Halloween Love Stories escrita por Juliiet, Feeh


Capítulo 2
O Fantasma Do Plebeu Apaixonado


Notas iniciais do capítulo

Juliiet:
Happy Halloween, pumpkins! *-*
Então esse aqui é a minha one, e também é a primeira que eu escrevo, e podem me matar, mas ela ficou gigante. Eu sei que tem gente (a linda da Cee hasuehauhe) que não vai se importar, mas quem não curte coisas muito grandes, me desculpem, é mais forte do que eu, a coisa vai fluindo e eu nunca sei quando parar auheuheh.
Essa não é uma história assustadora, eu não consigo escrever terror (triste), mas é como eu imagino um Halloween divertido :)
Eu adorei os reviews *-* (e a Feeh também, eu sei) e a Feeh vai respondê-los *-*
Beijos e espero que gostem :) aah e leiam as notas finais :)
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Feeh:
Hey pessoas... Essa é a one da Julliet, que ficou perfeita, aliás, isso já estava mais do que na cara, porque essa linda nunca decepciona. Sério, é a one maior e mais perfeita que eu já li na minha vida! Eu achei incrivel, e tenho certeza que vocês também acharão... É isso.
Boa Leitura, e HAPPY HALLOWEEN! (x



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— Mas, mãe, eu não quero ir! – reclamei mais uma vez enquanto ela, indiferente, colocava mais roupas na mala aberta em cima da cama. – Pelo amor de deus, eu detesto aqueles dois idiotas!

Minha mãe finalmente resolveu parar de me ignorar e, depois de um suspiro profundo, colocou as mãos na cintura e me olhou nos olhos.

— Aqueles dois são seu pai e sua madrasta grávida, Emily – ela disse, séria. – Será que você pode tentar tratá-los com respeito?

— Se eles tirarem da cabeça essa ridícula ideia de me forçar a passar uma semana com eles num vilarejo no fim do mundo, eu me ajoelho e começo a tratá-los como se fossem da família real inglesa!

Mamãe suspirou mais uma vez e se sentou ao meu lado na cama, passando os braços pelos meus ombros.

— Em, você precisa passar um tempo com o seu pai – ela disse, naquela voz calma e devagar, como se estivesse falando com uma criança. Ou acalmando um cavalo selvagem.

Nenhuma das opções era muito lisonjeira.

— Ótimo, eu posso passar um tempo com ele – concedi, abraçando minhas pernas e apoiando minha cabeça nos joelhos – Mas me recuso a passar uma semana precisando olhar para a cara daquele cosplay de loira do banheiro com quem ele casou.

Mamãe tentou disfarçar o riso, ela também não ia muito com a cara da nova esposa do meu pai, mas falhou terrivelmente e logo um sorriso cúmplice se formou em seus lábios.

— Eu sei que você não gosta da Susan – mamãe disse. – Eu também não gosto. Mas desde que seu pai casou com ela, você não passa um tempo com ele. Ele sente sua falta, filha. E, você gostando ou não, ele está casado com a Susan e ela vai te dar um irmãozinho ou irmãzinha – fiz uma careta com a imagem mental da Susan forçando-me a cuidar de uma cópia em miniatura dela. – É só uma semana, Em. E o seu pai me enviou as fotos do lugar por e-mail. É lindo.

— É um hotel na beira de um lago no meio do nada! – reclamei, largando-me de costas na cama, em cima de uma pilha de roupas. – Qual a graça nisso? Aposto que não tem nem internet.

— É um hotel romântico na Suécia. Qualquer garota gostaria de passar uma semana lá.

— Nossa, super legal ir para um hotel romântico com o pai e a madrasta— rolei os olhos. – Tudo o que eu sempre quis foi ver os dois declarando amor eterno e se beijando com uma paisagem idílica no fundo.

Fiz um eca mentalmente quando essa imagem pipocou na minha cabeça.

Já deu para ver que minha imaginação é meio incontrolável, não é? E eu sei, isso é um saco, às vezes.

— Vai ser um pesadelo se tornando realidade – continuei, amarga. – Bom, pelo menos combina com a época do ano. Vai ser o Halloween mais assustador da minha existência.

Ouvi minha mãe rir e se levantar da cama.

— Levanta logo daí e me ajuda com isso – ela disse, jogando uma camiseta na minha cara. – Você já tem dezesseis anos, Emily, deveria arrumar suas malas sozinha.

Se eu estivesse indo...sei lá, até acampar com meus amigos (e eu odeio acampar), minhas malas já estariam prontas há uma semana, pensei enquanto me levantava com um suspiro de desgosto.

Mas eu estava indo pro inferno mesmo. Qualquer lugar perto da Sra. Susan-Tanto-Botox-Na-Cara-Que-Não-Tem-Expressão-Facial-Blackstroker é meu inferno particular.

Bom, seria um inferno de um Halloween. Mas acho que a ideia central é essa, não é?

 

...

Meu nome é Emily Blackstroker – sim, eu sei, soa como se eu fosse vizinha do Frankenstein e melhor amiga do Drácula – e eu tenho 16 anos. Moro em Los Angeles, Califórnia, com minha mãe e o namorado dela. Os dois são bem legais, acho que para compensar no departamento pai-madrasta. Sim, esses dois são insuportáveis. Tipo, meu pai era até legal, mesmo depois de se separar da minha mãe – o que aconteceu há uns oito anos – mas aí ele conheceu a oxigenada da Susan e ela o estragou.

Até os meus 12 anos, meu pai era o pai típico. E eu adorava isso. Ele também morava em Los Angeles e passávamos todos os finais de semana juntos. Nós íamos ao zoológico, a jogos de beisebol e a sorveterias. Era divertido. Os únicos finais de semana em que eu não o via, eram aqueles em que o trabalho o obrigava a viajar. A empresa onde ele trabalha era sediada em Londres e, numa dessas viagens, ele trouxe a personificação do Cérbero, o cão do inferno, com ele.

Sério, a mulher é insuportável. Susan age como se fosse a best friend da rainha da Inglaterra só porque é inglesa e nós, os pobres e incivilizados americanos. Toda vez que ela abre a boca e eu preciso escutar aquela voz fina com aquele sotaque inglês irritante da porra, tenho vontade de meter uma bala na cabeça dela. Ou na minha. O que a fizer calar a boca mais rápido. Os saltos dela fazem tap tap no chão o tempo todo e ela nunca os tira dos pés. Que tipo de pessoa normal acorda de manhã e sai do quarto para tomar o café da manhã de camisola e salto alto? Isso sem falar na maquiagem, acho que a louca dorme maquiada! Eu nunca a vi sem aqueles cílios postiços batendo nas sobrancelhas e deixando ela com cara de drag queen. Mas tudo bem, eu poderia conviver com isso, é um país livre e tudo, deixa ela fazer o que quer que faça ela feliz. Mas não é só isso, não, a pior coisa é que toda vez em que ela coloca os olhos em mim, acha algo para criticar. Emily, essa calça está rasgada. Essa definitivamente não é a sua cor. Por que você não usa um pouquinho de maquiagem? Está muito pálida. Emily, eu realmente não acho que mexas azuis e rosas no cabelo sejam aceitáveis para uma jovem dama. E Guns N’ Roses não é bom material para música. Emily, sente direito, uma mocinha não se comporta assim. Emily, pare de roer as unhas. Emily, penteie o cabelo. Emily, esqueça o que é ter personalidade, venda sua alma ao diabo, faça francesinhas nas unhas, encha o cabelo de laquê e seja igualzinha a mim.

Agora dá pra entender por que eu prefiro a ideia de ser jogada num tanque cheio de tubarões famintos a passar uma semana com essa criatura?

Pelo menos, os tubarões me matariam rápido e não me torturariam minuto a minuto, durante intermináveis sete dias.

Juro que foi um alívio quando meu pai decidiu ir morar em Londres depois de casar com a maldita. Pelo menos assim, eu não precisava encontrá-los com frequência. Apenas no natal e em alguns dos meus aniversários, já que eu me recusava a passar minhas férias de verão com ele.

Mas agora não eram férias de verão. Eram apenas sete dias. E meu pai não aceitaria não como resposta. Ele queria passar um tempo comigo antes do bebê monstro nascer e ponto. E era exatamente por isso que eu estava num avião para Londres neste exato momento, remoendo todos os espinhos da minha triste vida adolescente e pensando em quantas vezes precisarei bater a cabeça na parede para entrar em coma e não precisar escutar a linda da minha madrasta.

Ah é, dizem que algumas pessoas em coma podem ouvir as pessoas falando. Então, deixe-me reformular a frase. Pensando em quantas vezes precisarei bater a cabeça na parede para morrer e não ouvir mais nada.

Faltavam apenas sete dias para o Halloween e eu podia estar com meus melhores amigos, Kate e Louis, escolhendo fantasias para pedir doces de porta em porta. Sei que estamos meio velhos para isso, mas ei, fantasias e doces? Irresistível.

Mas não, eu estava a caminho de Londres para encontrar meu querido pai e sua adorável e muito grávida esposa para irmos para um hotel num vilarejo chamado Lagan, na Suécia.

Grande. Minha animação contagiaria os mortos.

 

...

— Oh, esse lugar não é perfeito, Simon querido? – Susan exclamou, com seu sotaque absolutamente irritante naquela voz que mais parecia um instrumento de tortura.

Se alguém tivesse a ideia de colocar Susan para interrogar suspeitos numa delegacia, os caras abririam a boca rapidinho, só para ela parar de falar.

Não sei como meu pai a aguenta. Aliás, não sei como a voz dela ainda não o fez ter um derrame.

— Espetacular, meu amor – ele respondeu, inclinando-se para beijá-la.

Aproveitei que estava no banco do passageiro – e os dois pombinhos agarrados no banco de trás – e fingi que estava vomitando. O motorista do táxi precisou se esforçar para abafar o risinho.

Mas a sem cérebro da minha madrasta até que tinha razão. É, nunca pensei que fosse dizer isso, soa muito estranho. Mas sim, o lugar era incrível. E quando o carro parou e nós descemos, fiquei ainda mais impressionada.

O Hotel Toftaholm Herrgard era absolutamente inacreditável. Ficava na beira de um lago – o lago Vidöstern, segundo o guia que veio nos receber – e rodeado por uma floresta de pinheiros, que já estavam quase sem folhas, o que não diminuía a beleza quase irreal do lugar. O hotel em si era de tirar o fôlego. Era uma mansão do século XIV reformada, constituída do prédio principal, com dois andares e duas alas, a sul e a norte. Toda pintada de amarelo, com o telhado vermelho. As janelas eram adoráveis, quadriculadas e abriam em guilhotina, pintadas de branco, com flores na jardineira.

Tudo era tão lindo e encantador que eu até poderia aproveitar meu tempo ali...

...Não fosse pelos dois babacas se beijando bem na frente do lago, como se estivessem filmando um comercial de má qualidade.

É, esses babacas atendem pelos nomes de Pai e Futura Mãe Do Anticristo.

Rolei os olhos e peguei minha mala pesada, arrastando-a pelas escadas da varanda da casa principal. Estava tão irritada e ansiosa para me livrar daquela visão do inferno que totalmente estragou toda a paisagem do lugar, que não olhei para frente e acabei esbarrando em alguém e perdendo o equilíbrio. Eu teria caído feio se um par de braços não tivesse ido parar na minha cintura, puxando meu corpo para frente e forçando-me a me apoiar num peito masculino.

Um peito masculino muito interessante.

— Oh, desculpe, eu... – comecei, levantando os olhos para ver quem era o dono daqueles ombros largos e daquele peitoral claramente definido mesmo com as roupas grossas.

Mas não consegui completar a frase.

Um par de olhos cinzentos me fitava curiosamente. Eram emoldurados por cílios longos e castanhos, e sobrancelhas grossas. Esses olhos pertenciam a um rosto, é claro, jura Emily? Um rosto inacreditável. Pele branca com um ligeiro tom dourado, de quem passou muito tempo ao ar livre. Cabelos curtos e lisos, castanho dourados. Mandíbula larga e queixo forte, apenas um pouco escurecidos pela barba por fazer. Lábios bem delineados, o superior ligeiramente maior que o inferior, rosados pelo frio.

Totalmente beijáveis.

Aliás, o garoto inteiro era completamente agarrável.

E eu meio que perdi o foco ao olhar para ele, porque parei a frase no meio e continuei completamente abobalhada, fitando-o como uma maluca, sem nem dar um passo para trás.

E ele continuou me segurando, mantendo nossos corpos colados juntos, e abriu um pequeno sorriso.

— A culpa foi toda minha, Srta...Blackstroker, eu presumo – disse em inglês em sua voz rouca e suave, com um ligeiro sotaque que fez os pelos da minha nuca arrepiarem.

Esse sim era um sotaque sexy.

— Sim – foi só o que eu consegui responder.

— Eu sou Benjamin Ewerlof – ele continuou, abrindo mais o sorriso. Julguei que ele tivesse mais ou menos a minha idade, talvez um ou dois anos mais velho. – Deixe-me pegar sua bagagem para você.

Ele se afastou um pouco e se abaixou para pegar minha pesada mala e a carregou pelas escadas. Eu acordei do meu momento americana-apatetada-por-sueco-gostoso e o segui, sentindo o calor tingir minhas bochechas.

— Ewerlof? — ecoei depois que minhas pregas vocais voltaram a funcionar. — Eu já escutei esse nome antes...

E a voz aguda da minha madrasta ecoou em minha cabeça. "Os Ewerlof são donos de Toftaholm Herrgard há gerações..."

Eu lembro de ela ter dito isso em algum momento da longa viagem.

— Você é o dono do hotel?! — perguntei incrédula quando chegamos à recepção. Ele parecia muito novo para ser dono de um lugar daqueles!

Ele se virou para mim e sorriu.

— Sou filho dele – disse.

Susan e meu pai entraram no lindo hall atrás de nós, ainda meio abraçados e fazendo com que eu – mais do que nunca – tivesse vontade de vomitar todo o meu almoço.

Benjamin sorriu para eles e se apresentou, dando às boas vindas ao hotel. Susan parecia bastante impressionada com o “rapazinho” e sorria lindamente enquanto balançava aquele cabelo loiro e ondulado dela.

Papai se adiantou para a recepcionista para fazer o check in e eu me escorei numa parede, pensando em quanto tempo demoraria para Susan e eu termos uma briga épica, o que faria papai gastar 80% da água em seu corpo cuspindo saliva em mim enquanto me dava uma bronca igualmente épica.

Isso sempre acontecia quando eu era obrigada a ficar perto da Susan por mais de dois dias.

— É a sua primeira vez na Suécia? – Benjamin perguntou.

Eu dei um pulo. Ele havia se aproximado tão sorrateiramente que eu não havia percebido.

— É – respondi, tentando disfarçar o susto. – Tirando Londres, para o casamento do meu pai com essa aí, eu nunca saí dos Estados Unidos.

— Espero que se divirta – ele disse, encostando-se na parede ao meu lado. – Tem muitas coisas legais para se fazer aqui.

Arqueei uma sobrancelha, cética.

Ele riu.

— Tudo bem, talvez não muitas coisas – corrigiu, com um sorriso lindo, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. – Mas há alguma diversão por aqui.

— Tipo o quê? – perguntei, enrolando uma mexa de cabelo cor de rosa no dedo.

Ele fitou o cabelo enrolado no meu dedo por alguns segundos antes de responder:

— Bom, há dois campos de golfe aqui perto...

— Eu tenho cara de quem joga golfe? – perguntei, interrompendo-o um pouco rudemente.

Ele não pareceu ofendido, apenas negou com a cabeça, antes de continuar:

— Também tem o The Museum of Legends in Ljungby, o Ljungberg Museum…

— Sem museus – eu cortei logo. Sou sem cultura mesmo, não posso fazer nada.

— Então você não é do tipo que curte museus?

— Só tem uma coisa pior para mim – eu respondi com um sorriso brilhante. – E está bem ali, com aquela cabeleira loira falsa.

— Certo – ele riu e continuou. – Clientes difíceis são sempre mais interessantes. Bom, se você gosta de design e arquitetura, temos aqui perto o...

— Não me interesso realmente por design e arquitetura – disse, antes que ele pudesse nomear os lugares.

— Então, além de interromper as pessoas enquanto estão falando, do quê você gosta?

Ele não falou isso de um jeito muito maldoso, mas eu corei mesmo assim.

— Bom – comecei, olhando para meus nikes brancos e azuis. – Eu gosto de música, internet, tapetes...

— Tapetes? – repetiu ele, confuso.

— Quem está interrompendo quem agora?

— Sinto muito – ele disse, mas o sorrisinho em seus lábios dizia que ele não sentia nada.

Rolei os olhos e continuei:

— Cookies com gotas de chocolate, gatos, falar mal da minha madrasta e filmes de terror. Acho que é só.

Ele desencostou da parede e ficou de frente para mim, parecendo meio dividido, sem saber se sorria ou se ficava sério.

— Se você gosta de filmes de terror – começou – deve gostar de histórias de terror, certo?

— Certo – concordei, sem saber onde ele queria chegar.

— Bom, então achamos algo que você pode aproveitar aqui. O Hotel Toftaholm Herrgard é um dos hotéis mais mal assombrados do mundo.

Como é que é? Isso era sério ou ele estava só brincando comigo? Eu teria ouvido sobre isso antes se fosse verdade. Se fosse uma brincadeira para me assustar, não daria certo. Gosto de filmes de terror, mas fantasmas não me assustam.

Porque eles não existem.

— Você não está falando sério – eu rebati, rolando os olhos.

— Se você duvida, pesquina no google.

Olhei para ele totalmente incrédula. Ele quis dizer o que eu achei que quis dizer?

— Não precisa ficar tão surpresa. A mansão pode ser do século XIV, mas nós já temos conexão wireless.

Certo, então não seria o inferno que eu esperava. Seria apenas o purgatório, que é ligeiramente melhor.

Ei, um avanço é um avanço, por menor que seja.

— E quais são as histórias de terror que assombram esse lugar? – perguntei, decidindo dar um voto de confiança ao garoto charmoso.

— Ah, várias. Mas a mais famosa é a do fantasma do quarto 324.

— Que quarto é esse?

— Fica aqui na casa principal, no segundo andar, o quarto do meio com varanda e vista para o lago.

— E por que esse fantasma assombra esse quarto especificamente?

— Porque ele se suicidou lá – ele disse com a voz sombria, como se quisesse me assustar.

— Recentemente? – perguntei assombrada.

— Não, na segunda metade do século XV.

— Ah, fala sério – revirei os olhos. – Só por que um idiota acabou com a própria vida aqui há mais de 500 anos, não quer dizer que este seja um lugar mal assombrado.

Benjamin ia dizer alguma coisa, mas a recepcionista acenou para ele ir até lá e ele assentiu. Virou-se para mim e disse:

— Mas você sabe o que dizem sobre os fantasmas, não é? Quanto mais velhos, mais poderosos – e com uma piscadinha, foi para a mesa da recepção.

Bufei e, quando vi a expressão confusa no rosto do meu pai, resolvi ir lá também.

— Há um pequeno problema com o banheiro da suíte ao lado da sua, senhor – a recepcionista ia dizendo, com um sotaque forte tão sexy quanto o de Benjamin. Qual era a dos suecos com sotaque legal? – Mas o hotel está quase vazio, então poderemos arranjar outro quarto para a Srta. Blackstroker sem problemas.

— Pouca gente vem para cá nesta época do ano – disse Benjamin. – Chove muito.

Aproximei-me mais, uma ideia maravilhosa formando-se em minha cabeça.

— Com licença – falei para a recepcionista. – O quarto 324 está vago?

Eu vi toda a cor sair do rosto de Benjamin quando ouviu minha pergunta. Ele parecia genuinamente horrorizado.

— Sim – disse a recepcionista, parecendo meio confusa. – Mas os hóspedes geralmente não gostam muito desse quarto...

— Eu quero ele! – a interrompi antes que falasse sobre o lance do fantasma.

— Não! – Benjamin praticamente gritou.

Papai olhou para ele confuso e meio irritado, provavelmente por Benjamin ter gritado comigo.

— Por que não? – foi ele quem perguntou.

Benjamin teve a decência de parecer envergonhado.

— Ahn...é que esse quarto fica aqui na casa principal e a sua suíte fica na ala norte – ele disse, enquanto passava a mão pelo cabelo nervosamente. – O senhor não vai querer ficar perto da sua filha?

Papai pareceu considerar as palavras do garoto e se virou para mim com a pergunta nos olhos.

— Ah papai – eu disse, com minha melhor voz de menininha mimada. – Mas eu quero um quarto com varanda e vista para o lago! O quarto 324 tem tudo isso. Por favor, vai...

Papai deu de ombros e disse:

— Bom, acho que não há problema...

Eu sorri, feliz, enquanto o Ewerlof parecia ter acabado de engolir uma mosca.

— Tudo certo, então – disse a recepcionista, também não parecendo a mais alegre das criaturas. – Vou pedir para um funcionário levar as bagagens de vocês.

Benjamin se adiantou e pegou minha mala.

— Pode deixar que eu levo a Srta. Blackstroker até seu quarto, Annika – Benjamin disse, friamente, enquanto Annika lhe entregava o cartão chave do quarto. – Obrigado.

Eu perdi alguma coisa, certo? O cara devia ser maluco. Ou bipolar. Ou simplesmente chato. Primeiro, super animado, me conta tudo sobre este ser um hotel assombrado. Depois, só porque eu quis ter a experiência verdadeira no quarto onde um maluco se matou há 500 anos – e de quebra ficar bem longe da suíte da minha madrasta insuportável – o cara pira. Sério, qual o grande problema nisso?

E, certo, eu entendo que a maioria das pessoas não estaria muito emocionada com a perspectiva de dormir num quarto onde um homem morreu de forma tão violenta. Mas também tem muita gente com gosto duvidoso por aí e eu sou uma delas. Gosto de filmes de terror por uma razão. Apesar de não acreditar em fantasmas, acho o assunto fascinante, como alguém que gosta de livros/filmes de alienígenas. Eles não existem, mas seria fascinante se existissem.

E não, alienígenas não existem mesmo. Quem fica procurando OVINI por aí é maluco.

Então sim, eu estava doida para dividir o quarto com...não o fantasma do cara que bateu as botas lá, já que não acredito nisso, mas com a lembrança dele. A história por trás do seu trágico fim.

— Descanse um pouco, Emily – papai disse, beijando minha testa. – Nos encontramos no jantar.

— Claro – respondi e fui atrás do sueco de maravilhosos olhos cinzentos.

O charmoso Benjamin Ewerlof e eu subimos a grande e imponente escadaria em um silêncio meio tenso. Ele havia acenado para que eu fosse à frente e seguia atrás de mim, carregando facilmente minha mala pesada – a que eu não conseguia nem tirar do chão e precisei arrastar durante toda a viagem já que meu pai esteve ocupado demais carregando as quatro malas da esposa grávida que não podia segurar nem a própria bolsa. Esse cara devia malhar pra caramba. Benjamin, não meu pai. Meu pai é que nem eu, qualquer menção a atividade física e já começa a fingir um ataque cardíaco.

Chegamos ao topo da escada, que dava no meio de um largo e comprido corredor revestido de papel de parede floral e com várias portas brancas fechadas. Os números dos quartos eram dourados e ligeiramente inclinados, e ficavam em cima das portas, elegantemente discretos, talvez para nos dar a sensação de estarmos numa antiga mansão de verão e não num hotel. O quarto 324 ficava bem na frente das escadas, no meio do corredor. Benjamin apoiou minha mala cuidadosamente no chão e pegou o cartão magnético do bolso, adiantando-se para destrancar a porta.

Ele abriu a porta para mim e se afastou para me deixar passar, de maneira bem cavalheiresca, apesar de seu olhar ainda parecer meio furioso. Dei dois passos para frente e perdi o fôlego.

Aquilo era diferente de todos os quartos de hotel em que eu já havia estado. Não era frio ou impessoal. Muito menos branco ou bege ou qualquer outra cor neutra. Era lindo. Parecia confortável, quente, acolhedor e surpreendentemente feminino. O lugar era espaçoso, com chão de tábua corrida e paredes cobertas com papel de parede vermelho. Sim, vermelho. Eu sei, nunca poderia imaginar um quarto todo vermelho e ainda assim, elegante e suave. A cama era enorme e alta, com a cabeceira de madeira, e coberta com uma manta com listras nas cores vermelho, rosa e branco. Ao lado da cama havia uma pequena mesinha de madeira com um abajur e um telefone em cima. Encostada na parede havia o que parecia ser uma mesa de desenho antiga, com um bloco de anotações, uma caneta, algumas revistas, um vaso de flores frescas e o controle da TV. Do outro lado do quarto eu pude ver duas poltronas verde cinzentas de aparência confortável, separadas por uma mesinha baixa e iluminadas por um abajur de pé. Eu avancei para dentro do quarto e, através das portas duplas de vidro, meio cobertas por uma cortina floral que ia até o chão, pude ver a varanda e a paisagem espetacular do lago e das árvores lá fora.

— Uau – soltei, para ninguém em particular. – Definitivamente fiz a escolha certa.

— Não mesmo – declarou Benjamin atrás de mim, fazendo-me pular de susto pela segunda vez em meia hora. Estava tão encantada pelo lugar que quase esqueci que ele estava ali.

Virei-me para ele e o encarei. Ele já havia colocado minha mala encostada na parede e fechado a porta do quarto sem que eu percebesse e agora me encarava de volta, raiva brilhando em seus olhos e vermelho colorindo suas bochechas.

— Ok, qual o problema? – perguntei, disposta a tentar entendê-lo.

— Você não ouviu nada do que eu disse, Srta. Blackstroker? – ele rebateu, seu sotaque saindo mais pronunciado agora que ele estava com raiva. – Ou não acreditou em mim? Um homem se matou bem aqui neste quarto.

— Acho que foi você quem não me escutou – eu respondi, tentando soar educada, mas começando a ficar um pouco danada com aquela cara. Ele agia como se eu fosse retardada e fazia “senhorita” soar como um xingamento. – Eu disse que não acredito em fantasmas.

Ele rolou os olhos e correu os dedos pelos cabelos, bagunçando-os.

— Não interessa se acredita ou não – disse, parecendo subitamente cansado e preocupado. – Eles existem e você está prestes a dividir o quarto com um.

 

...

Certo, Emily, isso não está acontecendo.

Não mesmo.

Deixe de ser boba, isso é tudo fruto da sua imaginação.

Não entre em pânico.

Fantasmas não existem.

Fantasmas não existem.

Ou pelo menos era disso que eu estava tentando me convencer.

Depois que Benjamin foi embora do meu quarto, confesso que a primeira coisa que fiz foi ligar para a recepção e pedir a senha da internet. Não havia acreditado muito naquele papinho de “oh, fantasmas existem, tenha medo” dele. Por que tem sempre algo de fundamentalmente errado com os caras gatos? Ou eles são canalhas ou idiotas ou assassinos em série. Ou acreditam em fantasmas. Enfim, peguei meu iPad e a primeira coisa que fiz foi digitar o nome do hotel no google. E meu queixo quase caiu ao ver que sim, era verdade.

O hotel em que eu estava era considerado um dos lugares mais mal assombrados do mundo.

Como meu pai resolve trazer a Susan para um hotel mal assombrado no Halloween? É um mistério. A mulher é a pessoa mais medrosa que eu conheço, tem medo até de barata! Será que ela sabia onde estava se metendo? Fazer algumas brincadeirinhas com aquele projeto de loira do banheiro poderia ser divertido.

Bom, achei isso até eu mesma começar a ter um ataque de pânico.

Apesar de ter descoberto que o hotel era realmente conhecido por ser – supostamente – mal assombrado, não levei muito a sério. Achei até que seria divertido. E quando desci para o jantar e vi que o mundo começou a desabar lá fora, não me preocupei.

Não tinha medo de tempestades e o Ewerlof já havia dito que chovia muito aqui nessa época do ano.

O jantar foi quase demais pra mim. Susan estava particularmente insuportável. Bom, e quando ela não é? Mas o negócio é que ela ficava repetindo que, agora que eu havia conhecido um garoto decente e cavalheiro – ela sempre criticou os poucos namorados que eu tive, chamando-os de imprestáveis – eu poderia tentar parecer um pouquinho melhor.

— Seus cabelos loiros são tão lindos – ela disse, enquanto eu mastigava minha comida com força, imaginando o que aconteceria se eu acidentalmente quebrasse minha taça na cabeça dela. – Você tinha mesmo que fazer essas mechas coloridas?

— Meu cabelo é castanho – retruquei. Que mania chata dessa mulher chamar meu cabelo castanho claro de loiro. Ela que era loira. Platinada como a Barbie.

— E seus olhos seriam muito mais interessantes se você passasse máscara para cílios. Claro que castanho nunca vai ser muito interessante... – completou, piscando seus grandes olhos azul bebê para mim.

E foi nesse momento que eu enfiei o garfo num deles.

Pelo menos foi o que aconteceu na minha mente. O  que, infelizmente, não corresponde à realidade.

Depois do jantar, como estava chovendo muito e não tinha muita coisa que podíamos fazer, meu pai me deixou voltar para o quarto, onde eu achei que finalmente poderia relaxar um pouco e ser feliz.

Mas eu estava enganada. Foi que meu pesadelo começou.

Tomei um banho rápido e vesti uma calça de flanela e uma camiseta com alças finas. O aquecedor deixou o quarto com uma temperatura agradável e eu me deitei na cama, cansada demais para fazer qualquer coisa além de dormir. Cair no sono foi fácil, mas eu acordei subitamente um par de horas depois.

As luzes – que eu esquecera de desligar antes de dormir – estavam apagadas. O quarto estava frio e meus dentes estavam batendo. A tempestade lá fora parecia ainda mais forte, incontrolável. Eu tateei à procura do meu celular, que havia deixado na mesinha ao lado da cama, e o desbloqueei para ver as horas. Passava um pouco da meia noite.

Apesar da tempestade, a lua conseguia iluminar um pouco o aposento através das portas de vidro que eu não cobrira com a cortina. Levantei, sentindo um arrepio percorrer meu corpo ao pisar descalça no chão frio e fui até o interruptor para ligar as luzes. Não funcionou. Fui até o aquecedor e esse também não funcionava. Deduzi que a energia havia acabado, não seria muito improvável com toda aquela chuva, raios e trovões.

Fui até o banheiro para pegar alguns cobertores extras que eu tinha visto no armário que havia lá. Consegui dois cobertores quentinhos e voltei para o quarto. Mas larguei-os no chão quando vi que as portas que davam para a varanda estavam abertas, batendo com o vento, que fazia as cortinas voarem de modo quase fantasmagórico. A chuva fustigava e molhava o quarto. Eu corri até as portas para fechá-las, com alguma dificuldade. A chuva gelada caía em mim de modo quase doloroso, como se fossem pequenas lâminas na minha pele. Quando finalmente consegui, encostei-me nelas, respirando fundo, tremendo de frio e sentindo o coração bater forte.

Mas aí, o quarto escureceu por um segundo, como se algo ou alguém tivesse coberto a luz da lua atrás de mim. Virei-me rapidamente, fazendo meu cabelo bater no meu rosto, mas não vi nada, tudo parecia normal. Voltei a olhar para dentro do quarto, que parecia igual, ainda levemente iluminado pela luz prateada da lua. Dizendo a mim mesma que eu estava agindo como uma boba impressionada, fui até o banheiro e me sequei com uma toalha, depois troquei minha camiseta por outra, peguei os cobertores do chão e fui para a cama. Mas o sono havia fugido para fora do meu corpo e eu me sentia bem alerta. Peguei meu iPad só para descobri-lo sem bateria. Praguejei e rolei na cama, jogando de qualquer jeito do outro lado do colchão. Fechei os olhos para me forçar a dormir, a viagem havia sido cansativa e eu tinha certeza de que Susan iria me acordar cedo no dia seguinte para “aproveitar o – maldito – dia”.

O maldito era por minha conta mesmo.

Mas, depois de alguns minutos, senti uma presença ao meu lado. Nada mudou. Nenhum ruído foi ouvido. Mas era como se, de repente, eu não estivesse sozinha naquela cama. Eu sentia o peso de um...olhar. Continuei de olhos fechados, tentando me convencer de que era só coisa da minha cabeça e de que eu estava impressionada com as besteiras que aquele garoto maluco dissera. Era só isso.

Mas eu não podia ter imaginado aquele sopro gelado na minha orelha. Não mesmo.

Abri os olhos e me sentei na cama em meio segundo, sentindo o mundo girar ligeiramente ao meu redor. A chuva continuava fustigando a janela, barulhenta contra o vidro, e o quarto continuava naquela semi escuridão. Sentia o coração batendo nos meus ouvidos e meus olhos arregalados procuravam desesperadamente por algo errado naquele quarto. Nada. Eu estava apenas delirando.

Emily, você está ficando louca.

Joguei-me de volta na cama, de costas, e fiquei encarando o teto por alguns segundos. Eu precisava parar de pirar e dormir. Mas, mesmo que nunca fosse capaz de admitir em voz alta, estava com medo de fechar os olhos.

Mas o fiz. Fechei os olhos, dizendo para mim mesmo que amanhã, na luz segura do dia, eu riria da minha idiotice. Puxei as cobertas até meu pescoço, esperando que logo elas esquentassem meu corpo frio, mas ainda me sentia tensa. Era como se eu não conseguisse relaxar. Meus músculos estavam contraídos e meus dedos, apertados nos lençóis.

E foi nesse momento que eu ouvi a voz.

No início foi baixa e suave como o assobio do vento, e eu não a percebi de imediato. Mas foi tomando forma, como barro nas mãos de um escultor. A voz, grave, masculina e etérea demais para pertencer a este mundo pareceu se transformar de um ruído disforme a uma palavra clara. Clara e perfeita demais para eu a ter imaginado. Eu continuava de olhos fechados, mas sentia meu coração na boca e apertava cada vez mais meus dedos nos lençóis, com medo de abrir os olhos e ver o que quer que houvesse para ser visto. A voz se aproximava, eu podia senti-la quase como uma coisa física, como algo gelado que ia se arrastando para perto de mim, pela minha pele, sob a minha pele.

Senti as lágrimas de medo molharem meus olhos fechados e fiquei repetindo aquela frase como um mantra.

Fantasmas não existem.

Fantasmas não existem.

Fantasmas não existem.

Mas, pela primeira vez na vida, não acreditava muito nisso.

Tremendo de frio e medo até os ossos, juntei cada gota de coragem que ainda existia em meu corpo e abri os olhos. E minha boca se abriu num grito mudo, já que minhas pregas vocais pareciam ter sido congeladas de medo.

Acima de mim, como se estivesse flutuando, havia uma sombra negra. Era como uma nuvem escura, como as que cobriam o céu lá fora, mas esta estava a centímetros de mim e tinha o formato...tinha o formato...

Tinha o formato de uma pessoa.

Senti a sombra se aproximando e, com ela, a sensação de frio congelante que havia se apossado do meu corpo. A voz ficava mais forte a cada segundo, a cada vez que repetia a mesma palavra. E a voz parecia vir diretamente daquela coisa que se aproximava de mim de forma lenta e fluida, imaterial.

Não sei onde consegui forças, mas me joguei da cama e cambaleei até a porta, tentando abri-la sem sucesso. Estava trancada. Ou melhor, lacrada. Sentindo as pernas amolecerem à medida que o pânico voltava a tomar conta do meu corpo e a sombra voltava a se aproximar de mim, corri até o telefone, mas ele estava mudo.

Caí no chão e me arrastei até o canto, entre a mesinha e a parede. Sentindo as lágrimas anuviarem minha visão e aquela “aparição” se aproximar.

E o mundo ao meu redor se tornou negro, embora eu ainda pudesse ouvir – ou sonhar, não sei – com aquela voz feita de sombra e gelo, agora gritando:

Anna.

 

...

 

— Eu avisei – Benjamin disse, pegando uma pedra no chão e atirando-a no lago. A pedra quicou três vezes na água antes de afundar. – E mesmo assim, é pior do que eu pensei.

Estávamos sentados num banco de madeira à beira do lago Vidöstern, aproveitando a aparição do sol fraco e frio. A chuva da noite anterior parecia uma lembrança ruim, embora as poucas folhas que ainda existiam nas árvores estivessem cheias de gotinhas d’água e o chão embaixo de nós estivesse meio lamacento.

O dia havia começado de forma quase gloriosa.

Mas na minha cabeça só havia espaço para o horror da noite passada.

Acordei sentindo como se tivesse sido atropelada por uma manada de elefantes sapateadores. Estava deitada no chão ao lado da cama, as luzes estavam todas ligadas e o aquecedor funcionava perfeitamente. Pelas portas da varanda, podia ver a luz da manhã banhar a superfície do lago lá fora. Vesti-me o e escovei os dentes o mais rápido que pude e corri para fora do quarto como se o lugar estivesse assombrado.

E eu suspeitava que era exatamente esse o caso.

Era bem cedo e meu pai e Susan ainda não haviam levantado, mas o café da manhã já havia sido servido. Perguntei para a recepcionista que horas a energia havia voltado na noite anterior e tremi com a resposta:

— Não houve queda de energia ontem, Srta. Blackstroker.

E nesse momento, enquanto eu estava me perguntando se minhas pernas seriam capazes de me aguentar por mais tempo, Benjamin Ewerlof desceu as escadarias de maneira imponente, vestido com jeans pretos, suéter preto e coturnos pretos, o goticozinho maldito. Seu cabelo estava molhado e havia um leve círculo escuro embaixo dos seus olhos – o meu caso estava bem pior, disso não tinha dúvidas – denunciando a noite mal dormida.

— Parece que você precisa desesperadamente de um bom café da manhã, Srta. Blackstroker – foi o que ele disse. E me levou para tomar o desjejum com ele.

Depois disso, me guiou até onde estávamos agora, à beira do lago. E eu sabia que não iria gostar nadinha da conversa que viria a seguir.

— Do que você está falando? – perguntei, tentando imprimir indiferença na minha voz e falhando espetacularmente. – O que é pior do que você pensou?

Ele não olhou para mim e pegou outra pedra no chão, mas não a jogou no lago, ficou apenas rolando-a entre os dedos.

— É claro que eu pensei que ele iria assustá-la – resmungou baixinho, para si mesmo, não para mim. – Isso era óbvio e eu tentei impedir. Pensei que só seria uma experiência desagradável. Nunca pensei...nunca pensei...

— Você nunca pensou em quê? – perguntei, impaciente e frustrada, fazendo-o me fitar com aqueles olhos cinzentos como se fosse a primeira vez que me via na vida.

— Nunca pensei que Junker fosse se apaixonar por você.

Ok, sorria e acene, o menino é maluco. Mas óbvio que não fiz isso, porque eu sou eu e sempre tomo as piores decisões.

— O quê?! – soltei, unindo minhas sobrancelhas em confusão.

Ele respirou fundo e se aproximou mais de mim, desviando os olhos para o lago e finalmente jogando a pedra que tinha nas mãos. Essa afundou de primeira.

— Eu vou contar uma história. Preste atenção – ele disse, numa voz quase serena, ainda sem olhar para mim. – Em 1474, esta mansão aqui pertencia a um conde muito poderoso. Ele tinha uma filha que era conhecida em toda a província por sua beleza delicada e sua disposição bondosa. Mas ela se apaixonou por um plebeu. Ele não era pobre nem nada. Vinha de uma família de comerciantes e havia estudado, mas por falta de “sangue azul”, não era um partido a se considerar para ela. Ele se chamava Junker Mats, e amava a filha do conde tanto quanto ela o amava.

Enquanto ele falava, a história criava vida em minha cabeça. Eu podia quase ver e sentir a época, a linda filha do conde e seu amor impossível, o plebeu. Podia imaginá-los se encontrando às escondidas entre os grandes jardins da casa ou no meio da floresta de pinheiros. Era quase como se eu fechasse os olhos e voltasse no tempo.

— O conde descobriu que sua filha estava apaixonada por um plebeu – continuou Benjamin. – E ele percebeu o perigo da família cair em desgraça se as pessoas soubessem daquele amor impróprio. E por isso, obrigou-a a se casar com outro homem. Um cavaleiro chamado Fike Gustavsson. Ela não teve escolha.

— O século XV era uma bosta mesmo – falei, abrindo os olhos e fitando o perfil perfeito do garoto ao meu lado.

Ele continuou como se não tivesse sido interrompido.

— O quarto que você está usando costumava ser o quarto dela. No dia do casamento, enquanto todos estavam na igreja, Junker Mats invadiu a casa e, sem que ninguém percebesse, entrou no quarto da amada. E lá se matou. Acho que ele não suportaria ver a mulher que amava sendo de outro homem e preferiu tirar a própria vida.

Um arrepio passou por minha espinha enquanto eu imaginava um jovem loiro e bonito com uma corda no pescoço – eu não sabia qual era a moda dos suicídios no século XV, então a minha imaginação fazia o que podia – naquele lindo quarto com vista para o lago. Apesar de ter sido uma sacanagem sem tamanha o cara se matar no quarto da moça. Aposto que ela ficou traumatizada.

— Você entende agora, não é? – Benjamin perguntou, finalmente se virando para mim. – Entende porque eu não a quis naquele quarto. Junker Mats continua lá, mesmo depois de todos esses anos.

— Mas o que você quis dizer com essa de “Junker se apaixonou por mim”? – perguntei, já menos disposta a negar toda essa parada sobrenatural depois da noite de horror que tive.

O sueco voltou a olhar para o lago, mas agora parecia quase com vergonha. Eu o olhei curiosa enquanto ele voltava a passar os dedos pelos cabelos quase secos. Ele parecia hesitante em falar alguma coisa.

— Fala logo!

— Eu posso ver os mortos.

Dissemos ao mesmo tempo. Arregalei meus olhos para ele, meio sem saber se ria ou se levava a sério.

— Olha, se você está tentando fazer a americana crédula de boba – comecei, mas ele não me deixou terminar.

— Não – disse, balançando a cabeça. – É verdade, todos aqui no hotel sabem. Eu falo com os mortos. Desde que eu era criança. E Junker Mats sempre foi o mais obsessivo dos fantasmas que conheci.

Suspeitei que meu queixo havia ido parar nos meus joelhos. Eu simplesmente não conseguia fechar a boca. Enquanto a minha razão dizia que aquilo era besteira, conto da carochinha, todo o meu corpo – que ainda sentia os efeitos fantasmagóricos a noite anterior – gritava que aquilo era nada mais nada menos que a verdade.

E eu simplesmente não sabia em que acreditar.

— Eu passei no seu quarto hoje de manhã – ele foi dizendo sem esperar uma resposta. – Queria ver se você estava bem, mas você já havia saído. E eu encontrei com o Junker.

— E... – eu não acreditava que ia realmente fazer aquela pergunta. – Vocês bateram aquele papinho camarada?

Benjamin franziu o cenho com minha escolha de palavras, mas fez que sim com a cabeça.

— Ele disse que havia finalmente encontrado a mulher por quem esperou por tantos anos – disse. – A mulher por quem tirou a própria vida.

— Como assim? Além de morto, o cara é cego? Ou doido?

Benjamin se levantou e estendeu a mão para mim.

— Venha, preciso lhe mostrar uma coisa.

Eu hesitei alguns segundos antes de aceitar a mão dele – ligeiramente suada – e deixá-lo me guiar de volta ao hotel. Passamos pela recepção e seguimos por um corredor ao lado da escadaria que levava ao segundo andar. No fim deste corredor havia uma porta dupla de madeira escura e nós entramos lá. Era uma grande biblioteca, com estantes de madeira atoladas de livros do chão ao teto. As janelas eram altas e estreitas e permitiam que a luz clara da manhã banhasse os volumes e fizesse os minúsculos pontos de poeira visíveis, flutuando no ar. Mas, aparentemente, aquele não era nosso destino final. Benjamin me puxou através da biblioteca vazia até a última estante de livros, puxou um volume grosso com capa dura vermelha da terceira fileira de livros e a estante simplesmente deslizou para o lado, fazendo-me soltar o fôlego ao ver um aposento secreto escondido atrás da estante.

— Primeiro as damas – disse ele, soltando minha mão.

Eu entrei e ele veio logo atrás de mim, sem fechar a “porta”, deixando que a luz do sol entrasse naquela câmara escura e pequena. Lá havia apenas uma mesa e um mundo de papéis e manuscritos em sueco – eu acho né, não entendo mesmo –, alguns tocos de velas, livros com capas sem títulos e uma cadeira velha com forro de veludo gasto.

Mas Benjamin não me mostrou nem traduziu para mim nenhum dos papéis, como eu pensei que faria. Não era isso que ele queria me mostrar. Enquanto eu estava com os olhos na mesa, ele segurou meu queixo, levantando meu rosto até que meus olhos pararam na enorme pintura com moldura de ouro na parede bem em cima da mesa.

Era o retrato de uma mulher e o pintor fez um trabalho incrível, porque eu quase me sentia olhando para uma foto. Só seu rosto, colo e ombros apareciam na pintura. Parecia ter a minha idade, talvez um pouco mais velha. A sua roupa não deixava aparecer nem um pedacinho de pele, a gola ia até o pescoço, e só o rosto não estava coberto. Ela tinha a pele pálida e sem imperfeições, lábios pequenos e cheios, rosados. O nariz era fino e ligeiramente arrebitado e seus olhos eram fundos, com leves marcas escuras ao redor, de um castanho escuro intenso. O cabelo dela era castanho bem claro e estava preso para trás com uma espécie de laço.

Era quase como me olhar no espelho. Exceto pela espinha macabra decorando meu queixo, provavelmente cortesia do estresse e da noite mal dormida.

Sim, eu estava usando  calças jeans escuras, um suéter comprido e bege, casaco de couro e coturnos. Meus cabelos estavam bem bagunçados e tinham várias mexas nas cores rosa e azul.

E mesmo assim, eu era total a cara daquela mulher.

— Ok, essa é a hora em que eu entro em pânico? – perguntei para Benjamin.

— Ainda não – ele disse, e me fez virar para olhá-lo, suas mãos se prendendo aos meus ombros. – Junker Mats acha que você é ela – indicou a mulher na pintura que tanto se parecia comigo. – E ele vai assombrar você para sempre e muito provavelmente tentar acabar com a sua vida, para que você possa se unir a ele.

Nossa, jeito legal de dizer que eu vou morrer, parceiro.

— Agora é uma boa hora para entrar em pânico – ele disse com um sorriso sarcástico e sem humor nenhum.

Desprendi-me dele e saí daquela câmara escondida e voltei à biblioteca. Ele me seguiu e fechou o lugar.

— Isso não pode ser verdade, simplesmente não pode – eu fui tagarelando, para ninguém em especial. – Essas coisas não existem. Não existem. É impossível.

— Você sabe que é possível – Benjamin disse atrás de mim.

— Não, não é! – eu gritei, virando-me para ele. E então eu lembrei de uma coisa. – Espera, como você disse que era o nome da filha do conde mesmo?

— Eu não disse.

— Por acaso era...Anna?

Ele me fitou surpreso e curioso. E disse:

— Anna Stenbock. Como você sabia?

Oh Deus, estou perdida.

 

...

— Certo – eu disse, dando voltas enquanto Benjamin continuava sentado numa das muitas poltronas da biblioteca. – O que eu posso fazer para remediar isso? E por remediar, eu quero dizer, não desencarnar e me tornar a esposa fantasma de um sueca morto maluco.

Ele me olhou e arqueou uma sobrancelha.

— Resolveu acreditar em mim agora, Srta. Blackstroker? – foi só o que o maldito disse.

Esparramei-me na poltrona na frente dele e soltei um longo suspiro.

— Olha, eu sei que eu tive um inferno de uma noite – disse, séria. – E não quero ser assombrada pelo resto da vida, muito menos ser...assassinada por uma alma penada com dor de cotovelo. Então Sr. Benjamin Eu Vejo Gente Morta Ewerlof, é melhor você dar um jeito de me tirar dessa ou eu vou processar esse maldito hotel.

— E diria o quê? Que nós lhe demos um poltergeist de cortesia? Meu pai riria muito disso.

— Não é para rir. Aliás, onde está seu pai? Ele não pode ajudar nisso?

— Não, ele está em Estocolmo a negócios. Vai ficar o mês inteiro. E ele não poderia ajudar de qualquer jeito. Digamos que eu sou o especialista em assombração da família.

Joguei as mãos pro alto.

— Ótimo, se estou nas suas mãos, estou morta. Posso assombrar o quarto 308? Vi uma hóspede dizendo no corredor que tem a melhor vista do hotel.

Foi a sua vez de se levantar e ficar dando voltas pelo ao redor das poltronas, ignorando meu tão bem cultivado sarcasmo. Ele passava continuamente as mãos pelo cabelo, parecendo muito concentrado em alguma coisa. Eu sei que EU estava concentrada na minha morte iminente. Bom, seria tão ruim assim ser a namorada de um fantasma? Pelo menos eu não teria que me preocupar em machucá-lo quando ficasse com raiva dele e começasse a atirar coisas no sujeito.

Os objetos atravessam fantasmas, certo?

Ok, isso ia ser um tédio.

— Bom, tem algo que podemos fazer – Benjamin disse de repente enquanto eu já estava mentalizando meu casamento com o tal do sueco mal amado, num cemitério, com os amigos fantasmas, vampiros, lobisomens e gremlins dele de um lado e a minha família do outro. A Susan estava segurando o bebê monstro que era uma cópia em carbono dela e os dois eram a coisa mais assustadora de todas.

— O quê? – perguntei, olhando para ele.

— Bom, você só é parecida com a Anna – ele começou a explicar, sentando dessa vez na mesa bem na frente da minha poltrona. – Você não é ela. Então nós só precisamos encontrá-la.

— Olha, desculpa ser a pessoa que vai te dizer isso, mas se a moça viveu no século XV é muito provável que esteja morta agora...

Olhei para ele que me lançou um olhar que explicou tudo, o que me deixou meio nauseada. Aquilo não era mesmo brincadeira.

— Você quer dizer...o espírito dela? – perguntei, incerta.

Ele assentiu.

— Isso quer dizer o que? – soltei. – Que vamos procurar a lápide dela e fazer um exorcismo?

— É um pouco mais complicado do que isso...

— Mais complicado que fazer um exorcismo?! Esquece, Junker Mats não deve ser tão ruim...

Benjamin riu pelo nariz e balançou a cabeça.

— Uma garota como você precisa de um homem vivo, Srta. Blackstroker. Não abaixe seus padrões.

Eu quase disse “que padrões?”, mas me controlei. Foi a minha vez de passar as mãos pelo cabelo em frustração. Eu não disse nada e Benjamin retomou a conversa principal.

— Os habitantes de Lagan sempre foram muito supersticiosos e, até mais ou menos o final do século XVI, tinham o costume de “lacrar” o espírito dos mortos em um objeto, para que eles não ficassem perambulando por aí, numa espécie de limbo, que é o que aconteceu com o Junker.

Eu comecei a entender aonde ele queria chegar.

— Então o espírito dessa dondoca aí está provavelmente “selado” num objeto. E nós temos que achá-lo?

— Certo.

— E aí?

— O que na América vocês conhecem por Halloween, aqui na Suécia chama “Alla Helgons Dag”, que significa “Dia de Todos os Santos”. E vai de 31 de outubro a 6 de novembro. E somente durante esses sete dias, os fantasmas podem ser vistos por todas as pessoas e...

— E...?

— E espíritos que foram selados em objetos podem ser libertados.

Aquilo era muito para a minha cabeça. Mas eu precisava fazer algo e precisava tomar a decisão o mais rápido possível. Não sei como nem quando exatamente, mas em algum momento da manhã, toda aquela conversa louca não parecia mais tão louca assim. De certa forma, parecia verdade. Bom, depois daquela maldita sombra imaterial e daquela voz na minha cabeça, eu estava mais do que pronta para acreditar em eventos sobrenaturais.

E descobri que estar no meu próprio e real filme de terror não era divertido.

Nem um pouco.

— Eu vou embora dia 1° de novembro – eu exalei.

Benjamin segurou minhas mãos entre as suas e disse, olhando nos meus olhos:

— Então temos até a noite do dia 31 para encontrar o espírito de Anna Stenbock e libertá-lo.

— E levar a criatura até o plebeu suicida, para livrar o meu lindo pescoço – completei amarga.

— Muitas pessoas achariam o gesto de Junker romântico. Diriam que ele é um plebeu apaixonado, não suicida.

— Ele se matou, não foi? – soltei sem pena nenhuma, tirando minhas mãos da dele e me levantando. – Por que simplesmente não fugiu com a garota? Agora vamos, se a gente tem só seis dias pra caçar essa alma penada, melhor começar agora.

Eu estava mais certa do que pensava quando disse que esse seria um inferno de um Halloween.

Agora tinha minha própria aventura fantasmagórica pela frente.

Minha animação contagiaria os mortos.

Bem, esse era o problema. Contagiou demais um em especial.

 

...

Eu acordei na manhã do dia 31 de outubro me sentindo assustada, animada e confusa.

Sim, depois de seis dias vasculhando esse hotel, praticamente virando-o de cabeça para baixo, finalmente achamos algo que parecia ser exatamente o que precisávamos. O objeto perfeito para trancar um espírito.

O anel de noivado de Anna Stenbock.

Benjamin e eu o achamos ontem, enquanto vasculhávamos as gavetas dos móveis velhos do porão pelo que parecia a centésima vez. Benjamin percebeu que havia uma gaveta com um fundo falso e conseguiu abri-la. Lá dentro havia apenas duas coisas: um lindo anel de rubi e um punhado de cartas velhas em sueco. Ele me disse que aquele era o anel que Fike Gustavsson havia dado a Anna quando a pediu em casamento. Eu tinha que acreditar na palavra dele.

Era minha única chance.

Levantei-me da grande cama, depois de ter tido a única verdadeira noite de sono tranquilo desde que cheguei aqui. Sim, eu continuava no mesmo quarto. Benjamin havia dito que podia ser pior se eu fosse para outro agora que Junker estava obcecado por mim. Fui até as portas duplas da varanda – que estavam abertas ainda que eu as tenha fechado antes de dormir – e fui ver meu presente.

Junker estava me cortejando. E fazia isso com flores murchas e pequenos animais mortos na porta da varanda. Meio tipo um gato.

Era sinistro. E horrível. Mas eu não estava mais tão assustada quanto da primeira vez. Sei lá, acho que do mesmo jeito que a gente se acostuma com uma madrasta do mal, também se acostuma com um fantasma deixando coisas nojentas na sua porta.

O de hoje era constituído de várias pétalas de rosas enegrecidas e duas aranhas quase do tamanho do meu punho – mortas.

Virei o rosto e fechei as portas, puxando as cortinas, para não ter que ver aquilo, e fui tomar banho e me vestir. O dia seria longo.

Quando disse que estava, além de assustada, animada e confusa, não estava brincando. Sei que deveria estar horrorizada, petrificada de medo e tudo, mas...em algum ponto da semana, eu realmente, realmente, me diverti.

Passei a maior parte dos dias – e noites, não posso esquecer das procuras intermináveis na biblioteca de madrugada – com Benjamin. Papai e Susan nem reclamaram. Papai parecia satisfeito em ter sua semana romântica com a mulher que estava grávida da cria do satã – nem sei porque ele fez tanta questão que eu viesse se o que queria era uma segunda lua de mel, sinceramente – e Susan, de maneira absolutamente inédita, parecia aprovar o que eu fazia.

Bom, o que ela achava que eu fazia. Já que as ideias na cabeça dela deveriam girar em torno de algo como “eu seduzindo o Benjamin, o filho de um próspero empresário, dono de um hotel incrível” ao invés de “eu tentando salvar minha pele de um fantasma obsessivo”.

Bom, o que interessa é que os dois deixaram o caminho livre para mim e para Benjamin e nós praticamente revistamos a mansão e...nos divertimos no processo.

Benjamin Ewerlof era enfurecidamente charmoso. Ele era inteligente e criativo, educado – na maior parte das vezes – e cavalheiro. Sempre se preocupava comigo e até era quem me lembrava das refeições quando ficávamos tão entretidos em nossa busca que eu acabava esquecendo o horário do almoço e do jantar.

Além disso, esse lance de falar com os mortos passou de estranho para simplesmente interessante. Era um dom, apenas isso. Algumas pessoas podem cantar bem, outras sabem fazer artesanato. Ben – ele detestava quando eu o chamava assim – simplesmente podia falar com os mortos. Não era como se ele fosse um maluco esquisito que passava a maior parte do tempo se esgueirando em cemitérios e fazendo rituais satânicos.

Ele era um garoto normal. Bom, quase. Talvez todo o lance bonito, charmoso, inteligente, cavalheiro e amiguinho de fantasma fosse normal na Suécia.

E o lance de me chamar de Srta. Blackstroker o tempo todo era meio sexy. Apesar de eu ter pedido diversas vezes para ele apenas me chamar de Emily.

Não fui atendida.

Eu me sentia cada vez mais atraída por ele e, na noite anterior, enquanto comemorávamos o fato de termos finalmente achado o objeto que guardava o espírito de Anna Stenbock, nos abraçamos. Foi a primeira vez que nos chegamos perto assim um do outro desde o primeiro dia, quando eu praticamente caí em cima dele.

E paramos de rir. Os braços dele estavam fechados em volta da minha cintura e ele olhava para baixo, para mim. Para os meus lábios.

— Anna Stenbock que me desculpe – ele havia dito, enrolando uma mexa azul do meu cabelo no dedo. – Mas eu prefiro o seu penteado – e se inclinou para...

Bom, me beijar.

Ou pelo menos é o que eu acho que ele teria feito se, no exato momento em que nossos lábios iam se tocar, ele não tivesse sido lançado contra a parede por uma força invisível.

É, foi estranho mesmo.

E o pior foi ele ter dito:

— Não precisa ficar com ciúme, Junker, eu não vou mais chegar perto dela!

É, o meu namorado fantasma era um pouco ciumento.

Eu me senti frustrada. E aborrecida. Com os dois, o garoto morto e o garoto vivo. O morto por ter atrapalhado o que poderia ter sido um beijo incrível que, se eu fosse sincera comigo mesma, diria que queria experimentar desde que fitei aqueles olhos cinzentos pela primeira vez. E o outro por ter dito que não chegaria mais perto de mim.

O negócio é que eu queria que ele chegasse perto de mim. Bem perto. Os nossos lábios podiam colar, de preferência.

E, quem sabe, quando eu finalmente me livrasse do maldito fantasma na minha cola, eu pudesse ter meu desejo realizado...

O dia passou voando. Meu pai e Susan foram fazer um passeio num dos museus da cidade, que eu gentilmente recusei. Passei a maior parte do dia deitada numa espreguiçadeira na beira do lado, aproveitando que o sol resolveu aparecer. E não vi Benjamin nem uma vez. Até perguntei por ele, e a Annika, a recepcionista, disse que ele tinha saído, mas que voltaria à noite para a festa.

Haveria uma festa de Halloween ou, como eles chamavam “Alla Helgons Dag” naquela noite no hotel e, aparentemente, toda a cidade viria. E eu ainda precisava arrumar alguma coisa para vestir.

Não tinha nenhuma fantasia, nem matéria prima para fazer uma, mas consegui achar um vestido preto que minha mãe tinha conseguido enfiar dentro da minha mala. Ele era de lã, ia até o meio das coxas, era um pouco colado no corpo e tinha mangas compridas. Coloquei uma calça de vinil preta por baixo – não iria morrer de frio, né? – e meus coturnos. Deixei meus cabelos como estavam e passei um batom vermelho roubado da Susan. E era o máximo de maquiagem que meu rosto ia conseguir, já que eu tinha medo de furar meus olhos com aquela maldita máscara para cílios.

Quando anoiteceu e eu comecei a me preocupar se Benjamin viria ou não, ele bateu na porta do meu quarto.

— Nossa, você está... – ele disse, depois coçou a testa. – Eu nem sei a tradução em inglês para a palavra que quero dizer.

— É algo bom? – perguntei.

— Definitivamente – ele respondeu com um sorriso.

— Então, muito obrigada.

Benjamin estava o caminho da perdição e eu tentei conter o impulso de me jogar contra ele enquanto descíamos as escadas juntos. Estava vestido todo de preto, como eu, com uma calça e uma camisa grossa de gola alta.

Para uma cidade de pouco mais de 1700 pessoas, a população de Lagan era bem animada. A festa estava cheia e a galera do hotel havia caprichado na decoração. Havia caldeirões com gelo seco na entrada do salão de baile, deixando a “névoa” cobrir os convidados que passavam pelas portas. Morcegos e aranhas estavam pendurado em todo lugar pelo teto e as paredes haviam sido cobertas com abóboras e túmulos.

Eu confesso, mesmo nervosa com o que aconteceria mais tarde, eu me diverti. Papai e Susan estavam lá também, mas isso nem me incomodou. Eu fiquei o tempo todo com Benjamin e nós dançamos e bebemos ponche de frutas vermelhas sem álcool. E rimos das fantasias toscas das outras pessoas. Tinha um cara vestido de abelha, pelo amor de deus.

— Falta uma hora para a meia noite, Srta. Blackstroker – ele disse, no meu ouvido. – Acho que é melhor nos apressarmos.

Assenti e nós saímos do salão discretamente, mas ninguém teria nos notado de qualquer maneira, com tanta gente que havia ali. Fomos rapidamente até meu quarto para pegar meu casaco e o dele – ele havia deixado lá quando foi me buscar para a festa – e nós saímos da mansão.

Entramos no carro dele e seguimos para o cemitério da cidade. Era lá que Anna Stenbock estava enterrada e era lá que deveríamos estar à meia noite.

O lugar ficava no alto de uma colina, praticamente rodeado por pinheiros, e longe de qualquer rastro de civilização, apesar de ficar a apenas vinte minutos de Toftaholm Herrgard. O portão estava fechado com um cadeado, mas Benjamin o arrombou em questão de minutos.

— O que foi? – perguntou ele quando viu que eu fiquei encarando.

— Onde você aprendeu a fazer isso? – perguntei surpresa.

— Ahn...eu vi um tutorial no youtube ontem.

Rolei os olhos e nós entramos. A noite estava escura, com nuvens escondendo a lua e só a pequena faixa de luz da lanterna que Benjamin trouxera iluminava o caminho. Era ainda mais frio ali do que em qualquer outro lugar da cidade. Eu estava tremendo e nem era de medo. Ainda. A névoa ali era bem real, ao contrário daquela do gelo seco nos caldeirões, e uma brisa gelada parecia brincar com meus cabelos.

De repente, as nuvens se afastaram e a luz prateada da lua jorrou sobre o lugar. Os túmulos e mausoléus de pedra, alguns antigos, alguns novos, se fizeram visíveis. As esculturas de anjos e as flores secas sobre as lápides só davam um ar ainda mais sombrio e morto ao lugar. Agarrei-me ao braço de Benjamin quase sem perceber, como se fosse a coisa mais natural a se fazer. Ele sorriu com o canto dos lábios e continuou andando.

Depois de alguns minutos, chegamos à lápide de Anna. Benjamin já estivera lá e sabia onde ficava. Era uma das mais antigas e suntuosas, apesar de ter sofrido os efeitos do tempo. A pedra estava rachada em alguns lugares e os dizeres estavam quase apagados.

— O que fazemos agora? – sussurrei. Há algo em cemitérios que sempre me faz sussurrar, como se, se eu falasse alto, fosse acabar perturbando o sono de alguém.

O que, de certa forma, era exatamente o que íamos fazer.

— Eu não sei bem... – respondeu Benjamin dando de ombros.

Eu me soltei dele e o fitei, surpresa e extremamente irritada.

— Como assim você não sabe? – sussurrei o mais alto que eu pude sem deixar de ser um sussurro ao mesmo tempo em que comecei a bater nele com as mãos em punho. – E você só me diz isso agora? Seu idiota, babaca...

Ele tentou desviar dos meus golpes, mas depois desistiu e segurou meus braços para que eu parasse de atingi-lo.

— Você tá louca? Por que tá me batendo? – ele perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Porque minha vida está em risco e você nem sabe o que está fazendo!

— E você acha que eu tenho como hobbie me esgueirar por cemitérios à noite e trazer espíritos antigos de volta, é?

Grunhi de raiva e puxei minhas mãos, cruzando os braços no peito.

— E agora? Vamos ficar aqui e esperar que a alma da condessa apareça sozinha por pena de mim?

Ele esfregou o ombro onde eu o atingi com mais força e disse, emburrado:

— Eu disse que não sabia como isso funcionava direito, mas a ideia geral é juntar o corpo e o espírito da pessoa que queremos “trazer de volta” exatamente à meia noite numa das sete noites do Alla Helgons Dag.

— Ou seja...a lápide da Anna é onde o corpo dela está enterrado e nós já estamos aqui...

— Então só precisamos colocar o anel, onde o espírito dela está preso, em cima da lápide exatamente a meia noite e...deve funcionar.

Bufei, rolei os olhos e resmunguei:

— Deve funcionar...Benjamin, você é o rei das garantias.

Ele me deu um sorrisinho debochado e ignorou meu comentário inútil, e perguntou:

— Que horas são?

— Faltam 15 minutos para a meia noite – eu respondi, olhando no meu relógio de pulso.

— Ou seja, 15 minutos para você ver os fantasmas – ele disse com um sorriso.

— Como assim?! – soltei, meio assustada. – Tem fantasmas aqui?!

— É claro, estamos num cemitério!

— Você pode vê-los?

— Bem, sim. Tem dois bem ali...

— Não! – gritei, interrompendo-o. Depois voltei a sussurrar. – Eu não quero saber.

— Mas você vai ver em alguns minutos mesmo.

Estremeci.

— Ótimo – disse ironicamente. – Que seja uma surpresa então.

Benjamin e eu ficamos calados até só faltar um minuto para a meia noite. Então, ele pegou o anel de Anna do bolso e colocou-o delicadamente sobre a lápide dela. Nós demos um passo para trás e eu voltei a agarrar o braço dele, praticamente fincando minhas unhas na manga do seu suéter de tanto nervosismo.

— Isso dói, Blackstroker. Tenta não me furar com essas garras.

Eu queria dar de ombros e ser indiferente, mas estava nervosa demais para isso, então só assenti e tentei segurá-lo com menos força. O minuto passou tão lentamente como se estivesse se derramando, só para me deixar ainda mais incontrolável.

Cinco.

Quatro.

Três.

Dois.

Um.

Meia noite.

Fechei os olhos e enterrei o rosto no peito de Benjamin, sentindo o cheiro doce da colônia dele e o calor dos seus braços que se fecharam em minhas costas.

— A qualquer momento agora – ele sussurrou.

Mas os segundos passaram e...

Nada.

Levantei os olhos e tudo parecia perfeitamente normal. Sem nenhuma atividade sobrenatural se desenvolvendo no recinto.

— Não era para alguma coisa ter acontecido, Benjamin? – perguntei, confusa.

Ele parecia ainda mais confuso que eu.

— Bem...sim – disse, balançando a cabeça. – Eu realmente não entendo, eu...

E ele parou de falar quando eu soltei um grito.

Bem, foi mais um ofego do que um grito. Ou uma mistura dos dois. Eu nem sei.

Mas o motivo disso foi que, há algumas lápides de nós, um homem apareceu. Literalmente, brotando do chão. Ele atravessou a pedra da própria lápide e se pôs de pé. Ele tinha tudo para ser um cara normal, não fosse por ter atravessado trinta centímetros de mármore e por ter uma espécie de luz esbranquiçada ao seu redor. Meio como uma aura.

Um fantasma.

Eu me agarrei ao Benjamin de verdade dessa vez. E ele riu. Eu quis matá-lo, mas não podia soltá-lo por tempo o suficiente para fazer isso e ficaria com mais medo sozinha. Eu o odiava no momento, mas era bom tê-lo ali.

Porque se eu desmaiasse, alguém teria que me carregar.

— Abra os olhos! – ele disse, e eu podia ouvir o sorriso em sua voz. – Veja, é incrível.

E eu, com o mesmo impulso que me fez querer ficar no quarto 324 apesar da sua história trágica, abri os olhos – mas sem me soltar de Benjamin – e senti meu fôlego me deixando.

Benjamin tinha razão. Era incrível. Assustador, apavorante, mas incrível.

O lugar estava cheio de pessoas que emitiam sua própria luz. Pessoas, ou devo dizer, fantasmas de todo o tipo. Homens, mulheres, crianças. Com roupas de épocas diferentes, que agora se misturavam, e suas “auras” iluminavam o cemitério como se fossem mil velas bruxuleantes num grande salão de baile.

Era uma visão que eu nunca esqueceria.

— Bem vinda – disse Benjamin em meu ouvido. – Ao meu mundo todos os dias.

E eu estava tão chocada que não percebi o homem – fantasma – se aproximando até que ele estivesse parado a uns três metros de nós.

Era um homem muito bonito, que devia ter morrido nos seus vinte anos ou algo assim, com cabelos loiro brancos até os ombros e olhos azuis como um céu de verão. Estava vestido com o que devia ser a última moda em Verona...quando Romeu e Julieta foi escrito.

E, bom, eu confesso que estava meio lenta, já que os recentes acontecimentos me deixaram meio atordoada, mas mesmo assim eu deveria saber quem ele era.

Mas eu não saquei até que ele abriu a boca e disse algo em sueco – que eu obviamente não entendi – numa voz furiosa.

Benjamin se retesou, mas não me soltou.

— Junker, esta não é Anna – ele tentou dizer numa voz calma, em inglês, que aparentemente o fantasma entendia. – Mas Anna está aqui, nós a trouxemos...

— Onde? – Junker Mats disse, também em inglês, mas com um forte sotaque, parecendo furioso por Benjamin ainda estar com um braço em volta da minha cintura. – A única Anna que eu vejo é esta na qual você está pondo suas mãos imundas!

— Não, Sr. Mats – eu disse, sem saber de onde eu consegui tirar minha voz, já que eu estava praticamente paralisada de medo. – Ele está falando a verdade, a sua Anna está aqui, ela...

E eu me virei para olhar o túmulo de Anna, que continuava...vazio.

Nada havia acontecido.

Anna não estava ali.

— Oh, droga – soltei. – Não deu certo.

E é nesse momento em que eu podia entrar em pânico.

— Não pode ser – Benjamin disse em inglês, depois de praguejar em sueco . – Fizemos tudo certo!

Junker Mats foi se aproximando de nós devagar.

— Venha comigo, meu amor – disse para mim, me fazendo estremecer de medo. – Vamos ficar juntos pela eternidade.

Ah, não mesmo!

— Faz alguma coisa agora, Benjamin – eu sussurrei para ele. – Ou eu juro que, quando estiver mortinha da silva, eu volto pra te assombrar e você nunca vai conseguir se livrar de mim!

— Calma, eu preciso pensar – ele disse, apertando a ponte do nariz com os dedos. – Talvez o anel não seja o objeto onde o espírito de Anna está selado.

— E você diz isso agora?! 

— Muitas vezes, em casos de doença, por exemplo, as próprias pessoas escolhiam o objeto onde seu espírito seria selado, antes de morrer – ele disse simplesmente.

— Olha, Benjamin, por mais que eu aprecie as suas lições de história suecas, agora não é exatamente o momento. Se você não percebeu, tem um fantasma vindo pra cima da gente!

— Pense! Se a própria Anna escolheu o objeto, ela não escolheria o anel de casamento com um homem que nunca amou! Mas agora é tarde demais para procurarmos...

— Não! – eu soltei, sentindo o coração bater forte com a descoberta. – As cartas!

— O quê?

— Você disse que as cartas que achamos junto com o anel eram cartas de amor para Junker! Talvez ela tenha escolhido elas como objeto!

E a próxima coisa que eu soube é que eu havia caído no chão quando Junker usou seus poderes de fantasma malvado para arremessar Benjamin para longe de mim.

— Emily! – Benjamin gritou e, mesmo naquele momento totalmente impróprio, eu não pude deixar de perceber que ele me chamou pelo meu nome de batismo pela primeira vez.

Eu apoiei meus cotovelos no chão e vi o garoto de lindos olhos cinzentos há alguns metros de mim, caído. Ele tirou algo do bolso e jogou na minha direção.

Eram as cartas. Uma pilha grossa amarrada com uma fita delicada. E, enquanto Junker se avultava sobre mim e meu coração ia parar na garganta, eu dei uma rápida olhada no meu relógio de pulso e vi que, em dez segundos, deixaria de ser meia noite.

Eu peguei as cartas e me joguei com elas em cima da lápide de Anna Stenbock e, no mesmo momento, um vento forte e gelado me arrastou para longe, enquanto a figura esbranquiçada se erguia do chão, bem a tempo de encontrar Junker Mats correndo ao meu – e agora ao seu – encontro.

— Anna! – gritou Junker, estancando quando finalmente a viu.

— Junker – disse a garota fantasma que se parecia muito comigo, numa voz suave e emocionada.

E, enquanto os dois se beijavam – acredite, ver meu pai e Susan se beijando é muito pior do que ver um casal de mortos se pegar – eu senti alguém pegar no meu ombro. Dei um grito e, ao me virar, vi Benjamin ajoelhado ao meu lado, parecendo preocupado.

— Você está bem? – ele perguntou.

Eu só consegui sorrir. E abraçá-lo.

— Tudo está bem quando acaba bem – eu o ouvi dizer.

E então eu o soltei para poder encarar seus lindos olhos.

— Mas ainda não acabou – eu disse.

— Como assim? – ele franziu o cenho, confuso. – Nós libertamos o espírito de Anna, servimos de cupido para um casal de fantasmas e livramos você de um possível namorado morto. O que falta?

— Isso – eu disse.

E o beijei.

Caímos sobre a grama, Benjamin de costas e eu por cima dele e, depois de um segundo de surpresa, ele me beijou de volta.

Os lábios de Benjamin eram o céu. Suas mãos foram para a minha cintura no mesmo momento em que nossas línguas se tocaram e um choque de puro prazer percorreu meu corpo. Eu queria fazer aquilo há dias, mas confesso que, ali, no meio de um cemitério lotado de fantasmas, foi muito mais especial.

Ou eu só estava tendo um severo caso de loucura transitória.

— Se eu soubesse que esse lance dos fantasmas tinha esse efeito nas garotas – Benjamin disse com um sorriso quando finalmente paramos de nos beijar para tomar ar – teria usado ele com todas as garotas de Lagan.

— Eu devia saber que você era um safado – reclamei, dando um tapa no seu braço.

— Estou brincando, Emily! Ai, isso doeu.

— Acho bom mesmo que esteja brincando. Mas de qualquer jeito, esse lance dos fantasmas não iria funcionar com qualquer uma.

— Não mesmo – ele concordou enquanto aproximava os lábios dos meus. – Só com uma garota muito especial.

— Você quer dizer maluca.

E voltamos a nos beijar.

 

...

— E então, Emily? – papai perguntou no dia seguinte, enquanto nossas bagagens eram colocadas no porta malas do táxi. – Gostou de Lagan e do hotel?

Eu dei um sorriso e pisquei para Benjamin que observava toda a conversa apoiado numa parede atrás de papai.

— Adorei, pai – eu disse. – Já fiz até uma reserva para o natal.

Se o Halloween foi incrível, o natal com Benjamin seria o melhor da minha vida.

Pelo menos foi isso o que o Sr. Benjamin-Especialista-Em-Fantasmas-Ewerlof me prometeu.

E eu estava inclinada a acreditar nele dessa vez.

 


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Notas finais do capítulo

Tenho algumas coisas pra dizer sobre esta one. A primeira é que o hotel pra onde a Emily vai REALMENTE existe e é REALMENTE considerado um dos hotéis mais mal assombrados do mundo. Toda essa "lenda" do plebeu que foi apaixonado pela filha de um conde, que se matou no dia do casamento da amada é verdade também! Dizem que é o fantasma dele que assombra o hotel até hoje (inclusive os nomes são os de verdade, ou pelo menos eu acho, depois de enlouquecer pra entender os sites em sueco com essa "lenda" - acho até que agor sou fluente em sueco huheuaeahs só que não). E por isso eu AMEI escrever essa one. Espero que vocês tenham gostado de ler.
Bom, acaba aqui. Eu até queria ter tido tempo de escrever mais uma, mas hoje já é Halloween e tempo eu não tenho mesmo hasuehuaseh
Muito obrigada pra quem leu, foi uma coisa diferente da qual eu tô acostumada a fazer. E se divirtam nesse Halloween!
Beijos com sabor de abóbora (?)
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E aí gostaram? Eu sei que sim u-u
Gente, então, essas foram as duas ones que fizemos sobre o Halloween, com romance envolvido... Eu espero mesmo que tenham gostado.
Comemorem o Halloween por mim, hein (:
Malikisses e Tommordidas ;*