Sentimentos, Sons E Imagens escrita por Mayumi Sato, Labi, matthewillians, Kuroyama_Izumi, Brownie, Meiko, kaori-senpai, Blue Dammerung, Alface


Capítulo 2
What are you doing New Year's Eve?- por: Kuroyama


Notas iniciais do capítulo

"Involuntariamente, Alfred fez um bico. Suspirou profundamente e checou os arredores, antes de pedir licença e se dirigir à cozinha. O sujeito à mesa pareceu bastante confuso com esse comportamento. No entanto, ele teve pouco tempo para refletir a respeito e voltar a comer, porque o garçom saiu da cozinha e veio diretamente à sua mesa. Tinha em mãos uma bandeja que continha um suco de caixa e um prato de massa muito bem servido. Cumprimentou o cliente com um sorriso inocente e sentou-se à sua frente."



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"Alfred, estudante universitário que trabalhava meio período como garçom, tinha seus próprios planos para o ano novo. Até conhecer Arthur."

http://www.youtube.com/watch?v=LQfZTPKzRZ0What are you doing New Year's Eve?(Ella Fitzgerald)

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What are you doing New Year's Eve?

O ambiente bem decorado e caracterizado por um estilo retrógrado do país nos anos sessenta estava movimentado, repleto de pessoas de todos os tipos, das mais variadas laias. O jovem universitário Alfred F. Jones suspirou, resignado de antemão. Era uma pequena tragédia que tivesse que trabalhar na véspera de ano novo, mas era uma tragédia maior ainda o fato de o restaurante estar abarrotado de pessoas, entre nativos e turistas, desde a primeira hora de abertura.

– Alfred, pegou o primeiro turno hoje, hein? Parabéns, seu grande sortudo! – Sua colega de trabalho e maître do local, Elizabeta Héderváry, cujo nome era tão complicado de se pronunciar quanto sua própria personalidade, congratulou-o, abordando-o assim que ele entrou na cozinha.

Ao contrário de Alfred, que trabalhava por seis horas, a moça trabalhava um período integral de oito horas completas e, por isso, se considerava como a responsável por todos os outros estudantes universitários que trabalhavam por meio período no restaurante.

– Não vejo nenhuma grande sorte nisso.– Ele deu um muxoxo. – Sorte foi do Toris, que tirou o dia inteiro de folga.

A moça deu de ombros.

– Agradeça por não ter de ficar aqui na hora da virada, que nem eu ou o Gilbert. – Suspirou. – Não pude recusar, eles pagam muito bem e eu preciso do dinheiro.

– Além disso, você vai passar o ano novo com a pessoa amada. – O americano deu um sorriso jocoso após o comentário e precisou desviar de um golpe da moça direcionado à sua pessoa.

– Eu vou te matar se você sugerir isto outra vez! – Ameaçou, ultrajada. No fundo, contudo, a afirmação de Alfred possuía um quê de realismo.

Desde que o rapaz começara a trabalhar no restaurante, percebeu que o relacionamento de Gilbert, que também trabalhava como garçom ali, e Elizabeta, era um tanto curioso. Do tipo tapas e beijos, pois havia uma evidente tensão no ar no momento em que os dois se juntavam em um ambiente. Em uma confissão de homem para homem, feita inusitadamente no banheiro masculino, Gilbert lhe confirmara que era apaixonado pela moça desde o ensino médio, uma vez que haviam estudado juntos. No entanto, morria de medo de confessar seu amor a ela, temendo a rejeição, e isso já fazia quase um ano.

Alfred nutria uma leve esperança de que o espírito do ano novo trouxesse um pouquinho de coragem ao colega.

– É, mas eu nem sei se vai fazer tanta diferença. – Disse, olhando de relance para o relógio. – Combinei de me encontrar com Matthew às seis da tarde na Times Square, e seis da tarde é a hora que termina o meu turno mesmo.

Elizabeta sorriu ternamente.

– Vai passar o ano novo com seu irmão de novo?

O rapaz assentiu em retorno.

– Não é como se eu tivesse muita escolha mesmo.

E não tinha mesmo, porque seu irmão era a única pessoa um pouquinho disponível para compartilhar algumas horas com ele. Todos os seus amigos haviam viajado ou combinado de passar a virada do ano com suas almas gêmeas ou famílias. E desde que Alfred tinha de trabalhar, ele não poderia viajar para passar o ano novo com a sua família, que vivia do outro lado do país. Por sorte, tinha o seu irmão habitando a mesmíssima cidade, o que tornava as coisas um pouco menos solitárias.

Com a sua aparência, era uma verdadeira surpresa que não tivesse uma namorada. Era um sujeito alto e atlético, de cabelos loiros, olhos claros e rosto perfeitamente simétrico, sendo conhecido por ter entrado na universidade contando com o favorecimento de uma bolsa de esportes. Mas não se compunha apenas de beleza física: era um gênio das ciências exatas, razão pela qual escolhera a área de computação. Por tudo isso, era difícil compreender, à primeira vista, a razão de um bom partido como Alfred estar desacompanhado em uma noite tão importante.

Mas a razão era simples.

Alfred, embora não assumisse publicamente, gostava de garotos. Contraditoriamente, era tímido para chegar naqueles que o interessava, a despeito de sua personalidade tradicionalmente efusiva. Além disso, eram poucos os que, de fato, lhe interessavam.

– Vocês vão ficar aí conversando, ou vão voltar ao trabalho? – Feliks, universitário de descendência polonesa e colega de trabalho e de universidade de Alfred, chamou a atenção. – Lizzie, tem um monte de gente reclamando da demora na fila, vê se acelera a situação aí, porque ‘tá tensa a situação, olha.

– Já vou, já vou. – Choramingou a moça, cansada de atender um mundo interminável de pessoas felizes e festivas. – Boa sorte, Alfred, mais tarde a gente conversa. – Disse, antes de retornar ao trabalho.

O americano também precisava voltar ao serviço, tendo esquecido completamente de fazer o pedido da mesa de número doze.

Voltou ao salão para atender um cliente que havia acabado de se sentar à mesa treze. De longe, Alfred percebeu que tinha um aspecto aborrecido, enquanto contemplava, através da janela do segundo andar do estabelecimento, a movimentação da rua lá fora. No mundo de famílias e amigos reunidos, ele estava, aparentemente, sozinho.

– Você gostaria de dar uma olhada no cardápio, senhor? – Ele perguntou, da forma educada que sempre fazia. O homem, que parecia perdido em seus próprios pensamentos, sobressaltou-se de leve com a abordagem e encarou o garçom.

A primeira coisa que Alfred pode reparar era em como as sobrancelhas do sujeito eram gigantes. Ocupavam praticamente metade de sua testa, sem exageros. Mas o jovem também percebeu que o cliente possuía olhos muito bonitos, em uma cor verde-esmeralda vivaz que não se deixava ocultar pelas taturanas que ficavam mais acima. Algo em seu aspecto lhe dava um ar tristonho. Não do tipo nostálgico, mas do tipo decepcionado, desmotivado.

Uma coisa que o americano adorava fazer em seu trabalho era exatamente analisar a aparência das pessoas e, por meio disto, tentar decifrar sua personalidade. Era um passatempo bastante útil quando a movimentação era baixa e o tédio reinava soberano no local, mas algo difícil de ser feito em épocas de grande movimentação.

– Oh, sim, por favor. – Respondeu sem muita emoção. Possuía um sotaque britânico muito forte, então provavelmente era um turista. Seu modo de falar também era um pouco afetado e esquisito, mas Alfred pensou que isso talvez se devesse ao fato de ele ser britânico.

Alfred hesitou por um instante. Pretendia perguntar se o rapaz aguardava mais alguém, mas não sabia se o momento era oportuno. Sendo estrangeiro, talvez ele estivesse esperando mesmo e talvez somente quisesse se antecipar à chegada de sua companhia, analisando os itens do cardápio. No fim, desistiu de tal intromissão.

– Aqui está.

– Obrigado.

Alfred sorriu polidamente e, em seguida, se retirou para servir outra mesa.

Havia uma porção de pessoas distintas naquele lugar. Desde pequenas famílias americanas, que provavelmente procediam de algum subúrbio ou interior, até turistas latinos barulhentos e animados, que geralmente vinham em grande número – talvez a excursão inteira ou noventa por cento dela – e que costumavam passar horas sentados, enquanto gritavam, bebiam e comiam. Também havia uma dúzia de casais dos mais diversos tipos, desde os adolescentes até aqueles mais maduros, cujo enlace amoroso superava a mera paixão e cercava-se de uma aura de cumplicidade eterna.

O que Alfred mais gostava de ver era que estavam todos ali com uma mesma finalidade: assistir a virada do ano, enfrentando frio e cansaço, nas ruas de Nova York, maravilhando-se com o espetáculo do réveillon na Times Square, talvez o destino mais cobiçado no mundo inteiro naquela época do ano. Orgulhava-se também de poder dizer que aquela era a sua casa, por mais sem graça e normal que ela pudesse parecer nos dias ordinários.

Quando passou novamente pela mesa treze, perguntou se o cliente estava pronto para pedir. Esperava ouvir um “ainda não”, porque tinha expectativas que o rapaz estivesse, de fato, acompanhado. Mas para a sua surpresa, o homem assentiu e indicou na página três do cardápio o prato que desejava.

– Quais os molhos que acompanham essa massa? – Perguntou.

– Ah. – O garçom ainda estava um pouco desconcertado.– Sugo, bolonhesa, quatro queijos e molho Alfredo.

O homem pareceu pensar por um momento e encarou Alfred bem nos olhos antes de responder.

– Quero no molho Alfredo, por favor.

Alfred pensou que o momento talvez fosse oportuno para uma piada.

– Excelente escolha,senhor! Essa é a nossa especialidade e é o melhor molho da casa. – Ele deu uma piscadela e um sorriso contagiante. – Cá entre nós, acredito que seja porque é quase o meu nome.

O sujeito respondeu com um olhar desinteressado e Alfred nem teve muita certeza se ele prestou atenção em seu comentário.

Desconcertado, indicou que o pedido não demoraria e se retirou.

Mas ficou observando o homem de longe, intrigado com seu comportamento estoico. Depreendia-se de sua aparência, que era uma pessoa elegante, apesar das vestes ultrapassadas e formais demais, provavelmente um homem de negócios bem sucedido, porque seu terno e pasta, além do enorme casaco de cor vinho, impecavelmente dobrado ao seu lado, pareciam ser de marca – E Alfred tinha bons olhos para esse tipo de coisa. Essa teoria, aliás, trazia por terra a presunção de que o sujeito talvez fosse turista: a nova e mirabolante teoria de Alfred era que ele era um acionista da bolsa de valores.

– O que você está fazendo aí, Alfred? – Perguntou um de seus colegas garçons.– Olha só de gente pra ser atendida!

– Uh. Nada. Eu me distraí. – Comentou, voltando ao trabalho.

E, cumprindo a sua palavra, deu atenção para as várias mesas que eram de sua responsabilidade. Socializou com as mocinhas da mesa doze, arrancando risinhos com seu jeito extrovertido e descontraído, inserido em um rostinho mais do que bonito. Ajudou o pessoal da mesa quinze com a foto em grupo, fazendo questão de participar da segunda, apenas de gaiato. Trabalhou sem jamais perder o bom humor, que era a política da casa.

– Está tudo bem por aqui, senhor? – Perguntou ao sujeito sentado à mesa treze, um pouco depois de servir-lhe a comida.

O homem acenou que sim com a cabeça, sem despregar os olhos da comida. Foi quando o garçom decidiu fazer a pergunta crucial.

– O senhor está esperando alguém? Posso verificar se a pessoa está na fila lá fora.

Em retorno, recebeu um olhar surpreso que, por um minuto, parecia ter um efêmero, mas evidente, brilho de tristeza.

– Não. – Respondeu em tom educado, mas um pouco amargo. – É muito gentil da sua parte, mas não estou esperando ninguém.

Involuntariamente, Alfred fez um bico. Suspirou profundamente e checou os arredores, antes de pedir licença e se dirigir à cozinha. O sujeito à mesa pareceu bastante confuso com esse comportamento. No entanto, ele teve pouco tempo para refletir a respeito e voltar a comer, porque o garçom saiu da cozinha e veio diretamente à sua mesa. Tinha em mãos uma bandeja que continha um suco de caixa e um prato de massa muito bem servido. Cumprimentou o cliente com um sorriso inocente e sentou-se à sua frente.

– Se você não se incomodar, posso lhe fazer companhia para o almoço. – Explicou, ante o olhar confuso do cliente. – Você parece tristonho aqui, sozinho, e ao menos que queira curtir a solidão, você pode ter alguém para conversar.

O homem tomou muito cuidado antes de formular as suas palavras.

– Você não deveria estar trabalhando? – Apontou para o ambiente. – Se o seu chefe o ver aqui, vai colocá-lo imediatamente na rua.

– Sem problemas. – Muniu-se de seus talheres. – Esse lugar está tão cheio que ele mal vai me perceber aqui. Além disso, é o meu horário de almoço.

O sujeito arqueou as sobrancelhas. Tinha um aspecto desconfiado.

– Mas eu estaria sendo rude se não me apresentasse propriamente depois de invadir a sua mesa com tanta liberdade. Prazer, meu nome é Alfred F. Jones, como você já deve ter visto no meu crachá. Mas você pode me chamar só de Alfred, se preferir. – Ele se inclinou para frente, para confidenciar-lhe que achava uma idiotice de gente antiquada e um formalismo desnecessário o costume de se dirigir às pessoas pelo sobrenome.

O sujeito ajeitou-se, um pouco desconfortável, em sua cadeira.

– Arthur Kirkland. – Respondeu após um pigarro. – O prazer é todo meu.

Era evidente que o tal Arthur estava incomodado com a situação, mas era um incômodo que não se sabia ao certo se era positivo ou negativo. Tão logo terminou a sua apresentação, voltou a prestar atenção em sua comida, mas, dessa vez, de uma maneira um pouco mais desinteressada. Um silêncio esquisito e preenchido pelo tilintar dos pratos e talheres das mesas vizinhas, se abateu sobre a mesa de número treze.

Depois de provar um pouco da sua própria refeição, o jovem garçom voltou a indagar.

– Então, Arthur, o que o traz à Nova York? Você não é daqui, é?

Recebeu uma negativa com a cabeça em resposta.

– Atualmente vivo em Londres, mas pretendo me mudar em breve. Vou ser transferido para o escritório americano.– Acrescentou, casualmente.

– Transferido, é? – Perguntou com a boca cheia o rapaz. – Você trabalha com o quê?

Ante aquela pergunta, Arthur tornou a se ajeitar na cadeira, aparentando estar incomodado com a própria resposta.

– Trabalho como CEO em um banco britânico. – Explicou com um tom mais causal e desinteressado, tentando amenizar a importância de seu cargo, mas falhando miseravelmente. Alfred correspondeu à revelação com olhos levemente arregalados. Seu garfo parou na metade do caminho entre o prato e sua boca.

– Eu sei que vocês, americanos, não estão nos melhores termos com os seus bancos, mas a política dos bancos britânicos não é tão escrachada quanto à de vocês, então você não precisa me olhar assim. Sou totalmente contrário e repudio a prática de atribuições de bônus desnecessários e multimilionários. – Arguiu em sua defesa.

Alfred levantou as mãos, tentando consertar os efeitos de sua reação surpresa.

– Não, não, você me entendeu errado. Eu não pretendi ofendê-lo ou sugerir algo assim. É só que... É um pouco esquisito ver uma pessoa com um cargo tão alto como o seu em um local como esse. – Comentou. – Quero dizer. Olhe à sua volta: nosso público é majoritariamente composto por turistas nacionais e estrangeiros e alguns moradores dos subúrbios que vem para o centro em dias como esse. É meio que uma honra receber alguém como você aqui.

Em retorno, Alfred recebeu um sorriso amargo.

– Releve o meu cargo, por favor. Não é algo para se orgulhar.

– Por que não? – Perguntou de modo ingênuo.

– Não é algo que traga um benefício direto para a sociedade. Ao contrário do que você deve fazer.

Alfred deu um riso sonoro.

– Você está brincando? Eu sou apenas um estudante universitário que trabalha meio período como garçom. – Sorriu de modo travesso e enigmático. – Eu talvez o beneficie funcionando como uma ponte entre você e o seu almoço, mas eu dificilmente iria contribuir para o financiamento dos meus estudos se não houvesse bancos por aí e pessoas por trás deles fazendo o serviço para aumentar seus lucros e, assim, a oferta de crédito no mercado.

Arthur sorriu em retorno.

– Você é uma pessoa bastante esclarecida para a sua condição, Alfred. Peço desculpas, porque acho que me enganei quanto ao seu julgamento. Mas espero que você perceba que, hoje, sou apenas uma pessoa como qualquer outra.

Eles continuaram a sorrir um para o outro, de um modo meio cúmplice, até decidirem voltar a comer, em silêncio.

Quando Alfred terminou sua refeição, agradeceu a paciência e gentileza de Arthur por acolhê-lo em sua mesa, informando-o que deveria retornar ao trabalho imediatamente e que, assim que desejasse, poderia trazer o cardápio de sobremesas ou, alternativamente, a conta. Arthur sorriu em retorno e respondeu que pensaria um pouco antes de decidir, deixando o garçom livre para fazer o resto de seu serviço.

A realidade foi que Arthur ficou sentado na mesa treze, contemplando a vista através da janela, por quase duas horas, até finalmente decidir pedir a conta. Despediu-se de Alfred, que lhe desejou um feliz ano novo e sucesso na carreira.

Não muito mais tarde, o expediente do jovem garçom se encerrou e ele se despediu de todos os seus colegas de trabalho, especialmente daqueles mais próximos, desejando-lhes um feliz e próspero ano novo. Trocou o seu uniforme pelo agasalho e, ciente de que começara a nevar, pôs o gorro branco com estrelinhas, o símbolo favorito de Alfred, que fora tricotado por sua mãe, na cabeça.

Despediu-se dos demais funcionários que não trabalhavam na cozinha ou no serviço direto das mesas e saiu do estabelecimento, sendo surpreendido por Arthur, que estava de pé na calçada, apoiado em um poste, folheando um livro turístico de Nova York que tinha em mãos.

– Arthur! – Exclamou, demonstrando surpresa e contentamento ao ver o novo colega. O aludido acenou com a cabeça, e ambos se aproximaram mutuamente, tomando cuidado para se desviarem dos transeuntes.– Por que você ainda está por aqui? Está perdido?

O inglês negou com a cabeça.

– Estou esperando a hora dos fogos.– Respondeu e deu uma rápida consultada em seu relógio. – Acredito que ainda vá demorar, mas fui informado que o melhor a fazer é chegar cedo e guardar lugar.

Alfred deu um sorriso simpático e compreensivo e começou a andar, indicando para Arthur que o acompanhasse.

– Eu estou indo encontrar o meu irmão. Combinamos de ver os fogos de artifício juntos aqui na Times Square.– Explicou. – Se... Se você estiver sozinho, pode assistir conosco.

Arthur pareceu verdadeiramente lisonjeado com o convite, muito embora não tenha expressado sua gratidão como deveria.

– Pode ser. – Respondeu. – Onde vocês combinaram de se encontrar?

Alfred analisou o ambiente, como se buscasse uma resposta à pergunta que lhe fora feita.

– Tínhamos combinado em frente à Apple Store.

Arthur assentiu e pôs as mãos nos bolsos.

– Normalmente vocês dois passam o ano novo juntos?

– Não. Normalmente viajamos para a casa de nossos pais. – Explicou. – Matthew é filho do segundo casamento do papai, e a mãe dele é como se fosse a minha falecida mãe.

– Oh. Sinto muito.

– Tudo bem. – Alfred sorriu. – Esse ano, contudo, não conseguimos dispensa de nossos trabalhos para viajarmos. Então seremos eu, ele e o... Amigo dele. – Hesitou, antes de complementar.

Arthur levou a mão aos lábios e deu um sorrisinho, respondendo com a voz duas vezes mais afetada do que a que Alfred se habituou a ouvir na uma hora que tiveram de conversa no restaurante:

– Está tudo bem se você me disser que esse sujeito é mais do que um amigo. Eu não tenho preconceitos.

Recebeu, em retorno, um olhar desconcertado de Alfred.

– Estou errado? –Perguntou Arthur, diante da reação do rapaz. Ele negou com a cabeça, um tanto hesitante.

– Não. De fato, é o namorado do meu irmão. É só que...

Arthur sorriu.

– Que?

– Você pareceu realmente muito gay agora. Muito mais do que lá no restaurante. – Atestou com uma sinceridade impactante.

O inglês rolou os olhos, corando de leve.

– Bom. Surpresa. – Respondeu, quase grunhindo, sentindo-se intimidado com toda aquela sinceridade e, ao mesmo tempo, ingenuidade. Pensou que talvez, insinuando-se, o rapaz não precisasse de maiores confirmações. Mas aparentemente o garoto era denso e seu plano não funcionou muito bem.

Alfred parecia genuinamente surpreso. Havia percebido a peculiaridade no modo de agir de Arthur, mas em sua tentativa de chamar a sua atenção, frustrado com o brilho triste e o jeitão solitário do cliente, não percebeu que compartilhavam sexualidades semelhantes.

– Então você é realmente gay? – Perguntou, só para confirmar.

– Achei que tivesse ficado óbvio. Todos dizem que eu não consigo disfarçar, porque minha voz é esquisita e meus gestos são afetados.

– Bom, de fato.

– Você, colega, por outro lado, é um pouco mais difícil de decifrar. Custei a perceber para qual lado você pendia, até vir sentar na minha mesa.

– Huh? Por que o fato de eu ter sentado na sua mesa denota minha sexualidade? – Perguntou, parcialmente intrigado e em parte ultrajado com a afirmação.

– Havia uma moça muito bonita sentada na mesa bem na minha frente. Você estava atendendo ela e ela também estava sozinha. Mas você resolveu que sentaria para almoçar comigo, o inglês sem graça e depressivo da mesa treze, deixando de lado a bela moça da mesa defronte. Curioso, não? – Sorriu-lhe de um jeito jocoso, de modo a atribuir veracidade incontroversa aos fatos que alegava.

Alfred enrubesceu diante da obviedade de seu comportamento e não negou, nem ratificou a acusação de seu recém-conhecido.

Seguiu-se um silêncio esquisito entre eles. Agora que haviam se percebido mutuamente, compartilhando dos mesmos interesses sexuais e, muito provavelmente, desimpedidos de relacionamentos, sentiram uma esquisita vontade de gastar sua libido um com o outro, embora tal vontade jamais viesse a ser traduzida em palavras.

Pararam em frente à Apple Store por volta das seis e quarenta da tarde, quando o céu já estava inteiramente escuro e as pessoas começavam a chegar e lotar a Times Square.

– Eles estão aqui?

Alfred negou com a cabeça, sondando o ambiente à sua volta.

– Nenhum sinal. Vamos esperar um pouco mais, talvez estejam atrasados por causa do trânsito. O namorado do meu irmão trabalha em Jersey.

Arthur arqueou as sobrancelhas, ligeiramente interessado.

– E ele trabalha com o quê?

– É cozinheiro.

Arthur assentiu, não mais fazendo perguntas a respeito.

Mas ambos experimentaram uma longa e prazerosa conversa enquanto aguardavam por sinais do irmão de Alfred. Nas duas horas que ficaram ali, parados em frente à loja dos eletrônicos mais populares do mundo, submetidos aos malefícios e torturas do frio cortante e dos parcos flocos de neve que caíam do céu, falaram dos mais variados assuntos. Desde política, ciência e cultura até previsão do tempo, roupa de um ou outro pedestre e suas experiências amorosas mais comicamente fracassadas. Por se divertirem tanto um na presença do outro, custou a perceberem que o tempo para que o irmão de Alfred desse as caras havia sido ridiculamente extrapolado.

– Acredito que seu irmão esteja atrasado.

Alfred soltou um muxoxo e pegou seu celular no bolso. Antes que pudesse pensar em buscar o número do irmão, descobriu que sua bateria o abandonara.

– Ótimo! Estou sem bateria.

– Você quer o meu celular emprestado?

– Não tem problema?

– Claro que não. – O inglês deu de ombros. – Pode usar. – Disse, entregando-lhe o aparelho, de última geração.

As tentativas de fazer contato com Matthew por meio do celular de Arthur também não foram bem sucedidas. Isto porque o telefone do irmão parecia estar fora de área, tal como o seu.

– Não é possível que ele também tenha se esquecido de colocá-lo para carregar! – Suspirou, indignado.

Arthur riu e comentou:

– Ele tem o mesmo direito que você tem.

– Não é justo! Se ele se perder, ao menos tem o namorado. Se não fosse por você, eu provavelmente estaria sozinho aqui, congelando.

– Fico contente em saber que minha companhia é útil. – Vangloriou-se o inglês. – Que tal entrarmos na loja e observarmos de lá de dentro? Minhas mãos estão congelando debaixo dessas luvas.

– Ok. Aproveito e tento mandar um e-mail para o meu irmão, para o caso de ele ver.

Obviamente, o e-mail de Alfred não encontrou resposta no tempo em que permaneceram no interior do estabelecimento. Às dez da noite, os funcionários solicitaram para que as poucas pessoas que ali se abrigavam saíssem, pois a loja iria fechar, assim como todas as do quarteirão. A verdade era que a maior parte do público já havia se acomodado em algum canto da rua, a despeito do frio terrível, apenas no afã de guardar o melhor lugar ou aquele mais próximo do palco onde aconteceriam os principais shows da noite.

Houve uma mudança considerável de perspectiva da Times Square após Arthur e Alfred saírem de seu abrigo. Distintamente de mais cedo, quase já não havia como se movimentar pelas ruas sem que se tropeçasse ou colidisse com as pessoas. As iluminações agora pareciam mais intensas e vivas, enquanto que se podia perceber diversas mensagens de paz, prosperidade, felicidade e afins circulando pelos outdoors eletrônicos da avenida. Havia um clima de felicidade e empolgação no ar que nem o frio severo era capaz de afastar. Estranhos se cumprimentavam nas ruas, quer fossem eles turistas japoneses, quer turistas mexicanos. Pessoas de várias partes do mundo conviviam juntas no mesmo espaço, sem conflitos e diferenças, mesmo que por apenas algumas horas.

– O que fazemos agora? – Perguntou o inglês, encolhendo-se de frio.

Alfred encarou o próprio celular com um ar de derrota, indagando-se internamente se haveria alguma chance de encontrar o irmão naquele mar de gente.

– Nós podemos nos acomodar por aqui e esperar. – Deu de ombros. Arthur não sabia ao certo se a palavra esperar se referia a esperar que o irmão do jovem aparecesse ou aguardar até a virada do ano.

– Tudo bem por mim. Não é como se tivesse onde se abrigar mesmo. Os lugares abertos estão todos lotados. Nunca vi tanta gente reunida na minha vida.

O americano deu uma risadinha.

– Não é acostumado a multidões?

– Nem um pouco. Prefiro a quietude de um lugar pouco movimentado do que a agitação das pessoas.

– Meu amigo, então eu lamento dizer que você escolheu um péssimo local para passar o ano novo.– Riu. – Você está no destino mais procurado do mundo!

O inglês rolou os olhos.

– Não se gabe só porque o seu país sabe se vender, idiota. – Murmurou.

– O quê?

– Esquece. Não era importante.

Arthur desviou a própria atenção para o público. Sentindo que ainda teria mais duas horas de espera, resolveu sentar-se na calçada e convidou Alfred para fazê-lo também. Com algum custo, conseguiram um espaço meio apertado, que tinha por ponto negativo o fato de as pernas das pessoas sempre esbarrarem em seus ombros ou braços.

Claramente, o inglês tentou relevar o fato e tentou se distrair observando as pessoas à sua volta. A conclusão a que chegou foi que todo mundo parecia estar acompanhado. A maior parte das pessoas estava em grupos enormes de amigos ou familiares, mas havia muitos casais em visível clima de lua de mel.

– Sinto inveja desses casais.– Comentou com Alfred, a fim de puxar assunto. – Quero dizer, olhe para eles. Felizes, esbanjando amor e devoção um ao outro. Mesmo que nem se amem tanto assim, o importante é que estão juntos em um momento do ano tão simbólico como este. Quanta inveja.

Recebeu um olhar curioso de seu interlocutor.

– Então porque você não veio com o seu namorado? – Fez a pergunta que queria perguntar desde o princípio. Estava genuinamente curioso em relação a qual seria a resposta do inglês.

Arthur franziu o cenho.

– Eu viria, se tivesse um. Mas, mesmo que tivesse, duvido que pudesse demonstrar afeto de forma tão pública quanto esses pombinhos que cruzam nosso caminho.

A resposta apaziguou a faísca de preocupação que palpitava no peito de Alfred. Àquela altura do campeonato, o rapaz já estava perfeitamente ciente de seu infundado e inconsciente interesse por aquele cliente solitário, misterioso e peculiar que havia escolhido a mesa treze para a sua última refeição do ano. Certamente, contudo, o jovem tratou de ocultar sua satisfação.

O que se seguiu após a inusitada resposta de Arthur foi um silêncio confortável entre ambos, mas não do ambiente. À quantidade de buzinas, apitos e burburinhos da multidão uniu-se ao tom animado do sujeito responsável por incentivar o público até e um pouco após a meia-noite, a partir de quando algumas das bandas mais conhecidas do mundo fariam o serviço.

O sujeito, que logo se identificou como uma importante celebridade de quem Alfred já havia ouvido falar, distraía o público com piadas, histórias, reais ou não, e comentários acerca do réveillon ao redor do mundo (acompanhados de cenas exibidas em telões) as fatigadas almas que, aos milhares, se aglomeravam ao longo de toda a rua.

Aquela animação, de algum modo, confortava Alfred, mas ele não sabia dizer ao certo se surtia o mesmo efeito em seu colega.

Muito tempo depois, Arthur perguntou.

– E você?

– Eu o quê?

– Por que você não veio com um acompanhante além de seu irmão? Se bem recordo, uma vez que ele viria com o próprio namorado, você poderia acabar frustrado por saber que a maior parte da atenção dele seria do sujeito.

– Bom... – O americano coçou a nuca. – Eu não tinha ninguém em mente para convidar para me acompanhar. Digo, meus melhores amigos todos foram passar o ano novo com suas famílias. Meus colegas de trabalho mais próximos também, ou então, aqueles que não foram, vão ficar trabalhando até a virada. E quanto aos potenciais romances? Acho que não. Ao menos ninguém do meu nicho de conhecidos. Até hoje de manhã, eu não tinha ninguém muito promissor em mente.

Arthur ia retorquir quando Alfred tornou a falar.

– Mas! – Sua intervenção foi súbita. – A verdade é que eu vim com um acompanhante. – Ele deu uma piscadela para o inglês. – Só que ele foi meio que improvisado, e eu o conheci não faz muito tempo.

A forte iluminação local permitiu que Alfred pudesse presenciar o exato momento em que o leve tom rosinha de frio das bochechas de Arthur, ficasse mais e mais escuro até beirar o escarlate, contrastando de forma hilária com o rosa da ponta de seu nariz. Arthur obviamente ficou sem palavras e tentou esconder o constrangimento cobrindo metade de seu rosto com o cachecol.

– De nada. – Respondeu, apesar de não ter razão para tanto. – Considere-se o meu último encontro do ano.

– Eu não me lembro de haver concordado em isso ser um encontro. – Respondeu, com a voz abafada pelo tecido. No entanto, embaixo do amontoado de pano, não pode conter um pequeno sorriso. Menos mal que Alfred não podia ver.

O americano deu de ombros, sorrindo. Então, de súbito, levantou-se em um pulo.

– Aonde você vai? – Perguntou o inglês, antes de perceber a mão dele estendida em sua direção.

– São onze e quinze. Faltam apenas quarenta e cinco minutos. Vamos para o meio da rua. Para a multidão!

– O quê? Você é idiota? Eu não te disse que detesto multidões? Já viu o mundo de gente que tem aí?

– Você aparentemente odeia o seu trabalho, mas isso não o impede de continuar trabalhando. – Rebateu o americano. – Vamos! Esse frio está insuportável e fica muito mais quentinho quando tem mais pessoas em volta.

Arthur suspirou em resposta e aceitou o convite de seu acompanhante.

Alfred, contudo, não largou a mão do inglês quando este se levantou. Continuou segurando-a, enquanto o conduzia por entre milhares de pessoas, até mais ou menos o centro da rua, na mesma direção da loja em que haviam se abrigado. De sua nova localização, puderam ter uma melhor vista dos outdoors centrais, muito embora a quantidade de pessoas à sua frente tornasse a visão do primeiro palco algo impossível.

– Você tinha razão quanto ao quentinho. – Reconheceu.

– Eu disse.

– Então você já desistiu mesmo de encontrar o seu irmão?

– Ele está bem. Está com o namorado. Além disso, não é como se eu pudesse fazer mais alguma coisa. Se eu ficar me preocupando com isso e passar a virada pensando em encontrá-lo, provavelmente vou passar o ano inteiro com a cabeça cheia de preocupações.

– O que é isso? Você é supersticioso por acaso?

– Nunca é demais prevenir.

Arthur rolou os olhos, deixando o assunto morrer ali.

Quando o contador automático, localizado no outdoor mais alto à sua frente, contou meia hora para a meia noite, o clima em volta dos homens começou a se agitar. O narrador do evento incitava o público a gritar, apitar, dançar... Divertir-se. Havia música no ambiente, músicas de ícones pop ecanções tradicionais de ano novo. Ouviram também o clássico de Frank Sinatra, em homenagem à cidade. Depois dessa, até o inglês sentiu vontade de dançar, motivado por toda aquela animação. Percebeu que estava sorrindo, contagiado pelas outras pessoas. Percebeu, também, que a mão de Alfred ainda segurava firmemente a sua e que ele se movia de um lado para o outro, acompanhando o ritmo da música. Tinha no rosto um sorriso animado e olhava para frente.

Faltavam menos de dez minutos para a virada do ano quando começou a tocar um jazz clássico da data festiva. Quem cantava não era ninguém menos do que uma importante cantora do gênero. Alfred a conhecia bem e Arthur, a despeito de não ser muito familiar com o estilo musical, também.

O americano pensou que talvez não fosse má ideia acompanhar o embalo da canção. Tomou Arthur pelas mãos e com ele começou a dançar. Juntinho.

– O que você está fazendo? – Perguntou, tentando acompanhar os passos do outro com dificuldade.

– É um desperdício não dançar uma música como essa, não acha? – Sorriu.

– As pessoas estão olhando.– Sibilou o inglês, sendo prontamente ignorado por seu teimoso acompanhante que, além de tudo, começou a cantar com a música.

Maybe it’s much too early in the game. Ooh, but I thought I'd ask you just the same. What are you doing New Year's…New Year's Eve?

– Você está brincando com a minha cara? – Perguntou baixinho, visivelmente constrangido. – Pare de cantar.

Sua revolta apenas fez com que seu parceiro de dança continuasse, tentando imitar o tom de voz da cantora.

Wonder whose arms will hold you good and tight when it's exactly twelve o'clock that night welcoming in the New Year… New Year's Eve.

– Ok. Pare. Você canta mal, muito mal! – Seu constrangimento deu lugar a tentativas falhas de conter o riso. Alfred se aproximou de seu parceiro de dança, passando a cantar de modo sussurrado em seu ouvido.

Maybe I'm crazy to suppose I'd ever be the one you chose out of a thousand invitations you received

Uma parte do cérebro de Arthur questionava-se se Alfred somente acompanhava a cantora, ou pretendia repassar alguma mensagem extra. O lado pessimista negava a hipótese, atribuindo ao seu ingênuo e desmedido romantismo. O lado otimista abraçava completamente a ideia.

Vendo-se em conflito, escondeu o rosto no peito do outro, sentindo o calor do corpo alheio emanar para seu que ardia não se sabia de quê.

Ooh, but in case I stand one little chance here comes the jackpot question in advance: What are you doing New Year's… New Year's Eve? –Alfred quase murmurou a última parte.

O público aplaudiu vigorosamente a artista, enquanto Arthur e Alfred mergulharam em um silêncio que continha um sentimento esquisito, desconhecido, porém mútuo. Aquele momento foi algo especial e isso era sabido pelos dois homens.

Antes que qualquer um dos dois pudesse se manifestar, o apresentador do show que antecedia a virada urrou a informação que faltavam apenas cinco minutos para a meia noite, levando o público a loucura. Apesar de compartilharem da excitação geral, a origem desta, para Arthur e Alfred, era bem outra que não o anúncio feito.

Trocaram olhares significativos. Arthur se questionava o que fora tudo aquilo, o que realmente significaram aqueles meros minutos de romance, um romance que, aos olhos de um estranho, indicava uma falsa profundidade de laços entre duas pessoas que se conheceram naquela mesma tarde, mas cujos corações palpitantes prenunciavam uma forte atração mútua e talvez bastante repentina.

O zunido das cornetas e o som dos apitos pareciam ecos, distantes de uma percepção auditiva imediata dos rapazes. Parecia que conversavam em silêncio.

As íris verde-esmeralda de Arthur demonstravam preocupação, insegurança e incerteza quanto às atitudes de Alfred. Nem ele próprio estava certo do que fizera, mas sabia que aquele gesto, talvez impensado, talvez inconscientemente premeditado, abrira seus olhos para uma nova e interessante possibilidade.

Aos dois minutos para a meia noite, o público estava eufórico, incontrolável. Mal se ouvia o apresentador falar. As mãos trêmulas de Arthur seguravam as mangas do casaco de Alfred como se a sua vida dependesse disto. Ele ainda esperava respostas às suas perguntas não verbalizadas.

Faltando um minuto para a meia noite, as mãos de Alfred ainda estavam nas costas de Arthur, em um semiabraço, por causa da prévia dança. Isso não o incomodava, tampouco ao inglês.

As principais luzes do quarteirão foram apagadas, permanecendo a claridade dos outdoors e celulares que registravam o momento. E aí, em um coro só, as milhares de almas que ocupavam aquele lugar começaram a fazer a contagem regressiva, começando do dez.

Dez... Nove...

O coração de Alfred acelerou, porque a virada do ano sempre o emocionava. Ele olhou para Arthur, ao seu lado, e a palpitação aumentou.

Oito... Sete... Seis...

Ele apertou o abraço contra Arthur, involuntariamente. Fechou os olhos e pensou em todas as resoluções de ano novo que havia listado em sua cabeça, uma por uma. Em nenhuma delas estava a perspectiva de arrumar alguém que pudesse ser significativamente importante, mesmo que por pouco tempo. Talvez ele a precisasse acrescentar ao rol.

Cinco... Quatro...

Virou-se para Arthur e murmurou um “Muito obrigado”, com o coração aquecido de felicidade. Era uma pena não estar com Matthew naquele momento, mas talvez fosse o destino, ou porcaria parecida, que o tivesse casualmente unido a Arthur naquele momento. Não que Alfred fosse o tipo de pessoa que acreditasse em destino com regularidade, mas uma vez ou outra as coincidências não podiam lhe escapar.

Três...

Arthur parecia adorável com as bochechas e nariz queimados pelo frio e seus olhos brilhando de confusão. Embora adorável não fosse o tipo de elogio exatamente adequado ao CEO de um banco internacional.

– Adivinha? – Perguntou Alfred.

Dois...

– O quê?

Um...

– Agora você é o meu primeiro encontro do ano.– Disse, abrindo um enorme e contagiante sorriso.

Um grito geral de “Feliz ano novo!” foi dado pelo apresentador, ao coro do público. Champanhes foram abertos, milhares e milhares de confetes coloridos caíam, como se fossem neve, sobre a cabeça do público. Um verdadeiro espetáculo pirotécnico iluminou o céu noturno das mais diversas cores. Desconhecidos desejavam felicidades entre si, sem se importarem com o que eram ou o que faziam de suas vidas.

– Feliz ano novo, Alfred. –Arthur desejou, descaradamente corado.

– Feliz ano novo, Arthur. – Respondeu Alfred, inclinando-se um pouco para baixo, para alcançar seus lábios gelados.


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Notas finais do capítulo

Palavras da organizadora:
Mais um acréscimo de uma excelente estória à nossa coletânea, caros leitores!
Essa é uma estória romântica e divertida, construída em um universo alternativo interessante, pela senhorita Kuroyama Izumi! Nós presenciamos, nessa fanfiction, a aproximação e o interesse mútuo de duas pessoas que estão se conhecendo em uma comemoração e a dinâmica entre esses personagens é bastante natural e ao mesmo tempo envolvente!
Como foi dito, a música escolhida possui um papel muito importante! Ela não apenas é um elemento utilizado no próprio enredo, como transmite uma atmosfera de data comemorativa e de um romance suave para a estória! Eu recomendo fortemente que vocês a escutem!
Eu espero que vocês deixem os reviews que a autora tanto merece(sério, reviews são importantes para uma escritora), e que possam continuar a ler, apreciar e comentar essa coletânea. Até logo ~

PS: Eu não sei quanto a vocês, leitores, mas parece que a senhorita Kuroyama Izumi adivinhou meu fraco pela combinação garçom!Alfred e cliente!Arthur!