Um Novo Amor Doce escrita por N Baptista


Capítulo 9
Episódio 4 (O fantasma da escola)




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Os corredores já estavam quase completamente vazios quando me apressei em arrastar os pés até a escadaria, Li me esperava com cara de ninja homicida, ela segurava a esponja como se fosse uma shurekeen (é assim que escreve?) e jogou bem no meu rosto quando me aproximei.

– Ai! – Exclamei, sem realmente sentir dor, enquanto tirava a espuma da sobrancelha.

– Sua vaca! Além de pichar a escola, pretendia me obrigar a limpar tudo?! – Ela manteve o punho cerrado, mas não seria capaz de avançar na minha direção.

Abri a boca para tentar me defender, mas antes ela marchou a passos firmes pelo corredor dizendo:

– Já consegui o material com o zelador, agora se vire.

Observei o ultimo vulto de seus cabelos negros desaparecerem na bifurcação antes do silêncio se estabelecer, dei um sorriso meio psicótico, eu já esperava ter de limpar sozinha. Esfreguei cada símbolo das paredes com cuidado excessivo, queria adiar ao máximo a limpeza do armário da Ambre, inconscientemente só queria fazer a minha pequena e desastrosa vingança durar.

A maioria das pichações não queriam dizer nada, foram feitas só por fazer mesmo, tratavam-se de espirais e X pra cima e para baixo, algumas tão altas que eu quase não alcançava, mas também com 1,65 de altura eu não sou a pessoa mais alta do colégio. Acho que a Hally tem a mesma altura que eu e a Talixka tem 1,70. Mas isso não é nada perto dos 1,80 do Castiel que com certeza alcançaria esses símbolos.

Terminei a escadaria gemendo de desgosto e resmunguei a cada letra do LADRA que eu apagava. Quando finalmente dei o trabalho por encerrado, o sol já tinha se despedido faz tempo e a escola noturna era realmente apavorante, toda a vez que passava por uma sala, tinha a sensação de que encontraria uma “night class”. Passei pela escadaria para uma última checada e vi Li se aproximar:

– Ah, então você está ai – Disse a Japonesa – Pensei que tinha ido embora e me deixado para trás.

– Foi isso o que pensei de você. – Retruquei cruzando os braços.

– Pois eu deveria ter ido mesmo – Ela jogou os cabelos lisos por cima do ombro e passou a minha frente no corredor – Vamos, esse lugar é deprimente a noit...

“BLAAMMM”

Um barulho estranho e muito alto ecoou pela escadaria. Li veio para perto de mim (e não posso dizer que minha postura era muito mais valente).

– Q-Que barulho foi esse? – Ela estava tremendo.

– Eh, não sei – Minha voz estava vacilante – Não deve ser nada, talvez alguma coisa que caiu.

– V-Você acha que tem mais alguém aqui?

– E-Eu não vi ninguém além de você. – Admito que olhei para os lados paranoica.

De repente uma silhueta surgiu extremamente mal iluminada pela fraca luz da lua que atravessava a janelinha. Seja lá o que fosse, estava vindo na nossa direção, olhamos vacilantes uma para a outra antes de gritar com todas as forças e sair correndo desesperadas para fugir daquela escola.

– Te juro, é verdade. Talixka, o que eu vi ontem foi um fantasma.

Na manhã do dia seguinte, eu me esforçava para contar à Tali de forma detalhada cada passo da minha vingança até ser posta pra correr pela sombra na escadaria.

– Realmente acho que tenha sido alguém ou a sua imaginação, a ideia de um fantasma, é extremamente surreal.

– (Afê) Você não devia ter faltado ontem – Avançamos a passos lentos para dentro da escola (estávamos adiantadas) – E nem sequer atendeu o telefone.

– Desculpe-me, você sabe que a minha mãe está grávida, né? Então, ela passou mal e eu tive que ficar cuidando dela.

– Nossa Tali, - Arregalei os olhos – Mas agora tá tudo bem, né?

– Sim – Ela sorriu prendendo um cachinho azul atrás da orelha – Foi só um susto mesmo.

Fomos andando sem rumo e quando eu reparei, chegamos a escadaria.

– Pelo que você contou das pichações – Tali fitava as paredes com seus profundos olhos negros – Fez um ótimo trabalho na limpeza, não dá pra ver nada.

Me concentrei em olhar para onde o vulto tinha aparecido na noite anterior e algo chamou a minha atenção.

– O que é isso? – Falei comigo mesma enquanto pegava os pedaços de plástico no chão.

– Lixo! – Respondeu Talixka se colocando atrás de mim.

– Mas somos as primeiras pessoas a chegarem – me pus de pé fitando o material de forma curiosa – E ontem com certeza não estava.

– Tá, você quem sabe. – A minha amiga saiu andando pelo corredor.

Apressei-me em alcança-la e na parte dos armários passamos pelo amigo do Castiel do outro dia:

– Bom dia meninas. – Ele falou sem nos dar realmente muita atenção, estava procurando algo num bloco de notas.

– Bom dia! – Respondemos em coro.

Alguns passos a frente, Tali percebeu a interrogação na minha testa:

– Você não se lembra do nome dele, não é mesmo?

– Não – Admiti sem graça – Nunca lembro.

– Bem, vê se não esquece dessa vez. É Lysandre.

Lysandre, como eu esqueço um nome desses? O sinal tocou dando inicio a nossa primeira aula do dia.

– Oi Talixka – Uma colega nossa, Rosalya, se aproximou das nossas carteiras – Você está melhor hoje? A Peggy escreveu uma matéria no jornal da escola falando da briga da Ambre e da Hally, e também mencionou o quadrado amoroso entra vocês e o Castiel. Achei que ia precisar de conforto depois dessa.

Olhei preocupada para a Tali esperando reação, a Rosalya tem mania de falar tudo o que pensa e agir por impulso, não sei se isso é uma coisa boa. A garota juntou os longos cabelos prateados no ombro esquerdo enquanto esperava pacientemente uma resposta da minha amiga.

– Obrigada por se preocupar Rosa, mas eu estou bem, esse assunto foi banal de mais para ter a repercussão que teve. Peggi deve estar carente de matérias. Quanto o suposto quadrado, não existe. Hally nunca disse que gostava do Castiel, e ele visivelmente não tem interesse em nenhuma de nós.

– M-Mas – Rosalya arregalou os olhos amarelos – Os dois saíram no outro dia, não foi?

– Não sei – Talixka deu de ombros – Eu mesma não vi nada, e você?

A garota balançou a cabeça negativamente enquanto eu observava pasma (duvido que eu ou a Hally fôssemos capazes de conduzir uma conversa desse jeito):

– É, você tem razão – Concordou Rosa – O povo desse colégio é muito fofoqueiro. Deviam só aproveitar que a base da Ambre não é suficiente pra cobrir a mancha escura a baixo do olho.

Nós três rimos da piada e então a garota voltou para a sua própria carteira. A aula prosseguiu de forma lenta e torturante, e os horários que se seguiram não foram muito diferentes.

– Oi Pedí. – Chino veio falar comigo no intervalo.

Realmente ela não é o que se espera da presidente do conselho estudantil, se veste de cores escuras, sua calça tem correntes e seu cabelo preto é arrepiado. Mas ninguém pode questionar que ela faz um ótimo trabalho na administração. No início foi difícil pra ela acompanhar o ritmo, Rick foi o presidente nos últimos dois anos, o primeiro estudante do segundo ano a assumir a presidência do conselho estudantil. Acho que a diretoria confiava mais nele do que em qualquer um do terceiro. E como a Chinomiko foi a vice dele, quando ele se formou era natural que a escolhessem para substitui-lo. Não é regra que o vice assuma quando o presidente se forma, mas é o que geralmente acontece. Como vice, as vezes me pergunto se o Nathaniel vai querer ser presidente ano que vem.

Ela se sentou ao meu lado dando um aceno pra Talixka:

– Então, você vai ao Fórum hoje? – Ela brincava com a corrente da calça, parecia nervosa – Não tenho conseguido falar com o Rick.

– Ainda é aquele lance da festa?

Ela baixou os olhos verdes e concordou com a cabeça.

– Não se preocupe – Lhe dei tapinhas amigáveis nas costas – Eu falo com ele por você, vai ficar tudo bem.

– Valeu Pedizinha – Ela abriu um sorriso de orelha a orelha – Você é a melhor.

Brinquei dizendo “Eu sei, eu sei” enquanto ela se afastava, depois virei para Tali que parecia perdida no mundo da lua:

– Oi? – Chamei trazendo-a a realidade.

– Oi... – A expressão dela era de quem tinha acabado de acordar.

– Dormiu bem?

– O que? – Ela ficou toda confusa e eu comecei a rir.

– Ah Tali, fica aí sonhando... Tava pensando em que?

– Nada não. – Pareceu sincero (é, as vezes ela faz isso).

Fiquei batucando com os dedos nos joelhos do jeans enquanto pensava:

– Acho que vou perguntar ao Nathaniel.

– O que?

– Ah Talixka, sobre o plástico na escadaria.

– Ele vai dizer a mesma coisa que eu.

– Vamos ver. – Respondi me pondo de pé e caminhando de volta ao prédio (estávamos no pátio).

Tali se apressou para me acompanhar pelo corredor. Passamos por Iris, que tentava pegar com uma folha de caderno uma lesma que tinha entrado na escola, enquanto Violette, uma garota bem tímida e de cabelo roxo, se contorcia de medo do outro lado do corredor. Parei em frente a sala dos representantes, a porta estava aberta e dava pra ver Melody debruçada sobre a mesa do Nath, ela explicava algum projeto de sua turma para ele. Estavam perto demais.

– Pedí, você não ia falar com o Nathaniel? – Perguntou Talixka quando eu comecei a me afastar.

– A aula já vai começar. – Balbuciei mordendo o lábio.


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