Percy não acreditava em Annabeth. Ele não tinha certeza se realmente não tinha falado nada na festa. Enquanto catava guardanapos pelo chão da sala, encarou Annabeth falando ao telefone com Atena.

- Não, está tudo bem. Certo, vou dizer. Não, o gato da vizinha não invadiu o jardim novamente. Vão estender a viagem? Ah… – Annabeth falava com rapidez ao telefone, talvez porque a ligação sairia bem cara. Ela estava tentando ajudar na limpeza, mas sempre olhava para Percy com um jeito estranho e se distraía. Logo ela desligou o telefone e pegou o pano que estava usando para tirar pó.

- Eles vão estender a viagem por mais uma semana. Vão voltar no dia 23 – ela disse, dando de ombros. Voltou a tentar tirar as marcas de copo da mesa de vidro.

- Dia 23 também saem os resultados do colégio, certo? De quem repetiu e quem passou de ano – lembrou Percy, nervoso.

- Bem lembrado – Annabeth falou, despreocupada. A teoria de Percy era que Annabeth já havia passado desde o primeiro dia de aula. Ela entregava todos os trabalhos, prestava atenção nas aulas e ele reparava que quando ela recebia as provas, sempre havia um grande ‘A’ desenhado – ao contrário das dele, que vinham em vermelho sempre abaixo de C.

Depois que cataram a pilha de lixo que havia espalhada pela casa, colocaram tudo num saco e Annabeth foi colocar do lado de fora para que o lixeiro recolhesse enquanto Percy foi pegar os panos de chão na lavanderia. Na mesma hora que Annabeth abriu a porta, deu de cara com Luke fechando o portão do jardim, segurando uma sacola.

- Esse portão tem uma tranca – Annabeth falou, franzindo a testa.

- Não é problema para mim – ele falou relaxado e andou pelos ladrilhos fixados na grama esverdeada. – E então, você e Percy já estão se amando ou algo assim? – o garoto perguntou, trocando a sacola de mão. Annabeth viu que eram DVDs ali dentro.

- O que você está… – Annabeth começou, e então se tocou. – Eu não contei.

- Você não contou? Isso é ruim. – Luke balançou a cabeça negativamente.

- Por quê? Você não vai contar, vai? – Annabeth sentiu o coração pular de nervosismo. Ela teve que encontrar mil razões para dizer à Thalia o porquê de não ter falado o que ocorreu na noite passada com Percy. Primeiro, ele estava bêbado. Poderia ser apenas um blefe. Segundo, Annabeth não tinha intenções. Talvez particularmente tivesse uma queda por ele, mas não demonstrou isso.

- Não sei, Annabeth… Percy é meu melhor amigo, sabe? Não gosto de esconder as coisas dele…

- Por favor, não conte. Eu faço qualquer coisa que você quiser – Annabeth falou baixo.

- Qualquer coisa? – Luke perguntou, dando um sorriso divertido.

- Você me entendeu, Castellan.

- Ok, tudo bem. Então já há duas coisas que quero te pedir. – Ele falou e Annabeth arqueou uma sobrancelha. Mal havia chegado a um acordo descente e ele já tinha pedidos. Bom, se fosse para evitar que Percy ficasse sabendo do ocorrido… – A primeira coisa que quero que faça, é que pague esses DVDs atrasados pra mim. Acabei pegando na locadora e me esqueci deles; iria devolver hoje… Provavelmente estarão mais caros, mas não será coisa de um bilhão de dólares.

- Certo – ela falou aliviada e pegou os DVDs da mão dele. Não era grande coisa, ela podia fazer isso. Annabeth continuou andando para pendurar o lixo do lado de fora.

- E mais uma coisa! – Luke gritou e ela se virou. – Fale bem de mim pra sua amiga punk. E aí sim, terá a garantia de que eu ficarei de boca fechada.

Luke se virou e entrou na casa. Agora sim, era grande coisa. Tentar sugeriralguém para Thalia era como começar uma batalha verbal. As duas tinham tipos diferentes, e Annabeth não sabia se iria conseguir fazer aquilo. Mas ela tinha que tentar.

(…)

Percy se jogou no sofá. Luke havia tentado ajudar, mas sempre que via algo esquecido por alguém que fosse interessante, acabava pegando para si. O amigo também se esbanjou ali e ficou batucando o pé. Percy parecia exausto. Com ressaca e cansado por causa do trabalho. Olhou no relógio e bufou.

- Annabeth sumiu – resmungou. Não por causa dela ter sumido, e sim porque ela o deixou sozinho para limpar todo o resto da casa.

- Sentindo falta dela? – Thalia perguntou, aparecendo com o cabelo bagunçado na porta da sala. Percy se lembrou que ela havia dormido ali.

- Você poderia ter acordado mais cedo e vindo me ajudar – Percy xingou.

- Hey, eu fui convidada, e não a dona da festa. Não era minha obrigação limpar nada – ela deu de ombros. – E então, o que falava sobre Annabeth?

- Ela saiu – Percy falou. – Pegou um dinheiro do pote de economias de Atena na cozinha e saiu com uma sacola de DVDs que eu nem me lembro de ela ter alugado.

- Estranho, também não vi nada no quarto dela. Me avisem quando ela chegar – Thalia falou. Ela foi até a cozinha, pegou algum tipo de bebida e voltou para o quarto. Luke até virava o pescoço para vê-la indo para o quarto novamente. Luke sempre teve aquela ‘paixão’ por Thalia, desde o dia em que ela lhe deu um soco no estômago por ele ter tentando pintar o cabelo dela com canetinha rosa na aula de matemática.

Quando ela fechou a porta, voltou à sua posição normal.

- Você ainda não falou com ela? – Percy indagou, coçando a cabeça.

- Não vou precisar, já tenho alguns meios para poder conquistá-la – Luke deu de ombros. Percy ia perguntar alguma coisa, mas a porta se abriu com força.

- Quase trinta dólares. Como alguém consegue acumular quase trinta dólares alugando DVDs? Me expliquem como? – Annabeth estava furiosa. Olhava para Luke com muita raiva. Agora ela sabia por que ele havia mandado-a pagar.

(…)

Os poucos dias se passaram e Annabeth ficava cada vez mais nervosa, dando um lugar para um sentimento em relação à Percy. Sempre que ficava perto sentia como se começasse a suar de nervoso, ficava nervosa quando ele sorria. E aquilo não era bom. Ela não sabia distinguir se os sentimentos que estava criando pelo primeiro garoto em sua vida que teve coragem de se declarar eram positivos.

No entanto, ela continuava fazendo favores para Luke – que assim como Thalia, se mantinha hospedado nos quartos e sala. Ela só não conseguia falar com Thalia. Sempre que tentava, quando quase conseguia, ela travava. Luke já estava impaciente com isso. Em uma tarde qualquer de quinta feira, os dois começaram a discutir na sala. Thalia estava dormindo (ainda) e Percy estava tomando banho.

- Por que você ainda não falou? – Ele perguntava.

- Eu não consigo! Thalia é minha melhor amiga e… – ‘e você não faz o tipo dela!’, Annabeth quis dizer, mas não quis magoar o garoto.

- Tínhamos um acordo, Annabeth.

- Não basta eu ficar fazendo milhares de favores pra você? Eu estou ficando sem dinheiro, e se eu continuar pegando dinheiro do pote da minha mãe ela vai me matar se encontrá-lo pela metade!

- Mas você disse que iria falar com ela! Se você não o fizer, vou me sentir obrigado a falar para o Percy que…

- Quer saber? Você é um merda. Vira homem e vá falar com Thalia, mostre seu amor por ela e espere que ela te corresponda – Annabeth berrou, com raiva. Estava cansada e desesperada. Uma parte desse xingamento fazia parte de si em relação à Percy, mas Luke pediu para escutar.

- Falar o que comigo? Eu não escutei direito – Thalia disse, com os olhos arregalados da pequena escada. Luke a olhou, tentando falar algo, mas nada saía de sua boca. Annabeth ficou enfurecida ao ver que ele não tinha nenhuma reação.

- Ele gosta de você, Thalia, e não tem coragem de falar! A troco disso, ele me torturou e disse que se eu não falasse com você sobre ele e fizesse mais mil favores ele não contaria nada a Percy! – A loira explodiu. Sentiu como se um peso fosse tirado de suas costas. Thalia também ficou sem reação.

- Bem, isso é… estranho. Estou realmente impressionada com o fato de ter conseguido escravizar Annabeth – Thalia falou, sorrindo torto. – Embora não tenha sido legal.

- Eu tinha um acordo com ela! – Luke protestou.

- E por que você mesmo não veio falar comigo? Garotas gostam de quem tem atitude para simplesmente dizer um oi! – Thalia falou, de braços cruzados. Luke quis dizer que tinha medo de falar algo e ela resolver bater nele – ele já havia provado seus socos e tapas, e eram doloridos. Pensou que se falasse algo desse tipo, teria atitude. Não, seria um cagão mesmo. Novamente, ficou sem palavras.

- Por que vocês estavam gritando? – Percy chegou, perguntando com os cabelos molhados. Annabeth, ainda enfurecida, não percebeu as palavras escapando.

- Luke me torturou e me fez e escrava, porque essa foi a única razão que encontrei para ele não ter que te contar que você se declarou pra mim na festa – Ela gritou.

A expressão de Percy ficou dura e Annabeth podia sentir a força que ele usava enquanto cerrava os dentes, mesmo com a boca fechada.

E quando percebeu o que fez, desejou não ter gritado. Desejou não ter mesmo falado, desejou não ter mais voz. Desejou simplesmente que aquela festa não tivesse acontecido.

- Acho que nossos convidados podem ir para a casa agora. Eu e Annabeth temos assuntos pendentes – Percy falou, e deu as costas.