Lily Evans

Maldita hora em que concordei vir para esse lugar. Eu não tinha a mínima vontade de ver essas pessoas, nem de ouvir essa música, não queria nem mesmo respirar esse ar.

E muito menos queria ter que aguentar Lene nessas condições, ela estava roxa de raiva e parecia querer cuspir fogo na cara do Black. Não que isso fosse uma má ideia.

Se eu tinha certeza de algo naquele momento era que Lene não iria deixar aquilo barato. Mas não ia mesmo.

E era exatamente por isso que eu continuava nessa sala de espera pro inferno - na boa, se existir mesmo um inferno a sala de espera deve ser bem parecida com esse lugar, muita gente chata e sem conteúdo, barulho que te impede de ouvir seus próprios pensamentos, fumaça de cigarro, cheiro de bebida e um calor que só de pensar te faz perder uns três quilos – pra ver o que Lene faria com Black.

Seria bom vê-lo se ferrar ao menos uma vez. Só pra variar um pouco.

– Quem aquele... Aquele coisinha sem significância acha que é? Ah não, não, não. Isso não vai ficar assim. – Lene resmungava de dois em dois segundos.

Opa, Black havia entrado pra lista negra de Lene.

Que os jogos comecem.

Dei uma risada maléfica por dentro - daquelas de estilo bruxa mesmo, mas não pude dar por fora também por que eu estava em público.

Não que alguém fosse prestar atenção em mim de qualquer forma.

A festa estava acontecendo normalmente, pessoas ficando bêbadas, se pegando, discutindo e brigando, Dorcas conversando com alguns garotos que a haviam parado, Lene se socializando com todo mundo, Remus observando a Dorcas de longe, Black pegando uma garota que eu não conhecia, eu encostada em um canto olhando pra tudo e pro nada ao mesmo tempo.

Por que na verdade nada daquilo me interessava.

Eu só queria ver o que Lene ia fazer e ir pra casa, tomar um banho e hibernar até o ano que vem.

Mas como minha sorte – pera, que sorte? – nunca colabora comigo, àquelas horas passaram na mesma velocidade que milênios.

Eu estava em pé em um canto a sei lá quanto tempo, com os pés latejando, dor de cabeça e com sede quando uma alma bondosa – nem tanto assim, ele parecia àqueles carrascos que executavam pobres criaturas indefesas – chamada Walden Macnair me chamou pra ir até o bar tomar alguma coisa. Ele pediu uma bebida alcoólica que se eu bebesse ao menos um gole já colocaria minhas tripas e coração pra fora e eu pedi apenas uma água com gás.

Eu sei, sou muito gangster, bebo água com gás.

Macnair tinha um papo agradável e era bastante inteligente, mas tinha alguma coisa que não me deixava confiar nele. Só não sei bem o que é.

Terminamos nossas bebidas e eu me despedi falando que ia procurar as meninas.

Me levantei do banquinho onde estava sentada e quando me virei para entrar no meio das pessoas alguém esbarrou com tudo em mim.

Eu já estava me preparando para xingar até a quinta geração da pessoa, quando eu olho pra cima e encontro ninguém mais ninguém menos que James Potter.

Ótimo, era tudo que eu precisava.

Marlene McKinnon

Eu tinha que pedir pras meninas me lembrarem de rasgar em mil pedacinhos aquela maldita foto que Lily me deu quando chegou à Nova Iorque.

Aquele garoto era insuportável.

Eu não havia trocado nem meia dúzias de palavras com ele, mas já o odiava com total devoção.

Ele podia ter os olhos mais lindos que eu já vi, os cabelos mais perfeitos e o melhor perfume, mas comecei a achar que aquilo tudo era só um disfarce pra falta de cérebro.

Quando Deus o criou os cérebros deviam estar em falta e então ele resolveu ser bonzinho e dar mais beleza que o normal pro Black.

Mas nem isso compensava toda a sua babaquice.

Eu estava com vontade de socar ele ali mesmo, na varanda daquela casa. Mas não, eu faria melhor... Ele gostava de humilhar não é? Vamos ver se ele também gostava de ser humilhado.

Decidi que iria esperar um pouco, até ele ter uma falsa sensação de segurança e só depois iria atacar. Enquanto isso eu poderia ir conhecendo algumas pessoas, entrei na casa com as meninas logo atrás de mim e cada uma foi pra um lado diferente, Dorcas foi parada por alguns meninos e Lily foi se isolar em um canto qualquer.

Quanto a mim não tenho muito que falar, logo que eu e as meninas nos separamos fui parada por um grupo de garotas estridentes, elas eram tão animadas que quase – eu disse quase – me fizeram esquecer que o Black teria que me pagar.

Conheci a Alice, uma menina loira de olhos verdes, baixinha e muito simpática, Emmeline que parecia ser um tanto metida, mas nada que me incomodasse muito e algumas outras garotas que não me chamaram muito a atenção por que exceto Alice, que tinha um ar simpático e inteligente, e Emmeline que parecia ser a “líder” as outras pareciam ser todas iguais.

E se tinha uma coisa que eu gostava, era de ser diferente. De ter personalidade e de saber o que eu quero e quando quero, afinal, que graça tem ser igual a todo mundo?

Bom, alguma hora aquelas meninas teriam que descobrir sua própria personalidade. E era nisso que eu estava pensando quando avistei Black sentado no parapeito de uma grande janela de vidro agarrando uma garota.

A hora de agir estava chegando. Continuei a conversar com as garotas até que vi a menina que o Black estava pegando se afastando, comecei a encara-lo descaradamente.

Algumas pessoas perceberam, mas nem ligaram. Presumi que garotas encarando o Black de forma sensual devia ser a coisa mais natural do mundo por aqui.

Continuei a encara-lo até que ele também parou o olhar em mim, fizemos contato visual por alguns segundos até que dei um sorrisinho virei e fui andando em direção ao bar, mas não sem antes dar uma ajeitada discreta no vestido para provoca-lo um pouco mais.

Eu simplesmente sabia que ele ia me seguir.

Cheguei ao bar e pedi para o garoto que estava cuidando de tudo me dar a bebida com o cheiro mais forte que tinha, ele me olhou como se eu fosse louca mas logo me entregou o que eu pedi. E devo admitir, ele acertou em cheio, o cheiro daquele liquido – não podemos chamar aquela coisa de bebida – me dava náuseas mesmo que o copo estivesse na minha mão.

Me virei novamente, com o braço da mão que eu estava segurando a bebida apoiada encima do balcão do bar para que ele não desconfiasse.

Ele se aproximou devagar e sorriu pra mim quando chegou mais perto, o sorriso dele era encantador...

Foco, Marlene, foco.

– Então... Acho que começamos com o pé esquerdo lá fora, a propósito eu sou o Sirius. Sirius Black. E você? – Ele perguntou com uma voz rouca, como se tivesse tentando me seduzir, e provavelmente estava mesmo.

E ele estava conseguindo... Opa, não estava não. Ele era ridículo e eu o odiava.

– Marlene McKinnon. Prazer. – Falei e estendi a mão livre para cumprimentá-lo, mas ao invés dele simplesmente aperta-la, ele a usou para puxar meu corpo e passar um braço pela minha cintura.

Aquilo seria mais fácil do que eu pensei.

Ele aproximou seu rosto do meu e:

– Você não é daqui não é? Seu sotaque é tão lindo. A propósito, você é toda linda. – E nisso ele aproximou o rosto ainda mais, eu fechei os olhos – não me pergunte por que fiz isso – e depois de um segundo e meio aproximadamente lembrei-me do que ele tinha feito com Lily, e como me tratou lá fora, abri os olhos rapidamente e ele já estava com os dele fechados.

Quando ele estava prestes a colar nossos lábios, rapidamente movi o braço e entornei toda a bebida fedorenta encima da cabeça dele, e como eu tinha pedido a maior dose, tinha bastante bebida para descer dos seus cabelos perfeitos pras suas roupas caras e suja-lo inteiro.

E quando ele abriu os olhos um pouco de bebida entrou neles, por que ainda estava escorrendo de seu cabelo – e como era alcoólica devia estar ardendo bastante.

Eu quase tive pena dele. Mentira, eu estava rindo muito internamente e por fora só exibia um pequeno sorriso convencido.

A essa altura todos da festa já estavam assistindo o espetáculo, afinal, Black ser humilhado não devia ser uma coisa muito comum, e sim ao contrário.

Eu continuava a encara-lo ironicamente – mesmo ele estando com os olhos fechados – até que do nada ele arregala os olhos extremamente vermelhos e grita:

– QUAL É O SEU PROBLEMA? – E partiu pra cima de mim.

Ok, agora eu estava um pouco assustada.

James Potter

Alguns dias atrás...

– Eu queria ter o poder de voltar no tempo, entende Sirius? De mudar tudo... – Eu não sei por que, mas precisava falar aquilo. Era uma vontade tão grande e tão completamente impossível que eu tinha que às vezes me dava até nervoso.

Eu só tinha que esquecer toda aquela nostalgia e continuar vivendo como eu sempre vivi. Aquilo não deveria ser tão difícil assim.

E embora Sirius muitas vezes não fosse compreensivo, ele era meu melhor amigo e sempre tentava me ajudar. Então, quem melhor que ele para ouvir meus desabafos?

– Está falando de Evans? – Ele me olhou com cara de quem já sabia do que eu estava falando, e não entendia o porquê daquilo.

E na verdade eu também não entendia.

– Também.

...

Por acaso eu estava louco e tendo alucinações?

Colocaram alguma coisa na minha bebida?

Eu não podia acreditar nos meus olhos, aquela era mesmo a Evans?

Não, provavelmente eu era esquizofrênico e a doença só se manifestou agora.

Aquela não era a Evans, primeiro por que a Evans nunca se vestiria assim e muito menos estaria em uma festa, e outra por que ela estava do outro lado do mundo.

Me lembre de bater a cabeça na parede repetidas vezes para meus neurônios voltarem a funcionar corretamente.

Eu tinha certeza que estava parecendo um bocó encarando-a como se fosse uma assombração, por que ela revirou os olhos e estava abrindo a boca para dizer alguma coisa quando eu a interrompi:

– Evans? É você mesma?!

– Não Potter, não sou eu. Essa é apenas a minha alma que quer que você saia da frente.

Ah sim, era a Evans.

Só que em uma versão mais bonita e mais desinibida, mas ao mesmo tempo mais sarcástica e menos Lily Evans que eu estava acostumado. Eu não sabia se havia gostado dessa troca.

Eu já estava abrindo a boca novamente – provavelmente para falar mais bobagem e levar mais foras – quando ouvimos um grito que deu medo até em mim.

– QUAL É O SEU PROBLEMA? – A voz era de Sirius, mas a questão era... Por que ele estava gritando desse jeito?

Lily ficou na ponta dos pés para ver o que estava acontecendo, e eu apenas ergui a cabeça.

Ele estava prendendo com os braços uma menina entre ele e o balcão do bar, e estava todo molhado, da cabeça aos pés.

– Lene. – Lily resmungou e soltou uma risadinha.

Ela foi andando rapidamente em direção ao outro bar, e eu fui logo atrás.

Ao longo do caminho, Lily atraiu vários olhares pras suas pernas que estavam à mostra por causa do short curto que usava. Me coloquei exatamente atrás dela, como um segurança. Sem que ela percebesse é claro.

Chegamos lá em pouco tempo e Sirius estava com sua respiração alterada devido à raiva, a menina que devia ser a Lene mostrava indiferença, mas o seu olhar lhe entregava. Ela estava assustada.

Cheguei mais perto dos dois para evitar que ele fizesse alguma loucura.

– Isso é pra você aprender a não mecher comigo e com as minhas amigas. Eu sei o que você fez com a Lily, você achava que era engraçado humilhar ela, não é? Só te dei um pouco do próprio remédio. – Ela falou o olhando diretamente nos olhos.

Instintivamente dei um passo pra trás e me virei para olhar a Evans. Ela estava com os olhos tristes, como se estivesse se lembrando de alguma coisa.

E infelizmente eu sabia do que era.

Quando Lene terminou de falar, Sirius automaticamente tirou os braços que a prendiam entre ele e o balcão, e assim como eu deu um passo pra trás e passou a encarar a Lily, que agora tinha os olhos voltados para o chão.

Depois chegaram o Remus e uma garota loira com quem ele estava conversando, ele passou o braço sob os ombros de Lily e foi a encaminhando para a saída, a menina loira e a Lene os acompanharam.

Sirius e eu ficamos nos encarando por um tempo, e eu soube que tanto pra mim quanto pra ele a noite já havia acabado.