Um Novo Amor Doce escrita por N Baptista


Capítulo 12
Meu novo vizinho




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 “... Não me peça pra agir com coerência, não me faça perguntas difíceis, você sabe que eu não penso direito quando estou nos seus braços...”.

 A plateia pula, acompanha no refrão e imita a guitarra que dança pelo palco. A bateria e o baixo fazem tudo tremer. A timidez vai embora dando lugar a euforia, conheço bem essa sensação, é um dos melhores momentos da minha vida... A guitarra parou? “Por que Dylan?” Pergunto sem ter resposta. Os outros instrumentos também param, eu olho ao redor e estou sozinha no palco. A plateia também se cala e some, eu estou completamente só...

- Hallyyyyyy!!!!!

- Huuummm?? – Resmunguei com a cara enfiada no travesseiro.

- Já estou saindo, OK? Nada de dormir o dia todo.

 Gemi de novo pra minha tia saber que eu tinha ouvido e voltei a fechar os olhos. Era sábado de manhã. Um saco a tia Fabi ter que trabalhar! Mas apesar de eu estar acordando, já eram quase 10h. Tudo o que eu queria era dormir de novo (ou melhor, hibernar), sonho mais trágico o que eu tive, mas depois da forma como eu peguei no sono, não é de se admirar que eu não tenha mergulhado em um poço de tranquilidade. Ontem, chorei por horas agarrada à cintura da minha madrinha até dormir (pelo menos ela não fez perguntas, raramente faz).

 Coloquei-me de pé e tropecei na mochila que tinha largado no meio do caminho. Endireitei-me segurando na cômoda e acabei derrubando o ursinho de pelúcia que o Ken me deu no meu último aniversário. Olhei para o brinquedo por entre o emaranhado de fios castanhos que cobriam os meus olhos e tomei-o nos braços (Ken... nunca pensei que sentiria tanto a sua falta). Peguei o meu celular e disquei um dos poucos números que tinham sobrado na minha lista, deletei vários quando vim para Ville Kiss, como meus antigos amigos... E meus pais. Agora só tenho a tia Fabi e Ken (e Pedí e Talixka, mas esses são novos). Liguei para o meu amigo, sei que não fui a amiga que ele merecia, mas espero que me perdoe... Ninguém atendeu a minha ligação, resolvi não forçar, acho que não saberia o que dizer.

 Fui para o banheiro e fiz minha “necessidades matinais”, depois corri pra sala onde me afundei no sofá e fiquei jogando vídeo game (o GOW sempre distrai). Quando deu meio-dia, esquentei no micro-ondas o macarrão de ontem (não vou inventar de cozinhar, sou uma negação no fogão). Depois do almoço, conectei o Ipod ao rádio e fiquei ouvindo ( e dançando) enquanto arrumava a casa. Passei de Katy Perry para Nickelback e depois Maroon 5 (o aleatório fez uma boa mistureba).

“Cause when I’m with him, I am thinking of you

Thinking of you, What you would do if”

 (Nada contra a Katy, mas pra que tocar logo essa música?) Desliguei o rádio e bufei irritada, minha cabeça se acumulou de problemas que eu estive fugindo no último ano. Resolvi me arriscar a fazer brigadeiro, não sou boa cozinheira, mas o que não mata engorda... Hum, meu peso está bom (=O ~Le morrendo =D Caô). Estava quase terminando de fazer o doce quando o telefone tocou. Corri pra atender, podia ser a minha madrinha... Não era:

- Ah, oi mãe. – Minha boca ficou seca de repente.

- Oi querida. Sua tia me ligou ontem à noite, aconteceu alguma coisa?

- Não, nada – (Eu não vou falar do Castiel) – Aqui está tudo bem.

- Tem certeza? Passa o telefone pra ela.

- A tia Fabi tá no trabalho, só volta no final da tarde.

- Ah, então eu ligo depois.

- Espera! Não quer falar um pouco mais comigo? – (Pareço uma criança desesperada).

- Agora eu não posso, Hally, só se for alguma coisa urgente. Estão me chamando no estúdio.

-... Então deixa pra outra hora.

- Um beijo, querida.

 Nem consegui dizer tchau. Nossas conversas tem sido assim desde que eu me lembro... desde sempre! Mas eu não ligo, é assim que tem que ser!

 Fiquei uns minutos suspirando de frustração debruçada no braço do sofá, até que comecei a sentir o FORTE cheiro de queimado (O BRIGADEIRO!). Corri para a cozinha e fui cegada pela fumaça, não lembrava de ter deixado o fogo tão alto. Peguei o pano de prato para tentar abanar a fumaça, mas acho que passei ele perto demais das chamas, só sei que pegou FOGO. Joguei-o dentro da panela e gritei histericamente, não sabia o que fazer. Disparei em direção à porta e saí para o corredor, queria encontrar qualquer um, que bom que eu esbarrei num rapaz.

- Me ajuda!

 Agarrei-lhe o braço e puxei-o para dentro, eu estava em pânico, sem saber o que fazer. Ele começou a rir e colocou a panela dentro da pia, então abriu a torneira. A quantidade se fumaça aumentou, mas não havia mais fogo. O rapaz apagou o fogão enquanto eu abria a janela aliviada. Finalmente a nuvem se dissipou e eu pude olhar para ele. Tratava-se de um garoto mais ou menos da minha idade, era mais alto que eu, tinha cabelos azuis e olhos de um castanho avermelhado que mais parece rosa. Senti os engasgos antes que me desse conta da crise de risos que tinha me dominado. Antes eu não era assim, essas crises de risos são muito chatas! Minha tia diz que é psicológico. O rapaz também começou a rir (provavelmente da minha cara).

- Então – Ele falou – Você é a incendiária do prédio?!

- É um trabalho sujo – Impressionei-me de conseguir falar – Mas alguém tem que fazer!

- (ha ha ha) Como isso aconteceu? – Ele indicou a panela com a cabeça.

- Brigadeiro... Não deu muito certo!

- Dá pra ver. – Ele andou na minha direção e estendeu a mão – Sou Alexy.

- Prazer – Apertei sua mão – Hally.

- Então, Hally, você sempre conhece as pessoas assim?

- É um bom método pra fazer amizades (ha ha ha).

- (ha ha ha) Aposto que sim!

 Certos de que nada mais iria pegar fogo, fomos para a sala onde ele viu o vídeo game que eu tinha deixado ligado.

- Você joga?!

- É, as vezes curto. E você?

- Eu não. – Alexy fez uma careta – Mas meu irmão é super viciado.

- Ah tá – Cruzei os braços – Agora você vai me zoar dizendo que o seu irmão tem oito anos de idade, né?! Pode ir em frente, eu mereço.

- Não desconfiada – Ele revirou os olhos – É meu irmão gêmeo, Armin.

- Sério? Não sabia que tinham gêmeos aqui no prédio. – (falando sério, eu não conheço ninguém do prédio).

- Bem, a gente não mora aqui exatamente, meus pais estão vendo o apartamento aí do lado, e eu quis visitar. Aproveitei hoje, já que o meu irmão está em um torneio de games no parque aqui em frente.

- Ah é, eu queria participar, mas perdi a data de inscrição.

 Inclinei-me na janela para olhar as barraquinhas brancas no parque. Talvez eu participe no próximo semestre, vai ser legal.

- Acho que você se entenderia com o Armin. – Escutei sua voz as minhas costas.

- E você acha o seu irmão legal?

- Legal ele é! Só um pouquinho implicante como todo o irmão. O Armin costuma ser bem divertido e é o meu melhor amigo. Só não gosto muito do vicio dele em jogos, fica carregando aquela porcaria de PSP pra todo o lado! E poderia se importar um pouco mais com a aparência também, sou eu quem tem que escolher as roupas pra ele.

- (ha ha) Que legal! Então você cuida do seu irmãozinho?!

- É, acho que é algo assim.

 Virei-me para olhar para ele novamente e vi que o garoto estava mexendo no meu Ipod.

- O que você está fazendo?!

- Ah, foi mal. – Ele colocou o aparelho de volta no móvel – Eu tenho mania de mexer nas coisas, desculpa mesmo. Mas é legal a sua lista de músicas, tem algumas das minhas favoritas aí.

- Sério? – Andei até ele – Mostra quais.

 Ele colocou várias músicas pra tocar. Discutimos as preferências, filosofamos sobre as letras, falamos dos artistas e até dançamos no meio da sala (eu devo ser muito louca mesmo, mas o Alexy não pode falar nada, estamos empatados). Acho que se passaram horas até o celular dele tocar.

- Fala, Armin... – (Pausa pra ouvir) – Ah tá, já estou indo. – Ele desligou o celular e se virou pra mim – Acabou o torneio. Tenho que ir.

- Mas já? – Consultei o relógio e me assustei ao ver que já eram 5h da tarde.

- Pois é, foi divertido.

 Acompanhei-o até a porta do apartamento.

- Quando vocês se mudam?

- Ainda vai levar um tempo – Ele sorriu – Meus pais não tem certeza se compram o apê aqui ou em outro lugar, mas pode ter certeza que eu vou falar bem daqui. Vai ser legal já conhecer alguém na vizinhança – Alexy apertou o botão do elevador que já estava no andar – Tchau, Hally.

 Acenei em despedida e fiquei observando enquanto ele entrava no elevador, e do mesmo saia uma criatura vinda de neverland (fada) que eu conhecia muito bem. Minha tia passou por mim rindo e largou a bolsa no sofá.

- (ha ha) E eu que estava preocupada com você!

- E-Eh, Tia, eu posso explicar...

- Nossa, que cheiro de queimado é esse? – Parecia que ela não estava me escutando.

 Segui-a até a cozinha.

- Isso era pra ser o que? – Perguntou apontando a panela na pia.

- Hum... Brigadeiro.

- Tenho que te ensinar a cozinhar!

- Não deixa de ser verdade! – Pensei em voz alta – Mas você não vai perguntar nada?

- Perguntar sobre o que? – (ela tá falando sério?).

- Eh, sobre o garoto que acabou de sair daqui?

- Ah é, bonitinho o seu amigo. Ele estuda na sua escola?

- Na verdade não. Ele e a família estão vendo pra se mudar pro apê aí do lado.

- Que legal então! Você vai ter um amigo no prédio.

 Essa é a minha tia. Super protetora? Pra que? Deixa a garota bancar a vida loca e ser feliz! Acho até que se de repente eu dissesse que ia passar a noite fora ela só ia dizer “divirta-se”. Mas deixa isso pra lá. Fiquei observando enquanto ela cortava um pedaço de bolo de chocolate que estava na geladeira e mordia colocando a outra mão embaixo pra não cair fagulhas.

- Minha mãe telefonou hoje mais cedo... – Ela parou com a boca aberta pra outra mordida e ficou olhando pra mim – Você ligou pra ela ontem?

 Tia Fabi baixou a mão e se endireitou ficando séria:

- Fiquei preocupada com você.

- Mas o que ELA tem haver com isso?

- ELA é sua mãe, Hallyane. Tem o direito de saber o que acontece com a filha dela.

 Virei o rosto para o outro lado.

- Minha mãe não se importa com isso.

- Claro que se importa! Você é tudo pra sua mãe.

- Então por que ela não buscou noticias minhas desde que me mudei para Ville Kiss?

 Minha madrinha não respondeu, não havia o que ser respondido. Nós já tivemos essa conversa várias vezes e sempre paramos no mesmo ponto, parece até uma peça ensaiada.

- Não se atreveu a ligar pro meu pai, né? – Olhei pra tia Fabi que só negou com a cabeça – Ótimo, é melhor assim.

 Subi para o segundo andar e fui tomar um banho, sentia minha cabeça pesada, tinha muitas coisas dentro dela. Quando voltei para o quarto, encontrei minha madrinha sentada na minha cama com um porta retrato nas mãos. Nem precisei olhar para saber do que se tratava, só não sei como ela achou essa foto que eu tinha escondido no fundo do armário atrás das caixas de sapato. É de quando eu ainda era bem pequena, estou com meus pais na mesa e nós estamos felizes... Mas isso faz muito tempo!

- O que está fazendo? – Perguntei.

- Só pensando – Respondeu minha tia enxugando os olhos com a mão e depois secando-a no short jeans (ela já tinha trocado de roupa, é a até estranho não vê-la como fada).

- Pensando no que? – Sentei-me ao seu lado.

- Se foi a coisa certa te trazer pra cá. As vezes acho que estou roubando o lugar deles.

- Pois não pense isso! – A abracei bem forte – Ficar aqui com você É a coisa certa. Fui eu quem pediu isso pro juiz e se ele não pensasse do mesmo jeito não tinha te dado a minha guarda. Meus pais também estão bem, estão seguindo suas vidas como sempre quiseram. – Afastei-me pra olhar seus olhos – Não fica assim. Eu preciso da minha fada madrinha!


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