As Surpresas Do Coração escrita por Isa


Capítulo 1
Não foi desta vez




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Ron e Hermione estavam casados há quase dez anos. Casaram logo após terminarem a faculdade. Hermione era médica pediatra, adorava crianças. Ron seguindo a carreira do pai, fez engenharia civil. Desde o começo tinham suas brigas e desentendimentos, geralmente por motivos bobos ou ciúmes, mas era isso os mantinham juntos. Ninguém tinha duvidas, eram perfeitos um para o outro.

-Cheguei! Ron entrou em casa procurando a esposa.

-Estou aqui na cozinha! Ela respondeu.

-Huum que cheiro bom! Ele a abraçou por trás e começou a beijá-la. –Algum motivo especial?

Essa pergunta serviu para Hermione largar tudo que fazia e começar a chorar.

-Não! Ela soltou-se dele. –Nenhum motivo especial! Como sempre foi apenas um atraso! Não estou grávida! Dizendo isso, subiu correndo para o quarto.

Estavam tentando ter um filho há cinco anos, foram a vários médicos que os mandaram fazer centenas de exames e o resultado era sempre o mesmo, não tinham problema algum, deveriam apenas relaxar e aconteceria naturalmente.

-Por favor, abra a porta! Ron foi atrás dela. –Está tudo bem, nós...

-Não está tudo bem! Ela abriu a porta de repente o assustando. –Nós nunca teremos um filho, essa é a verdade!

-Não diga isso! Ele a abraçou. –Escute bem o que eu estou te falando, teremos um filho, um não, vários! Nossa filha terá seus lindos olhos castanhos e será mandona igual à mãe! Já nosso filho será um pouco preguiçoso, não sei de quem ele vai puxar isso.

-Ta bom Ron, agora é a hora que você acorda e para de sonhar! Hermione começou a rir, mas queria voltar a chorar, tinha medo disso nunca acontecer.

-Mas só teremos nossos filhos se tentarmos... Ron falou a levando até a cama.

-Você é um safado Ronald Weasley!

-E mesmo assim você me ama!

Mesmo com os últimos acontecimentos e os constantes desentendimentos devido a não gravidez, eles se amavam.

-Ron? Ela encostou a cabeça no peito dele. –Mesmo que eu não te de um filho, você vai continuar a me amar?

-É claro que sim! Ele olhou diretamente nos olhos dela. –Eu te amo mais que tudo, escutou?

-Eu sei, mas também sei que é o seu sonho ter filhos! Acha que eu não reparo todas as vezes que brinca com seus sobrinhos ou quando cuidamos do James?

-Meu sonho é passar o resto da minha vida com você, com filho ou sem filho! Quero ficar velhinho do seu lado, nós dois, um cuidando do outro.

Hermione ficou mais tranqüila ao escutar aquelas palavras dele.

-Estou com fome... Ele beijou o topo da cabeça dela. –Será que agora a senhora me deixa jantar?

-Eu? Ela deu um leve tapa no braço dele. –Você que me puxou para cá e se aproveitou de mim!

-Aproveitei de você é? Venha senhora Weasley, vamos jantar!

Jantaram animadamente, contaram como foi o dia de cada um. Ron adorava quando ela falava sobre as crianças que atendia no consultório, principalmente quando acontecia algo inusitado. Ele também falou sobre o dele, trabalhava na empresa de construções do pai.

Pelo resto da noite não tocaram mais no assunto de filhos, mas ambos continuaram a pensar, apenas não falavam para não discutirem mais.

O dia começou como outro qualquer, Hermione foi para o seu consultório e Ron foi para o escritório.

-Está livre para um almoço com a sua cunhada favorita? Gina entrou na sala.

-Claro que sim! Onde está James?

-Que madrinha desnaturada, esqueceu que ele já voltou para a escola?

-É verdade! As férias escolares já acabaram. Hermione tinha esquecido completamente.

-Ta bom! Vem, vamos almoçar antes que acabe nossa hora de almoço!

Gina era a irmã mais nova de Ron e casada com o melhor amigo dele, Harry. Tinham James de quatro anos, o menino era igual ao pai, mas a personalidade era da mãe.

-Harry está querendo que James tenha um irmão. Gina confessou. –Desculpe, eu sei que não deveria falar sobre isso com você...

-Nada disso! Hermione a interrompeu. –Você além de tudo é minha amiga, pode me contar tudo!

Ela tentou parecer animada com a noticia, mas não conseguiu, ficou pensando se um dia também teria essa chance.

-Hey! Estou falando com você! Gina a trouxe de volta a realidade.

-Desculpe, estava falando sobre o que?

-Por que vocês não tentam outra coisa? Tem vários tratamentos de fertilização, adoção ou até mesmo barriga de aluguel.

-Nós já tentamos a maioria desses tratamentos e barriga de aluguel? Francamente, pagar alguém para ter meu filho? Não, isso nunca! Hermione já tinha pensado em outras soluções, mas sonhava em ter seu filho.

-Então por que não adotam? Tem tanta criança por ai querendo uma família e vocês podem dar! Gina queria fazer de tudo para ajudá-los.

Gina teve que voltar às pressas para a redação do jornal que trabalhava, pois recebeu a noticia de um grande escândalo político. Hermione voltou para o consultório, teria uma longa tarde pela frente.

Ron conseguiu mais uma importante construção para a empresa, provando mais uma vez que estava ali pelo seu talento e competência, e não por ser filho do dono.

-Parabéns meu filho, estou tão orgulhoso! Arthur parabenizou o filho na frente de todos.

-Obrigado pai! Ele disse encabulado.

-Você deve comemorar, foi um longo processo até aqui.

-Eu sei, vou passar no consultório da Hermione e a levá-la para jantar!

Ele chegou e reparou que não tinha nenhuma criança esperando para ser atendida, o que era incomum, já que Hermione sempre estava com a agenda cheia e atrasava as consultas por ficar conversando e brincando com os pacientes.

-Vejo que hoje sairá no horário Meg! Ron brincou com a secretária.

-Pois é, sorte que o último paciente desmarcou, se não ficaria até mais tarde como sempre. Meg retribuiu a brincadeira.

-Hum, sabia que isso não era devido a ela ter atendido todos sem atrasos.

-Muito engraçado vocês! Hermione saiu da sua sala, acompanhada pelo seu último paciente. –Meus atrasos são poucos.

-Olha mãe! É o mesmo homem que está na foto! O menino apontou para Ron.

-É sim filho, mas é feio apontar para as pessoas. A mãe disse sem graça.

-Desculpa. Ele baixou a cabeça.

-Posso saber que foto é essa? Ron ficou curioso.

-A doutora tem na sua estante junto com os livros uma foto de vocês, acho que é no dia do seu casamento! O menino contou animado.

-Você sabe dessa foto! Hermione o abraçou. –Tem uma igual na sua sala!

-Não sei, vai que é a foto do seu casamento com outro. Ele falou brincando o que lhe custou um leve tapa no braço.

O menino e sua mãe foram embora, assim como a secretária. Ficaram apenas os dois, Hermione guardava suas coisas enquanto Ron aproveitou para pegar um pirulito escondido.

-Então como foi à reunião, conseguiu? Ela perguntou curiosa.

-Consegui! Eles adoraram o projeto! E por isso acho que mereço um prêmio... Ele aproximou-se na espera de ganhar um beijo.

-Seu prêmio é esse pirulito que pegou! Você acha que eu não sei que toda vez que vem aqui pega um?

-Eu não pego nada! Ron fingiu-se de inocente. –Não é esse tipo de prêmio que quero e você sabe muito bem!

-Quem sabe se você me levar para um agradável jantar, terá o que quer.

Foram para o restaurante que iam desde o tempo em que namoravam, foi ali que ele a pediu em casamento, onde eles comemoram a abertura do consultório dela, era um lugar especial.

Mais para o final do jantar, Hermione resolveu tocar no assunto que tinha conversado com Gina mais cedo.

-Por que não adotamos uma criança?

-O que? Ron largou gentilmente o talher no prato e a olhou. –Acho que ainda não chegamos a esse ponto.

-Vamos ser sinceros. Estamos tentando há cinco anos e cada vez nossas chances vão diminuindo. Ela usava um tom didático para explicar. –Tem tantas crianças por ai querendo uma família e nós podemos dar.

-Vamos pensar, ok? Ele deu um meio sorriso. –Temos apenas vinte e dois anos! Tentou fazer uma piada sem sucesso.

-Você está com trinta e quatro e eu com trinta e três! Só pense no assunto, não disse que temos que sair daqui e adotar uma criança.

-Tudo bem, será que podemos ir para casa? Estou cansado. Ron deixou claro que não queria mais falar sobre isso.

Hermione como sempre pediu para o garçom embalar para viagem o que sobrou, por que sabia que assim que chegassem em casa o marido falaria que estava com fome.

Estavam na frente do restaurante esperando o manobrista trazer o carro. Hermione protegia-se do forte frio abraçando Ron, quando de repente sentiu alguém puxando a sacola com a sobra do jantar.

-Heeey! Ela gritou assustada.

Ron também levou um susto e achou que tinham roubado sua esposa e saiu correndo atrás da pessoa. Só quando chegou perto conseguiu ver que era uma criança, não parecia ter mais que cinco anos.

-Sabe que não é certo roubar as pessoas! Ele finalmente a alcançou e segurou seu braço.

-Eu sei, mas estou com fome! A menina disse sincera.

Hermione foi atrás do marido e chegou a tempo de escutar o que a menina dissera, sentiu um aperto no coração. Nunca virá uma criança naquele estado, largada na rua, todas que iam ao seu consultório eram bem tratadas e vestidas.

-Tudo bem, pode ficar. Mas o certo seria você ter pedido.

-Desculpa! A criança levantou-se rapidamente e saiu correndo para a praça que tinha ali perto.

-Vem, o carro já chegou. Ron chamou a esposa.

Entraram no carro e Hermione não tirava os olhos da menina sozinha na praça, ficou imaginando se ela com todos os casacos sentia frio, como estaria aquela criança mal agasalhada.

-Não podemos deixá-la sozinha!

-Eu sei que você ficou com pena dela, eu também fiquei. Mas isso não é um problema nosso e sim do governo.

-Não venha falar do governo, a verdade é que tem uma criança a poucos metros de nós sozinha, passando fome e frio! E não consigo fingir que não é comigo.

Hermione saiu do carro e foi atrás da menina, foi se aproximando aos poucos, não queria deixá-la mais assustada.

-Gostou da comida? A menina balançou a cabeça afirmando. –Bom, posso saber seu nome?

-Todos me chamam de Rose. Ela respondeu e voltou a comer.

-Prazer Rose, meu nome é Hermione.

Ron continuou dentro do carro, não estava acreditando no que via. Pela segurança da mulher, estacionou o carro e foi até elas.

-Hermione... Ele a chamou quase que sussurrando. –Vamos, está frio aqui!

-Rose, esse é meu marido Ron. Ela fingiu não escutar o pedido dele.

-Olá Rose! Disse Ron sem jeito. –Pelo visto gostou do meu jantar... Ele observou que a menina já havia comido quase tudo.

-Desculpe, você quer um pouco? Rose ofereceu o restante.

-Não! Hermione sorriu. –Ele está apenas brincando com você! Então Rose, onde irá passar a noite?

-Aqui mesmo! Ela respondeu naturalmente.

Eles ficaram chocados com a naturalidade que ela falou, afinal estavam em Londres, uma cidade gelada por si só e que o começo do outono estava bastante forte, prometendo um rigoroso inverno.

-Quer passar a noite na nossa casa? Hermione falou de repente.

Ron não acreditou no que ouvira, mas conhecia a esposa e não esperava outra coisa a não ser isso, só lhe restava apóia-la.

-Tem mais comida lá. Ele falou sem jeito, tentando demonstrar seu apoio.

-Então? Quer ir para a nossa casa? Hermione ficou feliz em contar com o apoio do marido.

-Tem comida mesmo? Rose perguntou fazendo os dois rirem. –Então eu vou!

Voltaram para o carro, Hermione ajudou Rose com o cinto. Ron foi dirigindo por um caminho que nunca havia feito e sempre ficava olhando para os lados.

-O que está fazendo? Por que fez esse caminho mais longo? Ela perguntou assim que entraram no prédio que moravam.

-Para ter certeza que ninguém estava nos seguindo.

Moravam no último andar, na cobertura. O apartamento não tinha nada demais, não era decorado com coisas caras e nem muito luxo, passava a sensação de aconchego e felicidade. Rose não falava nada, apenas observava tudo com atenção.

-Acho melhor você tomar um banho para se esquentar, enquanto isso arrumo a cama onde irá dormir. Hermione a levou para o segundo andar e mostrou onde ficava o banheiro.

Ela foi até o quarto de hóspedes, sempre que seus sobrinhos ficavam com eles dormiam ali, arrumou a cama com um monte de cobertas.

-Pronto! Rose entrou no quarto, já de banho tomado.

-Por que está com a mesma roupa? Assim não adianta tomar banho!

-É a única que tenho, desculpa. A menina falou envergonhada.

-Tudo bem, acho que tenho alguma roupa que meu sobrinho deixou aqui, ele deve ter mais ou menos a sua idade. Hermione sentiu-se completamente idiota ao falar aquilo, é claro que a menina só tinha aquela roupa. –Achei! Tem um pijama de carrinho, pode ser?

-Pode! Eu gosto de carros também!

-Que bom! Ela a ajudou se trocar e a acomodou na cama. –Certo, se precisar de qualquer coisa estaremos na última porta do corredor, boa noite. Quer que deixe alguma luz acessa?

-Não, não tenho medo de escuro! Boa noite! Rose disse sonolenta.

Hermione entrou no seu quarto e encontrou o marido já deitado, assistindo alguma coisa na TV. Tomou rapidamente banho e deitou-se ao lado dele.

-Deu tudo certo? Ele perguntou.

-Sim, provavelmente ela já deva estar dormindo. Ela olhou para o marido. –O que faremos amanhã? Não podemos devolvê-la para a rua!

-Vamos dormir, amanhã conversaremos sobre isso. Ron deu um beijo nela. –Boa noite.

Seria Rose a filha que eles tanto queriam? Era melhor não pensar assim, afinal era apenas uma noite e depois a vida deles voltaria ao que era antes.


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