Arya havia chego ao castelo nesta tarde. Sem montanhas de neve que pudessem atrasar ainda mais a sua chegada, as dezenas de carroças atravessaram os portões principais escoltados por outras dezenas de pessoas que haviam enfrentado a jornada até Porto Real e por outras dezenas de guardas da Patrulha da Cidade que Bran havia insistido que fossem posicionados para que nada de mal ocorresse. E assim como a rainha previra, nada de mal ocorre. A multidão apenas aplaudiu calorosamente enquanto o comboio fazia sua caminhada, seguido por vivas à rainha Sansa.

Sansa, juntamente com Tyrion, fizera um discurso assim que Arya passou pelas portas do castelo. Em frente a uma multidão que aguardava ansiosa pelas palavras da rainha, Sansa fez sua entrada logo depois que os sinos tocaram. Vestida com um vestido nas cores Stark - como sempre fazia quando haviam eventos -, de mangas compridas e justas, sendo este coberto por um espécie de sobretudo preto, tinha seus cabelos soltos em cachos que lhe desciam até a cintura, e a coroa que brilhava sob o leve sol de inverno. Assim que os aplausos cessaram ela começou:

- Como todos vocês aqui sabem, o inverno não é um época fácil para os nortenhos. O inverno está chegando, é o lema dos Starks. Ainda mais depois de tanta guerra. Mas não importa qual estação estamos ou estaremos, juntos faremos um castelo, e ainda mais, um reino próspero, forte e honrado. É o que meu pai gostaria. E é o que faremos - houve uma breve pausa, e Tyrion viu sua esposa respirar fundo. - Hoje vocês viram chegar o início das mudanças. Tudo o que Arya trouxe hoje do sul será distribuído entre todos vocês. E, tenho a honra de dizer que, meu esposo, teve uma brilhante ideia que poderá nos fortalecer ainda mais - ela disse, olhando diretamente para ele durante um brevemente. - Isso é tudo.

Como o esperado mais palmas se sucederam e logo, gritos de saudação à rainha.

Tyrion passou o resto do dia concentrado na tarefa de iniciar os trabalhos do depósito que havia construído. Enquanto Sansa, ao que ele pode perceber, passara o dia com Rickon e os mantimentos. Não seria uma tarefa fácil distribuir proporcionalmente para o castelo.

No subsolo do depósito, Tyrion terminava que organizar algumas caixas quando um dos trabalhadores lhe informou que Arya gostaria de falar com ele, se possível. Espontaneamente esperava por alguma bronca ou algo do tipo. Mesmo assim, subiu as escadas o mais rápido que pode com suas pernas tortas.

- Gostaria de falar comigo, milady?

- Sim, Vossa Graça. Se estiver disponível - Vossa Graça, de onde vem isso agora?, pensou Tyrion.

- Sim, sim, é claro. Mas se você não se importa, eu gostaria de me sentar.

Quem passasse por ali não notaria a estranheza daquela cena, afinal, o rei apenas conversava com sua subordinada. Porém, havia muito mais do que isso. Ali, ele não era rei nenhum. E para Arya principalmente, ele nunca seria. A não ser que um milagre aconteça, trazendo o verão consigo.

Mesmo depois de sentados, o silêncio permaneceu por mais algum tempo entre os dois. Tyrion não sabia o que dizer. Esperava calmamente por palavras bruscas que tantas vezes já ouvira. Nada de novo, nada de novo.

- Ty- Vossa Graça, sei que não tenho sido a melhor pessoa para com o senhor. Reconheço meus erros. E estou aqui para dar um jeito neles e dar um fim à essa discórdia que já dura mais do que o necessário. Soube do que fez por Sansa. Ela parece muito feliz, quase como antigamente. E ela realmente parece gostar, acreditar e confiar no senhor - Arya disse, quase sem pausas. E quando Tyrion percebeu que ela não falaria mais nada:

- Eu... Preciso de um minuto - respondeu o anão, rapidamente. - Isso não é, nem de longe, o que eu imaginei que você diria. Eu... Ahn... Arya, milady, eu sinceramente entendo. Eu agiria da mesma forma se o que aconteceu com vocês, e principalmente, se tudo o que eu ouvi sobre você está certo, com você acontecesse com a min-... Comigo. Minha família... - Porque dizer “minha família” parece tão errado e falso agora? - Destruiu a sua. E eu devo ter culpa nesse meio, sinceramente. Então, temos uma trégua?

- Sim, temos - Aquilo que eu acabei de ver foi um sorriso?, Tyrion indagou-se. - Se aprouver a Vossa Graça, gostaria de me retirar e ver o que posso fazer para ajudar Rickon.

- Sim, sim. Vá.

Depois de ter certeza que Arya havia ido, Tyrion sorriu consigo mesmo. E logo o sorriso desfez-se quando pensou na sua “família”. Seu pai Tywin estava a quilômetros de distância, em Rochedo Casterly*, provavelmente ainda frustrado com o acordo que os reinos haviam feito. Cersei... Tyrion não fazia ideia do que ela poderia estar fazendo agora; poderia ter morrido e nem Jaime nem o pai se dariam ao trabalho de enviar-lhe um corvo. Jaime... O irmão sempre fora bom com ele, quando todo o resto desprezava-o; dentre todos era de quem mais sentia falta. Sentia falta também de Tommem e Myrcella. Adorava a ingenuidade e amabilidade de Tommem e a esperteza e simpatia de Myrcella. Kevan era bom para ele como qualquer tio, irmão de Tywin, poderia ser. Mas a verdade é que, mesmo tendo Jaime, nunca sentira que aquela era a sua família, nunca se sentira verdadeiramente parte dela.

Tyrion não sabia há quanto tempo ficou refletindo sobre o assunto, sendo desperto apenas quando sentiu algo se mover ao seu lado. Sansa.

- Oh, desculpa, não queria te despertar da sua... Hipnose - Sansa disse com um olhar brincalhão no rosto.

- Eu... Há quanto tempo está aqui?

- Essa é uma boa pergunta... Posso dizer pelo o sol que estou aqui há um bom tempo. No que você tanto pensa?

- Você se incomodaria se nós entrássemos e saíssemos de frio?

- Não, é claro que não.

Seguiram para o quarto em silêncio. Os pensamentos sobre a família e, agora, os Starks ainda rondando a cabeça de Tyrion. Quando finalmente chegaram ao quarto, Tyrion foi direto ao quarto de banho despir-se das roupas molhadas devido ao gelo. Enquanto isso, pode ouvir Sansa no quarto retirando o casaco.

- O que o incomoda tanto? - perguntou Sansa assim que viu Tyrion de volta ao quarto.

- Arya veio falar comigo hoje.

- E ela foi rude com você?

- Não, não, pelo contrário.

- E então?

- Bom, não é nada. O sol já se põe. Você deveria ir dormir.

- Não dormirei até que você me diga o que há de errado.

Antes de responder, Tyrion inspirou fundo e logo expirou.

- Sinto falta de Jaime. Às vezes sinto até mesmo falta de Cersei. Cersei e seus ataques de fúria, desprezo e o amor incondicional que desenvolveu por vinho. Percebi isso essa tarde - ele disse, olhando para o chão.

- Não há nada de errado em sentir falta da sua... Família.

- Família. Eu sempre fui o anão, duende, coxo, torto, aquele que matou a mãe no parto. Meu pai... Meu pai nunca gostou de mim, por várias razões. O preferido dele sempre foi Jaime, até que Jaime o desafiou. De alguma forma, isso só fez com que ele me odiasse ainda mais. Apenas Jaime olhava para mim como ele olhava todos os outros. Eu nunca me senti parte de uma família. Bom, nunca até ter você.

Apenas depois de terminar é que Tyrion sentiu seus olhos úmidos. Mas impediu-se de chorar e fez cada gota de lágrima voltar de onde quer que tenha vindo.

- Se você quiser ir ao sul para vê-los, tem todo o direito. Ninguém o impedirá. Mas saiba que, apesar do sangue que corre em suas veias ser Lannister, seu pai ser aquele que ajudou a derrubar a minha família, assim como seus irmãos, você tem uma família aqui. Sei que Rickon tem um grande apreço por você. E agora Arya que decidiu baixar um pouco a guarda. Não somos perfeitos, mas nos apoiamos e ficamos juntos, independente de qualquer coisa. Você tem uma família aqui. Família esta que pode crescer.

Quando Tyrion ia perguntar o que aquilo significava ouviu uma batida na porta. Corvos haviam sido enviados e Sansa havia pedido que a chamassem assim que eles retornassem com respostas. Não haveria hora mais inoportuna.

- Posso demorar. Sei que você está cansado. Vá deitar-se. Volto assim que puder - disse ela despedindo-se com um beijo.

*PS: Nessa fanfic o Tyrion não matou o pai dele.