Depois da Guerra escrita por MarjhoryMeira


Capítulo 18
Canção


Notas iniciais do capítulo

POV: Sansa



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O jantar havia ficado pronto instantes antes de Sansa ter terminado eu banho. Demorou-se um pouco mais do que normalmente. Precisava de um banho quente como aquele. Os músculos ao redor do pescoço estavam rígidos devido ao peso da coroa. Se pudesse ficaria por ali mais algumas horas, poderia adormecer naquela banheira.

Após ter terminado de colocar a roupa de dormir dispensou as aias. Olhou-se no espelho por algum tempo. Os cabelos ruivos soltos pelas costas, o vestido cor creme que sempre usava para dormir, os brilhantes olhos azuis. Não se achava com o que parecia ser uma rainha de verdade. Ainda estava cheia de dúvidas, medos e inseguranças. Não fora feita para mandar. Tinha pesadelos todas as noites, principalmente com a cabeça do pai rolando para longe do corpo. Qualquer um deles daria um rei ou rainha melhor do que eu. Bran, Arya e Rickon. Eles sabem o que fazer. Parece que sempre souberam.

Quando voltou ao quarto encontrou Tyrion sentado em uma das poltronas dormindo. Queria deixá-lo dormir, mas ele não pareceu exatamente confortável naquela poltrona e Sansa não se lembrava de tê-lo visto comendo durante a audiência. Não devia tê-lo deixado dormir todos esses anos fora da cama.

Sansa aproximou da cama, pensava em chamar seu nome apenas. Entretanto logo depois se viu tocando-o. Receosa retirou a mão rapidamente. Ele não se mexeu. Sansa ajoelhou-se no tapete de Myr e tocou-o novamente. Apenas na mão. Chamou seu nome uma vez, baixo, quase sussurrando. Acariciou sua mão, percebendo o quão suave ela era. Olhou para suas mãos unidas. Sentiu um leve apertão da mão dele contra a sua. Viu a mão de Tyrion escorregar por cima da sua e acariciá-la. Sentiu algo dentro de si, em seu estômago. Não era fome. Era apenas a reação ao toque do marido. No mesmo momento, se levantou do chão e se colocou de costas para ele.

- Eu achei que... que talvez você pudesse estar com fome... – disse, apontando para a mesa posta.

- Claro. Eu só preciso retirar essas roupas. Não demorarei.

E realmente não o fizera. Sansa esperava-o na mesa. Tudo ainda estava quente e convidativo. Analisando aquela mesa ouviu seu estômago roncar e percebeu o quão faminta estava. Se Tyrion tivesse demorado um minuto a mais ela provavelmente não teria conseguido esperar.

Serviu-se de um pouco de sopa. Percebeu que estava mais cansada do que previra. Terminaria de comer, iria para cama e acordaria apenas na manhã seguinte quando o sol já estivesse alto no céu. Era este seu plano.

Mas sabia que não iria conseguir dormir se não tirasse suas dúvidas sobre a audiência do dia. Tyrion ainda parecia sonolento. Não devia perturbá-lo com suas questões e medos, mas era isso ou ficar rolando na cama durante a noite pensando nas pessoas morrendo lá fora. Ele não iria se importar, iria?

- Tyrion, – começou, mas desistiu um instante depois – obrigada por ter ficado o dia inteiro na audiência. Não deve ter sido muito... Agradável. Obrigada pelo conselho também. Entretanto, devo ter sido horrível do mesmo jeito – disse, parecendo constrangida.

- Não se preocupe comigo – disse ele, tentando sorrir. – Eu não sei o que ficaria fazendo durante a tarde toda. E não, não foi horrível. Foi muito atenciosa, acho que seu povo gostou do que ouviu hoje.

Sem querer ela acabou bocejando. Mesmo com as palavras de Tyrion todo aquele falatório durante a tarde ainda estava enlouquecendo-a. Quão ruim estava a vida daquelas pessoas? Ela não sabia a resposta. As lágrimas de Danos escorrendo pela face...  

Sabia que deveria fazer alguma coisa. Era dever dela arrumar uma solução para isso. Mas nada vinha à mente. Não conseguia pensar no próximo passo. E a neve lá fora apenas crescia a cada dia. E era apenas o início do inverno.

Suspirou. As mãos deixadas em cima da mesa. O cabelo caindo pelo rosto, tampando os olhos. Sansa olhava para Tyrion, mas seus pensamentos estavam longe dali. Ela mal o estava vendo, era apenas um borrão.

Uma pressão sobre sua mão direita tirou-a de seus pensamentos. Uma mão pequena pousava sobre a dela. Começou a reparar nas diferenças de suas mãos. A dela, clara, suave, esguia. A dele, grosseira, pequena, até desproporcional. Mas era essa mão que a afagava, era essa mão que, de alguma forma, fazia-a relaxar.

- Sansa, não se atormente com as declarações dessa tarde. Todos os reinos tem seus problemas. Nada é perfeito. Você se saiu bem para quem fazia aquilo pela primeira vez. A primeira vez é sempre mais aterrorizante e amedrontadora. Vai ficando mais fácil com o passar do tempo.

Quando ela percebeu ele estava ao seu lado. Mesmo sentada ela ainda era mais alta do que ele. A mão dela entre as dele, incrivelmente quentes. Ela olhou para ele, parado ao seu lado. Os cabelos caíram ainda mais pela face.

Tyrion retirou uma das mãos da dela e com ela, retirou o cabelo que caia e colocou-o atrás da orelha, logo escorreu seus dedos pelo rosto dela.

- Está tarde você devia ir dormir – como resposta ela apenas acenou com a cabeça, dirigindo-se para a cama. Tyrion foi até o seu lado da cama e deitou-se.

Sansa estava virada para a lareira, olhando para o fogo que ardia. Sentia o olhar dele nas suas costas. Estava morrendo de sono, foi só se deitar para ver todo o sono indo embora. Não conseguia parar de pensar nos pais. Principalmente no pai. E no que ele faria se ele estivesse ali. Era só fechar os olhos e a imagem dele sendo decapitado invadia seus pensamentos.

Não resistiu e virou-se para Tyrion. Mesmo não tendo certeza de que ele já estivesse dormindo.

Encontrou o olhar dele assim que se virou. Não disse nada, apenas ficou olhando. Reparou no espaço entre eles, menor do que das noites anteriores. Aquela aproximação fez a respiração de Sansa se acelerar minimamente.

Por fim, ele quebrou o silêncio:

- No que está pensando, Sansa?

- Em nada específico - em você, nessa aproximação, no que eu sinto quando estou perto de você, ela poderia ter respondido. – Só... Não consigo dormir.

- Pesadelos?

- Pode-se dizer que sim.

- Uma vez, quando eu ainda era um garotinho em Rochedo Casterly cantaram uma canção para mim. Não me lembro exatamente quem. Apesar de lembrar exatamente a canção. Falava sobre como sonhos e pesadelos não devem afetar a um...

- Não deve afetar a um...?

- Bom, não interessa. É uma música estúpida – respondeu ele, sob o olhar inquiridor de Sansa. – Sobre como não deve afetar a um leão Lannister.

- Oh. Será que ela funciona para lobos Stark? Canta para mim? – pediu ela, os olhos azuis brilhando na sombra que a luz da lareira e da lua faziam no quarto.

- Eu não... Não sou a pessoa mais indicada para cantar.

- Por favor – pediu mais uma vez, pegando na mão dele sobre o travesseiro.

Ele cantou. A voz levemente rouca. Realmente não era uma voz feita para o canto. Mas ainda assim fez com que as imagens de Lorde Stark desaparecessem. Fechou os olhos e deixou que o sono a levasse, ainda segurando a mão dele.

Sonolenta ela se aproximou dele.

- Boa noite, minha rainha – ouviu-o sussurrando, logo depois sentiu algo acariciar sua bochecha, mas estava tão perdida no sono que não tinha certeza de que aquilo era real ou apenas um sonho. Mas não se importou o suficiente para abrir os olhos.

- Boa noite, meu... Leão - murmurou em resposta.


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Notas finais do capítulo

Ei, como foi o feriado de vocês? Sambaram muito? Espero que tenham se divertido. Aproveitem o capítulo.



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