Depois da Guerra escrita por MarjhoryMeira


Capítulo 10
Uma pequena interrupção


Notas iniciais do capítulo

POV: Tyrion



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/286458/chapter/10

A ideia inicial era ir para o quarto, mas no meio do caminho da sala do Conselho até lá Tyrion mudou de ideia e resolveu andar a esmo pelo castelo. Sansa estaria – muito provavelmente – ocupada com os irmãos durante todo o dia, não restava nada de muito interessante para Tyrion fazer e ir nesse momento para o quarto e se trancar lá parecia algo muito depressivo a se fazer.

Passou a tarde toda andando e apenas isso. Ninguém se atreveu a falar com ele, na verdade, as pessoas tentaram ao máximo não ter que se aproximar dele ou passar por ele. Aqueles que tinham que fazê-lo, fizeram breves e singelos cumprimentos. De alguma forma estranha e até compreensível ele sentiu falta de Varys e Bron. O eunuco e suas aranhas continuavam em Porto Real com seus sussurros. Bron há muito havia deixado de ser o guarda-costas pessoal de Tyrion para ser o comandante de uma grande companhia de mercenários/foras-da-lei.

Apesar de tudo, nada chamava atenção o suficiente do anão para que não pensasse no que havia acontecido na noite do baile de boas-vindas. Tentava de todas as formas forçar a cabeça desproporcional ao corpo a relembrar de qualquer coisa sobre o que havia feito, ou sobre o que não havia feito. E no fundo, rezava para que não houvesse feito nada estúpido e incorreto. Já tinha pessoas olhando torto para ele o suficiente, não precisava de mais. Notícias ruins chegam depressa, se eu ainda continuo vivo é porque nada acontecera noite passada.

As pequenas pernas coxas cansavam-se muito mais rapidamente do que as pernas de qualquer adulto ali, acreditava que acabava se cansando mais rapidamente do que o velho meistre Pycelle. Eram muitas escadas. Muito sobe e desce. Era provável que já tivesse andado pelo segundo andar inteiro já que voltava para a sala do Conselho, agora vazia.

Pessoas passavam apressadas por todos os lugares o tempo todo. Apesar de sempre saber que as aranhas de Varys estiveram acompanhando seus passos desde que chegara a Porto Real, para onde quer que fosse, até a hora de vir para Winterfell, já havia se sentido mais sozinho lá do que ali. Para onde quer que fosse podia-se escurar passos ecoando pelos enormes corredores.

Aquela sala parecia menos intimidante vazia. Como qualquer outra sala do castelo. Sem essa coisa de rei e rainha, sem Conselho, sem irmãos desaparecidos aparecidos. Sem tudo... Isso. Meu terceiro dia em Winterfell e eu já sinto falta de Porto Real.

Não tinha certeza de quanto tempo havia passado olhando para as paredes daquela sala, mas havia sido tempo suficiente para Sansa estar de volta com Bran e alguns guardas da Patrulha da Cidade ao seu encalço. Eles conversavam algo sobre a ida de Sansa para a Muralha, sobre essa viagem ser realmente necessária. Mal repararam no anão parado a alguns centímetros de uma das janelas ao fundo. Até que ele pigarreou para que o notassem.

- Lannister. – Bran parecia surpreso de vê-lo ali e até um pouco irritado com isso.

 - Tyrion. – Sansa olhou de relance para Bran, e pelo jeito que ele deixou o salão junto com os guardas aquele olhar deveria ter sido algo como: pode cair fora agora. – O que está fazendo aqui?

- Eu só... Estava olhando lá para fora. Ou pelo menos tentando. – Disse, gesticulando sua altura e a altura da janela na parede: ele era apenas alguns centímetros mais alto.

Com isso ela começou a rir. Ele apenas sorriu com ela.

- Você e Sor Bran estavam falando sobre a Muralha...? Não querendo me intrometer, mas... Você tem certeza de que quer ir para lá? E as ameaças de uma nova invasão? Não está preocupada com isso? Você não deveria ficar no aconchego do castelo ou invés de ir para o lugar mais frio de todo Westeros e das Cidades Livres? Quem você irá levar para sua proteção? Creio que Sor Bran irá junto com toda a Guarda Real e quem sabe metade de Patrulha da Cidade. – Quando percebeu tudo o que havia dito, Tyrion começou a corar, e no mesmo momento voltou-se para a janela, não queria que ela o visse assim. Esperou que ela dissesse alguma coisa, mas ela não o fez. Voltou a olhar para ela que ainda estava no mesmo lugar e simplesmente sorria.

- Eu... Eu... Eu não acho que há alguma possibilidade de os selvagens tentarem ultrapassar a Muralha novamente. Eu digo, Mance Rayder está morto, assim como quatro quintos de toda a sua tropa; a Patrulha da Noite aumentou em quase 15 vezes o número de patrulheiros, todos os 13 castelos agora são guarnecidos, o comando pertence a Jon Snow, filho de Lorde Eddard Stark, aquele que conseguiu guardar a Muralha contra os ataques de Mance Rayder. Quem seria estúpido o suficiente para invadir agora? -         Tyrion nunca havia visto falar daquela maneira, com tanta certeza sob o que dizia. Como se mesmo o que houvesse dito fosse mentira, se tornaria verdade. Soava como... Como uma verdadeira Rainha. De alguma forma inexplicável ele estava surpreso com isso. – Sobre o frio, bem, não é algo novo para mim. Posso aguentar. Bran não poderá ir comigo, é claro que a Guarda Real me acompanhará... Mas eu queria que você fosse também, Tyrion. O que me diz?

- Eu... Seria uma honra acompanhá-la até a Muralha. Quando partimos?

- Amanhã pela manhã.

- Estava pensando em fazer-lhe um convite para um passeio a cavalo, mas já que vamos fazer isso amanhã, acho que seria melhor apenas descansar.

                - Na verdade, se ainda quiser me convidar eu adoraria dizer “sim”.

Tyrion ficou novamente surpreso, dessa vez com a resposta da esposa. Realmente não esperava. Sorriram. Era fácil sorrir quando estavam apenas os dois, a sós.

Levaram algum tempo da sala do Conselho até os estábulos. E daí, até prepararem um cavalo com uma sela especial para Tyrion. Não foram para fora de Winterfell. Andaram pelo enorme jardim, andaram por algumas ruas menos movimentadas. E durante todo o tempo conversaram sobre amenidades e riram. Até que se dirigiram ao Bosque Sagrado.

- Acho incrível o fato de o bosque ter permanecido intacto depois de todo o fogo e fumaça.

- São dos deuses do seu pai, Sansa. Eles devem estar olhando para você agora.

Devem estar olhando para você, pensando no que diabos ela ainda faz com um Lannister e se perguntando o que ele faz no seu Bosque Sagrado. Sou um pequeno invasor.         

Aquilo tirou o sorriso que ela trazia no rosto e deixou no seu lugar uma expressão triste. Toda aquela pose de rainha havia ido embora e a velha e jovem, ao mesmo tempo, Sansa voltara.

- Você sente muita falta deles. – Não era uma pergunta, ele estava apenas pensando alto, confirmando suas ideias. E duvidava que ela houvesse ouvido. Mas ela ouviu.

- Sinto. Não estava preparada para dizer adeus. Muito menos vendo a cabeça do meu pai rolar cortada pela própria espada. Gelo era o nome dela. Ou saber que minha mãe e meu irmão tiveram suas cabeças separadas do corpo por causa de uma vingança estúpida. – Lágrimas escorriam pelo rosto daquela que agora, mais do que nunca, se parecia novamente como uma menina.

Ela estava sentada em um tronco e olhava para as raízes no chão. Havia espaço suficiente para Tyrion sentar ao lado dela, mas ele não tinha certeza se deveria mesmo fazer isso.   Então resolveu apenas se aproximar. Quando parou, percebeu que estava, basicamente, do mesmo tamanho que ela. Que cena linda de se ver é essa.

- Sansa... – No mesmo momento em que disse seu nome, na forma mais delicada que pode, ela levantou os olhos azuis para ele, instantaneamente ele levantou a mão fazendo menção de tocar seu rosto, incerto. Como ela não fez nenhum gesto de recusa ele continuou. Tocou seu rosto como nunca fizera. Ela continuava a olhar para ele como se estivesse esperando para ver o que ele seria capaz de fazer com ela. Tyrion secou algumas lágrimas que ainda desciam por seu rosto. Tentando tocá-la da forma mais delicada possível. Ela tinha fechado os olhos.

Conseguiam ouvir os pássaros cantando e as folhas se mexendo por causa de uma brisa fria que passava por ali naquela mesma hora. Ela se encolheu com o vento frio. Vestia apenas um vestido fino de lá sem mangas. Na mesma hora ele retirou a mão que acariciava o rosto dela. Mesmo tendo retirado a mão, ela continua com os olhos fechados.

- Deveríamos entrar. Não pode ficar doente na véspera de sua viagem à Muralha.

Retirou o manto que usava e colocou ao redor dos ombros dela. No mesmo instante ela abriu os olhos. O manto ficava ridicularmente pequeno nela, como se o próprio manto tivesse encolhido. Mas ela não pareceu se importar e o segurou para que não caísse. Olhava para ele agora. Ele gostou da sensação que o invadiu enquanto ela o olhava desse jeito. Diferente de tudo e de todos. Tyrion se aproximou um pouco mais dela. Tocou os seus cabelos ruivos e com isso fez Sansa corar. Mas não passou além disso pois alguém se aproximava. Ouviram passos esmagando folhas e quebrando galhos caídos. No mesmo momento afastaram-se num ato quase reflexo. O que é isso Tyrion? Por um breve momento Tyrion estava tentando entender o que estivera prestes a fazer e o que Sansa esperara que ele fosse fazer.

Logo depois veio a voz do dono daqueles passos.

- Sansa. Sansa?

Em um primeiro momento, Tyrion não soube dizer de quem seria, afinal, mal havia falado com ninguém ali, e havia centenas de pessoas que poderiam estar ali procurando pela rainha. Logo depois algo dizia que aquele que a chamava era Bran.

Os olhos de Sansa mostravam alguém preocupado com o fato de esse alguém poder ter visto o que estava acontecendo ali. Ou pelo menos, era isso que Tyrion podia concluir. Toda aquela sensação boa que havia sentido minutos antes desaparecera. Recuou cinco passos – o que para alguém normal seria no máximo três, talvez dois e meio. Não conseguia deixar de imaginar o que o teria levado a se aproximar daquela forma dela.

- Estou aqui – ele a ouviu dizendo para quem quer que fosse.

Segundos depois o dono da voz apareceu, ele estava certo era Sor Bran. O grande Comandante da Guarda Real e da Patrulha da Cidade. Tyrion ainda estava sem reação. Viu Sansa se levantar e caminhar em direção ao irmão. Trocaram algumas palavras das quais ele não conseguiu captar. Alguém trouxe o cavalo deles, montaram e seguiram em silêncio de volta ao castelo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como prometido, está aí o segundo capítulo essa semana. Capítulo número 10! *--* Estou tão animada com isso. Não achei que alguém iria sequer ler. *--*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Depois da Guerra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.