Gostosuras Ou Travessuras? escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 3
O flagrante




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Cascão também arregalou os olhos e um arrepio de pavor percorreu sua espinha quando ele viu, no canto da sala, um esqueleto todo amarrado por correntes bem negras. Eles chegaram mais perto e viram que era de verdade.

(Cascão) – Véi, isso já foi longe demais! Será que ele morreu aí ou veio depois?
(Cebola) – Sei lá! Só fico pensando quem deve ter sido esse pobre coitado...

Uma voz falou atrás deles.

– Ele foi o último engraçadinho que entrou na minha casa sem permissão!

Os dois gelaram de medo na hora, arrepios percorreram suas espinhas de cima a baixo e Cascão sentiu um líquido quente escorrendo por suas pernas. Tremendo como vara verde, os dois viraram-se bem lentamente e gritaram de susto quando se depararam com D. Morte diante deles empunhando sua foice.

Cebola tentou falar alguma coisa, sua boca mexia, mas as palavras não saiam de jeito nenhum. Cascão tentava rezar as orações que tinha aprendido em sua infância e por causa do medo, trocava as palavras e esquecia vários trechos.

D. Morte olhava para os dois com cara de quem pretendia matar dez. Seus olhos percorriam os rapazes com um olhar assassino e seus lábios mostravam algo que parecia ser um sorriso cheio de sadismo e crueldade. Após alguns segundos de silêncio, que para os dois pareceu uma eternidade, ela falou com a voz ameaçadoramente baixa e de forma pausada.

– Então vocês andaram xeretando minha casa, heim? E aí, o que acharam? – ela foi falando e se aproximando dos dois lentamente. Quando ela chegou mais perto e encarou os dois com aquele olhar demoníaco de besta do apocalipse, Cascão também sentiu algo mole e pastoso preenchendo a parte de trás da sua cueca.

Nenhum dos dois conseguia articular nenhuma palavra e ela continuou.

– Eu imagino que vocês devem ter visto meus brinquedinhos no andar de cima, estou certa?

Dois pares de olhos se esbugalharam até dobrarem de tamanho. Eles sabiam muito bem de quais “brinquedinhos” ela estava falando.

– Talvez eu devesse mostrar alguns para vocês, ao vivo e a cores. Ficarão encantados ao verem como funcionam, é fascinante!

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(Toni) – Você ouviu isso?
(Felipe) – Cara, eu ouvi sim!

DC também tinha ouvido e começou a ficar preocupado. Quando avisou a D. Morte sobre a invasão dos dois, ele pensou que ela fosse apenas colocá-los para fora da sua casa. No entanto, mais nada aconteceu depois que ela entrou e de repente eles tinham ouvido os gritos do Cebola e do Cascão.

(DC) – Er... não deve ser nada...
(Toni) – Sei lá, eu não acho que aqueles dois gritaram por nada...
(Felipe) – Viram só o tamanho daquela foice? Dá pra cortar tranqüilo a cabeça de qualquer um!

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Dentro da casa, D. Morte caminhava lentamente em volta dos dois apavorados, de vez em quando apontando a lamina da foice para o pescoço de um deles.

– Vocês sabem o que é a roda do despedaçamento? Devem ter visto lá em cima.

Eles não responderam e ela continuou.

– É uma grande roda que é girada com uma manivela, não se lembram? Querem saber como ela funciona? É simples: a vitima nua é amarrada de costas com cordas ou correntes e ao girar a manivela, a roda é colocada para girar. Sabem o que acontece depois?

Os dois começaram a chorar de medo e até Cebola tinha começado a sentir um liquido escorrendo pelas suas pernas. Totalmente insensível ao pavor dos dois, ela continuou falando como se aquele fosse um assunto banal.

– Existem duas opções. Sob a roda podem ter agulhas ou estacas de ferro que podem estripar todo o corpo do condenado, até o rosto. Vocês nunca devem ter visto, não é? Pois eu vi várias e várias vezes quando esse tipo de instrumento era usado na Idade Média. Vocês sabiam que pode até arrastar pele e órgãos e criar imensas poças de sangue?

Cascão começou a cambalear, sentindo seu estômago doendo terrivelmente e Cebola viu que o amigo estava perto de desmaiar. Eles estavam tão apavorados que sequer conseguiam reunir forças para sair correndo dali. E também havia o medo de ela pegá-los pelas costas.

– Também há outra versão, onde ao invés das estacas eles colocavam brasas que queimavam a vitima como um frango assado sobre a fogueira. Mas dessa versão eu nunca gostei muito. O cheiro de carne humana sendo queimada é ruim demais.

Com muito custo, Cebola conseguiu balbuciar alguma coisa.

– F-foi m-mal... a g-gente não quelia loubar nada não, ela só uma b-blincadeila!
– Ah, tudo bem. Eu adoro brincadeiras, então acho que vou brincar com vocês um pouco, o que acham? - Seus dedos afagavam a lâmina da foice lentamente enquanto ela os olhava de cima à baixo. Aquilo não podia ser coisa boa.
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Ao ouvir mais uma remessa de gritos vindos de dentro da casa, DC resolveu fazer alguma coisa. Se algo de ruim acontecesse com aquele careca infeliz, a Mônica com certeza ia triturá-lo sem a menor piedade.

– Esperem aqui. – ele pegou uma pedra e correu para mais perto da casa e atirou com toda a força. Aquilo poderia distrair a morte e dar aqueles dois a chance de fugirem.
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– Que tal um joguinho, meninos? – ela perguntou apontando sua foice para o pescoço do Cebola. – Pode ser o jogo da forca! Ou então esconde-esconde! – dessa vez ela apontou sua foice para o pescoço do Cascão. – Só que dessa vez você teria que encontrar os pedaços do seu amigo e juntá-los novamente. Que tal?

O barulho de algo se quebrando chamou a atenção dela. Uma grande pedra tinha atravessado o vidro da janela da sala. Quando ela foi até a porta para ver quem tinha jogado a pedra, Cascão e Cebola não perderam tempo.
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Depois que jogou a pedra, DC correu de volta para os arbustos e os três ficaram ali observando para ver o que acontecia. De repente, D. Morte abriu a porta com força e gritou furiosa.

– Quem foi o futuro cadáver que quebrou a minha janela? Vamos, apareça!

Eles começaram a tremer de medo e iam sair dali quando viram Cascão literalmente atravessando a janela da sala, quebrando o vidro e a armação de madeira. Logo atrás dele, veio Cebola e os dois correram dali feito loucos com D. Morte atrás balançando sua foice.

Os cinco saíram correndo dali como se tivesse um exército de Mônicas furiosas atrás deles. E o pior era que D. Morte corria como um velocista olímpico e foi com muito custo que eles conseguiram despistá-la e sair do cemitério. Felipe e Cascão iam na frente por serem mais rápidos. Logo atrás estavam Cebola, Toni e DC, cada um mais apavorado do que o outro. Mesmo tendo saído do cemitério, eles continuaram correndo freneticamente e só pararam quando chegaram perto do colégio, mais de vinte quarteirões depois.

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Quando perdeu o grupo de vista, D. Morte desatou a rir, sendo acompanhada por Penadinho e o resto da turma. Zé Caveirinha veio logo atrás, arrastando as correntes e também dando risadas.

– Hahaha, essa foi boa! Pessoal, vocês deviam ter visto a cara deles quando me acharam lá no canto da sala, hahaha!
– Valeu, Zé, você foi ótimo! – ela agradeceu fazendo as correntes sumirem do corpo dele com um gesto da sua mão. – Agora eu quero ver aqueles moleques tentarem entrar na minha casa de novo.
(Penadinho) – Engraçado... o que eles queriam na sua casa, D. Morte?
– Sabe que eu não sei? Esses jovens devem ter merda na cabeça, só pode! De qualquer forma, acho que vou dar uma olhada para ver se eles não andaram aprontando alguma. Depois a gente se fala!

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Os cinco estavam jogados no chão, respirando fortemente tentando recuperar o fôlego e não ter um infarte. Cebola ainda estava branco como folha de papel, seus cabelos mais arrepiados do que nunca, as calças molhadas e os olhos esbugalhados. Seu coração batia descompassado e parecia prestes a atravessar o peito.

O estado do Cascão estava pior ainda, porque além de ter molhado as calças, ele tinha se sujado todo também. Ele mal conseguia articular uma palavra inteira e seu corpo tremia como gelatina no meio de um terremoto.

Quando conseguiu respirar melhor, DC caiu na risada deixando os amigos confusos.

– Gente, foi irado! Hahaha! Eu nunca corri tanto na minha vida!
(Toni) – Tá rindo de que, ô zé ruela? A gente podia ter morrido!
(Felipe) – Puta que pariu, eu vou ter pesadelos essa noite!
– Bah, quanto drama! A gente saiu vivo dessa, não saiu? Então tranquilo!

Cascão conseguiu se recompor um pouco e falou tentando ajeitar suas calças que estavam imundas.

– E se ela vier puxar o nosso pé de noite? Já pensaram nisso?
– Deixa ela vir, eu não tenho medo!
(Cebola) – Então por que você não ficou pra enfrentar ela?
– Por acaso você acha que aquela pedra se jogou na janela sozinha? Eu salvei a pele de vocês dois! E falando nisso, acho que você vai ter que desistir da Mônica, porque com a chegada da morte vocês não devem ter conseguido pegar nem uma calcinha dela, hahaha!

Pela primeira vez, Cebola esqueceu o medo e tirou do bolso duas peças de cor preta e cheias de renda e mostrou para os três, que arregalaram os olhos.

– Não consegui? Então isso aqui é o quê?

DC ficou paralisado, olhando para a calcinha e o sutiã que Cebola dizia serem de D. Morte.

(Toni) - Rapaz, ela usa sutiã? Que doido!
(Felipe) – E olha só essa calcinha cheia de rendas e lacinhos! Essa eu pagava pra ver!
(Cebola) – Mas você vai ver, Felipe. Todo mundo vai ver o DC usando essas belezinhas na festa de hoje!
– Ora, seu! Aposto que você comprou isso de algum lugar!
– Comprei nada! O Cascão tirou um monte de fotos pra provar que eu tirei isso da gaveta dela!

Os outros caíram na risada enquanto DC bufava louco para socar a cara do Cebola. Seu plano tinha dado totalmente errado e ele ia passar a maior vergonha na festa da Carmen.

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Ela foi percorrendo a casa e se concentrando para saber por onde os dois tinham andado. Aparentemente eles apenas tinham olhado o local sem mexer em nada e ela viu que eles tinham tirado várias fotos.

– Moleques atrevidos! – ela ia resmungando a medida que percorria os cômodos da casa. Eles tinham entrado em seu escritório, olharam suas listas e aquele idiota do cabelo espetado até tinha tentado ligar seu computador. Sua decisão de comprar um leitor biométrico tinha sido realmente acertada.

Aqueles dois também passaram por sua biblioteca, viram sua sala de instrumentos medievais de tortura e até sua coleção de lápides! Até ali não havia muitos problemas embora ela não tivesse gostado nem um pouco daquela invasão. O que a fez cerrar os punhos com raiva, no entanto, foi ver que eles tinham entrado em seu quarto também. Aquilo ela não ia perdoar de jeito nenhum! Ninguém entrava em seu quarto, nem mesmo seus amigos!

Sempre que recebia alguém em sua casa ou quando precisava tomar conta dos sobrinhos do Penadinho, ela os colocava nos quartos de hospedes, nunca em seu quarto particular. Ali era seu refugio, seu local de descanso e aqueles dois tinham invadido sua privacidade.

Com um pouco mais de concentração, ela viu que eles abriram as portas do armário e vasculharam as gavetas como que procurando alguma coisa. Cebola até tinha mexido em suas ceroulas! D. Morte usava aquelas ceroulas por baixo do vestido para evitar situações constrangedoras, como uma forma de se proteger.

Ela pegou a peça que ele tinha examinado e jogou no cesto de roupa suja, fazendo o mesmo com a capa que Cebola tinha experimentado. Não lhe agradava usar aquelas roupas sabendo que humanos tinham tocado nelas.

– Não, eu não acredito que eles fizeram isso! Moleques desgraçados filhos da puta! – ela gritou quando percebeu que Cebola e Cascão tinham mexido em sua gaveta de roupas íntimas e roubado um dos seus conjuntos. Então era aquilo que eles tinham ido fazer em sua casa? Sua indignação não era tanto pelo valor do conjunto, apesar de ter custado caro. Era também pelo atrevimento deles, que invadiram sua casa, desrespeitaram seu espaço e ainda roubaram duas peças íntimas para, certamente, saírem exibindo por aí como troféus.

– Esses dois vão ver só uma coisa, ah, se vão! – ela falou em voz baixa, com os olhos faiscando de raiva e um sorriso perverso no rosto. Depois daquilo, eles nunca mais iam querer chegar perto da sua casa novamente.


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