POV Lily Evans

Corri pro banheiro e me joguei no chão. Estavam todos em aula, ninguém viria me perturbar e eu não sabia como explicar aquela reação. Quer dizer, eu realmente entreguei de bandeja pro James que ele mexe comigo. E eu fui a maior imbecil do planeta! Esperei uns dois minutos e ainda não tinha nem força nem querer pra me levantar. Ainda estava soluçando, meus dedos ainda fechados como se fosse socar alguém, até que a voz dele ecoou pra dentro.

-Lily? – eu não respondi, mas ele sabia que eu estava lá. A voz estava trêmula, como se ele tivesse medo do que falar – O que eu fiz?

Que droga, Potter! Não foi você, fui eu! Essa estúpida ruiva largada aqui, que se deixou levar pelo sorriso do maior galinha de toda a minha vida! Eu sou a errada, eu sou a culpada!

-Lily, responde, por favor. Eu sei que você tá aí. Eu não vou pra aula enquanto você não sair desse banheiro, por favor.

Levantei, fui até a pia e lavei meu rosto, encarando meu reflexo no espelho. Sem maquiagem, totalmente vermelha e com o cabelo bagunçado. Prendi-o num rabo alto, sequei o rosto e respirei fundo, caminhando na direção da porta.  Abri e James estava sentado no chão, de costas pra ela e frustrado. Quando sentiu o movimento, levantou e me olhou com os olhos arregalados e a respiração acelerada.

-Saí já. Pode ir pra aula – saí andando, na direção contrária do laboratório.

-Lily, espera, explica... – cheguei à porta da escola e comecei a andar pra fora – Você vai embora?!  

-Boa aula, Potter – falei e continuei andando, a respiração pesando e contendo qualquer resquício de lágrima.

Demorei alguns minutos andando até olhar pra trás. Quando olhei, ele vinha da porta da escola atrás de mim, devia ter ido ao armário antes. Apertei o passo e logo estava na nossa rua. A janela da sala estava com a luz acesa, o que significa que minha mãe estava em casa hoje e que iria trabalhar no período da noite.  Odiava estar quase sempre sozinha em casa. Petúnia na faculdade, minha mãe com horário de professora da faculdade local, e meu pai morto há um ano. Não é lá a melhor rotina do mundo.

Peguei a chave da mochila e coloquei na fechadura. Entrei a ponto de ouvir os passos pesados de James, que corria tentando me alcançar. Minha mãe ouviu o barulho da porta batendo e apareceu no corredor com seu roupão e uma xícara de café, olhando pra mim com a sobrancelha levantada.

-Querida... O que aconteceu? – ela falou, prestando atenção nas lágrimas que eu soltava agora. Dava pra saber que o motivo era bem sério pra eu matar um dia inteiro de aula.

-Eu sou muito trouxa, mãe – falei e fui abraçá-la, deixando a bolsa caída na porta.

-Filha, você é a mulher mais inteligente e esperta que eu conheço!

-Quem dera, mãe...

-Ok, vem aqui e me conta tudo. O que aconteceu?

-O Potter aconteceu.

POV Dorcas

Lene tinha recebido um bilhete e havia ido conversar com não sei quem atrás da arquibancada; Lily e James haviam sumido o dia todo e só estávamos eu, Alice, Remus e Frank comendo na nossa mesa de sempre. O casal, como sempre, agarradinhos e de melelê, o que fazia restar eu e Remus.

Ele é como se fosse perfeito e eu odeio falar isso. Mas é! Ele não é galinha, é lindo, inteligente e parece que para o mundo pra te dar atenção. E eu gosto dele há muito tempo... Mesmo que ele não goste de mim. Ele sorria e falava alguma coisa sobre uma viagem de intercâmbio que ia fazer pra Austrália, por uns três meses, e meu coração apertou de saber que ele iria ficar longe por esse tempo.

-Eu vou em um mês, acertei ontem! – ele sorria e eu estava feliz por ele e morrendo.

-Que ótimo, Rem! – minha voz saiu um pouco mais triste do que eu havia planejado e ele torceu a boca em resposta.

-Ruim vai ser ficar esse tempo longe de você... E do pessoal, claro. – ele falou e eu sorri fechado – Mas a gente vai se falar sempre!

 -Claro que vamos! – olhei pra frente e vi que Alice e Frank não estavam mais ali, eu sabia que ela deveria ter saído pra nos deixar sozinhos.

-Pra onde o casal foi? – ele perguntou e eu dei de ombros – Devem ter ido se comer no banheiro, é.

Eu dei uma gargalhada e quando olhei pra ele, tinha um sorriso estampado no seu rosto, como se estivesse feliz por eu estar feliz, e eu achei a coisa mais fofa do mundo. Fiquei hipnotizada naqueles olhos e pude sentir o mundo parar de girar por alguns segundos. A mão dele foi de encontro à minha e seu rosto foi se aproximando devagar, enquanto eu estava mal me contendo de felicidade.

-Argh, o Black consegue ser idiota sempre! – Lene chegou, se jogou na nossa frente e pegou meu suco. –Ah, vocês estão bem?

Nós tínhamos nos separado muito rápido e eu tinha certeza que estava corada até a raiz. Remus começou a contar pra ela sobre o intercâmbio e eu comecei a me odiar por ter quase beijado o meu melhor amigo. Agora eu ia ficar estranha, ele ia ficar estranho em os não seríamos nem amigos e nem um casal.

Sirius chegou à mesa e pegou a maçã da bandeja de Remus, se sentando ao lado dele. Marlene revirou os olhos, disse que devia pegar algo no armário e saiu, deixando nós três emburrados e sentados num lado só da mesa.

Remus olhou pra Sirius, que estava bufando constantemente e transpirando insatisfação, depois olhou pra mim, que sorri tímida. Voltou a encarar o amigo e soltou, enquanto eu rezava pra ele não começar a falar o intercâmbio de novo.

-O que aconteceu?

-Marlene aconteceu. – Sirius falou alto e eu murmurei ao mesmo tempo.

Remus olhou pra mim, levantou a sobrancelha enquanto sorria e eu coloquei as mãos na boca, com os olhos arregalados. Peguei minha bolsa e me levantei, podendo ver o sorriso de satisfação dele uma última vez quando olhei pra trás.