“O inverno está chegando” era o lema dos Starks. Durante todo o tempo das guerras, batalhas e combates Sansa compreendeu o que ele realmente significava.  O inverno havia chegado com força total. A altura da camada de gelo das ruas aumentava a cada dia. E a cada dia ficava mais difícil sair de casa. Além disso, o lema falava sobre manter a família unida. Quando as neves caem e os ventos brancos sopram, o lobo solitário morre, mas a alcateia sobrevive. Todos estiveram sozinhos durante muito tempo, e agora estavam juntos. Quase todos, pensou Sansa, triste.

Além do inverno que por si só era de se temer, devido às perdas durante toda a Guerra dos Tronos havia pouca comida estocada e muita gente para alimentar. Os animais continuavam morrendo com todo o frio, sem comida e sem água, que congelava. O que apenas tornava os mantimentos ainda mais escassos. Não havia muito que fazer. Crianças adoeciam sem qualquer chance de serem salvas. Meistres tentavam de todas as formas salvar àqueles que adoeciam, mas era difícil, todos os remédios não eram suficientes para toda a gente que ficava doente. O mestre da moeda tentava encontrar maneiras de conseguir dinheiro para trocar por poções e alimentos. Não era uma tarefa fácil, pouca coisa passava pelos portões de Winterfell vindo do sul do norte, não havia muito mercado aqui e os altos impostos só dificultavam. Mas se fossem baixados os impostos, não haveria moeda, e sem moeda a escassez de comida multiplicaria.

Apesar de menos frequentes, a Patrulha da Cidade ainda chegava com relatos sobre roubos, furtos e assassinatos, tudo por um pedaço de pão. Era complicado contê-los quando tudo o que queria era se alimentar e alimentar suas famílias.

E a rainha passava os dias procurando soluções para o problema. Se fosse apenas Winterfell que estivesse assim... Mas não, são todos os reinos do Norte, são todas as Casas. É todo o meu povo. Mal conseguia dormir. Mal conseguia se alimentar. Sentia-se sob pressão, e realmente estava, todos esperavam que a rainha achasse uma saída para o frio, ou então, que um milagre acontecesse e o inverno acabasse.

As terras verdes tinham grande vantagem com relação ao frio. A neve nunca chegaria até lá. Sansa lembrou-se de como sentiu o sol tocando a sua pele e de como tudo parecia mais verde e vivo no sul.

Nada disso importa agora. Sou uma Stark. Pertenço ao Norte.

Tyrion Lannister andava calado. Diferente do que costumava ser. Recluso, mal se dirigia a Sansa ou a qualquer outra pessoa. Dormia depois e levanta-se sempre antes dela. Sansa achava que de algum modo ele poderia ajudá-la ter alguma ideia que pudesse salvar a todos. Mas nada saía dali além da cordialidade esperada por um rei, e ainda mais, por um esposo.

Sansa estava sentada no chão, em frente à lareira, aquecendo-se do frio que ficava cada vez pior. E tentando encontrar uma saída para todos os problemas que ele envolvia. Sentia falta dos pais e de Robb, principalmente. Se papai tivesse vivo, tenho certeza que ele teria uma solução. Não devo ser boa o bastante para ser uma rainha. Durante a vida toda tinha sonhado em se casar com um rei e se tornar rainha, mas agora tudo estava diferente. Ser rainha não era apenas ser cordial, fazer gracejos, receber gracejos e ser fiel ao marido. Não, é muito mais. Muito mais do que eu sou capaz. Sem perceber uma lágrima rolou pela face ao mesmo tempo em que Tyrion entrava no quarto.

- Deuses antigos, pelos quais o Norte sempre dobrou os joelhos, por favor, ajudem-me a encontrar uma solução e a salvar todo o povo que agora me pertence. Ajude-me a ajudá-los. Sei que não sou nem metade do que meu pai costumava ser para o reino, nem mesmo de Robb, mas peço por eles que me ajudem. Pai, mãe, Robb se estiverem me ouvindo de algum lugar saibam que sinto a falta de todos. Já não sou mais a mesma que partiu de Winterfell há anos, sinto que a qualquer hora vou desmoronar, não vou aguentar. Meu coração se parte em pedaços cada vez menores a cada dia que passa. Talvez eu esteja traindo toda a Casa Stark, ou até mesmo todo o reino, apenas por pensar nisso, mas é a verdade, Tyrion é... – Sansa ouviu alguém bater na porta, ao mesmo tempo em que agradecia por não ter terminado a frase – Tyrion.

- Eu não queria atrapalhar. Precisava de roupas secas, acabei todo molhado por causa de todo o gelo lá fora... Estava chorando Sansa?

Foi apenas nessa hora que ela percebeu que esteve chorando todo esse tempo. Havia molhado o vestido que usava, os olhos estavam vermelhos e começavam a ficar inchados.

- Eu não... Eu não havia percebido que chorava.

- Sansa, eu não tinha intenção de ouvir o que dizia, mas... Bem, tenho certeza que você é tão boa rainha assim como seu pai foi Lorde, e seu irmão liderou e venceu diversas batalhas. Mas tudo ocorre ao seu tempo.

- Parece que você é um dos únicos que não me cobra por toda essa situação. Uma solução. É o que todos esperam da rainha. É o que a rainha deveria encontrar.

- Já fui até a Muralha, até o topo da Muralha e mesmo assim nunca presenciei um frio como este. Em Rochedo Casterly o frio não chega nem perto deste aqui. Mais algum tempo no gelo lá fora e eu estaria com meus dedos dos pés congelados. E quem sabe até o meu pequeno e torto membro viril.

Aquela conversa sobre seu membro havia feito Sansa sorrir. Pela primeira depois de muitos dias. Era bom sorrir. Mas sorrir não iria ajudar em nada e logo o sorriso se esmaeceu. E com ele Tyrion. Um silêncio próximo ao desconfortável se instalou ali. Tyrion tentava aquecer os dedos perto da lareira, e ela alternava o olhar entre as chamas e ele. Não é tão horrendo como todos dizem que é. Um “pequeno monstrinho”.

Ela reparou que ele reparou que ela o estava olhando. Corou no mesmo instante. Aquele silêncio que estava próximo ao desconfortável chegou finalmente ao desconfortável. Não sabiam o que dizer nem o que fazer. Ficaram assim mesmo. Esquentando-se perto da lareira.

O silêncio desconfortável desapareceu logo que ela percebeu que, no final das contas, o silêncio não precisava ser sempre ruim, gostava de estar ali com Tyrion, mesmo sem dizer uma palavra. Os olhos começaram a pesar e as pálpebras quase se fecharam. Sansa decidiu então, deitar ali no tapete mesmo, perto da lareira. Passou grande parte da noite em claro, em busca de soluções. Adormeceu ali mesmo.