And more confusion

Kaline Bogard

Parte 06

O passado que retorna

Como o dia estava acabando e ambos os adultos tinham dirigido por muitas horas concordaram em passar a noite naquela pequena cidade.

Rumaram para o albergue e alugaram um quarto.

– Não podemos comer aqui, não tem cozinha – Sam respirou fundo.

– Eu vou até um restaurante – Bobby se ofereceu – Deve ter algum nessa cidade.

– Certo.  Enquanto isso vou colocar Dean para tomar banho – e diante do olhar surpreso que recebeu, completou – Ele não alcança para abrir o chuveiro.

Nesse ponto, o loirinho que assistia algum cartoon na TV, sentado no chão a frente da tela com as pernas cruzadas, voltou-se para o mais velho dos três e abriu o sorriso que achava mais fofo.

– Tio Bobby... vamo come batata frita e milk shake?

– Dean... – Sam sabia bem o que o irmão tentava fazer: burlar sua proibição de fast food.

– Por favor...

– Ora, Sam, o que custa?  Pode deixar, garoto.  Eu te trago uma montanha de batatas fritas e milk shake com muito chocolate.

– OBA! Tio Bobby é o melhor! – Dean comemorou levantando os braços.  Quando a porta se fechou, virou-se para Sam e mostrou-lhe a língua.

– Dean!  Seu... – levantou-se da cama irritado e apontou para a porta que levava ao banheiro – Vá agora mesmo pro banho, seu pestinha.

O garoto levantou-se e saiu correndo e rindo muito na direção indicada.  Sam passou a mão pelos cabelos, desconcertado.  Não tinha jeito com crianças!  Nem se essa “criança” fosse seu irmão.

Mal teve o pensamento desanimado e ouviu um pedido de ajuda infantil.

– Vem abri o chuveiro, Sammy! – Dean chamou lá de dentro.

– Ah, agora precisa de mim?! – o caçula indagou birrento.

– Por favooooooooor!

Sam respirou fundo e seguiu em socorro do irmão, incapaz de negar o pedido.

S&D

Quando Bobby voltou Dean já estava de banho tomado e cabeceava de sono deitado numa das camas, vestido com seu pijama do Batman.  A visão fez o mais velho erguer as sobrancelhas de forma questionadora e deixou Sam na defensiva.

– O quê?  Foi ele quem escolheu...

– Eu não disse nada – Bobby foi tirando o que comprara e distribuindo.

– Obrigado, tio Bobby! – Dean agradeceu ao receber o que pedira, antes de bocejar – Sammy, depois do jantar posso abri as figurinha?

– Pode, claro.

– Oba! – e o loirinho atacou a comida, como se estivesse morrendo de fome.

Bobby puxou uma cadeira e sentou-se.  Voltou os olhos na direção de Sam, que sentava-se com seu próprio jantar na cama em que Dean estava.

– Descobriu alguma coisa?

– Várias colônias irlandesas – Sam respondeu depois de mastigar um bocado – Mas a mais antiga fica em Connecticut.  Um vilarejo chamado Pearl Hills, fundado por volta de 1590.  Parece promissor.

– Sim, parece – Bobby concordou antes de dar uma generosa mordida no seu sanduiche – O que foi que você pediu afinal de contas?

O Winchester moreno engoliu em seco, com uma súbita dificuldade de tragar o alimento que tinha na boca.  Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que responder a pergunta.  Então que fosse naquele momento.

– Pedi para voltar ao passado – olhou rapidamente na direção do irmão mais velho antes de continuar – E salvar Dean.

O outro caçador não respondeu de imediato.  Continuou mastigando lentamente, com brilho um tanto distante nos olhos, como se ruminasse o que tinha ouvido.

– E você diz que o Cluricaun estava bêbado?

– Totalmente.

– Então ele realmente fez o que pôde para realizar o seu pedido idiota.

– Como assim? – Sam soou indignado.  A situação não podia ser mais distante das suas reais intenções.

– Sam, o que você vê quando olha para Dean?

– O que...?  Uma criança, é claro.  Que tipo de pergunta é essa, Bobby?  Onde quer chegar?

– Uma criança?  Exato.  Mas uma criança que saiu diretamente de que época da sua vida?  De você, que fez o pedido?

Sam passou a mão pelos cabelos de forma cansada.  Achou que tinha compreendido o ponto.

– Do passado.

– O Cluricaun não podia mandar você de volta ao passado, então ele fez a única coisa que podia: trouxe o passado até você.  E essa idade... quantos anos Dean tinha exatamente nessa época?

Sam desviou os olhos fitando o chão, sem coragem de encarar o outro caçador.

– Quatro anos.

– E você sabe por que essa idade, não sabe?  Lá no fundo você sabe, Sam.  Você pediu para voltar ao passado e salvar Dean, o Cluricaun está te mostrando que isso só seria possível mudando os fatos que aconteceram naquela época, filho.  Mudando a morte de sua...

– Besteira! – Sam cortou irritado, sobressaltando Dean que cochilava com uma batata frita na mão – Eu vou salvar meu irmão do inferno, Bobby.  Isso é possível agora, não apenas no passado!

– Sammy...

– Vá escovar os dentes, Dean – Sam interrompeu o chamado infantil – É hora de ir pra cama.

O loirinho nem mesmo questionou a ordem, largando o resto das batatas e do milk shake sobre o criado mudo.  Com a saída dele o caçula dos Winchester retomou o assunto.

– Não vou deixar que o demônio da encruzilhada leve a alma do meu irmão.  O prazo está correndo, Bobby.  Temos que fazer algo.

– Sei disso.  Mas não pode recorrer a esse tipo de truque.  Não está ajudando, Sam, apenas piorando as coisas.

– Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance.  Se der errado, a gente corrige e continua.  Mas Dean não pode ir para o inferno...

Bobby respirou fundo e não retrucou.  Nada do que dissesse seria bem recebido pelo rapaz, de qualquer forma.

– Partimos amanhã bem cedo – o moreno decretou – Quanto antes melhor.

– Okay – o outro concordou – É um longo caminho.

– Podemos desviar de Kentucky e passar por três estados apenas.

– De qualquer formar faríamos uma volta e tanto.  Vamos gastar mais ou menos o mesmo tempo qualquer que seja a rota.

– Então passamos por Kentucky e seguimos em linha reta.  Não podemos perder tempo.

Com aquilo, pelo menos, Bobby concordava.

– SAAAAAMMMYYY! – a voz desesperada do loirinho sobressaltou Bobby, mas Sam apenas sorriu de leve.

– JÁ VOU! – respondeu ao chamado antes de voltar-se para o mais velho e tranqüilizá-lo – Dean não alcança a pia... até que demorou pra me chamar.

Enquanto o Winchester moreno ia socorrer o irmão, Bobby Singer tirou o boné da cabeça e passou a mão pela face.  Pensara até então que já tinha visto de tudo naquela vida.  E, mais uma vez, estava redondamente enganado.

S&D

Sam acordou muito cedo, mas não tanto quanto Bobby, que já estava de pé recolhendo as coisas para partirem.

– Bom dia – saudou em tom baixo para não acordar o menino em seus braços.  Dean dormia na mesma cama que o irmão mais novo desde que voltara a ter a aparência de quatro anos de idade, apesar de ter duas camas no último hotel, a certa hora da noite o menino passara para a cama do adulto.

Sam não se importava e preferia que fosse assim.  Ele sabia bem das criaturas que rondavam nas sombras da noite e escolhiam presas infantis e desprotegidas.  Poderia recitar o nome de um bom par de dúzias só pra começar com as menos assustadoras.

– Bom dia – Bobby respondeu em tom igual – Acorde seu irmão, quanto antes partimos melhor.  Comemos algo pelo caminho.

– Okay.  Vai ser uma longa viagem.

– A viagem não me preocupa – o outro resmungou – Tenho medo do que vamos encontrar na colônia irlandesa.  Ou de não encontrarmos nada...

– Se não encontrarmos nada procuramos em outro lugar.  Deve ter um jeito, uma maneira.

– Claro, garoto.  Sempre tem uma maneira, nem que seja de piorar as coisas ainda mais.

Sam não respondeu.  Nem precisava.

Sabia que Bobby estava certo.  Havia uma grande chance de tudo piorar ainda mais.  Porém ele não queria pensar naquela possibilidade.

Não ainda.

Continua...