Cotidiano escrita por Léo Cancellier


Capítulo 4
Corações Partidos




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Setembro chegara. O primeiro dia do mês significava o início das aulas. “Puxa, ter que ficar aqui das 8 da manhã até 3 da tarde é complicado!”, pensou Mônica.

            Ela tinha reparado que era verdade o que as suas primas e as amigas falaram. As Cat Power praticamente mandavam no lugar. E ela se identificava com isso. Descobriu que gostava de dar ordens, algo que nunca tinha tentado na infância, a não ser para mandar os meninos desfazerem os nós nas orelhas do Sansão.

            Na hora do almoço, a mesa delas era a mais popular. Na verdade, não era uma mesa, mas sim duas, onde sentavam as Cat Power e os garotos do time de futebol. Mônica descobrira que Richard estava gostando dela e não perdeu a chance de se insinuar para ele. Fora que, enquanto no Brasil, ela era dentuça, em Skrof todos amavam os seus dentes. Achavam o maior charme, comentário que Richard sempre frisava quando estava perto dela. Mas, voltando ao almoço, Mônica tinha recebido dicas das primas e, para provocar Richard, colocara uma minissaia curtíssima e uma camisa que estava desabotoada em um lugar estratégico. “Ainda bem que não precisa usar uniforme”, pensou. E conseguira o que queria. Ele marcara um encontro com ela.

            Depois do almoço, enquanto estava indo para a aula de Inglês, ela viu alguém conhecido. “Não... Não pode ser ele.”, Mônica ficou apreensiva. “Ai, se eu passar discretamente, talvez ele nem me note... Mas com esse grupo gigante do meu lado, nem vai rolar... Pensa, Mônica, pensa... É, acho que vou ter que falar com ele”. Mônica ficou impressionada consigo mesma. Conseguira pensar tudo isso em questão de segundos.

            - Toni? O que você está fazendo aqui? – perguntou Mônica, tentando ser firme.

            - Eu vim morar pra cá com a minha família, depois do que aconteceu. Não que isso te importe, não é, sua dentuça? Não que você ligue de ter pisoteado e partido o meu coração... De ter sambado na minha cara...

            - Mas você também sambou na minha cara, Toni. E usando salto agulha ainda, pois eu fiquei triste por dias... E com o coração partido também.

            - E eu, por meses. Você nem quis conversar depois para colocar os pingos nos is. Mas agora eu vejo que você sempre será a dentuça mandona e...

            Para que ele fora falar isso? De repente, as Cat Power e o time de futebol cercaram Toni, que ficou parado diante do seu armário.

            - Você é mesmo muito cara de pau. Se eu fosse você, Toni, Não repetiria isso. – disse Mônica – Aqui meus dentes são um charme. – e começou a rir, impiedosamente. Todos riram junto.

            - Quem é esse, Mônica? – perguntou Amber, uma de suas primas.

            - É aquele cara de quem eu falei. Aquele que me sacaneou na peça Romeu e Julieta. – respondeu Mônica.

            - Ahhhh, aquele que partiu o seu coração. Quer que a gente se livre dele? – perguntou Claire, outra prima dela.

            - Não, não. Pela cara dele, já percebeu que não precisa mais me aborrecer. – disse Mônica.

            E, rindo, todos se viraram e foram para suas respectivas aulas.

            “Não posso te aborrecer, mas posso fazer outra coisa!”, pensou Toni, rindo.

Mônica estava um pouco perturbada com a presença de Toni ali. Mas a felicidade por ter amigos de verdade, que gostavam dela e não eram aquele tipo de adolescentes de filmes americanos, metidos e que eram falsos, era maior.

No Bairro Do Limoeiro, todos já tinham descoberto a cachorrada que Carmem tinha feito, mas quando Magali foi falar com Mônica, ela não estava ligando. Disse que estava feliz lá, mas que sentia saudade de Magali.

- Mas a Carmem...

- Eu não ligo, Magá. Sei que ela é uma vadia de segunda, mas estou feliz aqui. Só sinto falta de você aqui comigo para desabafar.

- Desabafar sobre...?

- Na verdade, não é bem desabafar, apenas contar sobre o dia ou só conversar.

- Eu também sinto a sua falta, Mô. Mas agora eu tenho de desligar ou a conta de telefone da sua mãe vai para o espaço. – disse Magali, rindo.

- Tudo bem. Tchau, Magá. – Mônica também ria.

Cebola estava na fossa. Não comia direito e já estava ficando magro demais. Todos os amigos tentavam ajudar, mas ele não queria ajuda no início. Só depois de um tempo, voltou a comer e tentou esquecer a Mônica.

No primeiro dia de setembro, Cebola, Magali e Cascão estavam fazendo um trabalho de escola na casa de Magali. De repente, o celular dela tocou e ela atendeu.

- Cebola, é pra você. – e passou o celular para ele.

- Alô?

- Cebola, aqui é o Toni.

- TONI? O que você quer, seu retardado?

- Ei, calma lá companheiro. Eu estou bem longe de você. Estou na Califórnia.

- Califórnia? E você viu a...

- Mônica? Vi sim. E está muito feliz. Peraí. Vou te mandar um vídeo que eu fiz no almoço.

E desligou. Alguns minutos depois, Cebola recebeu um vídeo no seu celular.

- Era o Toni. Disse que a Mônica estava muito feliz na Califórnia. E disse também que estava lá. E me mandou esse vídeo.

Cebola colocou o celular sobre a mesa e os três se inclinaram para ver. Era a cena do almoço na escola. Estava tudo em inglês, então não entendiam nada. Só viram Mônica dando em cima de Richard e aquela mesa cheia de alunos populares. Cebola ficou paralisado. “O que está acontecendo? Por que a Mônica está tão diferente?”, pensou ele.

Enquanto Magali tapava a boca com as mãos, Cascão deu uns tapinhas nas costas de Cebola.

- Calma Cebola. Da próxima vez que a Mônica ligar, eu vou ter um papo sério com ela.

- Não, Magali. Se ela quer que seja assim, vai ser assim. Não quero mais ter nenhuma ligação com essa... Essa... Dentuça.

E, depois de terem terminado o trabalho, Cebola saiu rapidamente. Magali e Cascão não tentaram impedi-lo. Isso era problema dele.

- Magá, eu tô preocupado com o Careca. Ele pode fazer uma loucura.

- Ai, Cas. Eu ofereci ajuda, mas ele não quis. A culpa não é nossa. Isso é problema dele.

Cebola corria pela praça. Sentia o seu coração partido. Aquela não era a Mônica que deixara o Bairro do Limoeiro. A Mônica do vídeo parecia uma exibida, daquelas de filme americano de adolescentes. E quem era aquele garoto que olhava para ela?

Chegando a sua casa, Cebola ligou o som e estava tocando Restart. Mudou de estação e estava tocando Justin Bieber. Mudou de estação e estava tocando Luan Santana. Em uma última tentativa, trocou de estação e estava tocando... Cone Crew! (NADA CONTRA ESSES CANTORES. SE ENTENDAM COM O CEBOLA). Cebola fez um facepalm e desligou o rádio.

- Putz. Não tem nada que preste nessa rádio. E, além do mais, eu tenho que pensar em como esquecer a Mônica.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Façam review. Não gostaram? Façam review. O importante é mostrar a opinião =D
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@leocancellier



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