Dava para ouvir os gritos das pessoas no portão de Winterfell aguardando a tão esperada visita de Sansa Stark. O barulho chegava a ser ensurdecedor. Entretanto, dava, também, para ouvir alguns xingamentos a Tyrion Lannister.

Winterfell estava diferente do que ele se lembrava e era claro perceber isso. Muita coisa havia mudado. O Castelo principal havia ficado maior, e mais alto, com mais torres e ainda mais imponente. Algumas outras coisas haviam mudado de lugar, dali onde estava, deveria conseguir ver parte dos estábulos, que agora já não estavam mais ali, e ocupando seu lugar estava um grande jardim.

Assim que a carruagem parou, ela saiu à porta. Sorrindo. Feliz por finalmente voltar para casa. Feliz por poder rever os irmãos. Feliz por estar viva.

- Rainha Sansa! Rainha Sansa! Rainha Sansa! – Não havia uma única pessoa que não estivesse gritando o nome dela.

Mais a frente estavam os irmãos, todos os irmãos vivos, inclusive o bastardo Jon Snow, e junto a eles estavam os lobos deles, exceto aquela que fora a loba de Sansa, Lady, pelo que se lembrava. Até mesmo o lobo gigante de Robb Stark estava ali com seus irmãos lobos.

Tyrion comportou-se como um rei durante todo o dia. Apesar dos olhares rancorosos e xingamentos que alguns dirigiam a ele, alguns mais recatados, outros mais diretos. Acompanhou Sansa onde quer que ela fosse.

O salão estava ainda mais bonito do que ele se lembrava. Vassalos e mais vassalos da casa Stark e casas pertencentes ao Reino do Norte estavam ali, dançando, rindo, comendo e, depois de muito tempo, finalmente se divertindo. Ele conseguia distinguir alguns Karstark, Mormont, Reed, Poole, Bolton, e havia muitos que ela não fazia ideia de quem era.

Sansa usava um manto de pele urso para aquecê-la do frio do Norte, havia um pequeno lobo branco bordado nele. E por baixo, um vestido de seda de Myr nas cores da Casa Stark que Tyrion havia mandando fazer ainda em Porto Real. A cor ressaltava o vermelho dos cabelos, assim como o pequeno decote ressaltava seus seios. A seda dava um aspecto ainda mais real à futura rainha. Pequenas pérolas deixaram o vestido com um brilho único. O fogo fazia-o parecer, ao invés de branco, de um azul claro. A coroa que puseram em sua cabeça no meio do baile era uma versão mais feminina daquela que Robb Stark usou. O ouro da coroa brilhava devido às chamas da lareira, as pedras preciosas cintilavam enquanto a rainha dançava dando voltas no salão. Nenhuma mulher estaria mais radiante do que Sansa Stark.

Tyrion usava um gibão azul escuro sob um manto de veludo de um tom mais claro que o azul escuro do gibão. Apesar de um Lannister ter prefiro usar carmesim e dourado Tyrion prefiriu optar pelas cores escuras que em nada lembravam seu sobrenome. E diferente do tom carmesim da Casa Lannister o azul escuro caíra bem a ele.

Houve muita dança, muita comida, muita risada. E muita conversa entre o que restava da famíla Stark. Tyrion permaneceu no estrado durante toda a festa. Entretanto Sansa foi convidada para dançar por lordes das mais diversas casas, Tully, Cassel, Karstark e outros que ele não reconhecia...

Bando de bajuladores, eu não sei se vocês sabem, mas Sansa Stark tem um esposo agora. E esse sou eu. Nunca poderei fazê-la dançar dessa forma. Mal consigo acompanhar seus passos andando... Segundo dizem, o único casamento que pode ser cancelado é aquele que ainda não foi consumado. Eu e Sansa nunca fizemos nada. Quem sabe ela goste da ideia de poder cancelar... Mas... Tyrion Lannister atenha-se aos fatos. Ela nunca será sua. Pode desejá-la com todas as suas forças, não adiantará de nada.

Enquanto assistia a dança de Sansa do estrado, apenas algumas pessoas ousaram a falar com o “irmão do Regicida”. Tyrion fora muito cordial com todos eles, deixando todo o sarcasmo e ironia habituais de lado. Alguns deles pediram para que ele tomasse conta de moça, ou então, ele não seria apenas meio homem, seria um meio homem morto. Muito amáveis.

 Mas nada parecia afetar mais Tyrion do que ver o quanto de rapazes flertavam com sua esposa enquanto ele nada poderia fazer. Até os irmãos dela estavam sorrindo, comendo e brindando ao fim da guerra, ao Reino do Norte.

Algum tempo mais tarde ela resolveu juntar-se a ele no estrado. Bebericar um pouco do vinho. Conversar mais um pouco. Até que finalmente...

- Tyrion, acho que meu esposo deveria me acompanhar numa dança pelo menos, não?

- Mal posso caminhar ao seu lado, o que dirá dançar. Apenas faria com que rissem às minhas custas, e quem sabe às suas. Estou plenamente satisfeito em permanecer no estrado enquanto minha esposa se diverte no baile de boas-vindas a ela. – Havia uma grande entonação no “a ela”, e Sansa foi capaz de perceber isso.

- Já que se recusa a dançar, penso que já está na hora de dormir. Acho que já extrapolei minha cota de dança e vinho por uma noite. – Aqueles olhos... Olhando-o daquele jeito.

Estarei eu ficando louco de vez? Apaixonando-me por Sansa Stark?

- Tem certeza, minha senhora? Creio que alguns dos convidados gostariam de mais algumas danças. – Apesar de não o ter desejado, o tom da sua voz afirmava certo desgosto por essas danças, e ela o havia percebido.

- Estou cansada. Amanhã será um longo dia. Quero ir a muitos lugares. O senhor me acompanha?

                - Não acho que me veriam com bons olhos se eu a deixasse ir sozinha. Vamos.

Sansa se despediu dos convidados, agradeceu, e foi ter com a família, mais algumas palavras e ela se virou para ele. E como de costume os dois andaram lado a lado até os aposentos que seria do casal. Tyrion sentia os olhos em suas costas enquanto andava em direção à porta. Podia senti-los dando pequenas risadas, provavelmente de suas pernas tortas e coxas, o nariz faltando e o quão parecia idiota ao lado de Sansa.

O quarto destinado à rainha e ao rei era grande, com grandes janelas e uma lareira. A cama suportaria dez Tyrions esticados e espaçosos nela. Mas, ele não tinha certeza se suportaria uma Sansa e um Tyrion ao mesmo tempo. Esse tapete de peles me parece bastante agradável. Deve resolver o meu problema. Depois de rodar pelo quarto e ver tudo o que tinha para ver ela se dirigiu ao quarto de banho para se despir.

- Não sei como Robb conseguia usar uma coroa. Ela pesa muito. Tyrion. Tyrion. Por favor, uma ajuda?!

Ouvi direito? Ela está me chamando do quarto de banho?

- Tyrion. Preciso de ajuda com todas essas presilhas. Pode me ajudar?

Ela tinha um ombro nu, os cabelos soltos, e olhava para um espelho. Algumas presilhas a impediam de tirar o vestido inteiro então ele ficou preso ali, pela metade. Tyrion chegou devagar, sem ter certeza do que deveria fazer.

- Retire primeiro a da ponta.

Ele o fez. Em seguida retirou a mais próxima a aquela. E a última prendia uma profusão de panos no meio de suas costas. Tyrion deslizou a mão por ali, até encontrar o fecho da presilha. Nesse meio tempo ele conseguiu ouvir a respiração dela se acelerar e os pelos se arrepiarem. Ao mesmo tempo, sentiu seu membro ficando rígido, e o máximo que pode fazer foi deixá-la ali, e torcer para que ela não tivesse percebido nada. Tyrion correu, ou pelo menos, tentou, porta afora, buscando um lugar no qual pudesse se tranquilizar.