Sentimentos, Sons E Imagens escrita por Mayumi Sato, Labi, matthewillians, Kuroyama_Izumi, Brownie, Meiko, kaori-senpai, Blue Dammerung, Alface


Capítulo 3
It's Oh So Quiet - por: Labi


Notas iniciais do capítulo

"Já lhe começavam a faltar ideias para desculpas de formas como evitar Alfred. Ele até que era simpático mas falava pelos cotovelos e fazia imenso barulho. Mas de facto, andava a passar demasiado tempo com ele e as pessoas do reino depressa usaram isso como fonte de mexericos. Doidas como eram pela sua monarquia, não demorou para que começassem a fazer apostas sobre se aqueles dois tinham algum tipo de relacionamento ou não."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/281104/chapter/3

http://www.youtube.com/watch?v=MNdFYbe1XoM - It's Oh So Quiet(Bjork)

_______________________________________________________

It's Oh So Quiet

Ele estava nas notícias de todos os jornais, nas bocas de todas as pessoas que segredavam nas tavernas, de todos os nobres que usavam roupas coloridas e passavam o domingo no jardim, de todos os padres que viam nele uma salvação do reino, de todas as empregadas que desejavam um novo baile naquele velho lugar, de todas as cozinheiras do palácio que esperavam que isso afastasse certos incómodos da sua cozinha.

Ele estava em todo o lado e Arthur não suportava isso.

“A-Alteza?”, uma voz suave, aparentemente meiga mas que escondia um certo desespero, surgiu atrás do loiro.

“Que foi?”

“Não queria ser rude nem desautorizá-lo mas… Não se incomode e deixe-me terminar o jantar.”

O príncipe olhou pelo ombro, num gesto elegante, bem contrário às suas não-tão-elegantes sobrancelhas que estavam franzidas numa expressão desconfiada, “Por acaso acha-me incapaz de terminar esta refeição?”

A cozinheira do palácio, uma senhora já de meia-idade que servia ali desde a sua adolescência e que conhecia Arthur desde que ele usava fraldas, olhou para… aquela coisa preta e esturricada que tinha na panela que o loiro mexia. Da última vez que verificara, aquela panela tinha arroz.

Apressou-se a forçar um sorriso e abanar as mãos em frente ao corpo, de forma demissiva, “C-Claro que não, majestade! Apenas não quero que se fale por aí que o Príncipe anda pela cozinha a ajudar as empregas.”

Ele sorriu, “Ora essa! Estou apenas a fazer o meu dever como futuro rei! Toda a comida que fizer é para oferecer aos pobres!”

“Coitados…”

“Que disse?”

“C-Congratulados pobres! Têm s-sorte por ter um príncipe tão bondoso.”

O sorriso de Arthur aumentou, “Obrigado pela confiança que deposita em mim- Olhe, acha que está pronto?”

A cozinheira espreitou pelo ombro dele e engoliu em seco, “Acho, alteza.”

Arthur tirou o avental e espreguiçou-se, “Óptimo. Adoro cozinhar para aliviar stress. Enfim, vou terminar os meus afazeres … Até amanhã!”

Todas as empregadas que se encontravam na divisão fizeram uma pequena vénia e murmuraram um ‘até manhã’ e mal ele saiu, uma delas pigarreou, “Foi muito mau?”

“Acho que este tacho vai para o lixo também…Queimado.”

Deram um risinho e retomaram as suas tarefas, aproveitando a ocasião para cochichar as notas mexeriquices, “Parece que o nosso Príncipe anda muito nervoso com certos assuntos.”

“E que belos assuntos, tenho a dizer!”

“Só espero que não venha assaltar mais a cozinha…Quase não tem mais panelas nenhumas.”

“Não digam essas coisas, shhh!”

 #  #  #

Já recolhido no seu quarto, depois do jantar, Arthur tirou o seu bonito casaco para cima de uma cadeira e deixou-se cair na cama, quase como um Cristo, de braços abertos.

Estava super cansado… Os seus pais insistiam em que ele devia casar o mais rapidamente possível com a princesa do reino vizinho por questões diplomáticas mas ele sabia que essa princesa, Jeanne, era loucamente apaixonada por Francis, um conde seu amigo, não, conhecido. Ele não era amigo daquele sapo idiota com cabelo de mulher!

Mas nem era isso o seu problema principal.

Uns meses antes, tinha-lhe acontecido uma daquelas situações que poderia ser considerada uma brincadeira do destino, ou quem sabe, apenas mau-gosto da vida.

Enquanto caminhava tranquilamente pela floresta, procurando as suas amigas fadas, deparou-se com um estranho que falava sozinho.

Não era de todo incomum encontrar loucos por alí – o mundo está cheio de pessoas excêntricas afinal- mas algo no interior de Arthur o impeliu a ir falar com ele. E a primeira impressão que teve daquele estranho era que ele era irritante, excessivamente egocêntrico, barulhento e que tinha uns belos olhos azuis.

Dito ‘estranho’ revelou-lhe que estava perdido e perguntou se estava no Reino Germano. Quando Arthur lhe disse que na verdade estava em Albion, o outro de imediato fez a pergunta tabu: Era verdade que o Príncipe de Albion era louco e acreditava em fadas?

Obviamente que Arthur pensou em mil e uma formas de o matar e fazer tudo parecer um acidente, ali na floresta seria fácil esconder um homicídio, mas a atitude do outro deixou-o desprevenido.

‘Eu adoraria conhece-lo! Precisava de alguém que conseguisse entender o meu amigo Tony!’

Fora assim que tudo começara.

O nosso querido loiro de olhos verdes apresentou-se como sendo o príncipe – ‘Então os rumores sobre as sobrancelhas são mesmo verdade?!’-

E então o fado decidiu dar uma daquelas voltas nas quais ata nós nas vidas das pessoas e as prendem por completo ao acaso destinado.

Acontece que Arthur trouxera-o para a capital do reino, onde ficava o seu palácio e só ao ver o rei é que o outro se apresentou, “Prazer, sua majestade. O meu nome é Alfred Jones, filho do rei Jones das Terras de Além-mar e da Liberdade, Reino Unido da América.”

E assim, de um momento para o outro, aquele ‘atraso de vida’ , segundo Arthur, acabou por se instalar no palácio durante o verão. O seu pai, o actual rei de Albion ficara entusiasmadíssimo com as ideologias politicas daquele reino que lhe soava tão exótico. Pelas palavras de Alfred, parecia um lugar onde a liberdade e a igualdade, de mãos dadas com a prosperidade, permitiam ao seu povo proliferar e viver em harmonia.

Como aquilo lhe convinha, de imediato escreveu uma carta ao pai de Alfred, propondo uma parceria, uma aliança, entre ambos e avisando que o seu filho estava em segurança em Albion. Não perdeu tempo em ordenar a Arthur que fizesse de tudo para satisfazer as vontades do seu possível aliado.

Era justamente isso que deixa o loirinho em stress. Aquele grande idiota americano pedia demasiado!

Suspirou profundamente e fechou os olhos. Finalmente um pouco de silêncio.

Já lhe começavam a faltar ideias para desculpas de formas como evitar Alfred. Ele até que era simpático mas… falava pelos cotovelos e fazia imenso barulho. Mas de facto, andava a passar demasiado tempo com ele e as pessoas do reino depressa usaram isso como fonte de mexericos. Doidas como eram pela sua monarquia, não demorou para que começassem a fazer apostas sobre se aqueles dois tinham algum tipo de relacionamento ou não.

Era claramente óbvio que isso irritava Arthur, que não queria ter o seu nome associado àquele gorducho chato.

A janela do seu quarto estava meia aberta, apenas com uma persiana, e o seu silêncio, tão querido e amado, foi interrompido por uma pedrinha que lá bateu.

Arthur rolou os olhos e sentou-se na cama, decidido a ignorar quem fosse que fosse que decidira chateá-lo (e ele tinha uma vaga ideia de quem seria).

Passaram-se cinco minutos e ele sorriu triunfante por o seu plano ter dado certo porém estava redondamente enganado.

Com uma pontaria perfeita, uma pedra com quase dois quilos entrou pela parte aberta da janela e foi por pouco que Arthur não foi atingido.

Furioso, e com o coração nas mãos porque se tinha assutado com tanto barulho, ele correu à janela, “QUEM FOI O GRANDE FILHO DA—“

“Olá, Artie~!”

Ah, tinha sido aquele.

“TU QUERES MATAR-ME?”

O de olhos azuis deu uma gargalhada e coçou a nuca, “Desculpa~!”

Sem esperar sequer a resposta de Arthur, péssimo hábito que tinha, sorriu e continuou a falar, “Desce daí! Está uma noite linda!”

“NEM PENSES!”

Para toda a gente, Arthur era a personificação da elegância e boas maneiras. Como tinha crescido no seio de uma família nobre, conhecia todas as regras e fazia as coisas de uma forma tão natural que nada divertia mais Alfred do que tentar quebrar essa tendência.

O que se passou nos minutos seguintes não só quebrou a tendência como quase fez Alfred ter a cara quebrada também.

De um modo que o príncipe não sabia explicar, o outro subiu para a sua janela, entrou, pegou nele ao colo como uma noiva e literalmente foi a correr pelos corredores com a sua vítima.

Arthur berrou, implorou ajuda quase chorou lágrimas de crocodilo mas as empregadas que viram a cena limitaram-se a dar uns risinhos e fizeram de conta que não viram nada.

Até mesmo Alfred parecia ignora-lo. O que era raro. E apesar de toda a revolta, de espernear, tentar fugir, etc… Arthur só foi posto no chão quando chegou aos jardins do Palácio, levemente iluminados pela lua.

Esse jardim era usado para receber os convidados especiais, como reis de outros lugares, pois ele tinha a maior variedade de flores típicas de Albion do que qualquer outro jardim. Arthur adorava lá estar e talvez por isso tivesse acalmado, ainda que a resmungar com Alfred sobre pessoas idiotas que raptam outras durante a noite.

“Shhh…”

“…Como?”, o príncipe cruzou os braços indignado com tanta falta de descaramento.

“Shhh, ouve…”

Arthur pestanejou e calou-se, tentando notar alguma coisa diferente. Só ouvia grilos e uma ou outra coruja, coisas perfeitamente normais aquela hora da noite. Observou Alfred sentar-se encostado no tronco de uma árvore e seguiu-o ficando ao seu lado.

“Ouvir o quê?”

“Está tudo tão silencioso…”, o mais novo murmurou num tom nostálgico, tão diferente do seu habitual explosivo, que a pele de Arthur se arrepiou. Ele tinha uma voz bonita…
Deu um pequeno salto quando se assustou ao perceber que ele se tinha encostado no seu ombro.
´

“Tens frio, Arthur?”

“Não…”

Apesar da resposta negativa, Alfred tirou a sua capa vermelha e usou-a para cobrir ambos como um pequeno casulo.

Desta vez Arthur não reclamou nem disse mais nada. Estava corado e o coração batia rápido no peito. Estar junto a Alfred era quentinho e aconchegado e quando deu por si já estavam ambos a bocejar e com preguiça de se levantar. Então ficaram a ver as estrelas.

Ficaram assim durante muito tempo. Tempo suficiente para que o silêncio fosse aproveitado ao seu máximo e a calma da noite se instalasse de vez. De estar muito tempo na mesma posição, as costas de Arthur doíam...

"Alfred?"

"..."

Afastou-se um pouco e sorriu ternamente ao ver o loiro dormir calmamente encostado ao seu ombro.

Abanou com a cabeça -ainda com o sorriso estampado na cara- e com a maior perícia que tinha, arrastou-se um pouco para baixo, ficando meio deitado, e trouxe Alfred para o seu colo, deixando-o encostado no seu peito.

Fechou os olhos para tentar dormir…

A respiração calma de Alfred, que agora se tinha enrolado no seu peito, era confortante e dava-lhe borboletas no estômago...

"Boa noite, idiota..."  sussurrou, afagando os cabelos loiros e macios até se acabar por cansar e adormecer.

# # #

Na manhã seguinte, Alfred acordou com um feixe de luz que entrava por entre a folhagem da árvore e lhe batia em cheio no meio da cara. Grunhiu levemente e com um braço tapou os olhos. Tinha dormido tão bem... Tudo graças a-

Abriu os olhos em choque e percebeu que estava deitado em cima de Arthur. Sentiu a sua cara ficar muito quente e tentou levantar-se. Porém ao faze-lo sentiu resistência por parte do braço que tinha enlaçado nas suas costas.

"Ugh..."

"A-A-Arthur?"

O inglês franziu as sobrancelhas e abriu os olhos lentamente, adaptando-se á luz. E a primeira coisa que viu foi Alfred, todo vermelho e com uma expressão de pura confusão.

"A-Alfred?" , sentiu a sua cara ficar também vermelha. Não era suposto ser o último a acordar!

O seu nervosismo foi diminuindo quando o mais novo bocejou e esfregou a nuca, despenteando os seus cabelos, “B-Bom dia! Parece que adormeci…”

“É… Eu reparei…”, suspirou, “Por que raio viemos para aqui?”

Alfred levantou-se, logo sendo imitado pelo baixinho, e pigarreou, “E-Eu só…Só queria… Oh, tu sabes. Queria ficar contigo mais um bocadinho…”

“Como é isso?”

“Eu…”, respirou fundo, “Eu tenho de ir embora hoje.”

A desolação que Arthur sentiu deixou o próprio surpreendido. Que diferença lhe fazia?

“Por que não me disseste antes?”

“Ah… Eu não queria que fosse uma despedida triste.” , Alfred murmurou e deu um passo em frente para se aproximar dele. Até mesmo ele, que geralmente não sabia analisar a situação, conseguia sentir o desapontamento do príncipe. 
Alfred nem queria ir embora só que a vida política era mais importante que a pessoal tendo em conta que também ele era um príncipe noutro reino.
Mesmo Arthur tendo tentado se afastar, o mais novo encostou-o ao tronco e suspirou, “E se eu disser que não quero ir embora? Só queria perlongar o tempo contigo cá…”

Arthur desviou levemente o rosto, “É sinal que és idiota.”

Quando voltou a olhar para a frente, Alfred já se tinha afastado um pouco e ele receou que o outro se fosse embora assim. No entanto, o loiro apanhou qualquer coisa do chão e aproximou-se outra vez, “Se calhar tens razão.”
Esticou a sua mão e ofereceu-lhe uma flor pequena e delicada.

Arthur corou ligeiramente e sorriu um pouco, inevitavelmente, e pegou na florzinha, “O-Obrigado?”

Um sorriso aberto e gigante surgiu nas feições de Alfred, “De nada~!” 
Ele achava o príncipe adorável quando ficava assim corado com gestos simples. Não dando tempo para o baixinho dizer mais alguma coisa, segurou-lhe delicadamente no queixo e roubou-lhe um beijo.

Foi algo rápido e simples, por mais que ele quisesse aprofundar a caricia, no fundo, ele queria poder estar com ele durante mais tempo mas infelizmente não poderia naquele momento. Nada que não impedisse de estar noutra altura.

Quando apartou do beijo percebeu que o príncipe pestanejava confuso mas, ao contrário do que esperava, não estava furioso ou irritado. Isso era um óptimo sinal.

Fez uma pequena vénia e sorriu, “Alteza, eu tenho de regressar.”, pegou na sua capa que ainda estava no chão e sacudiu-a para poder vestir depois, “Mas eu prometo que volto. Palavra de Herói!”, Procurou por algo no bolso das calças e entregou-lhe um papel, “Tens aqui a minha morada. Quero pelo menos duas cartas por semana!”

Arthur ainda abriu a boca para resmungar mas o mais novo já caminhava para a porta de saída a rir alto e a sorrir como um idiota. O príncipe ficou especado junto à árvore, ainda segurando a flor e chamou, “Alfred!”

O outro olhou para trás e piscou-lhe o olho, colocando um dedo em frente aos lábios, “Shhh.”

Assim que ele se foi, o jardim ficou outra vez silencioso.
O príncipe permitiu-se sorrir, escondendo esse mesmo sorriso ao cheirar a pequena flor.

Talvez, só talvez, houvesse ali a esperança de um final feliz para si.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Palavras da organizadora:
Olá, senhoras e senhores! Dessa vez, nós temos aqui um adorável e bastante divertido fluffy da senhorita Labi! Nessa one-shot, nós observamos algumas cenas da encantadora evolução do relacionamento de dois príncipes em um cenário de fantasia! É realmente uma estória muito feliz e muito fofa! Eu estou bastante contente em tê-la nessa coletânea.
Além das referências a escolha da música através das próprias falas do personagem - "Shhh", "Está tudo tão silencioso" - também podemos relacioná-las ao vermos que essa animação agitada alternada com momentos suaves também está presente na própria estória. Não deixem de conferi-la!
Novamente, muito obrigada por continuarem a ler, acompanhar e comentar essa coletânea! Eu espero que vocês continuem a fazer isso, pois os autores realmente merecem incentivo e elogios!
Bai, bai!:3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sentimentos, Sons E Imagens" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.