Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novinho para voces...
Sei q esta historia é comprida e tals... Mas vale a pena ler. Pelo menos eu acho... hehehehh



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    Ela tinha clientes, um casal jovem que conversava. Sakura os estava deixando à vontade, mantendo-se do outro lado da loja, substituindo as velas que vendera naquela manhã.

    - Tio Jiraya. Está calor lá fora? Quer beber alguma coisa fresca?

    - Não... Sim - decidiu. Isso iria dar-lhe tempo para se recompor. - O que tiveres à mão, querida.

    

   

    As seis fechou a loja, e deu por si a observar a rua, à procura, como fizera semanas a fio quando fugira para Nova York. Sentia-se furiosa por ele conseguir voltar a pôr aquela ansiedade cautelosa no seu caminho, aquela inquietação no seu coração.     

    Teria estado realmente na casa miserável da sua mãe, a afirmar que conseguiria e iria enfrentar o pai e todo aquele medo, se ele se atrevesse a invadir a sua vida outra vez?

    Onde estava a sua coragem, agora?

    Tudo o que conseguiu foi prometer a si própria que voltaria a encontrá-la.

    Mas trancou as portas assim que entrou no carro, e sentia o coração bater acelerado enquanto olhava constantemente para a estrada à sua frente e para o espelho retrovisor, no caminho de regresso a casa.

   

    Foi com um baque irritante de decepção que entrou no caminho de acesso à sua casa e o encontrou vazio. Não se apercebera que tinha estado à espera que Sasuke estivesse ali. Era verdade que não aceitara com grande entusiasmo a intenção dele de mudar-se para ali. Mas quanto mais pensara nisso, mais fácil fora aceitá-lo. E, depois de tê-la aceitado, passara a gostar da idéia.

    Havia tanto tempo que queria companhia. Alguém com quem partilhar o dia, com quem falar de coisas triviais, com quem rir a propósito de pequenas coisas, com quem desabafar.

    Ter alguém quando a noite parecia demasiado cheia de ruído, de movimento e de memórias.

    E o que dava ela em troca? Resistência, discussão, aceitação irritada e apenas implícita.

    - Pura maldade, apenas - murmurou, enquanto saía do carro. Pelo menos a isso ela podia pôr fim. Podia fazer o que as mulheres faziam tradicionalmente para resolver crimes menores. Podia fazer-lhe um belo jantar e seduzi-lo.

    A idéia deixou-a com melhor disposição. Iria ele ficar surpreendido se fosse ela a tomar a iniciativa, para variar? Esperou lembrar-se de como se fazia, porque estava na hora de voltar a controlar este tipo de coisas. E assim tiraria dos ombros dele alguma da responsabilidade pelo que se passava entre eles, fosse o que fosse. Tentara agradar a Jack dessa forma e depois... Não. Afastou com firmeza a seqüência de pensamentos, enquanto destrancava a porta de casa. Sasuke não era Jack e ela não era a mesma mulher que fora em Nova Iorque. O passado e o presente não tinham de se tocar.

    Quando entrou, soube que isso era apenas mais uma ilusão. Soube que ele tinha estado ali, dentro daquilo que tentara transformar na sua casa. Ele, o seu pai.

    Havia pouca coisa para ele destruir, e ela não pensara que ele se desse a tanto trabalho. Não entrara para lhe partir o pouco mobiliário que tinha, ou para fazer buracos nas paredes. Embora tivesse feito ambas as coisas.

    A cadeira estava virada de pernas para o ar, e ele espetara no fundo qualquer coisa aguçada. A luminária que ela comprara apenas alguns dias antes estava partida, a mesa que queria restaurar estava atirada para um canto, com uma das pernas partidas como se fosse um ramo.

    Reconheceu o tamanho e a forma das marcas deixadas no estuque. Era a assinatura que deixava quando, por qualquer motivo, optava por usar os punhos em objectos inanimados e não na sua filha. Deixou a porta aberta, um caminho de fuga para o caso de os seus instintos não estarem alerta e ele se encontrar ainda dentro de casa.

   

    Mas o quarto estava vazio. Ele arrancara a roupa da cama e rasgara o colchão. Supôs que a estrutura da cama de ferro lhe dera demasiado trabalho, já que a deixara intacta.

    As gavetas estavam tiradas, as roupas amontoadas. Não, ele não quisera realmente destruir as coisas dela, pensou, ou teria usado o mesmo instrumento afiado também nas roupas. Já o fizera antes, para lhe ensinar uma lição quanto a vestir-se de forma decente.

    Andara à procura de dinheiro ou de coisas que pudesse vender facilmente para obter dinheiro. Se tivesse estado bebendo, teria esperado por ela. Assim... Baixou-se para apanhar uma blusa amarrotada e soltou um grito de desespero ao ver a caixinha de madeira gravada que usava para guardar as jóias.

    Pegou nela precipitadamente e o coração afundou-lhe quando viu que estava vazia. Na verdade, a maioria das coisas que tinha eram bijuterias. Boas, cuidadosamente selecionadas, mas facilmente substituíveis.

    Mas entre elas estavam a granada e os brincos de ouro que a avó lhe dera quando ela fizera vinte e um anos. Os brincos tinham pertencido à bisavó. A sua única herança. Sem preço. Insubstituível. Perdida.

    - Sakura!                                                

    O alarme na voz de Sasuke e os passos apressados fizeram-na levantar rapidamente.

    - Estou aqui.

    Ele entrou no quarto, de rompante, e apertou-a contra si antes de ela conseguir dizer mais alguma coisa. Ondas de medo confundidas com ondas de alívio emanavam dele para ela, envolvendo-a, entrando nela.

    - Estou bem. Acabei de chegar. Há minutos. Ele já se tinha ido embora.

    - Vi o teu carro, a sala. Pensei... - Apertou mais o abraço e encostou o rosto ao cabelo dela. - Espera um segundo.

    Sabia o que era sentir o terror cravar-lhe as garras na garganta. Nunca pensara voltar a senti-lo.

    - Graças a Deus estás bem. Tencionava chegar aqui antes de ti, mas atrasei-me. Vamos chamar a polícia e depois vais para Beaux Revés. Devia ter-te levado para lá esta manhã.

    - Sasuke, não vale a pena tudo isso. Foi o meu pai. - Afastou-se e pousou a caixa sobre a cómoda. - Foi à loja, esta manhã. Tivemos uma discussão. Isto é apenas a maneira de ele me dizer que ainda pode castigar-me.

    - Te machucou?                                                        

    - Não. - A negação foi rápida e automática, mas o olhar dele já pousara no pescoço dela.

    Sasuke não disse nada. Os seus olhos escureceram, semicerraram-se até se transformarem em duas fendas, à medida que a violência - e ela sabia como reconhecer a violência - se apoderava deles. Depois, virou-se e pegou no telefone.

    - Sasuke, espera. Por favor. Não quero chamar a polícia.

    Ele levantou a cabeça abruptamente, e a raiva semicerrada atingiu-a também a ela.

    - Nem sempre se tem o que se quer.

   

    Matsuri decidiu festejar o seu emprego potencial abrindo uma garrafa de vinho, pondo um CD da Sheryl Crow a tocar o mais alto que os vizinhos poderiam tolerar, e dançando pelo apartamento. Tudo estava a correr na perfeição.

    Adorava Progress. Era exatamente o tipo de cidadezinha de que queria fazer parte: pequena e onde toda a gente se conhecia. As estrelas estavam na posição certa quando seguira o seu instinto e se candidatara ao lugar no liceu de Progress, pensou.

    Gostava dos outros professores. Embora Matsuri ainda não conhecesse bem todos os seus colegas, tudo isso mudaria no outono, quando tivesse um horário de tempo integral.

    Ia ser uma professora maravilhosa, alguém a quem os alunos pudessem falar dos seus problemas e das suas dúvidas. As suas aulas iam ser divertidas, e ela motivaria os alunos para a leitura, para o gosto pelas coisas, para o contacto com os livros por puro prazer, lançaria as sementes para um amor eterno pela literatura.

    Claro que iria fazê-los trabalhar, e muito, mas tinha tantas idéias, tantas estratégias novas e maravilhosas para tomar o trabalho interessante e divertido.

    Dali a uns anos, quando os seus alunos olhassem para trás, haviam de recordá-la com carinho. Miss Matsuri, diriam, foi importante nas nossas vidas.                                                

    Fora isso que sempre quisera.

    O suficiente para estudar diabolicamente, pensava agora, para trabalhar arduamente e durante muitas horas para poder pagar os estudos. E o esforço valera a pena, até ao último cêntimo.  

    Tinha as contas para prová-lo.      

    Mas isso era apenas dinheiro, e ela encontrara uma maneira de fazer face a isso.

    Conheceria pessoas, faria amigos, e em breve seria um rosto familiar em Progress.

    Já estava a alargar o seu círculo de conhecimentos. Os vizinhos no prédio, Maxine no veterinário. E tinha a intenção de cimentar esses conhecimentos dando uma festa, uma reunião animada, em junho, em que cada pessoa traria qualquer coisa para comer ou para beber. Um pontapé de saída para o verão, pensou, que não colidiria com os planos de ninguém.

    Convidaria também Sakura, claro. E o Dr. Naruto, o veterinário de marcas no rosto e ar sonhador. Decididamente, gostaria de conhecê-lo melhor, pensou, enquanto se servia de um segundo copo de vinho.

    Convidaria os Uzumaki, do banco, fora muito prestativo quando ela abrira as novas contas. E depois havia Karin, da agência imobiliária. Uma língua viperina, admitiu Matsuri, mas era sempre bom ter a mexeriqueira da cidade do nosso lado. Descobriam-se coisas tão interessantes. E era casada com o presidente da câmara.                                     

    Outra pessoa interessante, lembrou-se Matsuri, com um grande sorriso e um trejeito superior. Uns certos olhares. Ainda bem que descobrira que ele era casado.

    Pensou se seria presunção da sua parte convidar os Hyuuga Uchiha. Afinal, eram os VIP de Progress. E Sasuke Hyuuga Uchiha era muito simpático, muito agradável quando esbarravam um com o outro pela cidade. Já para não dizer que era lindo.

    Podia fazer o convite, de uma forma muito simples. Não havia mal nenhum. Queria muita gente na festa. Deixaria abertas as portas para o terraço, como estavam sempre, para que os convidados pudessem ir até lá fora.                                

    Adorava o seu pequeno apartamento com jardim, e ia comprar outra espreguiçadeira para pôr lá fora. Só tinha uma, com um ar muito sozinho, e ela não tencionava ficar sozinha.

    Um dia encontraria o homem certo, e a sua paixão cresceria com as noites quentes e casariam na primavera. Começariam uma vida juntos.

    Não fora feita para ficar solteira. Queria uma família. Não que estivesse nos seus planos desistir de ensinar, claro. Era professora, mas não havia motivo para não poder ser também esposa e mãe.

    Trauteando a música que tinha a tocar, saiu para o terraço, onde Mongo estava a dormir. Bateu com a cauda no chão e rebolou, para o caso de a dona querer esfregar-lhe a barriga.

    Correspondendo às expectativas de Mongo, Matsuri baixou-se e fez-lhe festas enquanto bebia o vinho e olhava descontraidamente em volta. O terraço dava para uma bonita zona verde, bordejada pelas árvores do parque, de um lado, e por uma sossegada avenida residencial, do outro.

    Escolhera o apartamento sobretudo porque permitiam a presença de animais domésticos. Onde ela ia, Mongo ia também. E, além disso, tinha a vantagem de ser conveniente para as corridas matinais no parque.

    O apartamento era pequeno, mas ela não precisava de muito espaço, desde que Mongo tivesse um sítio para fazer exercício. E numa cidadezinha como Progress, uma casa não custava um braço e as duas pernas como em Charleston ou em Columbia.

    - Este é o lugar certo para nós, Mongo. Esta é a nossa casa.

    Endireitou-se e voltou a entrar em casa, na pequena kitchenette, enquanto cantava com Sheryl sobre o seu erro favorito. Ia continuar a festejar preparando uma enorme salada para o jantar.

    A vida, pensou enquanto cortava os ingredientes, era bela.

    Quando terminou, o crepúsculo instalava-se. Mongo gostava das cenouras, e do aipo também, por isso ela os juntara à refeição que lhe preparara. Iam comer no terraço, e ela ia beber mais um copo de vinho e ficar um pouco tonta. Depois, iam dar um belo passeio, decidiu ela enquanto se acocorava para tirar o granulado de Mongo do saco de plástico. Talvez comer um sorvete.

    Pegou na tigela. Um movimento pelo canto do olho fez o coração pular-lhe na garganta. A tigela voou-lhe das mãos e ela conseguiu soltar um pequeno grito.

    Nessa altura, uma mão tapou-lhe a boca com força. A faca que usara para fazer o jantar roçava-lhe agora à garganta.

    - Calada. Muito, muito calada, e eu não te corto. Entendido? Os olhos dela, muito abertos, giravam-lhe nas órbitas. Ondas de pavor revolviam-lhe o estômago e tornavam-lhe a pele quente e úmida. Mas estava confusa. Não conseguia ver-lhe o rosto, mas pensou reconhecer a voz. Não fazia sentido. Não fazia sentido nenhum.

    A mão dele soltou-lhe lentamente a boca e agarrou-lhe o queixo.

    - Não me faça mal, por favor, não me faça mal.

    - Ora, porque havia eu de fazer-te mal? - O cabelo dela tinha um cheiro doce. O cabelo louro escuro de uma puta. - Vamos para o quarto, onde podemos ficar confortáveis.

    - Não. - Parou, ao sentir o gume da faca na garganta, até ao queixo. O grito estava dentro dela, desesperado por soltar-se, mas a faca transformou-o em lágrimas silenciosas enquanto ele a arrastava para fora da cozinha.

    As portas que davam para o terraço estavam fechadas agora, as persianas corridas.                                                                         

    - Mongo. O que fez ao Mongo?

    - Não achas que eu ia fazer mal a um cão tão bonito e tão meigo como o Mongo?- O poder que tinha naquele momento tomou conta dele, alastrou-se por ele, tornando-o duro, quente e invencível. - Está só a dormir uma soneca. Não te preocupes com o teu cão, querida. Não te preocupes com nada. Vai ser bom. Vai ser exatamente o que tu queres.                                                     

    Empurrou-a para cima da cama, de barriga para baixo, e pôs o joelho sobre as costas dela, mantendo-a presa sob o seu peso. Trouxera precauções. Um homem tinha de estar preparado, mesmo para uma puta. Especialmente para uma puta.

    Costumavam gritar. E ele não queria usar a faca. Tinha mãos tão jeitosas. Tirou o lenço do bolso e amordaçou-a.

    Quando ela começou a mexer-se, quando ela começou a debater-se, ele sentiu-se no céu.                                                               

    Não era fraca. Mantinha em boa forma o corpo com que gostava de provocar e de seduzir os homens. O fato de ela se debater excitava-o. A primeira vez que lhe bateu, a excitação atingiu-o como se fosse sexo. Voltou a bater-lhe para que ambos percebessem quem mandava ali.

    Atou-lhe as mãos atrás das costas. Não podia correr o risco de aquelas unhas com o seu verniz cor-de-rosa, de ordinária, arranharem a sua pele.

    Calmamente, foi até à janela correr a cortina e encerrá-los no escuro.                                                                                                         

    Ela gemia através da mordaça, entontecida pelos golpes. O som fê-lo tremer e cortar-lhe ligeiramente a pele com a faca que estava a usar para lhe cortar as roupas. Ela tentou rebolar, tentou resistir, mas quando ele lhe pôs a ponta da lâmina sob o olho, exercendo alguma pressão, ficou muito quieta.                                                    

    - É isto que tu queres. - Abriu o fecho das calças e depois caiu sobre as costas dela e abriu-lhe as pernas. - É isto que andas a pedir. Que todas vocês andam a pedir.

    Quando acabou, chorou. Lágrimas de autocomiseração correram-lhe pelo rosto. Não era aquela, mas que podia ele fazer? Ela metera-se no seu caminho, não lhe deixara alternativa.

    Não era perfeito! Fizera tudo o que quisera e, ainda assim, não era perfeito.

    Os olhos dela estavam fixos e vazios quando ele lhe tirou a mordaça e a beijou na face. Cortou a corda que lhe prendia os pulsos e voltou a metê-la no bolso. Desligou a música e saiu por onde entrara.

 

 

    - Não posso ir para Beaux Revés.

    Sakura estava sentada no alpendre da entrada, a apanhar o ar suave da noite. Ainda não conseguia voltar a entrar, ainda não estava preparada para lidar com a confusão deixada pelo pai e aumentada pela polícia.

    Sasuke contemplava o cigarro que acendera para acalmar os nervos, desejando, por um breve segundo, ter um uísque para acompanhá-lo.

    - Vais ter de dizer-me por que. Ficar aqui, como as coisas estão, não faz sentido, e tu é uma mulher sensata.

    - Quase sempre - concordou ela. - Ser sensata diminui as complicações e poupa energia. Percebo agora que tinha razão quanto a chamar a polícia. Eu não estava sendo sensata. Agi levada simplesmente pela emoção. Ele me assusta e me envergonha. Ao tentar manter o assunto em segredo, como sempre, pensei que limitaria o medo e a humilhação. É horrível ser vítima, Sasuke. Sinto-me exposta e zangada, e de certa forma culpada também.

    - Não vou discutir isso, embora seja suficientemente inteligente para saberes que não tem sentido a culpa fazer parte do que está a sentir.

    - Suficientemente inteligente para saber isso, mas não suficientemente inteligente para descobrir como não sentir. Vai ser mais fácil depois de voltar a pôr a casa em ordem e de me livrar daquilo que ele deixou nela. Mas vou continuar a lembrar-me da forma como o chefe Kakashi se sentou e escreveu no livrinho dele, a olhar para a minha cara, de como meu pai me intimidou, hoje, de como tem feito toda a minha vida.

    - Não há razão para o teu orgulho ficar ferido com isto, Saki.

    -O orgulho é o caminho para a perdição. O meu pai recordou-me isso, esta manhã. Não há dúvida de que adora usar a Bíblia para levar a água ao seu moinho.                            

    - Vai encontrá-lo. A polícia anda a procura dele em duas regiões.

    - O mundo é muito maior do que duas regiões. E, que diabo, a Carolina do Sul é muito maior do que duas regiões. Pântanos e montanhas e clareiras. Tantos sítios para ele se esconder. - Balançava-se incansavelmente para frente e para trás, numa urgência de movimento. - Se encontrar uma maneira de contactar a minha mãe, ela vai ajudá-lo. Por amor e por dever.

    - Sendo assim, isso só vem dar-me razão quanto à tua ida para Beaux Revés.

    - Não posso fazer isso.

    - Por quê?

    - Por muitas razões. Em primeiro lugar, a tua mãe.

    - A minha mãe não tem nada a ver com o assunto.

    - Ora, não digas isso, Sasuke. - Lavantou-se abruptamente e foi até ao outro extremo do alpendre. Estaria ali? -perguntou-se. À espreita? À espera? - Não queres dizer isso, ou não devias dizer. A casa é dela, e ela tem o direito de dizer quem pode entrar nela e quem não pode.                                     

    - Porque haveria ela de se opor? Especialmente depois de eu lhe explicar o que aconteceu.

    - Explicar o quê? - Virou-se. - Que vais instalar a tua amante em casa dela, porque o pai da tua amante é louco?

    Ele aspirou ao cigarro e deteve-se longamente.

    - Não escolheria essas palavras, mas sim, é mais ou menos isso.

    - E eu tenho a certeza de que ela vai receber-me com flores e uma caixa do melhor chocolate. Ora, não seja tão homem nestas coisas - disse ela, erguendo a mão antes de ele poder falar. - Seja o que for que diga a porcaria da escritura, a casa pertence à mulher que mora nela, e eu não vou intrometer-me na casa da tua mãe.

    - Ela é uma mulher difícil, às vezes... Quase sempre - admitiu-o. - Mas tem coração.

    - Não, e o coração dela não vai aceitar a mulher que ela considera responsável pela morte da sua filha querida. Não discuta comigo sobre isso. - A voz de Sakura tremeu, quase falhou. - Magoa-me.

    - Está bem. - Deitou fora o cigarro, com um gesto violento, mas as suas mãos eram meigas quando as pousou nos ombros dela. - Se não queres ou não podes vir comigo, então vou te levar a casa do teu tio.

    - E assim chegamos à segunda parte do problema. - As mãos dela foram ao encontro das dele. - Irracional, cabeça dura, ilógica. Admito isso tudo desde já, para não te sentires obrigado a dizer. Tenho de construir aqui a minha defesa, Sasuke.

    - Isto não é um ponto estratégico num campo de batalha.

    - Para mim, parece-se muito com isso. Nunca pensei muito nisto dessa maneira - disse ela, com uma ligeira gargalhada. - Mas sim, isto se parece muito com o meu ponto estratégico no meu campo de batalha pessoal. Recuei tantas vezes. Uma vez, chamaste-me covarde para me fazeres reagir, mas a verdade é que, ao longo da minha vida, tenho sido quase sempre covarde. Tenho tido pequenos rasgos de coragem, e isso só piora as coisas quando me vejo voltar a cair. Desta vez, não posso deixar que isso aconteça.

    - E como é que ficar aqui te torna corajosa em vez de estúpida?

    - Torna-me inteira. E quero tanto voltar a sentir-me inteira. Acho que arriscaria qualquer coisa para não ter este lugar vazio dentro de mim. Não posso deixar que ele me expulse.

     - Quando era criança, vivi amedrontada nesta casa. Era uma forma de vida - disse ela -, e habituei-me a ela como as pessoas se habituam a certos cheiros, acho eu. Quando voltei, fiz dela a minha casa, sacudindo todas essas más recordações como pó de um tapete. Arejando esse cheiro, Sasuke. Agora, ele está a tentar trazer o medo de volta. Não posso deixar. Não vou deixar - acrescentou, virando-se até os seus olhos voltarem a encontrar os dele. - Foi isso que fiz esta manhã. Não dizer a ninguém, manter o assunto em segredo. Mais um segredo, pequeno e sujo. Se não me tivesses obrigado, era isso que eu tinha feito aqui também. Vou ficar. Vou limpá-lo deste lugar e vou ficar. Espero que ele saiba isso.

    - Quem me dera não te admirar por fazeres isto. - Passou a mão pela parte solta do cabelo dela. - Era mais fácil obrigar-te a fazer as coisas à minha maneira.

    - Não costumas obrigar as pessoas a fazer as coisas. - Talvez por alívio, talvez por outra coisa, passou-lhe a mão pelo rosto. - Tu manobras, não obrigas.

    - Bem, é um ponto a favor do futuro da nossa relação, teres percebido isso e conseguires viver com isso. - Abraçou-a e pousou os lábios na cabeça dela. - É importante para mim. Não, não comeces a defender-te. Depois, vou ter de manobrar-te. É importante para mim, Saki, mais do que eu tencionava que fosses.

    Ela manteve o silêncio e ele deixou-se dominar pela frustração. Às vezes, era o mais honesto.

    - Dá-me qualquer coisa como resposta, droga! Ele empurrou-a para trás, depois a puxou para cima e esmagou a boca contra a dela.

    Ela sentiu o sabor da urgência, o calor, os pequenos laivos de raiva que ele escondia tão bem. E foi aquela dose de emoção pura, não filtrada, vinda dele que fez disparar mais um raio dentro dela.

    Céus, ela não queria ser amada, nem que alguém precisasse dela, não queria que aqueles sentimentos voltassem à vida dentro de si, outra vez.

    - Já te dei mais do que pensei que tinha. Não sei o que tenho mais. - Agarrou-se a ele, enterrou-se nele. - Há tanta coisa a acontecer dentro de mim, que eu não consigo lidar com isso. Anda tudo em círculos. Não chega?

    - Sim. - Ele afastou-a um pouco para voltar a beijá-la, desta vez suavemente. - Sim, por agora chega. Desde que abras espaço para mais. - Passou os polegares pelas faces dela. - Tiveste um dia dos demônios, não foi?

    - Não posso dizer que tenha sido um dos melhores.

    - Então, vamos acabá-lo bem. Vamos começar.

    - A quê?                                                     

     Ele abriu a porta de tela.

    - Querias limpá-lo daqui. Vamos a isso.

    Trabalharam juntos durante duas horas. Ele pôs música. Ela não teria pensado nisso, ter-se-ia concentrado nos pormenores, mantido a mente rigorosamente canalizada para as tarefas. Mas a música percorria a casa, a cabeça dela, distraindo-a o suficiente para impedi-la de ficar a matutar no mesmo.

    Apetecia-lhe queimar as roupas em que ele tocara, viu-se a levá-las lá para fora, a dispô-las numa pilha e a acender um fósforo. Mas não podia dar-se a esse luxo. Por isso, lavou-as, dobrou-as e guardou-as.

    Viraram o colchão cortado. Teria de ser substituído, mas por agora ficava assim. E com lençóis lavados, mal se dava por isso.

    Sasuke falou do seu trabalho, e a sua voz invadiu agradavelmente a mente de Sakura, em harmonia com a música. Limparam a cozinha, comeram sanduíches e ela disse-lhe que estava pensando em contratar alguém para ajudá-la na loja.                                       

    - É uma boa idéia. - Ele serviu-se de uma cerveja, satisfeito por ela ter pensado em ter cerveja para ele. - Vais apreciar melhor o teu negócio se não te sentires estrangulada por ele. Matsuri, é a nova professora do liceu, não é? Vi-a e ao cão, há umas semanas, no minimercado. Parece um feixe de energia.

    - Foi essa a minha impressão.                                  

    - Numa embalagem muito atraente. - Ele sorriu e bebeu um pouco mais da cerveja quando Sakura ergueu as sobrancelhas. - Estava a pensar em ti, querida. Uma empregada atraente é uma mais-valia para o negócio. Acha que ela irá trabalhar com aqueles calções curtos?

    - Não - disse Sakura com firmeza. - Não acho.

    - Aposto que atrai uma série de clientes masculinos se deixar que os calções façam parte da indumentária dela. Aquela rapariga tem belas pernas.

    - Pernas. Hummm. Bem, ela e as pernas dependem das referências que me derem sobre ela. Mas acho que vão ser boas. - Sakura varreu o último lixo e despejou-o no caixote. - Parece ser o melhor que pode ser feito.

    - Esta melhor?

    - Sim. - Atravessou a cozinha para guardar a vassoura e o pano do pó. - Consideravelmente. E estou muito agradecida pela ajuda.

    - Estou sempre aberto à gratidão.

    Ela tirou o jarro da geladeira e serviu-se de um copo de chá gelado.

    - O roupeiro do quarto não é muito grande, mas arranjei espaço. E há uma gaveta vazia na cómoda.    .

    Ele não disse nada, limitando-se a beber a cerveja. Ficou à espera.

    - Querias trazer para cá algumas das tuas coisas, não querias?

    - Sim.

    - Então...   

    - Então?                      

    - Não vamos viver juntos. - Ela pousou o copo. - Nunca vivi com ninguém, e isto também não é viver contigo.

    - Está bem.

    - Mas se vais passar tanto tempo aqui, deves querer ter um espaço para guardares as tuas coisas.                                          

    - Muito prático.

    - Olha, vai para o inferno! - Mas não havia qualquer raiva na resposta.

    - Não é hábito dizer essas coisas a rir. - Ele pousou a cerveja e pôs os braços à volta dela.

    - Que pensas tu que estás fazendo?      

    - Dançar. Nunca te levei a dançar. É uma coisa que as pessoas que não vivem juntas devem fazer de vez em quando.

    Era a velha imagem, de um rapaz a pedir a uma moça que ficasse com ele depois de escurecer.        

    - Estás tentando ser simpático?

    - Não tenho de tentar. Faz parte da minha maquiagem. - Ele fê-la dobrar-se para trás e ela riu.

    - Muito leve e habilidoso.

    - Todas aquelas miseráveis horas de danças de salão haviam de dar algum resultado.

    - Pobre rapazinho rico. - Pousou a cabeça no ombro dele e deixou-se ir, desfrutando a dança, o corpo dele junto ao dela, o cheiro dele. - Obrigada.

    - De nada.

    - Quando vinha para casa, esta noite, vinha pensando em ti.

    - Soa bem.

    - E vinha a pensar: até agora ele tem tomado todas as iniciativas. E eu deixei, porque não tinha a certeza se eu queria tomar alguma ou contrariar alguma das dele. Era como se fosse fácil ser...

    - Manobrada?

    - Acho que sim. E vinha a pensar: como reagiria o Sasuke Hyuuga Uchiha se eu chegasse a casa e fizesse um belo jantar para nós dois.

    - Acho que ele gostava muito.

    - Sim, bem, fica para outra vez. Essa parte do plano não deu em nada. Mas havia uma segunda parte.

    - Que era...               

    Ela levantou a cabeça do ombro dele e olhou-o nos olhos.

    - Como reagiria o Sasuke Hyuuga Uchiha se depois disso, quando estivéssemos calmos e descontraídos... O que faria ele se eu o seduzisse?

    - Bem... - Foi tudo o que conseguiu dizer quando ela pressionou o corpo contra o dele e começou a passar-lhe as mãos pelos quadris. O sangue ferveu-lhe deliciosamente. - Acho que o mínimo que posso fazer como cavalheiro é deixar-te descobrir.

    Desta vez foi ela que desapertou os botões, a camisa dele e depois a dela. Pousou os lábios no coração dele, na pele quente e vibrante.

    - Tenho o teu sabor em mim desde a primeira vez que me beijaste. - Percorrendo-o com os lábios, despiu-lhe a camisa. - Consigo reviver os sabores, e fiz isso com o teu, muitas vezes.

    Passou as mãos pelo peito dele, pela barriga - ele estremeceu -, e depois até aos ombros. Ombros largos e fortes.

    - Gosto de sentir-te. Músculos longos e fortes. Excitam-me. E as tuas mãos, ásperas do trabalho, a percorrer-me. - Abriu a blusa e deixou-a escorregar até ao chão, onde foi juntar-se à dele. Sem deixar de olhar para ele, desapertou o sutiã e deixou-o cair.

    - Toca-me.

    Ele tomou-lhe os seios nas mãos, o seu peso quente e suave, e tateou-lhe os mamilos com as pontas dos polegares.

    - Sim, gosto disso. - Deixou cair à cabeça para trás, enquanto o calor lhe girava na barriga. - Assim mesmo. Derreto por dentro quando me tocas. Vê? - Os olhos dela, lânguidos e escuros, fixaram os dele. - Quero...

    - Diz-me.

    Umedeceu os lábios e desapertou-lhe o botão das calças. As mãos dele percorriam-na, numa carícia forte.

    - Quero sentir o que sentes. Quero o que tens dentro de ti dentro de mim. Nunca experimentei isso com ninguém. Nunca quis. Deixa-me?

    Ele inclinou a cabeça e roçou os lábios nos dela.

    - Leva o que quiseres.

    Era um risco. Ela estaria aberta, exposta, muito mais indefesa do que ele. Mas ela queria isso, tudo isso, e aquele laço intenso de confiança.

    Ela voltou a pousar os lábios nele e abriu-lhe a mente, o coração, o corpo

    Foi como um raio, um relâmpago, a força daqueles desejos, daquelas imagens entrelaçadas. O desejo dele, misturado com o dela, dentro dela. Invadia-a, profundo, luminoso, uma massa de energia. Era tão forte que a cabeça lhe pendeu para trás e ela atingiu o clímax num longo jorro erótico.

    - Céus, céus. Espera.

    - Não. - Ele nunca sentira nada assim. Os laços daquela união apertaram-se mais, numa maravilhosa mistura. - Mais. - Cravou-lhe os dentes no ombro, saboreando a carne. - Outra vez. Agora.

    Ela não conseguiu parar, varrida como que por uma tempestade cheia de fúria e esplendor. Foi ela que o arrastou para o chão, ela que, com a respiração entrecortada, implorou, exigiu, ameaçou, enquanto rasgavam as roupas um ao outro.

    Unida a ele, como se tivesse garras beliscou-o enquanto rolavam pelo chão. O bater do coração dele estava dentro dela, selvagem, esmagando-se contra o dela. O sabor dele, o sabor dela própria, misturados, a saturá-la.

    Quando ele mergulhou dentro dela, ela sentiu o latejar urgente do sangue dele, o labirinto desesperado dos pensamentos dele. Perdidos. Ela gritou, uma, duas vezes. Estavam ambos perdidos.

    Ela ouviu o nome dela, a voz dele a chamá-lo dentro da mente dela, segundos antes de os lábios dele o pronunciarem. Quando ele se esvaiu dentro dela e a arrastou com ele, todo aquele esplendor fê-la chorar.


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Notas finais do capítulo

Nohhhhhhhh
O q acharam???
Por favor preciso de reviews para sobreviver... Estou tao trist pois nah recebi nada nos ultimos capitulos...
Estou postando pois sei q tem alguns q gostam da historia e prometi continuar postando, mas as vezes, fico realmente deprimida.
Entao façam essa autora feliz e deixem um comentariozinho. Prometo que o dedo de vcs nao irá cair!!!
hehehhh
Bjux



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