Depois da Guerra escrita por MarjhoryMeira


Capítulo 26
Ela era oficialmente sua




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Tyrion não conseguira dormir durante muito tempo na noite passada. Fora difícil fechar os olhos e dormir. Sentir Sansa tão perto deixava seu corpo todo disperso. Sorriu consigo mesmo, olhando para a mulher que dormia em seus braços, grande parte da noite.

Amar Sansa não era a parte inimaginável. Ela amá-lo de volta é que era. Afinal, o que ele havia feito de bom durante todo esse tempo? Era bem provável que se pudesse contar nos dedos sem nem encher duas mãos inteiras. Por outro lado, havia trazido discórdia, brigas, guerras e mortes. Não necessariamente nessa ordem. E não necessariamente apenas culpa dele.

Quando acordou pela manhã, os raios de sol que entravam pela janela aqueciam a sua pele, abriu os olhos no mesmo instante em que sentiu falta de um certo peso em seu peito e de cabelos roçando seu braço. Sansa já não estava mais lá. Amaldiçoou-se por ter cedido ao sono e dormido.

Levantou-se de imediato, foi até o quarto de banho, mas não a encontrou ali. Vestiu-se com a primeira roupa que viu pela frente, arrumou o cabelo na frente do espelho e com a mão já na porta pronto para sair novos pensamentos lhe ocorreram.

Talvez ela esteja com vergonha. Ou talvez com medo. Quem você está querendo enganar, Tyrion? Ela está arrependida. As coisas não poderiam ser assim tão fáceis. Nunca eram. Estava decidindo o que faria quando ouviu alguém bater na porta.

Ao abrir deu de cara com um rapaz novo, de ombros finos e braços mais finos ainda. O cabelo caía no rosto que estava direcionado ao chão.

– Vossa Graça, desculpe incomodá-lo, mas Rickon, o mestre da moeda mandou-me para entregar isto – disse, erguendo um pedaço de papel fechado com a cera branca* da casa Stark, mas sem o admirável lobo.

– Obrigado – respondi ao garoto, que logo fez uma reverência e saiu dali.

O anão fechou a porta e sentou na cama. O que poderia ser agora?

Em uma caligrafia caprichosa, Tyrion leu:

“Recuperei os mapas. Tenho uma reunião do Conselho agora. Esperam por você lá embaixo”. Os mapas. Com toda a história com Sansa, Tyrion havia se esquecido dos seus pobres mapas jogados no lixo por insistência de Bran.

Se Rickon estava no Conselho era provável que Sansa também estivesse. Pensar sobre o assunto deixou Tyrion um pouco mais calmo, afinal, poderia não ser nada daquilo que ele havia pensado minutos antes.

Vestindo mais algumas peças de roupa, desceu até onde o aguardavam. Ansiedade e medo transpassavam pelo seu pequeno corpo. Nunca sabia o que esperar quando o chamavam.

– Senhor, desculpe-nos por despertá-lo tão cedo, mas achamos que o senhor deveria dar uma olhada nisso aqui – disse o encarregado da obra quando Tyrion ou Rickon não estivesse por perto.

– Sem problemas, eu já havia acordado. Mostre-me, o que houve?

Afinal das contas não era nada de mais. Nenhum problema excepcionalmente grande. Continuávamos dentro do prazo. Arya deveria chegar dentro de uma semana, e era provável que eles terminassem antes disso.

Sem ter muito o que fazer, o anão decidiu passar algumas horas ali, fazendo o que quer que pudesse fazer com toda sua estatura e força. Com certeza, não era muito.

Porém, as horas que se passaram ali tiraram da sua cabeça quaisquer pensamentos sobre Sansa e sobre o que ocorrera na noite passada. A animação de todos que trabalhavam ali com o fim das obras era quase palpável, todos estavam animados para ver a reação da rainha. Contudo, por mais que escondessem, também estavam tristes: sabe-se lá quando arrumariam outro trabalho.

As horas passaram depressa. Tyrion estava esgotado.

A caminho do quarto encontrou com Rickon, andando apressado pelo corredor, com uma cara preocupada, angustiada. Por pouco não passou pelo anão sem vê-lo. Nada bom.

– Oh, Tyrion, digo, Vossa Graça. Recebeu minha mensagem? – murmurou o rapaz.

– Sim, sim... Está tudo bem por lá – Tyrion não sabia se devia perguntar, resolveu arriscar: - Algo errado?

– Ainda não, mas pode ficar – respondeu ele. – Com licença, Vossa Graça.

– Toda – murmurou Tyrion mais para si mesmo.

O banho relaxara todos os seus nervos. Estava pronto para encontrar Sansa.

O primeiro lugar que fora procurar por ela era a sala do trono. Sansa gostava de passar horas ali, olhando o reino pelas janelas da enorme sala. E era exatamente ali onde a encontrava.

– Sansa...? – entrou, pisando leve.

Antes de responder Tyrion viu sua amada virar de costas para ele e, possivelmente, levar a mão ao rosto – era difícil dizer com ela de costas.

– Tyrion – disse ela, olhando de relance para ele e depois voltando a olhar pela janela.

Sem se controlar foi de encontro a ela, colocou as mãos dela - que antes estavam apoiadas na janela - entre as suas. O toque repentino fez uma corrente cruzar os dois corpos. Os dois puderam perceber.

– O que há de errado?

– Seria mais fácil perguntar o que está certo – Tyrion não sabia sobre o que ela se referia, não sabia o que responder. Preferiu encarar o silêncio até que ela lhe desse mais pistas do que acontecera. Ainda olhando pela janela ela disse: - Vem comigo.

Ainda segurando-a pela mão, saíram pela porta atrás do trono, em direção a onde o anão não tinha certeza. As passadas de Sansa eram maiores do que duas dele. Estava cansado já nos dez primeiros passos dela.

Subiram três lances de escadas até finalmente chegarem ao topo. Na ameia da torre mais alta. Ainda meio sem entender o que estava fazendo ali, ele esperou.

– Eu vim aqui uma vez. Depois disso se tornou um dos meus lugares favoritos em todo Westeros. – Não é difícil imaginar por que, pensou o anão. – Mas não simplesmente pela vista. É mais do que isso. É o horizonte longe. É a neve que cobre a Matadelobos que me faz lembrar minha infância. Olhe as pessoas lá embaixo, lembram-me das bonecas que meu pai costumava me dar. Ali, olhe ali, a árvore coração no Bosque Sagrado, derramando suas lágrimas. Agora entendo por que. Eu pensei que com o tempo as coisas ficariam mais fáceis, porém elas apenas complicam mais e mais – quanto mais ela contava, menos ele sabia o que dizer. O silêncio parecia a única saída. – Arya está com problemas com a viagem de volta. Muita neve. Apesar de ter nevado pouco em Winterfell, o resto do Norte está quase soterrado. Os carros estão atolando, os animais morrendo, os suprimentos se perdendo. Ela deveria chegar em quatro dias, mas é provável que demore mais algumas semanas. Semanas que podem ser cruciais para o reino inteiro – Sansa discursava, quase sem parar nem para tomar fôlego. - E ainda tem toda a questão que gira em torno de você. E... Eu não sei o que fazer. – Suspirou por fim.

Questão que gira em torno de mim?

­– O que você fará com relação à Arya? E... O que há sobre mim? – perguntou incerto.

– Eu não sei o que fazer com você. Não tenho mais idade para sentir borboletas no estômago toda vez que você se aproxima. E me sentir corada toda vez que conversamos sobre... Nós. Sinto-me uma criança novamente, aquela que acreditava nas histórias da Velha Ama. Sinto-me como se pudesse sair do chão a qualquer momento, flutuar. Ontem... Eu esperei tanto por ontem, eu apenas não tinha noção disso. É até egoísta estão assim tão feliz sabendo dos problemas que cercam todo o reino.

Uma centelha se acendeu dentro de Tyrion. Sansa olhava o horizonte e lentamente sentou-se no chão da ameia, encarando o chão. Tyrion colocou-se sobre os joelhos, acariciou sua face e a fez olhar para ele.

– Não é egoísmo sentir-se assim. Você não tem culpa. Tenho certeza que, se você pudesse, daria toda essa alegria em troca da resolução dos problemas do norte. Mas isso não é possível. Você e seu conselho dará um jeito de passar por cima dos problemas e quando você menos esperar tudo estará perfeitamente em seu devido lugar – pegou a mão dela entre as suas, nunca deixando de olhá-la nos olhos. – Eu estou aqui com você. Pode não ser muito – disse Tyrion com uma careta, - mas eu faria qualquer coisa por você.

Ela sorriu. O mundo ao redor deles parecia não existir. Lentamente ele sentiu-a retirar uma das mãos dentre as suas, por um instante sentiu-se magoado, até sentir a mão dela no seu rosto.

– Obrigada. Tenho certeza que será muito útil.

Sem hesitar beijou-a.

As horas iam passando, correndo. Depressa demais. Mas Tyrion não se importava. Poderia passar a vida ali em cima. Com os pássaros a cantar para ele, ouvindo a risada de sua amada, o céu azul a cobri-los.

Ela também parecia não se importar.

Pela primeira vez, depois de décadas, se sentia completo. Tudo o que precisava estava ali com ele. E ele podia beijá-la quando quisesse. No papel, eles se pertenciam há anos. Mas, na verdade, ele era dela há poucos anos. Agora, ela era oficialmente sua.


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Notas finais do capítulo

E aí, meu amores? Como passaram do feriado de 1º de maio? Bem, eu espero.
Aí está mais um capítulo. E sinto informar, estou pensando já nos capítulos finais. Quero acertar mais alguns detalhes e depois venho informar com certeza quantos capítulos faltam até o fim.
Antes de ir, quero agradecer à Jujuba Azul por ter favoritado "Depois da Guerra". ♥33
Bom, aproveitem. :*



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