Cotidiano escrita por Léo Cancellier
Charlie estava com quase um mês. Sempre ia, com Magali e Cascão, visitar Mônica (madrinha) e Cebola (padrinho). Denise mimava muito o garoto. O seu novo namorado também gostava de Charlie.
Certo dia, Mônica foi visitar Magali. Quando chegou lá, Magali a recebeu com alegria.
- Olha só, Charlie. É a sua madrinha. – e abraçou Mônica. – Como está se sentindo?
- Gorda. – disse Mônica. – Como se fosse explodir.
As duas riram.
- O Cebola está aqui, conversando com o Cas. – disse Magali.
- Ah... É?
- É.
Mônica reparara que Cebola estava se aproximando muito dela. Isso a incomodava um pouco. Ainda não estava preparada para viver um novo romance.
- Magá... Eu só vim avisar que a minha mãe acha melhor eu ir pro hospital e esperar a hora do parto por lá mesmo. Ela entrou em pânico com a história do seu parto.
- Ah tá. Se eu não soubesse que era a sua mãe, poderia jurar que é uma desculpa para não ficar perto do Cebola. – Magali deu uma piscadela para amiga.
- Vai plantar couve de bruxelas, Magá. – disse Mônica, tentando esconder o riso.
No dia seguinte, Mônica estava preparada para ter o bebê. Já recebera todas as visitas possíveis, menos a de Cebola. Isso a estava incomodando. No começo da tarde, começou a entrar em trabalho de parto. Antes de ir ter o seu bebê, todos queriam saber: quem iria com ela?
Sra. Souza foi. O Sr. Souza estava ansioso demais e acabou mandando o Cebola em seu lugar. O Cebola, que se atrasara para visitar Mônica. Quando ela começou a fazer força, Cebola não soltava a sua mão. Ela fazia força e apertava a mão dele. Cebola sentia que eles estavam unidos como nunca antes (sua mão já estava ficando roxa, de tanto que Mônica apertava). Quando o choro de um bebê encheu a sala, Mônica deu um suspiro e apenas dormiu. Estava tão cansada, que nem conseguiu segurar o seu filho.
Mônica acordou em seu quarto, no hospital. Não se lembrava de muita coisa. Apenas sabia que sua mãe e Cebola estavam na sala de parto. Também ouviu o choro do seu filho, antes de dormir. Sentiu uma vontade de vê-lo. Apertou a campainha que ficava do lado da cama. Uma enfermeira entrou.
- Eu gostaria de ver o meu filho. – pediu Mônica.
- Você é Mônica Souza? – perguntou a enfermeira.
- Sim, sou eu. Por quê?
- A famosa psicóloga de celebridades, Mônica Souza?
- Sim.
- Ai, que emoção. Assina aqui pra mim? – pediu a enfermeira, estendendo um bloquinho e uma caneta.
Mônica riu e assinou. Depois, a enfermeira pegou uma cadeira de rodas.
- Pra que isso? – Mônica quis saber, assustada.
- Você não pode fazer esforços. É só até você deixar o hospital. Vamos?
Ela respirou aliviada, sentou-se na cadeira de rodas e a enfermeira a levou para a maternidade. No caminho, as duas conversavam.
- Eu fiquei muito triste quando soube o que houve com o seu noivo. Meus pêsames. – disse a enfermeira.
- Obrigada. Foi um choque. Mas eu já estou me recuperando. Antes de morrer, ele disse que não queria me ver triste. Que era para eu viver a vida. Procurar outro.
- Por acaso, o “outro” é aquele ali? – perguntou a enfermeira, apontando para Cebola, que olhava o vidro da maternidade.
- Ah... Não. Ele é só o meu amigo de infância. – disse Mônica, corando.
A enfermeira engoliu um risinho e levou-a até o lado de Cebola, que continuava a fixar o vidro.
- Bom. O seu filho é aquele ali perto da porta. – disse a enfermeira, saindo.
Mônica fitou o bebê que estava perto da porta. Tinha o nariz e os olhos de Richard, mas a boca parecia muito com a dela.
- Ele é lindo, não é? – perguntou Mônica para Cebola, ainda fixando os olhos no vidro.
Cebola foi pego de surpresa. Parecia que estava em outro planeta.
- Heim? Ah, sim. Tem a cara do Richard, mas a boca é igual a sua.
- Que nome você acha que eu deveria dar para ele? – Mônica quis saber.
E Cebola foi pego de surpresa de novo.
- Ah... Sei lá, Mô. Você me pegou desprevenido. Pode me perguntar quando sairmos do hospital? – perguntou Cebola.
- Sim, sim, Cê. Você é um fofo. – disse Mônica, e olhou em seus olhos.
Os dois, que antes olhavam os bebês, agora olhavam um para o outro. Mônica desviou o olhar e fez menção em ir embora. Cebola prontamente a ajudou e empurrou a sua cadeira de rodas até o quarto em que Mônica estava. Ela deitou-se na cama. Cebola virou as costas para ir embora.
- Cê, espera. Eu preciso conversar com você.
Cebola voltou e sentou-se na cadeira de rodas. Mônica estava apreensiva, mas já planejava essa conversa há alguns dias.
- Cê, eu estava querendo ter essa conversa com você há um tempinho já.
- Fala logo, Mônica.
- Quando o Richard morreu, disse para mim que não era para eu ficar triste. Era para eu ficar perto dos meus amigos. E foi isso que fiz. E eu queria agradecer a todos. Magá, Cas, Dê, Amber, Claire, Ale, Fon, etc. Só que foi você que ficou comigo na hora do parto. Você e a minha mãe.
- É que eu cheguei atrasado para visitar você. Tinha dado um problema lá na academia e eu não pude vir mais cedo. Daí o seu pai ficou muito nervoso na hora do parto e mandou-me vir com a sua mãe. Desculpe-me por não visitá-la mais cedo.
- Não precisa se desculpar, Cê. Pelo menos você ficou comigo na hora certa. E ficou me dando apoio. Segurando a minha mão.
- A circulação parece não ter voltado até agora. – disse Cebola, rindo.
- Ai, caramba. Foi mal. – e riu também.
- Contaí. Já tá namorando alguém? – perguntou Mônica.
Cebola corou.
- Ah... Não. Ainda não. – e, mudou rapidamente de assunto. – Fala pra Claire que o meu primo está ligadão nela.
- Que primo? – perguntou Mônica, bebendo um pouco de água.
- O Fábio.
Mônica cuspiu a água.
- Não creio! Que Fábio? O Fázinho? Que coincidência.
- Por quê?
- Eu mostrei algumas fotos de infância para as minhas primas e a Claire achou que ele era bonitinho. – explicou Mônica.
- Mas qual foto era? – perguntou Cebola.
- Uma de um dos seus aniversários de sete anos.
- Caramba! Eles vão ficar felizes.
Alguém bateu na porta.
- Pode entrar. – disse Mônica.
Magali e Cascão entraram. Os dois abraçaram Mônica e Cebola.
- Mô. Nós passamos pela maternidade e, só de olhar, já sabemos qual é o seu filho! – vibrava Magali.
- É o que está perto da porta, não é? – perguntou Cascão.
- Esse mesmo. – confirmou Mônica, rindo.
- Ele tem... – começou Magali.
- A cara do Richard, mas a boca se parece com a minha, acertei? – perguntou Mônica.
- Exatamente. – riu-se Cascão.
De repente os dois olharam para Cebola e Mônica. Os dois estavam de mãos dadas. E pareciam não perceber isso, porque quando notaram, soltaram suas mãos rapidamente. Cebola e Mônica coraram.
- Ah, qual é? Corta essa! Vocês estão apaixonados um pelo outro, não é? – perguntou Cascão, com um risinho no rosto.
Magali riu e os dois saíram.
- Qual é o problema desses dois? – perguntou Mônica. – Nós fizemos o pacto de amigos na formatura da escola, não é?
- É. Fizemos.
Cebola levantou-se e foi até a porta. Quando estava com a mão na maçaneta, Mônica saiu da cama, correu até ele e lhe deu um selinho. Voltou correndo para a cama, deitou-se e dormiu. Cebola olhou-a, sorriu e saiu do quarto. O pacto estava quebrado.
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