que eu faça pode mudar o que aconteceu. Por isso, para quê? Mesmo que o chefe Kakashi pareça aberto ao que eu eventualmente possa fazer, vai acabar por ser como todos os outros. Porque meter-me apenas para rirem à minha custa e me mandarem embora?

    Deu alguns passos à volta dele.

    - Não tens nada para dizer?     

    - Estou à espera que mude de opinião.

    - Te acha muito esperto, não acha? Acha que me conhece tão bem. Mas não conhece de todo. Não voltei aqui para consertar nada, nem para vingar nenhuma amiga morta. Voltei aqui para viver a minha vida e tratar do meu negócio.

    - Está bem.

    - Não me digas “Está bem” nesse tom paciente, quando os teus olhos me dizem que sou uma mentirosa.

    Como a respiração dela estava a começar a tornar-se ofegante, ele levantou-se e aproximou-se dela.

    - Eu vou contigo.

    Ela olhou para ele por mais um instante e depois caiu nos braços dele.

    - Meu Deus, meu Deus!

    - Vamos lá abaixo dizer ao chefe. Eu fico contigo.

    Ela acenou com a cabeça e manteve o abraço dele durante mais um minuto. E aceitou que depois de terminar o que ia fazer no apartamento de Matsuri talvez ele não quisesse voltar a abraçá-la, nunca mais.

    - Precisa de alguma coisa antes de entrarmos?

    sakura continuava a tentar acalmar-se, mas enfrentou o olhar de Kakashi.                                                                        

    - O quê? Uma bola de cristal? Um tarô?

    Ele foi à frente, como ela pedira, e destrancou a porta que dava para o terraço, a partir do interior, cortou o selo e saiu ao encontro dela e de Sasuke.              

    Havia menos hipóteses de ser vista se entrasse pelas traseiras. O assassino também sabia isso.

    Kakashi empurrou o boné para trás, para coçar a sua testa.

    - Acho que está um bocado zangada comigo.

    - O senhor pressionou-me até onde não gosto de ser pressionada. Isto não vai ser agradável para mim e pode ser perfeitamente inútil para si.

    - Miss Sakura, tenho uma jovem mais ou menos da sua idade deitada numa mesa, à espera do funeral. O médico legista está fazendo a autópsia. A família chega amanhã de manhã. Não consideraria isto agradável para ninguém.

    Queria que ela entendesse isso. Sakura concordou, com um aceno de cabeça.                                                                                 

    - O senhor é um homem mais duro do que eu pensava.

    - E você é uma mulher mais dura. Acho que ambos temos as nossas razões.

    - Não fale comigo. - Foi ela própria que abriu a porta, entrando em seguida.

    Cruzou os braços sobre si própria e começou por concentrar-se na luz. Na luz que invadiu o quarto quando ele apertou o interruptor. A luz que Matsuri atravessara.

    Passou muito tempo até ela falar. Muito tempo, enquanto aquilo que ficara no quarto deslizava para dentro dela.

    - Ela gostava de música. Gostava de barulho. Estar sozinha não era uma coisa natural para ela. Gostava de ter pessoas à volta. Vozes, movimento. São tão fascinantes para ela. Adorava conversar.

    Havia pó no telefone, usado para tirar impressões digitais. Não notou que o pó lhe manchou os dedos quando ela os passou por cima dele.

    Quem era Matsuri? Era por aí que tinha de começar.

    - As conversas eram como um alimento para ela. Sem elas, morreria à fome. Gostava de saber coisas sobre as pessoas, de ouvi-las falar sobre elas próprias. Era muito feliz aqui.

    Fez uma pausa, deixando que os seus dedos deslizassem por molduras, pelo braço de uma cadeira.

    - A maioria das pessoas não querem realmente ouvir o que os outros dizem, mas ela queria. As perguntas dela não eram um pretexto para falar de si própria. Tinha tantos planos. Ensinar era uma aventura para ela. Tantos espíritos para alimentar.

    Passou por Sasuke e por Kakashi. Embora tivesse consciência da presença deles, estavam se tornando menos importantes para ela, a sua presença era cada vez menos real.

    - Adorava ler. - Sakura falou calmamente enquanto se aproximava de uma estante barata, com prateleiras de metal, cheias de livros.

    Na sua cabeça flutuaram imagens de uma mulher bonita a arrumar livros na estante, a tirá-los, enrolada com eles na cadeira do terraço, com um cão grande e peludo a ressonar aos seus pés.       

    Era fácil misturar-se com estas imagens, abrir-se a elas, tornar-se parte delas. Sentiu o sabor do sal - batatas fritas - na língua, e sentiu uma agradável onda de contentamento.

    - Mas essa é apenas outra forma de estar com as pessoas. Metes-te no livro. Tornas-te uma personagem, a tua personagem favorita. Vive experiências.

    O cão deita-se contigo no sofá, ou na cama. Deixa pêlo por toda a parte. Jura que podias fazer um casaco com o pêlo que ele larga, mas é tão amoroso. Por isso, usa o aspirador quase todos os dias. Pões a música mais alta para não ser abafada pelo ruído do motor.

    A música vibrou dentro da cabeça dela. Alta, animadamente alta. Bateu o pé seguindo o ritmo.

    - Mister Rice, o vizinho, queixou-se por causa disso. Mas tu faz uns bolinhos e tudo fica bem. As pessoas são tão simpáticas nesta cidade. É exatamente neste lugar que gostas de estar.

    Virou-se. Tinha os olhos desfocados, vazios, mas estava a sorrir. O coração de Sasuke parou no momento que aquele olhar esfumado o fixou. O atravessou.

    - O Jerry, o rapazinho que vive aqui por cima, é louco pelo Mongo. O Jerry é tão engraçado como um inseto e duas vezes mais incomodativo. Um dia, vai querer um rapazinho exatamente como ele, com aqueles olhos, aqueles sorrisos e aqueles dedos pegajosos.

    Descreveu um círculo, os lábios curvados, os olhos vazios.

    - Às vezes, à tarde, depois da escola, saem e vão correr juntos, ou ele atira bolas de ténis ao Mongo. Bolas amarelas, que ficam todas molhadas e estragadas. É engraçado ficar sentada no terraço, a vê-los. O Jerry tem de ir para dentro, a mãe chamou-o para fazer os trabalhos antes do jantar. O Mongo está completamente estafado, por isso adormece no terraço. Queres a música alta, o mais alto que puderes sem aborreceres Mister Rice, porque te sente muito feliz. Tão cheia de planos e de esperança. Um copo de vinho. Vinho branco. Não é um vinho muito bom, mas não podes comprar um melhor. Mas é agradável e vai bebendo pequenos goles enquanto ouve a música e fazes planos.

    Aproximou-se das portas que davam para o terraço e espreitou lá para fora. Em vez da escuridão, viu o crepúsculo. O cão grande estava estendido no cimento como um tapete felpudo e ressonava ligeiramente.

    - Tanto em que pensar, tantos planos. Tanto para fazer. Sentes-te tão bem e mal podes esperar por começar. Queres dar uma festa, ter a casa cheia de gente e namorar aquele veterinário lindo, e aquele Sasuke, que tem um ar tão refinado. Ai, não há dúvida de que os homens são lindos em Progress. Mas agora tem de preparar uma refeição. Tem de dar comida ao cão. Talvez mais um copo de vinho enquanto prepara tudo.

    Foi até à cozinha, com passo decidido, trauteando a música que ouvia na cabeça. Sheryl Crow.

    - Uma salada. Uma bela salada, com muitas cenouras, porque o Mongo gosta. Vai misturá-las com o granulado. - Baixou-se e passou os dedos pela pega da porta do armário, e depois soltou uma exclamação e recuou.

    Instintivamente, Sasuke deu um passo na direção dela, mas Kakashi segurou-o pelo braço.

    - Não. - Falou num murmúrio, como se estivesse na igreja. - Deixa-a.

    - Ele estava ali. Ali mesmo. - A respiração de Sakura era agora entrecortada, ofegante. Tinha ambas as mãos a apertar o pescoço. - Não o ouviste. Não consegues vê-lo. Há uma faca. Ele tem uma faca. Meu Deus, meu Deus, meu Deus. Ele tapou-te a boca com as mãos, com força. A faca está na tua garganta. Tem tanto medo. Tanto medo. Não vai gritar. Não vai. Faz tudo para ele não te machucar. A voz dele está no teu ouvido, suave, calma. Que fez ele ao Mongo. Fez-lhe mal? Está tudo confuso na tua cabeça. Não é real. Não pode ser real. Mas a faca é tão afiada. Ele empurra-te e tens medo de cair e de a faca...

    Saiu a correr da cozinha e apoiou uma mão na parede quando se sentiu desequilibrar.

    - As cortinas estão corridos. Ninguém consegue ver. Ninguém pode ajudar. Ele quer-te no quarto, e tu sabe o que ele vai fazer. Se ao menos conseguisse fugir, ficar longe da faca.

    Sakura estacou à porta do quarto. A náusea tomou conta dela, em ondas pequenas e encrespadas.

    - Não consigo. Não consigo. - Virou a cara para a parede, tentando encontrar-se a si própria no meio do medo e da violência. - Não quero ver isto. Ele matou-a aqui, porque tenho de ver?

    - Já chega. – Sasuke empurrou a mão de Kakashi que lhe barrava o caminho. - Já chega, raios!

    Mas quando se aproximou de Sakura, ela afastou-se, bamboleante.

    - Está na minha cabeça. Nunca hei de conseguir tirar isto da minha cabeça. Não fales comigo. Não me toque.

    Pressionou as mãos contra o rosto, aprisionando a sua própria respiração e fazendo-a voltar a entrar dentro dela.

    - Ele empurra-te para cima da cama, de barriga para baixo. E põe-se em cima de ti. Já está pronto e quando o sente, quando sente a pressão dele em ti, debates-te. O medo toma conta de ti. É enorme, sufoca-te. Sentes calor. O medo queima.

    Gemeu e caiu de joelhos junto da cama.

    - Ele te bate. Com força. A nuca. A dor é tão forte, te percorre toda, te entontece. Ele volta a bater-te e a tua face explode. Sentes o sabor do sangue. Do teu sangue. O sangue tem o mesmo sabor que o terror. O mesmo. Ele ata os braços atrás das costas, e esta dor junta-se à outra.                                     

    Os tentáculos daquela dor trepavam por ela, às cegas, dentro dela, com um horror tamanho que parecia querer fazer-lhe explodir o cérebro. Pressionou a cara contra o colchão e cravou os dedos nele.

    - Está escuro. O quarto está escuro e a música está a tocar e tu não consegues deixar de sentir a dor. Estás a chorar. Tenta implorar, mas ele amordaçou-te com um pano. Volta a bater-te e tu começa a esvair-te. Semiconsciente, mal sente quando ele te corta as roupas. A faca corta-te também a pele, mas é pior, muito pior quando ele usa as mãos.

    Sakura dobrou-se para a frente, com os braços em volta da barriga, e começou a balançar-se.    

    - Dói. Dói. Nem sequer podes gritar quando ele está a violar-te. Queres que acabe, mas ele continua, continua, e tu tens de partir. Tens de ir para outro lado. Tens de ir-te embora.

    Exausta, Sakura encostou a cabeça à cama e fechou os olhos. Era como ser asfixiada, pensou vagamente. Como ser enterrada viva, e o sangue tilinta-te nos ouvidos como mil sinos e o suor que cobre o teu corpo está frio. Tão desagradavelmente frio.

    Teve de fazer um esforço para voltar a respirar.

    Para voltar a si.

    - Quando terminou, estrangulou-a com as mãos. Ela já não conseguia lutar. Chorou. Ou foi ele que chorou. Não sei bem. Mas cortou a corda que lhe prendia os pulsos. Levou-a com ele. Não queria deixar nada de seu para trás, mas deixou. Como cristais de gelo no vidro. Não consigo ficar aqui. Por favor, levem-me daqui. Por favor, tirem-me daqui.

    - Está tudo bem. - Sasuke baixou-se para abraçá-la. A pele dela estava fria, molhada de suor. - Está tudo bem, querida.

    - Sinto-me mal. Não consigo respirar aqui dentro. - Encostou a cabeça ao ombro dele e deixou-se levar dali.

    Ele levou-a a casa. Ela não falou nem se mexeu durante toda a viagem. Ficou sentada como um fantasma, pálida e silenciosa, enquanto o vento que entrava pelas janelas abertas da camioneta lhe soprava na cara e no cabelo.

    Sasuke sentia uma fúria, que disparara contra Kakashi quando o chefe dissera que ia segui-los até casa. Mas ela disse-lhe que o deixasse vir. Foi à última coisa que ela disse. Por isso, a fúria que ele sentia ficou sem alvo e não pôde ser descarregada, e foi-se acumulando, profunda e cheia de violência.

    Estacionou junto à Casa do Pântano e ela saiu da camioneta antes de ele conseguir chegar junto dela para ajudá-la.

    - Não és obrigada a falar com ele. - Falou em tom seco, os olhos brutalmente frios.

    - Sou, sim. Tu não consegue ver o que eu vejo, por isso não pode ajudar-me. - Pousou os olhos exaustos na direção do carro da polícia. - Ele sabia isso, e usou-o. Não precisa ficar.

    - Não seja estúpida - deixou Sasuke escapar, e virou-se para esperar por Kakashi enquanto ela se encaminhava na direção da porta.

    - Veja lá o que faz. – Sasuke enfrentou o chefe assim que este saiu do carro da polícia. - Tenha muito, muito cuidado com ela, ou vou usar o que tiver à mão para fazê-lo pagar por isso.

    - Espero que esteja transtornado.

    - Transtornado? - Sasuke agarrou a camisa de Kakashi. Sentia-se capaz de rachar o homem ao meio. De um só golpe. - Sujeitou-a àquilo. E eu também - disse ele, soltando a camisa, revoltado. - E para quê?

    - Não sei. Ainda não sei. A verdade é que estou um pouco abalado com isto. Mas também tenho que usar aquilo que tenho à mão. E neste momento, o que tenho à mão é a Saki. Estou a tentando avançar Sasuke.

    Havia uma certa tristeza na voz dele, nos olhos, que se sobrepunha ao dever.

    - Não quero fazer mal àquela menina. Se isso te faz sentir melhor, vou ter muito cuidado. O máximo que conseguir. E vou recordar-me, provavelmente para o resto da minha vida, do que ela passou naquela casa.

    - Somos dois. - disse Sasuke, dando meia volta.

    Ela estava a preparar um chá, uma mistura de ervas que esperava que conseguisse acalmar-lhe o estômago e fazer com que as mãos deixassem de tremer. Não disse nada quando os dois homens entraram, mas tirou do armário uma garrafa de uísque e colocou-a em cima da bancada e sentou-se.

    - Acho que preciso de um copo disso. Não devia beber enquanto estou de serviço, mas vamos atender às circunstâncias.

    Sasuke tirou dois copos do armário e serviu dois uísques duplos.

    - Ele entrou pela porta dos fundos. - começou Sakura. - Sabem isso. Já sabem muitas das coisas que tenho para dizer.

    - Agradeço a sua disponibilidade. - Kakashi puxou uma cadeira, fazendo-a arrastar no chão. - Diga-me tudo, e não tenha pressa.

    - Ela estava sozinha no apartamento. Bebeu um ou dois copos de vinho. Sentia-se bem, animada, cheia de esperança. Tinha a música a tocar. Estava na cozinha quando ele entrou. A preparar uma salada para o jantar, a preparar a comida para dar ao cão. Ele atacou-a pelas costas e usou a faca que ela tinha pousado em cima do balcão enquanto tirava a comida do cão do armário.

    A voz de Sakura era baixa, sem vida, o rosto inexpressivo. Pegou no chá, bebeu um pouco e pousou-o.

    - Ela não o viu. Ele manteve-se atrás dela, e encostou-lhe a faca à garganta. Fechou as cortinas que davam para o terraço. Acho que fechou a porta à chave, mas não importa. Ela não tentou fugir, tinha demasiado medo da faca.

    Distraidamente, levou a mão ao pescoço e passou os dedos pela traqueia, como se tivesse sentido uma picada de inseto.

    - Não sei o que ele lhe disse. Tudo o que ela sentiu foi muito mais forte do que o que ele sentiu. Ele não a desejava particularmente. Naquilo que deixou na casa havia raiva e confusão e uma espécie de orgulho horrível. Ela foi uma substituta, alguém que estava à mão para... Satisfazer uma necessidade que nem ele próprio compreende. Levou-a para o quarto e atirou-a para cima da cama, com a cara para baixo. Bateu-lhe várias vezes, na nuca, na cara. Atou-lhe as mãos atrás das costas, com uma corda forte. Correu as cortinas, para ninguém poder vê-lo, para estar escuro. Não queria que ela lhe visse a cara, mas, mais do que isso, não queria ver a dela. Ele vê outro rosto enquanto a viola. Usa a faca para cortar as roupas, tem muito cuidado, mas acaba por cortar-lhe ligeiramente a pele, nas costas e junto ao ombro.

    Kakashi acenou com a cabeça e tomou um longo trago da sua bebida.

    - É verdade. Ela tinha dois cortes superficiais, e tinha marcas nos pulsos, mas não encontramos corda nenhuma.

    - Ele levou-a. Nunca tinha feito isto num espaço fechado. Sempre o fez em campo aberto, e há qualquer coisa de excitante em fazer-lhe este tipo de coisas na cama. Quando lhe bate, sente prazer. Gosta de maltratar mulheres. Mas, mais do que dar-lhe prazer, proporciona-lhe uma espécie de alívio para esta voracidade que tem dentro dele. Esta necessidade de provar a ele próprio que é homem. É homem quando faz uma mulher dobrar-se à sua vontade. Enquanto a viola sente-se mais feliz, mais forte dentro dele mesmo, do que em qualquer outro momento. É assim que celebra a sua masculinidade, e não consegue fazê-lo de nenhum outro modo.                

    A tentativa de vê-lo, de entrar nele, fazia-lhe doer à cabeça. Esfregou a têmpora e esforçou-se mais.

    - Para ele, é uma questão sexual, e acredita que ela estava a pedir para ser dominada. Convenceu-se disso e, no entanto, tem cuidado. Usa um preservativo. Sabe lá com quem ela tem andado. É uma puta, como todas as outras. E um homem tem de cuidar de si próprio.

    - Disse que ele não queria deixar nada seu para trás.

    - Sim. Não deixa o seu semen dentro dela. Ela não merece. Eu... Isto não é o que eu sinto dele, não sinto quase nada dele. - Tamborilou de leve com os dedos na têmpora, que latejava. - Há vazios e becos sem saída. Ele não é sempre a mesma coisa. Não sei como vou explicar-lhe.

    - Não faz mal - disse-lhe Kakashi - Continue.

    - Isto não é um ato de procriação, mas sim de castigo, para ela, e de exaltação do ego, para ele. Durante o processo, ela deixa de existir para ele. Ela não é nada, por isso é fácil matá-la. Quando termina, fica orgulhoso, mas também fica zangado. Nunca é exatamente o que ele esperava, nunca o purifica completamente. A culpa é dela, claro. Da próxima vez será melhor. Corta a corda, apaga a música e deixa-a na escuridão.

    - Quem é ele?                                                                         

    - Não lhe vejo o rosto. Consigo ver alguns dos pensamentos dele, algumas das suas emoções mais desesperadas, mas não o vejo.

    - Ele a conhecia.

    -Já a tinha visto, acho que tinha falado com ela. Conhecia o suficiente para saber da existência do cão. - Sakura fechou os olhos por um momento, tentou concentrar-se. - Acho que ele drogou o cão. Um hambúrguer misturado com qualquer coisa. Foi arriscado. Tudo isto foi muito arriscado, o que veio aumentar a excitação. Alguém podia tê-lo visto. Das outras vezes, não havia ninguém para ver.

    - Que outras vezes?                                            

    - A primeira foi Hope. - Voltou a pegar no chá, se acalmou. - Há mais quatro que eu saiba. Pedi a uma amiga que investigasse. Ela descobriu que houve cinco nos últimos dezoito anos. Todas mortas no final de agosto, todas jovens e de cabelos escuros. Cada uma delas tinha a idade que a Hope teria, se estivesse viva. Acho que a Matsuri era mais nova, mas não era a ela que ele queria.

    - Um serial killer. Durante mais de dezoito anos.

    - Pode confirmar o que eu lhe disse, com o FBI. - Nessa altura olhou para Sasuke, pela primeira vez desde que se tinham sentado. - Ele continua a matar a Hope. Lamento tanto.

    Levantou-se, e a chicara tremeu sobre o pires quando ela os levou até à bancada.

    - Acho que pode ser o meu pai.

    - Por quê? - Sasuke manteve os olhos fixos no rosto dela. - Porque pensa uma coisa dessas?

    - Ele... Quando me batia ficava excitado. - A vergonha trespassou-a, estilhaços de vidro cortaram-na com um calor amargo. - Nunca me tocou sexualmente, mas ficava excitado quando me batia. Olhando para trás, não posso ter a certeza que ele não soubesse dos meus planos para encontrar-me com a Hope naquela noite. Quando chegou para jantar estava bem disposto, o que raramente acontecia. Foi como se estivesse à espera que eu cometesse um erro, que lhe abrisse a porta para ele investir. E quando abri essa porta, quando disse à minha mãe que o frasco da cera estava no armário, um erro tão estúpido, ele apanhou-me. Nem sempre me batia tanto, mas naquela noite... Quando acabou, teve a certeza de que eu não iria a lugar nenhum.

    Voltou a aproximar-se da mesa.         

    - A Matsuri estava na loja quando ele apareceu, ontem. Fez-lhe perguntas sobre o cão, e ela tinha acabado de preencher um formulário, para um emprego. Tinha o papel em cima do balcão. O nome, a morada, o número de telefone. Ele estava seguro quanto a mim, seguro de que eu tinha demasiado medo para contar a alguém que o tinha visto. Ele nunca esperaria que eu fosse à polícia. Mas não podia ter a certeza quanto a ela.

    - Acha que Pain Haruno matou Matsuri porque ela o viu?

    - Pode ter sido a desculpa dele, a justificação para o que queria fazer. Só sei que ele é capaz disso. Não posso dizer-lhe mais nada. Desculpe. Não estou me sentindo bem.

    Afastou-se da mesa e fechou-se no banheiro.

    Já não conseguia combater a sensação de náusea, por isso deixou que ela a dominasse. A esvaziasse. Depois, deitou-se no chão, nos mosaicos frios, e esperou que a fraqueza se abatesse sobre si. O silêncio parecia ecoar-lhe nos ouvidos, juntamente com o bater do seu coração.

    Quando conseguiu, pôs-se de pé e abriu a torneira, deixando correr a água muito quente, quase a ferver. Estava gelada até aos ossos. Parecia que nada conseguia aquecê-la, mas a água fê-la imaginar que todo o horror era lavado da sua pele, senão mesmo da sua mente.

    Mais firme, embrulhou-se numa toalha, tomou três aspirinas e saiu do banheiro, preparada para enrolar-se na cama e abandonar-se ao sono.                                           


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Notas finais do capítulo

Bah fiquei arrasada!!!! Nenhum Review no capitulo anterior... A fic esta tao ruim assim??? Tipow mais de 3000 leitores e nenhum Review????
Magoei completamente...
Nao postarei o proximo se nah receber Reviews!!! E apagarei a fic pois eh sinal de que nah gostam...
Bjim e desculpe ter q falar desses jeito mas estou revoltada... kkk



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