Mês 7

Rosa bebê, rosa chiclete, rosa-shocking, rosa mar, rosa batata, rosa o diabo a quatro. Percy não aguentava mais ouvir sobre papéis de parede, móveis planejados, móbiles, brinquedos, roupinhas, produtos pra pele de bebê, mamadeirinhas e todas essas coisas no diminutivo. Silena chegaria em dois meses, e Annabeth estava com os nervos à flor da pele.

–Percy, você acha que eu engordei?

O rapaz sabia que estava pisando em terreno perigoso, um passo em falso e outra discussão sem motivos se iniciaria e só iria acabar em mais uma choradeira da esposa.

–Não – mentiu, passando as costas da mão pelas bochechas de Annabeth.

–Você está mentindo – ela o fulminou com o olhar, os olhos mais cinzentos e tempestuosos do que nunca.

Percy suspirou e sentiu o coração acelerar, o estrago já havia sido feito. Ele não sabia mentir. A loira afastou sua mão com um tapa e virou as costas para ele. As mechas de seu cabelo lutavam bravamente para sair daquele coque frouxo. Suas bolsas embaixo dos olhos faziam Annabeth parecer um panda, e os quilinhos a mais que ganhara eram praticamente imperceptíveis. Os seios e barriga haviam crescido sem estrias devido ao presente milagroso de Piper. Percy não poderia reclamar, a esposa estava mais encorpada do que nunca (no bom sentido, claro).

–Você está linda – Percy puxou seu braço e a envolveu em um abraço.

–Estou? – ela cravou suas unhas nas costas do marido, testando-o, depois se afastou para analisar os olhos de Percy. Não parecia estar mentindo. – Hum...

–Se Silena herdar um milésimo da sua beleza, vou ter que mandar amolar minhas armas para daqui a uns 12 anos – Percy brincou, mas com um fundo de verdade em suas palavras.

–Ah, por favor, Perseu. Com 12 anos nos conhecemos, e eu não era exatamente atraente. – Annabeth bufou e deixou-se gargalhar.

–O Percy de 12 anos não concorda – ele sentiu as bochechas corarem como quando Annabeth pronunciara as primeiras palavras diretamente dirigidas a ele: “você baba enquanto dorme.”

***

Percy acordou com um sobressalto, Annabeth havia gritado em seu ouvido e histericamente berrava em grego. Sonolento, ele rolou na cama e sua mão encontrou um lençol molhado.

–Theoúli̱ mou! Theoúli̱ mou! Theoúli̱ mou!

Abriu os olhos, assustado e encontrou a esposa se contorcendo sentada na cama com as calças de moletom encharcadas. Oh-oh. Percy sentiu a visão enturvar e o som dos berros ficar mais distante, não podia desmaiar.

–Meu Zeus! Fique calma, Annabeth, vou pegar o carro.

A loira respirou fundo e tentou se acalmar enquanto Percy desajeitadamente discava um número no celular e procurava as chaves (sem muito progresso graças às mãos trêmulas). As contrações aumentavam gradativamente, e ela mal conseguia levantar para tirar o lençol molhado da cama.

Alguns segundos depois, Percy entregou o celular a Annabeth e pegou-a no colo. Ela pressionou o aparelho contra o ouvido e gemeu um “alô”. Percy pegou-a com delicadeza e carregou-a pelo corredor até a saída de casa.

–ANNABETH? – Thalia chamou.

–Sim...? – ela foi posta deitada no banco traseiro do carro.

–DIGA A PERCY PARA LEVÁ-LA AO HOSPITAL DO BAIRRO, JÁ – chiados – URGENTEMENTE PARA – chiados e a voz picotada da amiga – ENTENDEU?

–Entendi – murmurou Annabeth, estava com muita dor para tentar entender mais do que o básico – Estamos indo. – e desligou o aparelho.

Um Percy nevoso, suado e tremendo deu partida no carro e dirigiu o mais rápido que pôde sem pôr a vida deles em risco. Isso significa que ele estava andando absurdamente devagar. Sem ar, a garota resfolegou:

–Acelera... essa... bosta... Percy!

Ele olhou para trás, mordeu o lábio inferior e pisou no acelerador.