Era o terceiro dia após a grande notícia. Annabeth havia marcado a primeira consulta para o dia seguinte e pediu ao marido para manter segredo sobre a gravidez por ora. Percy ficou meio apreensivo sobre como contariam ao pai de Annabeth. Frederick e Percy sempre tiveram um bom relacionamento, mas o rapaz tinha certo receio, não sabia se ele a aceitaria bem. Com Sally e Paul seria bem mais tranquilo, eles confiavam no garoto e ele sabia que a mãe ficaria muito feliz ao saber que teria netos.

Annabeth estava deitada no sofá com um biquíni vermelho, eles iriam para a piscina do condomínio assim que o filtro solar fizesse efeito. Ele se sentou no sofá e passou as pernas por baixo das dela.

–Como se sente, Sabidinha? – ele roçou a mão de leve em sua barriga.

–Normal por enquanto. Mas eu estou tão feliz... Eu nunca pensei que daria netos ao meu pai, naquela época não se esperava que um semideus vivesse tanto. Muito menos que encontrasse outro para gerar um herdeiro.

–Você acha que seu pai vai...?

–Se ele vai ligar? Ah, Percy... Pais serão sempre pais, ele ainda acha que eu sou sua garotinha inocente. Só a ideia de que nós transamos será perturbadora para ele. Mas se falarmos com jeitinho vai dar tudo certo.

–Você sabe que eu não quero que seu pai perca a visão de bom marido que ele tem de mim. Mas...

–Querido, ele não pode fazer nada. Somos maiores, casados, estudamos e nos sustentamos. Agora temos uma criança, não importa o que ele pense. Mesmo que ainda seja um feto, é nosso filho.

O interfone tocou e Percy foi atendê-lo após depositar um beijo na testa da esposa.

–Sim?

–Percy? É a Rachel. Abra, por favor.

–Rachel?

–Nossa, você continua lerdo. Sim, Rachel Elizabeth Dare. Aquela que você tentou matar certa vez porque assoei o nariz. Aquela ruiva que te bei- Ah, aquela que abriga o Espírito dos Delfos.

–Amor? Quem é? – Annabeth perguntou, levantando-se do sofá.

Percy abriu o portão e se dirigiu à porta com Annabeth.

–É a Rachel. Você contou a ela sobre...?

–Não, eu disse que manteria segredo. Você contou?

–Não...

Uma mortal ruiva, alta, de olhos muito verdes e com várias sardas pelo rosto surgiu na porta dos Jackson. Ela usava uma calça jeans rasgada, uma camiseta sem mangas que promovia uma ONG para crianças em fase terminal e um laço rosa berrante no topo da cabeça. Os tênis All Star sujos e levemente desamarrados se arrastaram pelo tapete de entrada e pararam ao abraçar Percy. Em seguida, olhou para Annabeth com os olhos brilhando e abraçou-a:

–Você está linda! Ah, e parabéns aos dois. Eu estou tão feliz!

–Rachel, como você soube? – Percy perguntou, incrédulo.

–Esqueceu que eu sou o Oráculo? Eu agora consigo algum tipo de ligação externa e consigo ver algumas coisas no futuro sem a fumaça sair e essas coisas constrangedoras todas. Agora... Não vão me convidar para entrar? Eu trouxe presentes!

Antes que Annabeth ou Percy pudessem mover um músculo, a ruiva adentrou a porta e foi se acomodando no sofá.

–Sinta-se em casa. – disse Annabeth, sarcasticamente.

–Desculpem os maus modos, mas estou com pressa. Tenho que encontrar meu noivo numa praça em 15 minutos para um Flash Mob para angariar fundos para crianças órfãs surdas mudas da Etiópia.

–Entendo. Mas você contou a mais alguém sobre a gravidez da Annie? – Percy mordeu os lábios, com medo da resposta.

–Ah, não. Fiquem tranquilos, não tive tempo de fofocar ainda. Mas se quiserem que eu espalhe a notícia, garanto que metade do acampamento saberá em 5 minutos. – tagarelou Rachel enquanto remexia algo dentro de sua enorme bolsa ecologicamente correta.

–Não! – pediram Percy e Annabeth ao mesmo tempo.

–Manteremos segredo até depois da consulta de amanhã. – Explicou Annabeth.

–Entendi, podem deixar! Minha boca é um túmulo, literalmente. Mas aqui está um presentinho para Annabeth.

Annie abriu um pequeno embrulho azul turquesa e ela sorriu para Rachel ao ver que era um frasco de algum creme contra estrias. Percy não fazia ideia do que demônios eram estrias, mas achou melhor não perguntar. As duas garotas se abraçaram e a loira agradeceu repetidas vezes.

–Percy, não vá pensando que eu me esqueci de você – Rachel piscou um olho e entregou a ele um peixe de plástico que fazia “glub glub” quando apertado.

As duas garotas caíram na gargalhada e Percy riu, sentindo as bochechas queimarem.

–E antes que eu saia correndo, espero que a criança goste.

Annabeth recolheu um pingente das mãos de Rachel, era um Olho Grego, também chamado de Olho Místico. Percy engoliu em seco, lembrando-se de todas as preocupações que deveriam ter em relação à segurança da criança.

–É um Olho Grego, original da Grécia e muito utilizado no mundo inteiro até hoje. Protege contra a inveja e o “olho gordo”. Li em algum livro que confunde o cheiro de crianças com ¾ do sangue divino. – Annabeth começou a despejar informações sobre o amuleto.

–Bem, está na minha hora. Sei que deverão tomar muito cuidado por causa do perigo que correm. Três semideuses numa casa só... bem, boa sorte a vocês. Annabeth, querida, se o Percy desmaiar ou qualquer coisa que precisar, mande mensagem de Íris.

–Obrigada, Rach. – as duas se abraçaram longamente.

–Hey, obrigado por vir. – Percy abraçou a garota antes de ela sair correndo pela porta como um furacão ruivo.

De repente, Annabeth correu até a porta a tempo de ver Rachel atravessando o portão do condomínio.

–HEY, RACHEL! É MENINO OU MENINA?

Rachel se virou e berrou de volta algo ininteligível, pois um carro velho buzinou na hora exata e ela entrou nele, batendo a porta. Percy abraçou a cintura de Annabeth enquanto os dois observavam o carro velho cantar pneus e desaparecer de vista.