Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 1
Capítulo 1




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Socorro

 

Despertou no corpo de sua amiga morta, podia sentir o cheiro doce que vinha de seus cabelos negros e curtos que a mãe escovava antes de dormir. Tinha apenas 8 anos e a pele clara, olhos azuis claríssimos que encantavam a todos.

Caminhou ate o pai, que estava em seu escritório fumando, e lhe deu um beijo de boa noite como fazia todas as noites. Sentiu o cheiro forte de tabaco e wisk, tinha certeza que o pai andara bebendo. Ele lhe fez cócegas e mandou-a subir ao quarto.

Subiu as escadas e passou lentamente pelos corredores do segundo andar. Viu a luz do quarto do irmão Sasuke acesa e sorriu. Um dia ele seria o dono de Beaux Reves, se sentaria na escrivaninha da torre e ficaria olhando aqueles montes de livros de contas, assim como o pai fazia agora. Fumaria charutos e supervisionaria a fabrica e a colheita, reclamando todos os dias dos preços do algodão. Simplesmente porque era o filho homem.

Arrepiou-se ao se imaginar no lugar dele. Não queria isso para si, gostava de aventura e era isso que teria hoje. Continuou a andar parando na frente do quarto da irmã. Com certeza ela estaria com raiva, já que o pai brigara com ela na hora do jantar. Não entendia o que ocorria com Hinata, apesar de serem gêmeas eram totalmente diferentes na personalidade. Sua irmã fazia questão de fazer qualquer coisa para irritar as pessoas, principalmente os pais. Pensou em entrar e acalmá-la como sempre fazia, mas hoje não. Afinal hoje era dia de aventuras e estava tudo programado.

Continuou ate o seu quarto onde fechou a porta. Arrumou a cama no escuro colocando almofadas para fazer de conta que era seu corpo embaixo dos lençóis. Pegou sua maleta rosa que já estava preparado com uma lata de refrigerante, um pacote de bolacha, um canivete muito velho e já enferrujado, uma bússola, uma lanterna pequena, fósforos e uma pistola de água carregada.

Abriu a janela e sentiu o vento morno do verão, passou pelo peitoril colocando os pés na treliça por onde desceu. Correu ate a moita onde escondeu durante a tarde a bicicleta amarela com fitinhas no guidão. Montou nesta e saiu pedalando rápido para o seu destino. Sentiu a mulher dentro de si gritar: Volte agora mesmo, Mas não deu ouvido. Continuou a pedalar ate estar longe de casa, e quando começou a ouvir sons das rãs e grilos parou saindo da estrada. Escondeu a bicicleta no gramado alto e entre as arvores e correu. Imaginou-se uma ninja qualificada a matar espiões de outras vilas. Mas sua amiga e fiel companheira e ela não deixariam ninguém fazer mal ao seu povo! Seguiu o caminho estreito ate o pântano onde se encontraria com a amiga. Ali o mundo era maravilhoso, com os sons, a água, os insetos e as pequenas criaturas noturnas.

Como foi a primeira a chegar, removeu os galhos e limpou o local em que se sentariam, ascendendo à fogueira a seguir. Mas o tempo passava e sua amiga não chegava. Logo o sono a tomou e ela acabou por cochilar.

Escutou lá no fundo dos seus sonhos o farfalharem do mato, mas não deu importância ate que escutou um galho partindo-se. Acordou de um salto, colocando-se de pé.

A senha!- gritou sem retorno. O silencio estava a assustando. Ligou a lanterna e focou o pântano. Mas o barulho agora vinha de trás de si. Virou-se focando naquela direção.

- Não esta me assustando! Pare já com isso!

Então o barulho veio de seu lado direito e o medo tomou todo o seu corpo. Ela pulou para trás e saiu correndo gritando por sua amiga.

- Sakura, Sakura, socorro!

Ela escutou passos pesados atrás de si, alguém a seguia e estava muito perto. Sentiu algo a atingindo nas costas e caiu no chão com folhas mortas. Alguém a vira e coloca todo seu peso em cima dela. Toma fôlego e grita mais uma vez pela amiga.

- Sakura, Sakura, socorro!

A mulher dentro da criança chora pela menina morta.

 

 

Acordou no pátio de sua casa, usando apenas o seu pijama e completamente molhada pela chuva que insistentemente caía. Sentiu seus olhos arderem e constatou que estava chorando. Ainda podia escutar os gritos, mas não sabia se eram os seus ou os da criança que não saia da sua cabeça.

Levantou e entrou em sua casa tentando esquecer, mas sabia que era impossível. Sentiu o enjôo e se escorou na parede próxima, estava fraca. Lembrou-se de seus pais e como sua mãe falava que após o feitiço Sakura sempre se sentia assim. Konan, sua mãe, sempre a tratava como uma bruxa, um ser maligno. Já seu pai Pain, era mais cruel. Quando tinha alguma visão tinha que se controlar porque se não o pai a batia de sinto.

Vou surrá-la ate expulsar o demônio de você, menina!

Para Pain, tudo era o demônio. Com a náusea ela desejou naqueles minutos que ele tivesse conseguido.

Com os anos acabou aceitando o seu dom e aproveitou-o. A avó, sempre um amor, lhe disse que era um legado. A visão. O brilho. Um dom de sangue através do sangue.

Mas havia Hope, cada vez mais havia Hope. A deixava apavorada ter esses relances de sua amiga de infância.

Foi ate o banheiro tomar um banho quente para passar o mal estar. Retirou as roupas e ligou o chuveiro no quente.

- Não posso ajudá-la. – Murmurou. – Não pude naquele dia, e não poderei agora.

Sua melhor amiga e irmã de coração morreu naquela noite no pântano, enquanto ela se encontrava trancada no quarto chorando após a ultima surra.

Ela vira tudo, e não pudera fazer nada.

A culpa que sentiu naquele dia a 15 anos ainda estava viva em seu coração hoje.

- Não posso ajudá-la. – Murmurou. - Mas voltarei.

 

 

Naquele verão de sol forte e vento quente, Hope e eu fomos muito mais que amigas, fomos irmãs. Era estranho para quem nos via sempre juntas à morena de família rica e dona de muitas terras e a menina de cabelo rosa a coitada que morava na casinha perto do pântano em um pequeno espaço de terra que os pais arrendaram da família Hyuuga Uchiha. Às vezes, minha mãe ajudava nas festas chiques que a Sra Hyuuga Uchiha dava em sua mansão, que na verdade era como um castelo com torres e saletas.

Para nós, nada disso fazia diferença. E naquele verão fomos às ninjas mortais em nossas aventuras. Um dia fizemos um pequeno corte no dedo e nos tornamos irmãs de sangue. Hope tinha uma irmã gêmea, mas nossas brincadeiras eram chatas demais ou infantis demais para Hinata, na verdade qualquer coisa era demais para ela. Então naquele verão Hope e eu fomos às gêmeas.

Naquela noite combinamos de nos encontrar no pântano a noite. Eu teria que levar marshmallows e limonada, fazia isso por orgulho já que minha família mal tinha dinheiro para se sustentar. Peguei minhas moedas do pote de vidro que guardava embaixo da cama e comprei os mantimentos.

A noite estava à mesa com meus pais jantando calmamente, a noite estava quente e suava enquanto colocava as colheres de arroz com galinha na boca. O silencio predominava o ambiente.

Minha mãe tinha medo de meu pai, por isso a perdoava por não me defender de sua mão pesada. Ela limpou a garganta e comentou que a colheita de tomate e milho ia ser boa naquele ano e como estaria ocupada fazendo conservas. Meu pai apenas a olhou, mas eu podia ver a maldade se escondendo atrás daquele rosto que um dia fora muito bonito. Então encorajada ela perguntou o que ele achava dela ajudar em Beaux Reves, já que eles também estariam fazendo suas conservas. Ele cometou que achava bom desde que ela não se esquecesse dos seus deveres em casa. Ela sorriu em resposta.

Eu pude respirar tranquilamente de novo, às vezes, qualquer menção a família Hyuuga Uchiha era motivo para Pain se encher de ódio. Mas por sorte hoje ele estava mais brando.

Minha mãe, Konan, comentou sobre a parafina, dizendo que não sabia onde ela estava.

Eu estava muito distraída e respondi a minha mãe que a caixa se encontrava na prateleira em cima do fogão e atrás do melaço e da maisena. Falei o que vi em minha mente sem pensar duas vezes.

Só pude perceber a besteira que havia feito após terminar de falar. Fechei os olhos e escutei meu pai perguntar calmamente como sempre fazia antes de explodir.

  Como você sabia onde estava Sakura? Em um lugar que nem ao menos alcança?

Fiquei desesperada e menti. Foi pior, muito pior eu já estava condenada.

  Lembrei de ter visto mamãe guardar ali!

Meu pai sempre fora um homem inteligente.

  Como sabia que estava atrás e não na frente ou ao lado do melaço e da maisena?

Mamãe não disse nada enquanto ele esmurrava-me com as palavras. Papai levantou e foi verificar, ele não poderia me bater sem ter a razão concreta é claro. O seu Deus não permitia esse tipo de coisa. Quando percebi que estava tudo do jeito que falei comecei a chorar. Rezei mentalmente para que o castigo fosse apenas orações, mas sabia que seria pior. Ele me havisara para não deixar o demônio entrar e eu estava deixando. Pedi desculpas, e implorei para que me entendesse, mas não adiantou. Suas mãos pesadas me arrastaram para o quarto enquanto falava as escrituras. O rosto dele estava vermelho de fúria, como uma tocha de fogo. Deu-me um única tapa na cara que me fez parar de suplicar. Deitou-me na cama de bruços e tirou o sinto, eu podia ver o que viria a seguir. O primeiro golpe com o sinto sempre doía mais, logo após vinha o segundo que me deixava com a pele em brasa seguida do terceiro.

Ele pregava enquanto me batia, era algo excitante para ele eu podia sentir. A primeira vez que apanhei tinha apenas cinco anos e depois nunca mais parou.

Trancou-me no quarto após ter me espancado e eu chorei ate dormir. Acordei mais tarde e orei para que finalmente o demônio tivesse me deixado em paz. Logo após comecei a sentir formigamento nos dedos, pude ver Hope e o pântano. Senti todo o desespero de minha amiga e principalmente quando ela gritou por mim, então vi apenas o escuro.

Acordei no outro dia com o sol pegando em meu rosto através da pequena janela. Estava estendida no chão e Hope não existia mais.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor, gostaria de saber o que acharam!!!
Bjux