Acordaram e por alguns segundos esqueceram que haviam pego uma criança da rua e que ela dormia no quarto ao lado, até escutar barulhos no andar de baixo.

-Fique aqui! Não desça! Ron disse serio a esposa.

Ele andou pelo corredor, abriu a porta do quarto onde a menina dormirá e não a encontrou, a cama estava arrumada parecia que ninguém havia dormido ali, passou pelos outros quartos e também não a encontrou. Continuou até que chegou na escada, as cortinas estavam todas fechadas apenas alguns raios solares clareavam o andar de baixo. Escutou novamente o mesmo barulho, agora teve a certeza que vinha da cozinha. No caminho foi olhando e não sentiu falta de nada, ficou mais aliviado. Chegou na cozinha e achou graça no que via, Rose estava mexendo nos armários, provavelmente atrás de comida.

-Quer ajuda? Ron encostou-se na bancada.

-Desculpa, eu fiquei com fome e não quis acordar vocês. A menina levou um susto ao vê-lo ali.

-Tudo bem, o que quer? Também estou com fome! Foi até ela e começou a mexer nos armários e abrir a geladeira.

Hermione continuou no quarto, estava preocupada. Agora os barulhos aumentaram, estaria o marido brigando com alguém? Não agüentou e desceu para saber o que acontecia. Chegou na cozinha e encontrou os dois fazendo a maior bagunça com suas panelas.

-Posso saber o que está acontecendo?

-Encontrei Rose procurando alguma coisa para comer e então resolvemos fazer o café! Ron usava o avental dela e tentava controlar as panelas no fogão.

-O que posso fazer para ajudar?

-Está tudo sob controle! Rose está batendo os ovos e eu as torradas, não é Rose? Ele piscou para a menina. –Acho melhor ir se arrumar, hoje é seu dia de ir para o hospital.

-É verdade! Eu já desço!

Hermione arrumou-se rapidamente, mas não conseguia parar de pensar na cena que virá na cozinha. Sempre sonhou em acordar e ver o marido junto do filho fazendo o café.

O café foi animado, riam das brincadeiras que Ron fazia. Hermione também reparou no apetite da menina que era bem parecido com o do marido.

-Você vai se atrasar, pode deixar que eu arrumo essa bagunça. Ele disse a esposa.

-Você também irá se atrasar, aliás, você nem pronto está! Ela reparou que ele ainda estava de pijama.

-Eu não vou para o escritório hoje, posso trabalhar em casa.

-Por que?

-Não podemos deixar Rose sozinha em casa e como você não pode faltar, eu fico em casa com ela. Ron disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

-Ron, nós temos que conversar sobre isso. Hermione puxou o marido para longe de onde estava Rose. –Você falou que era apenas uma noite.

-E você falou que não podíamos devolvê-la para a rua. Ele colocou a mão no rosto dela. –De noite nós conversamos, tudo bem?

-Eu vou trabalhar, até depois Rose! Hermione pegou suas coisas.

-Eu tenho que ir embora? Ela perguntou triste.

-Não querida, você vai ficar com o Ron. Ela viu um lindo sorriso no rosto da menina. –Devo estar de volta antes do jantar!

-Obrigada! Rose saiu correndo e abraçou Hermione.

Ela ficou imóvel com a reação da menina abraçando suas pernas.

-Só não façam bagunça!

-Tudo bem, eu não vou deixar ele fazer bagunça! Rose falou obediente.

-Eu é que deveria dizer isso! Ron fingiu-se de ofendido. –Bom trabalho, querida!

Hermione deu um rápido beijo no marido e foi trabalhar, deixando os dois sozinhos.

-Então, o que quer fazer? Ele perguntou a menina.

-Não sei, o que você quer fazer?

-Bom, sempre que eu fico sozinho em casa jogo vídeo game, quer jogar?

-Nunca joguei, você me ensina?

-Claro!

Em cinco minutos Rose já aprendeu a jogar. Estavam se divertindo e Ron achou que seria uma boa hora para saber um pouco mais sobre ela.

-Você fica sozinha na rua?

-Desde que eu fugi, sim. Ela respondeu sem tirar os olhos da TV.

-Fugiu de onde?

-Eu morava com mais um monte de criança e elas só me machucavam, então eu fugi!

-E seus pais? Ele não sabia como perguntar. –Quer dizer, você não os conheceu?

-Acho que não. Só lembro de sempre viver com aquele monte de crianças.

Continuaram a jogar vídeo game. Ron não conseguia acreditar na naturalidade que ela falara, era tão pequena e já tinha passado por tanta coisa.

-Está perto da hora do almoço, que tal sairmos para comer alguma coisa?

-Tudo bem! Rose largou o controle do vídeo game.

-Pode ir se trocar, enquanto isso também me arrumo. Ele falou ao ver a menina parada.

-Eu não tenho outra roupa, mas posso ir de pijama! Ela disse animada.

-Tudo bem. Ron não sabia o que dizer.

Ron a levou para um shopping que tinha perto de casa, foram andando aproveitando os últimos dias de sol antes do inverno. As pessoas na rua olhavam para eles, a menina com pijama de carrinhos chamava a atenção. Ele tentava não ligar, mas era impossível.

-Vem Rose, vamos entrar aqui! Puxou a menina para dentro de uma loja.

-Gostaria de ajuda senhor? A vendedora veio até eles.

-Sim, gostaria de comprar roupas para ela. Ron mostrou a menina que se escondia atrás das pernas dele.

-Claro, qual é o tamanho dela?

-Hum... Ele tentou ver a etiqueta do pijama que ela usava. –Não sei, mais ou menos o mesmo dessa roupa que ela ta agora.

-Tudo bem, vamos ver o que temos para essa moça! A vendedora estava acostumada a atender pais sem muita experiência.

Ron achou melhor ficar sentando no canto, deixando Rose mais à vontade para escolher o que gostasse. A vendedora mostrava várias roupas e Rose olhava tudo com atenção, mas tinha vergonha em escolher alguma.

-Está tudo bem, Rose? Não gostou de nada? Ele interferiu.

-Gostei. Ela respondeu timidamente.

-Então pode escolher.

-É que eu nunca comprei roupa. Rose disse apenas para Ron escutar.

-Tudo bem. Ele sorriu a encorajando. –Vamos, eu te ajudo.

Agora com o apoio de Ron, Rose estava mais à vontade. Começou a provar algumas e dizer se gostava ou não. Em pouco tempo já tinham separado várias pilhas de roupas, tinha para todos os climas e principalmente de frio.

-Agora você escolhe uma para usar ou quer continuar com esse pijama? Ele brincou. –Vá se trocar que eu te espero ali na saída.

Rose colocou o vestido que Ron mais gostou, uma meia grossa de lã, um tênis que ao pisar acendia luzes e um casaco por cima. Não parecia nada com a menina que eles acharam a menos de um dia perdida na rua.

-Nossa, sua filha está linda! A vendedora elogiou.

-Obrigado. Foi tudo que conseguiu dizer.

Saíram da loja carregados de sacolas, Ron não se importou nem um pouco de carregá-las até chegarem na praça de alimentação.

-O que vai querer almoçar? Ele deixou as sacolas na cadeira ao lado.

-Não sei. Tudo era novidade para ela.

-Quando não estou com Hermione, geralmente como um sanduíche, sabe ela não gosta muito desses lanches. Ron disse baixo, como se a esposa fosse aparecer a qualquer momento.

-Podemos comer um sanduíche então, prometo não contar nada! Rose ficou com vontade.

-Ótimo, será o nosso segredo! Fique aqui que eu já volto com o lanche!

Ron comprou o seu lanche preferido e para Rose como não sabia o que ela gostava, achou melhor pegar o que seu afilhado sempre comia, especialmente pelo brinquedo que vinha junto.

-Pronto, eu trouxe esse lanche para você. Meu afilhado sempre come, espero que goste! Ele voltou para a mesa com a bandeja. –E vem com um brinquedo!

-Brinquedo? A menina ficou mais contente.

-É, só que primeiro tem que comer tudo e depois eu dou o brinquedo. É assim que eu faço com ele.

Não foi necessário pedir duas vezes, Rose comeu todo o seu lanche e recebeu o brinquedo. Não tinha nada demais, era apenas uma bonequinha de plástico, a maioria das crianças brincaria um pouco e já deixaria de lado, mas Rose a segurava como se fosse a coisa mais importante do mundo.

-Podemos voltar para casa? Essas compras me deixaram cansado.

-Também estou cansada. Ela passou as mãos nos olhos em sinal de cansaço.

O apartamento ficava a poucas quadras do shopping, chegaram rapidamente em casa. Ron ajudou Rose a colocar o pijama novo.

-Está pronta para tirar uma soneca! Ele ajudou a menina a arrumar-se na cama. –Estarei lá em baixo se precisar de alguma coisa.

Ron foi para a sala ver um pouco de TV e trabalhar. Estava com papeis por todos os lados e nem reparou que a menina estava parada ali na sala o olhando.

-Aconteceu alguma coisa? Ele perguntou.

-Não consegui dormir, posso ficar com você? Rose carregava a boneca que ganhara na mão e na outra uma coberta.

-Claro! Ron afastou os papeis e arrumou um espaço no sofá para ela. –Quer ver um pouco de TV?

Hermione passou o dia todo preocupada, ligava em casa e ninguém atendia e o celular de Ron a mesma coisa. Pediu para a amiga terminar seu plantão, pois precisava ir para casa.

Entrou em casa e foi caminhando até a sala, quando viu os dois dormindo no sofá. Não sabia por que, mas aquela cena a deixou emocionada, ficou olhando para eles até que o marido se mexeu um pouco e acordou.

-Chegou mais cedo? Ele levantou-se com cuidado para não acordar Rose.

-Eu fiquei preocupada. Ligava aqui em casa e ninguém atendia e o seu celular a mesma coisa, onde vocês estavam?

-Nós fomos almoçar fora, sabe que eu não sei cozinhar muito bem. Ele sorriu. –E também fizemos algumas compras!

-Compras? Ela não entendeu.

-Bom, Rose não tinha nenhuma roupa e quando eu sai com ela, as pessoas ficavam olhando...

-Com que roupa ela saiu? Hermione o interrompeu curiosa, mas já tinha idéia da resposta.

-Ela saiu com o pijama do James.

-E você achou que as pessoas não iriam reparar? Ela começou a rir.

-Nós precisamos conversar. Ron a levou para o escritório. –Não podemos mandá-la embora.

-Eu sei.

-Hoje nós conversamos e ela me contou que fugiu de um orfanato por que as crianças batiam nela. Também falou que não lembra de ter conhecido os pais. Ele fez uma pausa. –Então eu pensei que poderíamos adotá-la, o que acha?

Hermione ficou em silencio olhando para o marido, não estava acreditando no que ouvirá.

-Você mesmo falou em nós adotarmos... Ele continuou.

-Eu sei que eu falei sobre isso, mas não esperava assim de repente e uma criança grande, pensava em adotar um bebê... Não sei se podemos fazer isso.

-Nós queríamos um filho e temos um bem ali na sala, por que não?

Ela passou o dia pensando nessa possibilidade, mas agora que o marido tocou no assunto ficou insegura.

-E se ela não quiser que sejamos os pais dela?

-Isso foi um sim? Ron perguntou animado.

-Sim, foi um sim! Ela concordou. –Temos que perguntar se é isso que ela quer.

Ron a puxou para a sala, encontraram Rose acordada vendo TV.

-Será que podemos conversar? Ele sentou-se do lado dela.

-Eu fiz alguma coisa? Ou é para eu ir embora? Rose ficou preocupada.

-Não é nada disso. Hermione sorriu deixando a menina mais tranqüila. –Rose, você está gostando de ficar conosco?

-Sim. Ela respondeu timidamente.

-Nós também estamos gostando muito de ter você aqui em casa... Ron não sabia como falar. –E pensamos se você gostaria morar com a gente... Mas também iremos entender se não quiser...

-Vocês serão meus pais? Rose o interrompeu.

-Sim, bom... Nós temos que ir atrás de muitos documentos e pode demorar um pouco...

-Seremos seus pais Rose, se você quiser ser nossa filha! Hermione interrompeu o marido, ela não tinha que saber sobre documentos.

-É claro que eu quero! Disse Rose animada. –Agora eu tenho pais!

-E nós temos uma filha! Ron disse carinhosamente.

-Nós temos que contar a novidade para a família toda! Também temos que ver uma escola e alguém para ficar com Rose enquanto trabalhamos! Hermione disse de repente assustando os dois.

-Rose vá se acostumando, ela é assim mesmo! Ele sussurrou para a menina. –Podemos dar uma festa sexta-feira, assim todos ficam sabendo!

Estavam tão animados discutindo sobre a festa, a escolha de uma escola e nem perceberam que Rose estava quieta, preocupada.

-Tudo bem, Rose? Hermione abaixou-se e ficou na altura dela.

-E se eles não gostarem de mim?

-É claro que eles vão gostar de você! Ron a tranqüilizou. –Você terá um monte de primos e tios!

Rose ficou mais tranqüila, agora não via a hora de conhecer a sua nova e grande família. Ficaram o resto da noite fazendo planos para a nova família que seriam a partir de hoje.