Depois da Guerra escrita por MarjhoryMeira


Capítulo 17
Peticionários


Notas iniciais do capítulo

POV: Tyrion



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No momento em que andava pelos jardins em busca de algo para fazer, algo com que se entreter viu diversos corvos cruzando o céu em direção ao... Sul? Tyrion não tinha certeza. Mas afinal, não era lá grande coisa. Quase nada havia ao norte de Winterfell. Não era provável que fossem todos corvos mandados à Muralha.

Deveria encontrar-se com Sansa logo após a reunião do Conselho - aquela que não pode esperar a rainha descansar da viagem. Havia visto Bran conversando, ou melhor, discutindo com Arya. Por sorte os dois não o haviam visto, devido a sua estatura conseguiu se esconder atrás de uma carroça.  Sobre o que discutiam o anão não conseguiu entender por completo, mas diversas vezes Bran havia dito o nome de Sansa. Coisa boa não seria. Mas a ausência dos dois indicava que a reunião já havia terminado. Sansa estava atrasada. Talvez houvesse arrumado algo melhor para fazer.

Esperou por mais algum tempo, até que começou a nevar. Se ela não havia saído até àquela hora, não sairia mais. Quando adentrou ao castelo sentiu o cheiro que vinha das cozinhas. Tirou a neve de cima dos ombros e cabeça. Seguiu direto para o quarto.

A meio caminho encontrou com meistre Theodore, andando apressadamente, quase correndo, pelo corredor. Rickon vinha logo atrás correndo com os braços cheios de papéis, algumas folhas acabaram por cair no meio do caminho até o meistre. Ao se abaixar para pegá-las outras mais caíram. O sempre sério e centrado mestre da moeda parecia um tanto quanto afobado.

- Precisa de ajuda Rickon?

- Que bom encontrá-lo. Sua presença está sendo requisitada na sala no trono.

- Minha presença? Na sala do trono? E para o que especificamente?

- Para a audiência que a Rainha Sansa pediu que marcássemos hoje. Acompanha-me?

- Claro. Dê-me algumas dessas folhas. Deixe-me ajudá-lo.

Encontraram com meistre Theodore alguns passos à frente. O porquê de Sansa ter reclamado por uma audiência era um mistério. Quando chegaram naquela manhã da Muralha entraram pelo portão principal direto para dentro do palácio. Sem parar em nenhum lugar. Apenas quando começou a pensar no assunto é que Tyrion percebeu o silêncio que se instalara no reino. Não apenas dentro do castelo, mas lá fora também. Não se lembrava de ter visto crianças brincando nas ruas, pessoas correndo por todos os lados como era de costume.

Tyrion se dirigia para a porta frontal da sala do trono até reparar na fila de pessoas em frente àquela porta. Velhos, novos, homens, mulheres, grávidas, com crianças de colo. Todo o tipo de gente que vive nas cercanias do castelo. Se se parasse e prestasse atenção à cena, veria alguns homens de origem mais abastada. Todos ali esperando pela audiência. Isso vai levar o dia inteiro e talvez mais.

Sansa estava atrás do trono conversando com Arya. Bran estava no outro extremo da sala, próximo às portas principais, provavelmente dando algum tipo de ordem à Guarda Real. Meistre Theodore e Rickon se posicionavam em seus devidos lugares, prontos para anotarem a qualquer reinvindicação e a qualquer ordem da rainha, e quem sabe, do rei. O lugar de Tyrion era do lado direito da rainha, em um trono notavelmente menor e menos suntuoso que o da rainha. Mais simbólico do que qualquer outra coisa. Quando Sansa finalmente se dirigiu ao trono Tyrion percebeu que ela usava a sua coroa. Poucas vezes a havia visto com a coroa. Deslumbrante.

- Ei, Tyrion. Você já deve saber como essas coisas funcionam, certo? – ela parecia realmente nervosa com o que estava prestes a fazer. – Não é muito diferente do que Cersei já fizera em Porto Real, creio que não haverá problema se você quiser fazer algum pronunciamento, ou algo do tipo.

Tyrion pegou as mãos que a rainha apertava, não se importando com o que as pessoas que estavam ali fariam. Eles eram marido e mulher, era mais do que normal um toque como este, certo? Ele não estava fazendo nada errado, certo? Certo, era nisso que ele acreditava.

- Você vai se dar bem. Tente não ser autoritária demais, ouça o que eles lhe dirão, pese os prós e contra de cada sim e não que você dirá. E nunca, jamais, diga que o que eles pedem é incabível, inaceitável, inadmissível, e sinônimos. Se precisar de qualquer coisa, estarei ao seu lado.

- Obrigada.

- Estaremos pronto assim que Vossa Graça estiver – Tyrion ouviu Rickon cochichar no ouvido de sua preciosa rainha.

- Estou pronta – respondeu ela, sentando-se no trono.

Bran deu a ordem e aos grandes portas brancas da sala do trono foram abertas ao mesmo tempo revelando ainda mais gente do que Tyrion havia visto do lado de fora. Mesmo em Porto Real a audiência não era tão populosa quanto aquela ali.

- O primeiro é Danos, um ferreiro – Rickon dizia enquanto consultava uma folha em suas mãos.

Danos já era um senhor, acanhado foi se aproximando dos degraus que levavam ao trono. Vestia roupas simples, mas bem feitas. Bem diferentes daquela que as pessoas usavam em Porto Real. O senhor ajoelhou-se bem próximo ao degrau e baixou a cabeça.

- Vossa Graça, antes de tudo, é mais bonita do que dizem ser, se me permite dizer. Teria trazido uma cabra como presente caso algumas delas tivesse sobrevivido ao gelo – Sansa deu apenas um leve aceno com a cabeça.

- O que te traz aqui Danos?

- Ontem assassinaram minha mulher enquanto eu estava no trabalho – começaram a escorrer lágrimas pelos olhos do homem. Tyrion relanceou o olhar pela rainha para ter certeza de que ela permanecia em sua pose real. – Levaram o pouco de comida que a gente tinha. Tenho três filhas para cuidar, não chegaram ao dez-e-cinco dias de seus nomes, uma delas ainda é bebê. Não tenho mais nada nos armários. Meu patrão me pagou menos da metade do que me prometeu. Não paga por uma saca de grão lá fora, ou uma garrafa de leite. Vossa Graça, peço, por favor, alguma coisa para alimentar - Sinto muito pela sua esposa. Rickon, veja nosso estoque de provisões e dê o necessário para este senhor.

Os outros cinco que se seguiram a Danos não fizeram pedidos tão diferentes. A história é que às vezes se diferenciava. Algumas vezes não havia assassinato, roubo ou furto, era apenas uma família grande e um estoque de suprimento pequeno demais. Tudo começava a fazer sentido para Tyrion. O inverno estava mesmo chegando. Dessa vez mais arrebatador do que nunca. Portanto, todos aqueles que tinham pedidos a fazer relacionados aos suprimentos foram colocados numa sala separada, para serem analisados pela Mão do Rei e receberem uma quantia justa para todos eles. Assim como, uma quantia que não pusesse em risco a sobrevivência daqueles que viviam dentro do castelo.

- Esta é Elaena Cassel, filha do segundo casamento do primo do falecido Sor Rodrik Cassel.

- Vossa Graça – disse a jovem, apoiando-se em um joelho numa mesura suave. – Venho pedir por um pouco de leite de papoula para meu pai. Ele já está velho e com muitas dores. Está de cama há muito tempo. Quase não fala, parece não ouvir. Passa os dias e noites em cima de uma cama, gemendo de dores – mais lágrimas rolaram pelo chão da sala do trono.

- Meistre Theodore, por favor, dê-lhe o leite de que precisa.

- Obrigada, Vossa Graça.

Sansa passou o resto do dia sentada naquela cadeira com sua majestosa coroa de ouro branco pensando-lhe a cabeça. Mas em nenhum momento cometeu algum deslize ou erro. Parecia ter aprendido o ofício desde criança.

A lua brilhava do lado de fora do castelo quando a sessão deu-se por encerrada. Não por vontade da rainha, ela gostaria de atender à todas as pessoas ali, mas ainda eram muitas. Sansa não havia comido durante a tarde toda. Comera pão com queijo e vinho entre a sessão do conselho e a audiência, e durante esta, apenas bebericava uma taça de vinho. Tyrion teve de insistir para que ela se deixasse descansar e continuasse amanhã.

- Vossa Graça, se me permite a insistência, deveria mandar estes para a casa e terminar amanhã. Não pode passar a noite inteira aqui. Eles também não.

- Não posso mandá-los embora agora, ficaram a tarde toda me esperando.

- Se realmente insiste em que todos eles tenham seus pedidos atendidos, deixe sua Mão em seu lugar. Sansa, você mal se alimentou hoje. Deixe Arya, ela saberá o que fazer.

- Arya não será tão benevolente quanto eu, aposto isso.

- Talvez não. Mas não os fará mal. Por favor – acabou o anão pedindo para sua rainha, enquanto esta ainda resistia.

- Tudo bem. Não são tantos. Deixá-los-ei com Arya – finalmente concordou ela. - Arya! Estou cansada demais para continuar aqui. Ocupe meu lugar, ouça-os e faça o melhor que puder para atendê-los.

Um falatório havia começado enquanto rei e rainha conversavam, e agora que ela conversava com sua Mão, os murmúrios aumentavam. Até o momento em que Sansa se levantou do trono.

- Agradeço a todos os que vieram aqui no dia de hoje, ao mesmo tempo em que peço desculpas por não continuar ouvindo-os. Tenho de que retirar no momento. Mas minha Mão, – disse ela indicando Arya ao seu lado – Arya Stark, que todos conhecem, ficará com vocês, até que o último pedido seja atendido, daqueles que ainda queiram permanecer e esperar. Tenham uma boa noite.

Após o discurso Sansa se dirigiu para a porta atrás do trono, seguida por Tyrion e alguns cavaleiros da Guarda Real. Ao passar pela porta, fez menção de retirar a coroa, mas achou por melhor, mantê-la até chegar ao seu quarto. Os seus passos estavam mais lentos do que o normal. Exigiram demais de Vossa Graça hoje, mal ela saiu da casa rolante foi para um conselho e de lá para uma audiência, como sempre, exaustiva.

Uma das aias que uma vez prepara o banho de Sansa vinha na direção oposta à deles, Tyrion parou-a assim que passava por eles.

- Peça para prepararem um banho quente para Vossa Graça, ela precisará de algo para comer também, nada pesado, algo leve, como uma sopa de batatas, ou algo do tipo. Obrigado.

Há muito tempo não dou ordens a ninguém. É um tanto quanto nostálgico.

Ao chegarem ao quarto nada do que Tyrion havia pedido à aia havia sido preparado. Não havia nem resquícios de que alguém estivera por ali. O quarto estava impecavelmente limpo e arrumado. Nada mais. Tyrion fez uma carranca quando percebeu, mas Sansa não pareceu se importar.

- Finalmente. Como é bom finalmente retirar essa coroa. Não é nada saudável – disse Sansa, deitando-se na cama, enquanto Tyrion se dirigia para o quarto de banho para ter certeza de que não havia uma banheira quente por lá. – Poderia dormir com este vestido, se ele não fosse tão apertado – resmungou Sansa.

- Poderia mesmo, ao que parece, ninguém pareceu se preocupar com as minhas ordens – sussurrou o anão para si mesmo.

- Tyrion, disse alguma coisa?

Estava prestes a responder quando ouviu um toc toc.

- Vossa Graça, desculpe a demora. Logo seu banho estará pronto, assim como jantar.

Logo depois, ouviu passos se dirigindo para o quarto de banho, decidiu que era melhor sair dali e deixá-las trabalharem. Afinal, não sou assim tão inútil e invisível.


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