Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 37
Capitulo 37




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FORTALEZA

Charles e Diana riam e conversavam debaixo dos lençóis. Após altas horas tentando resolver como ficariam, eles acabaram entrando em um acordo. A principio, e para não misturar mais as coisas, deixariam o relacionamento deles às escondidas.

— Mas eu não posso esconder isso do meu tio. – ele dizia enquanto acariciava seus cabelos – Ele precisa saber.

— E eu também não posso esconder da Aline. – ela se virou e o olhou – Mas eles não podem contar a ninguém.

— Sempre foram discretos Diana. – ele alerta.

— Mas acho que seu primo desconfia. – ele a olhou confuso – O Dennis, Charles. Eu não nasci ontem e já percebi como ele olha pra gente tentando desvendar as coisas.

— Todo mundo desconfia, e alguns até tem aquela certeza embutida. – suspirou – Mas nada que não possa ser contornado. Vamos dar tempo ao tempo e depois chamamos meu tio e Aline para conversar. Quando tudo tiver certo com as campanhas, nós assumimos de vez.

— Ok então. – ela se aconchegou mais a seu corpo – Ainda bem que precisamos trabalhar só amanha.

— E isso quer dizer que...? – ele já ria entendendo o que ela queria.

— Que podemos aproveitar mais um pouco não acha?

— Acho sim. – beijou sua testa – Só quero que conversemos direito antes. Não é muito bom ficarmos só no sexo e não pontuarmos nossos problemas.

 - Que nunca foram poucos não é? – ela senta e se cobre um pouco com o lençol – Ok, diga.

— Eu quero que você confie em mim. – pegou sua mão e a beijou – Quero que você veja que eu mudei por você.

— Eu sei que você mudou... – parou para pensar – Como?

— Fiz tudo isso por você Diana. – ele se sentou também – Depois de tudo que aconteceu, eu queria ter você de volta e sabia que só conseguiria se mostrasse ser um homem totalmente diferente... Mais responsável, mais compenetrado e focado na vida.

— E tudo isso por mim? – ela já chorava emocionada – Por que nunca me disse antes?

— Fiquei com medo de você ficar comigo só por pena. Ou sei lá... – bagunçou os cabelos – Foram tantas coisas e emoções ao mesmo tempo...

— Ai Charles. – Diana se jogou em cima dele e lhe distribuiu beijos pelo rosto todo – Não sabe como fico feliz em saber disso.

— Nunca desconfiou? – ele parecia triste por ela não lê-lo da mesma maneira que ele fazia com ela.

— Sim. Desconfiei... – sentou de novo – Mas sinceramente, nunca me achei tão merecedora a esse ponto. Então sempre imaginei que você quisesse mudar por si mesmo e por sua família.

— Acabou sendo também.

— Só que eu preciso mesmo perguntar... – ela se acusava mentalmente por ser fraca – Eu preciso saber...

— Não Diana. – ele riu meio triste – Nunca mais usei. E essa eu juro por Deus. Se quiser até pelos meus pais mortos... – ele chegou perto dela de novo – E não há mal nenhum em você perguntar... – viu que ela tremia – Foram tantos anos separados, que você não conhece meus hábitos. Claro que é possível desconfiar.

— Desculpa. Força do hábito. – colocou seu rosto em seu pescoço e ele a abraçava – Como sentia falta disso aqui.

— Nós tivemos o que? Uns dois ou três remember? Acho que não tem tanto tempo pra sentir falta. – ela o olhou de novo rindo e lhe deu um selinho.

— Estou dizendo que sentia falta dessa nossa conversa fluida, tranquila... Sem briga, mágoa, desilusão. – ele a abraçou mais forte.

— Agora eu que pergunto... Você não teve ninguém depois de mim?

— Não em questão de relacionamento. – se afastaram – Sexo é algo que não é difícil de conseguir. – ele arregalou os olhos – Que foi? Achou mesmo que fiquei tantos anos sem dormir com ninguém?

— E por que toda aquela moral e pose pra falar comigo?

— Se você quiser eu conto os homens que tive em minha cama depois de você. Acho que não completam nem uma mão. – ela riu sem graça – Quando começamos a nos encontrar nos eventos, campanhas e afins, não consegui ter mais nada com nenhum outro homem. E isso tem o que?

— Acho que uns cinco ou seis anos... – ele disse. Contou nos dedos e a olhou de novo – Diana...

— Você sempre vai ser o homem da minha vida, amor. – abriu um sorriso enorme ao ouvir aquela palavra saindo da sua boca – Não tem como ter outro depois de você. – passou as mãos pelo seu rosto, depois os dedos pelos seus lábios – Meu coração é todinho seu.

— Todo, todinho? – a deitou calmamente e subiu em cima dela – Pra sempre?

— Pra sempre. – sorriram e beijaram-se apaixonadamente.

Mal tiveram tempo para se aconchegarem mais na cama, ouviram a campainha do quarto dele. Pararam imediatamente o que estavam fazendo e se assustaram.

— Droga, deve ser o Dennis. – Charles levantou correndo e colocou uma bermuda. Quando olhou, ela já estava enrolada nos lençóis, quase caindo da cama. O que de fato aconteceu.

Charles? Tá ai?— ouviu o primo chamando e não se aguentava de rir. Ela levantou sem graça e revoltada mais com o lençol do que com ele rindo dela e saiu correndo para o banheiro.

— To sim. – tossiu para conter a risada – Só um minuto. – arrumou um roupão e colocou também.

Abriu a porta e Dennis estava todo arrumado e com um sorriso de orelha a orelha. Quando o viu ainda de roupão, seu sorriso sumiu.

— O que você tá fazendo? – estranhou e assim que viu uma marca pequena em seu pescoço, se conteve para não rir ainda mais – Tá com alguém aí é? – saiu entrando no quarto, o que deixou Charles irritado, além de sem graça.

— E você é muito educado pra sair entrando no quarto dos outros assim. – fechou a porta assim que chutou o maiô de Diana para dentro e Dennis não viu.

— Bom, não vou atrapalhar já que está se divertindo aqui. Provavelmente mais do que eu vou na boate nova. – ele sorriu.

— E por acaso sua namorada sabe que você vai curtir uma boate sem ela do teu lado?

— Primeiro é um happy hour e depois a boate nova. Por quê? – coçou a cabeça – Eu tinha que contar né?

— Você com 26 anos na cara tá me perguntando isso? – cruzou os braços e olhou pra ele sério – E da pra sair? To mesmo precisando de privacidade.

— Educação hein? – estava saindo quando olhou de novo para Charles – Sério mesmo que tem uma mulher aqui?

— Não Dennis. – se irritou – Virei gay. – Dennis arregalou os olhos e Charles não conteve a gargalhada – Vai embora vai.

— Ufa! – abriu a porta – Não me assusta mais assim não. – ia sair e voltou – Lembra que amanha a reunião é meio dia.

— E você vai estar acordado a essa hora?

— Pergunto o mesmo pra você. – sorriu debochado – Tchau.

Assim que a porta foi fechada, Diana já abria a porta do quarto vestida. Charles estranhou e a jogou de novo na cama.

— Você gosta de dificultar as coisas não é? – beijaram-se e quando ele ia tirar sua roupa, ela o travou.

— Preciso trabalhar antes da reunião de amanha.

— Eu também preciso. – beijou seu pescoço – A gente pode fazer isso juntos.

— E você... – tentou afastá-lo, mas cada vez que sua mão percorria suas pernas, ela respirava com dificuldade – Assim a gente... – quase arfou quando ele apertou a parte interna da sua coxa e ela sentiu um caminho de fogo pelo corpo todo – Não trabalha. – acabou gemendo.

— Como se você não gostasse... – riu em seu ouvido e passou a língua pelo seu pescoço até chegar em seu queixo. Beijaram-se de novo e ficaram uns bons minutos assim até que ela o largou de novo.

— É serio amor, precisamos trabalhar.

— Repete isso. – ele dizia com a voz rouca.

— Precisamos trabalhar. – completou confusa.

— Não... A parte que me chama de amor. Há quanto tempo que quero ouvir isso.

— Amor... – pegou o rosto dele em suas mãos – Amor! – beijou-o – Amor! Amor! Amor!

Depois de um tempo naquela bolha só deles, decidiram por fim trabalhar. E para deixarem as coisas de maneira profissional mesmo, foram para uma sala de conferencias no hotel. Pediram a Matias e ele separou tudo para que tivessem tempo de trabalhar durante a noite. Charles, vez por outra, escrevia algumas coisas no papel para ela, e que toda vez que lia, ficava vermelha como tomate. Mas como alguns empregados foram solicitados em seus horários para ficarem a disposição, privacidade eles não tinham. E ela pedia para ele parar com a brincadeira.

RIO DE JANEIRO

Dominique e Aline continuavam andando pelo shopping. Depois de comprarem várias coisas para o bebe e para elas, assistiram a um filme e agora estavam sentadas em um café conversando e fazendo um lanche.

— Estou cansada sabia? – Dominique encostou-se à cadeira e passou a mão na barriga – Não é nada fácil andar grávida.

— Mas você nem tá com barriga grande.

— Não é isso. É porque eu não to acostumada a sentir o corpo se repuxando. Não é muito, vou sentir mais pra frente, mas imagina sentir lá dentro seu útero aumentando de tamanho?

— Já conversou com o médico?

— Ele disse que tem mulher que sente sim, algumas não sentem nada. E como eu já... – olhou para os lados para ver se não tinha ninguém conhecido – Engravidei, ele falou que eu poderia estar mais acostumada. – olhou um rapaz levantando e sorriu maliciosamente – Meu problema é a libido. – Aline olhou na mesma direção que ela e riu também.

 - Por isso seu fogo no rabo mais cedo. – elas riram. Dominique viu uma pessoa conhecida chegando perto delas e apontou com a cabeça – Que foi?

— Alerta de ex. – quando Aline virou, viu Caio chegando perto e rindo. Tempos atrás sentiria uma coisa por dentro só dele chegar daquele jeito perto dela, mas algo tinha mudado. E ela já sabia o que era.

— Caramba. – beijaram-se no rosto e ele cumprimentou Dominique também – Quanto tempo! Pensei que nunca mais fosse te ver. Principalmente depois daquele dia. – "daquele dia", Dominique falou apenas com os lábios deixando Aline sem graça – Você está mais linda do que nunca.

— Obrigada. – sorriu sincera. Tinha terminado bem com ele depois do dia que se encontraram e não via mal nenhum em vê-lo ali. – Passeando no shopping, que milagre é esse? – ele riu sem graça e Dominique colocou a mão na barriga – Aconteceu alguma coisa?

— Rapidinho. Vontade de ir no banheiro. Normal nessa fase. Já volto.

Olharam ela saindo quase correndo e Caio apontou a cadeira para sentar. Aline assentiu e começaram a papear. Ele aproveitou, pediu um suco, porque viu que o assunto ia se estender. Aline acabou contando da gravidez para ele, que se surpreendeu até com o fato de Bruno estar com ela.

— Mas eles não estão juntos Caio.

— Ué, mas acabou de me dizer que ela está morando com ele.

— Ah, isso é um detalhe. – continuou tomando o suco – E quando sua mãe chega?

— Amanha. Por isso que eu to perdido procurando alguma coisa pra ela. – ele a olhou e ela viu seu rosto iluminando – Você podia me ajudar não é?

— Caio... Sabe que a Aline ta namorando né? – Dominique sentou e riu pra ele – Ou não?

— Sei sim. – encostou-se à cadeira – Mas não estou pedindo ajuda por isso não. Ela entendeu o motivo.

— A mãe dele chega amanha.

— Sério? – ela riu – Bruno já falou com você?

— Nos vimos semana passada. Eu o chamei para ir lá em casa, minha mãe quer vê-lo e vai ficar muito feliz em saber que vocês dois vão ter um filho. – ela engoliu em seco – A propósito, parabéns.

— Obrigada. Mas não estamos juntos.

— Eu falei isso pra ele. – Aline comentou – Que tal irmos logo?

— Claro. – ele levantou – Deixa que eu pago o almoço de vocês.

— Opa, calma ai. – Nique o parou com as mãos – Você está se oferecendo para pagar nosso almoço? – ele assentiu confuso – Assim na maior, sem segundas intenções com minha amiga aqui?

— Nique!

— Ué... – ela olhou para Aline – Há alguns meses ele foi atrás de você em Sampa e agora está tudo na maior, como se nada tivesse acontecido?

— Nique... – ele sentou de novo – Eu não presto, isso aqui todo mundo sabe. – elas franziram o cenho – Mas não é por isso que não posso ter a amizade de vocês.

— Eu deveria era te dar um soco, Caio. – Aline comentou e ele a olhou – Porque você não é santo assim.

— Mas você me ensinou uma lição. – ele parecia sério – E eu nem sabia que vocês duas estavam aqui. – falou sincero – Sou inocente. Só preciso de uma ajuda, porque vocês duas conhecem minha mãe.

— Ok, ok. – ela olhou pra amiga – Me convenceu. Mas não precisa pagar nada.

— Eu posso ser cafajeste, mas sou educado. Afinal eu também to tomando alguma coisa na conta de vocês, interrompi o almoço...

— Tá, se quer gastar dinheiro, vai fundo. – Dominique o empurrou delicadamente – Vai logo, senão a gente se arrepende.

Assim que ele saiu e foi pagar a conta para elas, as duas se entreolharam sem entender nada. Aline pergunta se ela sabia que os dois tinham se comunicado – no caso, Bruno e Caio – e ela explica que tirando a parte do bebe, ela e Bruno não tem mantido uma relação muito achegada.

— Acha que isso vai dar certo? Caio nunca dá ponto sem nó.

— Não sei. Mas eu já sou gato escaldado com ele. Sei onde pisar.

— Ainda bem. Porque quem olhasse os dois de fora, imaginaria que são amigos de longa data.

— E não deixa de ser. – elas riram – Que é? Se eu tivesse sozinha, ele teria sido uma boa ajuda para passar minhas noites solitárias.

— Aiai... – ela riu – Tava realmente sentindo falta de você sabia? – se abraçaram.

— Que isso? – ele chegou perto – Momento mulher que eu não posso saber, altas emoções?

— Eu to grávida. – Dominique limpou algumas lágrimas – E já que você pediu ajuda, vai servir de capacho.

— Já sei. – elas levantaram e entregaram as bolsas para ele – Eu imaginei que fosse carregar esse monte de bolsa mesmo – E o seu namorado, Aline? – eles já caminhavam pelo shopping – É o Dennis Palmas mesmo?

— Aham.

— E onde ele está?

— Perguntinha hein! – ela o olhou de canto de olho e ele riu sem graça – Está viajando a trabalho.

— Hum.

— Hum nada Caio. – Dominique interveio – Não começa com suas jogadas de interesse.

— Mas eu não fiz nada.

— Mas a gente conhece esse tom. – olhou para ele que riu e assentiu.

— Vamos logo procurar esse presente.

APARTAMENTO BRUNO

Já eram quase dez horas da noite. Bruno chegou em casa cansado. Estranhou o silencio absoluto e foi procurar por Dominique dormindo. Ao não encontrá-la, já imaginou que ela tinha ido contra suas ordens e tinha ido bater perna.  Ligou para o celular dela, mas assim que teve o primeiro toque, o som da chave na porta o fez encarar a porta.

— Não falei? Eu sabia que não demoraria muito pra ele ligar. – ela apareceu com Aline e algumas bolsas em mãos – Ele vai falar até os quatro cantos quando souber que eu tava na rua.

— Vou mesmo. – falou alto e elas se assustaram com o tom de voz – Boa noite.

— Boa. – Aline se recompôs e Caio entrou logo em seguida.

— Cara, da próxima vez que eu ver vocês, não chego mais perto. – ele entrou reclamando quando viu o amigo parado – E ai cara?

— Posso saber onde vocês estavam? – cruzou os braços sério e eles se entreolharam.

— Onde acha que estávamos Bruno? – Aline foi colocando umas bolsas no chão e enfileirando – Fabricando bolsa?

— Haha. – Dominique foi entrando na cozinha e parecia chateada.

— Bruno... – Aline o chamou antes que ele fosse pra cozinha – Vem aqui.

— Eu vou ajudar a Nique. – Caio entrou na cozinha também.

Foram para a varanda e ele estava sério. Até demais. Ela até entendia o motivo de tanta pose, mas precisava conversar com ele.

— O que foi?

— A culpa é minha. Eu vim aqui e ela parecia chateada por ficar presa em casa. Ela nem queria sair, eu que insisti.

— Eu sei Aline. – sentou no banco ali perto e coçou a cabeça – Mas ela te falou do tombo que levou?

— Falou. – ela sentou de frente pra ele – Só que ela também não pode ficar esse tempo todo em casa. Principalmente ela, que parece que tem um motor ligado nas costas.

— Eu sei, eu sei. Desculpa. É que mesmo longe, eu fiquei preocupado de alguma coisa acontecer.

— Eu entendo. – ela riu – Olha... Ela me contou o que aconteceu entre vocês. – ele a encarou – Contou tudo. Toda a verdade.

— E o que você acha?

— Que ela merece umas boas porradas. – eles riram – Mas não é o momento pra isso. É muita informação pra processar.

— Mas o problema Aline,  é porque essa gravidez só esta adiando de novo a situação toda.

— Eu sei.

— É como se sempre surgisse algo que a fizesse se safar.

— Mas não é isso que ela quer. – olharam e viram Caio brincando com ela na cozinha – Ela disse pra mim que tinha conversado com a psicóloga e perguntou quando ela poderia contar a mãe sobre tudo.

— Como?

— Isso mesmo. – ela sorriu – Só que não era eu que tinha que te contar isso. Ela vai contar. Mas ela pediu para que a gravidez acabasse primeiro, principalmente pela mãe dela ser doente. Ao receber a noticia, ela pode se sentir mal e isso vai fazer a Nique se sentir mal, e pode afetar o bebê.

— Uhum. – ele encostou –se a cadeira – Entendi.

— Só queria te pedir um favor. – ele assentiu – Eu sei que vocês dois não estão juntos, e entendo os motivos que te fazem lutar contra isso... – ele ia falar – Não me interrompe. Agora não sou a amiga da Nique falando, sou a amiga dos dois. – pigarreou – Ela precisa de você. Ela te ama.

— Não parece.

— Dá pra...? – ela se irritou – Eu vou terminar de falar, dá licença? – ele sorriu de novo e a incentivou a continuar – A decisão é sua. Só acho que no fundo você pode analisar a situação como um todo. Ela cometeu muitos erros, e eu sei que ela esta arrependida, eu a conheço muito bem.

— E eu Aline? – ele a interrompeu de novo – Como eu fico? – ela viu em seus olhos a mágoa contida – Pensa que é fácil descobrir tudo isso em tão pouco tempo? Algo que ela escondeu esses anos todos?

— Não é. – ela o olhou séria – Eu tenho o mesmo problema.

— Como?

— Bruno... Meu pai traiu minha mãe com minha professora de piano há anos atrás. – ele se assustou com a revelação – Em cima do meu piano... Na nossa casa.

— Por isso que...? – a ficha dele caiu – Por isso que você parou de tocar?

— Na época, eles já estavam em crise no casamento. – ele chegou mais perto – E minha professora era linda. Não prestava... – ela riu sem humor – E eles dois acabaram se pegando. Eu vi...

— Nunca contou isso pra sua mãe não é? – ela negou – Mas isso não chega nem perto...

— Não chega perto... – ela o travou – Mas a mesma sensação que ela teve escondendo isso de todo mundo, é a mesma que sinto escondendo isso da minha mãe. Não é fácil. É doloroso. Mas eles estão bem... E depois de todos esses anos, não sei se meu pai contou a ela. Ela é uma mulher muito boa, perdoadora, e eles dois se amam. Enfim...

— Isso não vai mudar o que eu sinto... – pausou por um minuto – Você pode ate entendê-la, mas não concorda.

— Não. Mas acho que todo mundo precisa de tempo. Ela ficou com medo de estragar a felicidade de todo mundo, e principalmente de acabar com a vida da mãe dela.

— Mas o problema não é esse Aline. – ele se revoltou – Eu poderia ter sabido de tudo isso não acha? Ela me contou metade da história na época e olhe lá. Ela tinha dito que a menina tinha morrido... E quando eu liguei os pontos, e soube que a menina estava viva, achei que fosse minha filha. Sabe como isso é revoltante?

— Sei. – ela assentiu – E não nego que você tenha que ficar magoado e ressentido. Mas eu sei que você a ama, Bruno.

— Amor não é o suficiente nessa situação.

— E quanto tempo você vai ficar nessa relutância com ela? Hum? – eles se encararam – Porque morando juntos e com essa criança chegando, vocês dois vão ter que aprender a ter um relacionamento normal e confortável.

— Sinceramente? – ele parecia confuso – Ainda estou tentando entender aonde você quer chegar.

— Não to pedindo pra você perdoá-la. Acho que isso tem que vir de você. Mas eu sei que você não está entendendo o lado dela. E isso está te travando de no mínimo ter uma relação melhor com ela.

— Aline...

— Por que você não conversa com a médica dela? A psicóloga? Tenta entender um pouco todos os motivos que a levaram a agir desse jeito. Ou pelo menos criar uma ideia do que pode acontecer com uma pessoa sem rumo. Porque era assim que ela estava... Sem rumo.

— E isso vai me servir de que?

— De ser adulto o suficiente e separar as coisas. Você está agindo como se conseguisse, mas não é o que eu to vendo. Essa sua super proteção por ela não é apenas pelo bebe e sim porque você está com medo dela desaparecer do mapa de novo e nunca contar a verdade para a mãe dela.

— Mas... – aquilo sim que era surpresa – Como você...?

— Preciso falar mais alguma coisa? – ela cruzou os braços e ele negou – Que bom. Assim que eu gosto.

Dominique olhava disfarçadamente e via os dois conversando. Queria fuzilar a amiga por estar ali com ele, e iria querer saber de toda a conversa depois que elas estivessem sozinhas. Caio já arrumava a mesa pra ela, e assim que ia entregar a garrafa de suco para ele, sentiu uma pontada na bexiga. Aline e Bruno estavam chegando na mesa para comerem, quando a viram correndo.

— Que houve?

— Xixi.

Eles riram. Bruno pediu desculpas ao amigo por não ter falado com ele direito e assim que Dominique chegou, puseram-se a comer. Caio contou das novidades e pediu que todos fossem ao apartamento dele no outro dia. Ele tinha preparado uma surpresa para a mãe e se os amigos da antiga também estivessem, ele não veria mal nenhum, principalmente eles, que sua mãe sempre gostou.

— A gente pode ir não é? – Bruno olhou pra Dominique, que parecia perdida na comida – Nique.

— Oi?

— To falando, a gente pode ir amanha não acha?

— Se você quiser ir. – ela deu de ombros – Nada contra sua mãe, Caio. Ela é um amor de pessoa.

— Opa, calma ai. – ele riu – Desde quando você faz as vontades dele assim? Sem nem reclamar?

— Caio! – Aline deu um tapa na cabeça dele.

— Licença.

Bruno olhou furtivamente para Caio, que não entendia nada. Aline reclamou com ele, e Bruno foi atrás dela. Quando chegou, ela estava tirando as sacolas de cima de sua cama e levando para o armário.

— Hei. – ela o olhou – Fugiu da mesa por que?

— Porque já estou de saco cheio de todo mundo me zoando. Não sou capacho de ninguém , nunca fui. E é isso que tem parecido desde que vim pra cá. – ela bufou – Estava tudo indo tão bem.

— Vem aqui. – ele sentou em sua cama e ela negou – Vem aqui, vem. – puxou-a delicadamente, e ela sentou ao seu lado – Você parecia mais feliz quando entrou no apartamento.

— Porque estava.

— Eu sei que eu tenho agido um pouco protetor demais...

— Um pouco? – ela riu e ele também – Tudo bem, eu te entendo.

— Mas não aceita.

— Bruno... – ela se virou – Eu não quero brigar com você tá? Eu sei que mesmo não concordando com o jeito que você manda em mim, está fazendo pelo meu bem.

— E eu aposto que sua psicóloga falou pra você conversar isso comigo e mesmo assim não falou nada.

— E tenho espaço por acaso para falar sobre isso? – ela o olhou bem nos olhos e não lhe restou alternativa a não ser abaixar a cabeça.

— Desculpa. – ele levantou a cabeça de novo – Eu me perdi nessa historia e acabei agindo feito um idiota.

— Não. – ela o parou – Você não tem sido um idiota, que isso. Só o fato de estar sendo protegida, já me faz sentir melhor.

— É que... – ele colocou a mão na barriga dela – É meu primeiro filho não é? – riu ao sentir aquele pequeno volume em suas mãos – Ela cresceu.

— Aham. – ela colocou as mãos em cima das dele – Só queria que nosso relacionamento aqui fosse um pouco melhor. Não to merecendo, mas não é pro bem do nosso filho.

— Tudo bem, vou tentar melhorar. – ele riu – Contanto que entremos em um acordo.

— Acordo? – ela apontou para os dois – Nós dois? Tem certeza?

— Não entramos em um quando você veio pra cá?

— Sim, mas é diferente. – ela o olhou e viu que tinha mais coisa – Só que você está me pedindo mais.

— Se você fizer uma coisa que to pedindo, juro que vou tentar ser menos radical.

— Que seria?

— Eu quero que você faça o teste de DNA com o Augusto.


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