And more confusion
Kaline Bogard

Parte 11

Protegendo, sempre

Dean saiu correndo do quarto e rumou para a porta ao lado, esmurrando-a com os pequenos punhos fechados.

– Tio Bobby! TIO BOOOOOOBBY!! TIIIO BOOO...

Então a porta abriu-se de supetão e o caçador mais velho abaixou a cabeça observando Dean sem surpresa alguma.  Esperava que ele fizesse algo assim desde a cena estranha na recepção.

– Entre, garoto – ordenou verificando ambos os lados do corredor para certificar-se de que não havia ninguém.

O loirinho não precisou de novo convite.  Esgueirou-se feito um gato e parou no meio do aposento voltando os olhos enormes e assustados para Singer, que fechava a porta e, em seguida, desligava o celular no qual estivera falando.

– Estava ligando para um contato – o homem explicou – Tem alguma coisa errada e você sabe o que é, não sabe?

Dean balançou a cabeça rapidamente para cima e para baixo.

– A minininha!

Bobby o pegou pelas axilas e o colocou com cuidado sobre a cama, sentando-se ao lado do menino no colchão macio da cama de dossel.

– Que menininha, Dean?

– Uma ruiva!  De olho azul! Muito mau educada – o Winchester resmungou antes de continuar a explicação – Ela apareceu do lado de fora do carro.  Eu tava esperano o Sammy e ela me mostro a língua pra eu.  E saiu correno.  Depois o Sammy volto pro carro e ela tava lá dependurada no pescoço dele.

Bobby coçou a barba, pensativo.

– Um espírito vingativo...?

– Não, tio Bobby! – o menino apressou-se a explicar – É um Myling.  Papai pegou um desses em Houston, eu acho que Dean lembra bem.  Foi...

– Um Myling?

– É.  O Sammy disse que tem que i no cimitério amanhã.

– Céus – Bobby resmungou – Aquele idiota do seu irmão deve estar mergulhado na culpa para ser pego tão rápido.

– Myling são espírito de crianças assassinadas antes de serem batizadas, não é, tio Bobby?

– Isso, Dean. Se não me engano o primeiro caso de uma criança Myling foi mencionada na Escandinava por volta de mil seiscentos e trinta...  eles se alimentam de culpa, quando se prendem em alguém drenam toda a sua força vital e guiam essa pessoa para o cemitério.

– Daí o peso da culpa faz a pessoa afunda ainda viva na terra e ela fica lá até morre.  O Sammy num pode morre!!  Num adianta atira com sal, por que ela já prendeu no meu irmão!

– Claro que não.  Precisamos achar o corpo e queimar – nesse ponto Bobby olhou muito sério para Dean – Garoto, onde vocês estavam quando ela apareceu pela primeira vez?

O loirinho piscou solene antes da boquinha rosada se abrir em um “oh” silencioso.

– No armazém!  Dean pensou que ela tava perdida.  Daí o Sammy já tava lá dentro e quando ele volto e sento no Impala a minininha tava presa nele!

– É um bom lugar pra começar.

– Vou com o tio Bobby...

– Não – o caçador ficou em pé e começou a recolher suas coisas, juntando tudo que julgava importante dentro da mochila.  Nem mesmo tinha ido tomar banho, pois o jeito assustado de Dean na recepção e o aspecto exageradamente cansado de Samuel chamaram a sua atenção.  Bobby Singer era um lobo velho e experiente.  Sabia captar os sinais de algo errado – Você precisa ficar com seu irmão, garoto.

As bochechas sardentas empalideceram a medida que o medo escurecia os olhos verdes.  Tremia só de pensar em ficar com aquela menininha sinistra de novo.

– Mais tio Bobby...

– Dean... você tem que ficar com o Sam pra ter certeza que ele vai ficar bem.  Se algo acontecer você me liga e eu volto rapidinho, mas não podemos deixar seu irmão sozinho com um Myling.

O menino engoliu em seco.  Porém apertou os lábios como se pudesse reunir coragem com o gesto e balançou a cabeça.

– Tudo bem, tio Bobby.  Dean vai fica com o Sammy e protegê ele.

– Ótimo, garoto.  Agora vamos fazer isso de uma vez.

S&D

Singer passou pelo quarto dos Winchester para dar uma olhada no rapaz adormecido.  Ele não parecia capaz de ir a lugar algum.  Observou rapidamente, ciente de que não veria o espírito da Myling por que a capacidade de ver esses seres sobrenaturais estava ligada ao teor de inocência.  Quanto mais inocente a pessoa, mais profundo era o vínculo que ela tinha com o mundo oculto.

Isso era prova de quanto Dean Winchester estava regredido a sua forma infante.  O Dean adulto jamais seria capaz de ver um espírito tão puro.  A menos que sua mente e seu coração fossem despidos de maldades, vícios e culpas.  De uma forma que somente as crianças conseguiam ser.

Tinham que resgatá-lo de volta a sua idade real antes que sofresse muitos danos irreparáveis.  No entanto aquele incidente com Samuel iria atrasá-los um pouco.

– Tio Bobby – o caçador sentiu um puxão na barra da blusa – Pode fecha o chuveiro antes de i?  Depois o Dean toma banho.

O mais velho aquiesceu.  Depois de fechada a água voltou para o quarto e abaixou-se em frente a Dean que não tinha saído do lugar.

– Vou até o armazém.  Não temos tempo para pesquisas elaboradas, vou pelo que conheço dessas entidades.  Se não achar nada por lá teremos que pensar em outra coisa.  Caso precise de ajuda ou se algo estranho acontecer me liga que eu volto na mesma hora, entendeu garoto?

– Entendeu!

– Ótimo. Esse espírito Myling não vai te fazer mal, Dean, por que eu sinto que você não carrega culpas estando assim.  Mas ele é capaz de ferir o Sam, é por isso que tem que ficar aqui e vigiar.

– Sei disso, tio Bobby.  Já num to mais cum medo da minininha – afirmou cheio de si, apesar de sentir as perninhas tremendo.

Bobby apertou os lábios.  Captou a mentira pronunciada através de cada palavra.  Sentia muito obrigar o garotinho a fazer isso, porém não era como se tivessem muitas opções.

Olhou no relógio e confirmou as horas.  Passavam quinze minutos das dez horas.  Uma cidade tão pequena e enfadonha já deveria estar toda adormecida e o armazém, fechado.

O adulto estendeu a mão e bagunçou os fios loiros.

– Você vai ganhar muitas figurinhas por ser tão corajoso, Dean.  Prometo.

– Obrigado! – agradeceu mais animado.

Depois disso Bobby jogou a mochila com seus equipamentos sobre o ombro e saiu fechando a porta do quarto com cuidado.

Dean juntou os dedos rechonchudos e os entrelaçou de forma nervosa.  Foi subir na outra cama de solteiro e acomodou-se, sentando-se no colchão muito macio.  Imediatamente voltou a atenção para seu irmão.  Samuel estava apagado pra valer, indiferente ao Myling que segurava firmemente com os braços ao redor de seu pescoço, com as íris azul cobalto vigiando cada movimento de Dean Winchester.

– Num vai faze mau pro meu irmão, entendeu?

O espírito sequer se moveu.

S&D

Dean nem percebeu quando adormeceu.  Mas percebeu a movimentação suave pelo quarto.  Arregalou os olhos assustado e sentou-se sobre a cama.

Sam estava em pé, meio sem equilíbrio, com a face pálida e sem expressão.

– Sammy...? – calou-se.  Seus sentidos capturaram o som das badaladas.  O relógio de corda terminava de soar o décimo segundo toque.

– Hoje – Samuel disse com a voz arrastada – Hoje precisamos... ir ao cemitério...

E seguiu em direção a porta.  Por cima de seu ombro o topo da cabeça do espírito Myling olhava diretamente para Dean.  Nas íris puro cobalto havia um brilho de vitória.  A entidade estava levando a melhor, estava vencendo!

Dean cerrou os punhos pequeninos e saltou da cama.  Não permitiria que uma criatura sobrenatural fizesse mal ao seu irmãozinho caçula.  Nunca!

– SAMMY!! – foi uma tentativa desesperada de arrancar o moreno do transe em que parecia ter sido preso pelo Myling e que a cada momento ficava mais intenso.  Sam agia fora de si, hipnotizado.

Era hora de Dean deixar o medo de lado e sair da letargia!  Não haveria tempo nem de ligar para Bobby, era o que o menino pensava.  Tinha que ser por sua conta.

Sammy era sua responsabilidade.

Mas... como faria para parar o irmão, tão maior e tão mais forte?  Como o protegeria sendo apenas um garoto inofensivo, fraco e pequenino?

Sem pensar em nada além de Sam, Dean seguiu seus instintos.

Continua...