Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 36
Capitulo 36




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UM MÊS DEPOIS

"O tempo pelo visto será agradável. O clima em todo o estado do Rio de Janeiro promete ser quente e bem ensolarado. As temperaturas variam de 29° a 35°." – dizia a mulher do tempo na televisão.

"Parece que finalmente estaremos entrando na primavera." – dizia a repórter – "Como sempre o Rio de Janeiro nos reserva surpresas para o tempo." – riu com a outra mulher na TV – "Vamos agora a outras notícias que podem animar seu sábado."

— Duvido que algo vá me animar agora. – Dominique passava os canais entediada. Realmente o sol lá fora dava sinais de que o dia seria maravilhoso, mas estava sozinha no apartamento. Bruno tinha viajado para uma conferência no Nordeste e ela nem sequer foi convidada a ir.

Também não podia reclamar. A convivência com ele estava sendo bem tranquila, mesmo com todos os problemas embutidos e jogados para debaixo do tapete dos dois. E isso parecia se tornar a marca deles ultimamente. Varrer tudo para debaixo do tapete. Levantou e foi para cozinha preparar algo para comer. Ouviu a campainha tocar e estranhou. O porteiro nunca deixava de anunciar quem estava chegando e só imaginou sendo Bruno lerdo que tinha esquecido a chave em casa.

— Ora, ora. A que devo a visita? – Aline estava na porta sorridente e com uma bolsa pequena na mão. Duas na verdade, só que uma era de loja.

— Presente pra futura mamãe! – sorriu boba e abraçou a amiga. Ela entrou no apartamento e Dominique fechou a porta.

— E Leticia? Ela disse que iria vir me ver.

— Não sei o que aconteceu, ela discutiu com Tiago anteontem, ele deu uma dura nela e os dois resolveram tirar uns dois dias em algum lugar ai pra se acertarem.

— O relacionamento deles não vai bem é? – ela olhou séria – Já falei pra ela ser menos pegajosa.

— E mais respeitosa também né? – foram para a cozinha – Mas parece que ela não te ouve.

— E você?

— Eu não me envolvo no relacionamento deles. Até mesmo porque da ultima vez nós duas brigamos muito feio porque eu tentei ajudar. E sabe que comigo...

— Ela não vai te ouvir mesmo. – concordou – Depois eu abro o presente. Eu só vou terminar de fazer o almoço.

— Bruno viajou? – ela assentiu – Por que não foi pro apartamento?

— O médico pediu pra eu ficar de repouso. Então preferi não sair de casa esse fim de semana, mesmo achando o tempo maravilhoso.

— Que tal irmos a praia? – ela sorriu, mas parecia desanimada – Ah qual é. Estou de carro, eu vou ficar do teu lado... Tá precisando pegar uma cor, tá branca feito papel.

— Só eu? – olhou para Aline que ficou sem graça – Depois vemos isso.

Há quase quinze dias que Dominique tinha caído no chão quando a diarista estava limpando a casa e ela escorregou. Bruno a levou correndo para o hospital, mas tudo estava bem. Mesmo assim pediu para que ficasse de repouso. E depois de todas as pequenas discussões que teve com ele com relação a superproteção, ela preferiu acatar as ordens do médico para não ficar ainda mais estafada.

Aline e ela continuaram conversando e contando das novidades. Depois que Aline contou a ela sobre os dois terem trocado juras de amor e finalmente assumido o que sentiam, ela queria sempre saber mais. Como eles estavam e afins... Pelo visto, o assunto Tiago tinha saído de pauta há tempos.

— Mas e você e o Bruno?

— Ah você sabe... – ela sentou no sofá enquanto aguardava a comida terminar de ficar pronta – Nós não estamos juntos.

— E eu posso saber por que? – ela olhou para Aline e respirou fundo.

— Me conta primeiro como está o andamento da empresa, só sei algumas coisas. Depois te conto.

— Lá vem você me enrolar de novo.

Por conta de toda a aceitação com relação aos primeiros comerciais e produtos da Extreme, as duas empresas triplicaram de serviço. Aline já trabalhava mais do que antes e a quantidade de clientes tinha aumentado consideravelmente. Devido a isso, Diana teve que contratar novos funcionários. Letícia e Aline foram promovidas e outras pessoas acabaram tomando suas posições anteriores. Agora Aline tinha uma assistente e Diana teve que arrumar outra.

— Eu não imagino você e Leticia trabalhando juntas mesmo.

— Nem eu imaginava. Mas no trabalho tudo é bem tranquilo. Pelo menos ela ta aprendendo a separar as coisas.

— Claro tá ganhando o que? Quase o dobro de antes? – elas riram – Com dinheiro ela ia aprender rapidinho a ser mais responsável. Só não entendi porque duas assistentes.

— Porque a Amanda, minha assistente tá trabalhando para a equipe que sou com a Leticia, não necessariamente só pra mim. Já a Diana não, a Helena é assistente só dela.

— Mas ela não tem o mesmo trabalho que você.

— Não. O que aconteceu:  Diana inverteu as situações. Virou uma hierarquia. Leticia responde a mim, eu respondo a Diana como sempre. A assistente dela pegou o serviço da Leticia, de recepção, atendimento na empresa e é assistente dela. Toda a parte pesada continua comigo. Leticia está do meu lado para me aliviar. Só que como o fluxo tá muito grande, a gente não consegue manter a agenda organizada. Então tem a Amanda pra nos ajudar.

— Que bom. Pelo menos são boas de trabalhar?

— Estão com a gente há uma semana. Mas como eu e Leticia somos calmas para explicar e elas são rápidas em aprender... Fica tudo mais fácil.

— E lá no meu setor?

— Outro dia eu fui lá e acho que Mariana estava querendo se jogar pela janela. Aquele advogado, o Roberto chegou a ir lá pra ajudá-la, mas parece que agora ela se organizou mais.

 - Aham, minha caixa de e-mails e meu celular que sabem. – gargalharam – Mas eu vou falar com a Diana para promover a Mariana também. Ela já estava pensando nisso antes, agora eu só vou dar uma mão para acontecer logo. O trabalho tá aumentando mesmo, preciso de mais gente lá no setor.

— Diana tinha comentado que aos poucos vai aumentando os setores. Acho que o seu é o próximo mesmo.

— E ai vem minha curiosidade... Como tem sido lá na empresa do Dennis?

— Estão tão atarefados quanto. Mas ai não tem muita diferença, porque Dennis e Tiago já tinham as maiores funções, depois do Charles. Eles só promoveram dois redatores para ficarem com eles.  Charles está com o Stolt, assim como a Diana. Eles souberam estruturar tudo para que pudéssemos dar conta dos outros clientes.

— Ou seja, foram todos expulsos do projeto da Extreme? – riu e Aline negou.

— Não. Pelo amor de Deus mulher! Se eles fizessem isso não dariam conta sozinhos nunca. – riu – Enfim... Não quero mais falar de trabalho. Eu prometi esse final de semana me aliviar disso.

— E por que não faz com o Dennis? – Dominique comentou maliciosa e Aline gargalhou.

— Engraçada. Mesmo que quisesse... – ela sorriu – Ele viajou de novo para Fortaleza. Dessa vez foi com o Charles e acho que com a Diana também. Ela ainda não tinha decidido se ia ou não até ontem. Sabe como é né... Ele não confia muito que eu vá por causa do Matias.

— Ainda isso?

— Dennis é um pouco ciumento. – ela suspira.

— Ciumento nada. Ele sabe cuidar do que é dele. Depois que você me contou a história, não conheço direito esse Matias, mas nem confio nele também.

— Tá. Tá! – Aline levantou e foi na cozinha e Dominique foi atrás – Para de me enrolar, eu quero saber de tudo.

— Eu não estou aliviada. Pode ter certeza! – Aline se assustou – Ah qual é! Sério, se eu não amasse o Bruno já teria ligado para o Danilo para me ajudar.

— Opa, opa! – ela começou a processar as informações – Amar o Bruno? – sorriu radiante – Está finalmente admitindo pra mim que o ama?

— Como se isso não fosse óbvio não é?

— Me desculpa se somos amigas e não conversamos. Eu até entendo que temos trabalho, mas qual é, estamos na mesma empresa. Não poderia ter arrumado um tempinho para conversar comigo não?

— Eu estava fugindo.

— Não me diga? – Aline debochou e Dominique não gostou.

— Pelo visto não vai sair daqui enquanto eu não contar tudo não é? – ela negou – Então vem aqui. E por favor, sou uma mulher grávida, mereço um pouco de consideração.

— Já to vendo que vem besteira.

Quase uma hora depois e o interrogatório sendo maior do que de um criminoso na delegacia, Aline parecia entorpecida por toda aquela história. Não sabia mesmo o que falar. Porque mesmo fazendo todas as perguntas, preferiu não dar nenhum comentário. As duas se conheciam muito bem e ela sabia que ela pararia de falar se recebesse alguma critica muito incisiva. Dominique, por sua vez, não sabia onde enfiar a cara. Sabia o que Aline estava pensando de tudo aquilo e mesmo chorando em alguns momentos, sabia que ela não a confortaria e acharia que ela era coitada.

— Eu não mereço o compadecimento de ninguém.

— Ainda bem que sabe disso. – ela estava séria – Só não sei como conseguiu esconder isso tanto tempo de mim. Da Leticia, Nique. Imagina se ela descobre? Ela é toda explosiva, vai acabar com a tua raça.

— Não é com que ela que eu me preocupo. – deu de ombros – E sim com minha mãe. Com a Ana que está crescendo sem saber dessas coisas, com o Augusto que o maior &%+=$#@ da face da terra. Com o Bruno, Aline... – deixou uma lágrima cair e a secou rapidamente – Foi o maior soco da minha vida. O olhar dele indiferente, o tratamento... Meu convívio tem sido pacífico com ele por enquanto, porque estou me submetendo a tudo. Eu brigo, reclamo, mas no final das contas, faço tudo o que ele me pede.

— E ele sabe que isso é só pra não tocarem no assunto. – ela assentiu – Eu até entendo que você tentou proteger a sua mãe, eu bem sei como isso funciona. – Aline lembrou-se de uma ocasião um pouco similar a aquela – Mas mesmo assim...

— Seu pai já conseguiu o seu perdão?

— Ele? – ela riu – Ele ama a minha mãe. Sempre amou. Cometeu um erro, como qualquer pessoa. Ele não é perfeito. – falou pausadamente e esfregou as mãos nervosas – Sabia que outro dia estava dedilhando o ar? – Dominique sorriu.

— Que bom! – chegou perto dela – Sabe o que é isso? – ela negou – Amor. Você está amando de verdade, e isso está quebrando essa sua barreira ai dentro.

— Pode ser. Mas eu sei que meu pai não se perdoa pelo que fez.

— Porque ele nunca recebeu seu perdão. E acho que isso é o que você precisa fazer pra voltar a tocar piano. – ela olhou para Dominique – Acho que quando os dois se acertarem, tudo vai ficar azul como o céu de hoje. E com certeza, vocês dois vão poder ter uma vida melhor.

— Parece que você pegou o jeito de psicóloga.

— Queria o que? Vou nela um dia sim, um dia não. – deu de ombros.

— Quando vai contar a sua mãe?

— Na ultima consulta perguntei o mesmo para a doutora. Ela disse que eu poderia contar a hora que quisesse, mas como ainda estava no inicio da gravidez e me recuperando de uma quase depressão, ela achou melhor ser depois que eu tivesse o bebê.

— Já sabe se é menino ou menina? – tocou na barriga dela.

— Não. O safadinho ou a safadinha está se escondendo. Mas a médica falou que daqui a uns quinze dias, vou saber. – parecia eufórica – Bruno marcou de acordo com a agenda dele para poder ir a consulta também.

— Nunca na minha vida que eu ouviria isso. Você cedendo as ordens do Bruno. – ela gargalhou – Queria gravar isso.

— Mas eu reclamo tá? – cruzou os braços – Só que cedo depois.

— Dá na mesma.

Depois de muito persuadir, Aline conseguiu convencer a amiga a sair. Queria ir a praia, mas como ela não estava no clima, preferiu deixar pra outro dia. Depois que viu o pequeno macacão de crochê, quase chorou de emoção e percebeu que ainda não tinha comprado nada para o filho. Acabaram decidindo ir ao shopping mesmo, e comprar muitas coisas para que o bebê fosse bem mimado. Ele ou ela merecia, afinal de contas.

Aline preferiu não entrar na ferida da história tão a fundo. Reclamou por nunca saber da história várias vezes, mas deixou passar quando Dominique se sentia mal. Mesmo sabendo que todas as atitudes da amiga eram erradas, via que ela não tinha agido por mal. E esse é o pior de todos.

Quando uma pessoa ruim age de maneira cruel e fria, você já espera isso dela. Fica difícil acreditar que alguém como a amiga, sempre tão determinada, sincera e decidida, tinha sido deixada a levar por um caminho que não tinha volta. Não era porque ela estava fadada a nunca resolver o problema, mas que ela precisaria contornar todas as curvas perigosas para voltar ao ponto de partida e esclarecer tudo. E esse era o mais difícil.

FORTALEZA

Diana estava terminando de revisar algumas peças do projeto, quando sentiu uma vontade grande de passear. O tempo estava bom e ela precisava descansar daquele monte de trabalho em cima da mesa. Olhou para o céu tão limpo e bonito, trocou de roupa e resolveu dar uma volta na piscina.

Tinha se surpreendido com o hotel. Se soubesse que era tão bom tinha ido antes. Assim que achou uma espreguiçadeira para se sentar, já que o hotel estava lotado e a piscina tinha bastante gente para o horário, colocou suas coisas e resolveu se jogar na piscina. O dia podia estar lindo, mas o calor estava matando a pau.

Na parte mais afastada, na sombra e embaixo de um telhado de palha, Charles tomava uma cerveja com Alberto. Malvina estava com sua nora Daniele e com Dennis numa mesa ali perto almoçando e conversando um pouco. Parecia ser um imã. Era impressionante como que aquela distancia ele conseguia sentir sua presença. Olhou automaticamente para a piscina e assim que Alberto percebeu, olhou também. Sorriu ao ver como ele a admirava.

— Vinny, traz um Cosmopolitan.

— Não. – Charles riu quando viu onde ele queria chegar – Por incrível que pareça, ela prefere cerveja.

— Jura? – Alberto se espantou.

— Eu a conheço há anos. Sei bem o que ela gosta.

Nem precisou falar mais nada. Para bom entendedor... Alberto rapidinho captou a mensagem e o barman trouxe duas cervejas para Charles. Ele se levantou e foi atrás dela. Sentou na ponta da espreguiçadeira que ela tinha deixado suas coisas e ficou bem de frente pra piscina, esperando o momento que ela sairia dali. Podia ter "n" motivos para ficar com raiva dela, e começaria a entrar na brincadeira. Não que tivesse uma, mas ele aprenderia a criar só para acabar logo com aquele problema deles.

Diana estava se sentindo mais relaxada enquanto nadava naquela água tão gostosa. Sentia-se observada, mas não iria parar pra ver quem era de jeito nenhum. Estava se curtindo muito naquela piscina que começou a esvaziar um pouco. Depois de uns longos minutos, preferiu se secar e passar um protetor solar antes que sua pele reclamasse. Não tinha mais 18 e não podia se dar ao luxo de ficar fazendo estripulias.

Assim que saiu da piscina, Charles a encarava. Por um momento pensou em se despir... HEI! O que estava pensando? Tinha que se cobrir, aquele olhar dele já fazia todo o trabalho sozinho. E por que ela estava imaginando essas coisas? Ele percebeu que ela estava estática e resolveu dar uma força. Levantou e foi em sua direção. Estendeu a cerveja para ela, que franziu o cenho.

— Estamos aqui a trabalho.

— Finalmente falou comigo. – ele riu – Porque desde quando chegamos, você nem olhou na minha cara.

— Charles...

— Hoje estamos de folga. Ponto e acabou. Estão todos ali conversando, comendo e bebendo, com um dia maravilhoso desses, ninguém quer trabalhar. Se é que me entende. – ela pegou a cerveja de sua mão e foi em direção a sua espreguiçadeira. Ele foi atrás e se sentou na que estava ao lado esquerdo dela.

— E o que pensa que está fazendo?

— Um: quero tomar um sol. Dois: aqui está vazio. – foi tirando a camisa e jogando tudo na cadeira. Ela apenas engoliu em seco – Três: você ainda tem que me agradecer.

— Porque eu te trouxe uma bebida. – sorriu e antes que ela respondesse, se jogou na piscina.

Diana foi virando a cerveja toda enquanto pensava em como sair daquela situação. E o pior, ele estava provocando. Ele era um safado e não prestava. Não tinha ficado com nenhum homem depois dele, e se ele ficasse se exibindo daquele jeito, as coisas só iam piorar.

Assim que ele saiu da piscina, ela deu graças a Deus por estar de chapéu e óculos escuros. Ele era a visão do paraíso. Apenas de sunga, com aquele corpo de vinte e cinco, com tudo no lugar... Só de imaginar como era navegar naquelas águas, seu corpo todo esquentou. Estava todo molhando e jogando o cabelo pra trás. Chegou perto dela de novo e se deitou ao lado. Ficaram em silencio e ele ria vitorioso por dentro.

— Por que não trouxe sua namorada? Ela ia gostar de vir aqui.

— Eu não tenho namorada. – foi taxativo. Ela engoliu em seco – Demorou pra me perguntar isso.

— Eu não perguntei.

— Mas queria. – sentou e ficou encarando-a – Diana...

— Eu não quero discutir com você Charles.

— Mas está morrendo de vontade. – ele a puxou pelo pulso. Ela acabou sentando – E por que está de maiô?

— Tá feio por acaso? – não entendeu a mudança brusca de assunto.

— Não. Você fica... – ia falar gostosa, mas mordeu o lábio.

— Fico?

— Não pensei nada de bom pra comentar.

— Você é ridículo. – ia se levantar, mas ele a segurou pelas pernas. Sentiu um calor subindo por todo o seu corpo e afastou-as dali – E um intrometido. Quem te dá o direito...?

— De colocar as mãos nas suas pernas? – ele riu – Já coloquei as mãos em lugares muito mais íntimos!

— Charles! – ficou horrorizada – O que tá acontecendo?

— Eu que devia estar dizendo isso. – ele voltou a ficar sério – Só chegando assim para você me dar atenção.

— Pelo menos podia falar baixo. – ela olhou em volta e ficou toda vermelha – Imagina o que as pessoas vão pensar da gente?

— Eu não to nem ai pro que vão pensar de mim. – ele deu de ombros – Eu quero que você vá ao meu quarto agora. Precisamos conversar.

— Você tá brincando não é? – ele já estava de pé e tinha colocado a camisa – Hei. – o puxou pela camisa – Tá achando que eu vou simplesmente obedecer as suas ordens? Como se estalasse os dedos?

— Não. Eu sei que não vai. – ele chegou bem perto do seu rosto. Ficou com o corpo inclinado e colocou suas mãos em cada lado do seu corpo para se apoiar – Mas não vai querer que eu apareça no seu quarto com a chave reserva não é? Não vai poder gritar e me mandar embora, você não gosta de escândalos.

— Charles... – ele a deixou falando sozinha. Mesmo tendo uma visão muito privilegiada dele de costas, principalmente com aquela sunga, manteve-se irritada para não ceder aos desejos.

Alguns minutos depois bateu na porta do quarto dele. Assim que ele abriu a porta, ela já o viu vestindo uma bermuda e deu graças por isso. Pensaria melhor na hora de falar as coisas. Entrou ressabiada, porque imaginava que viria alguma surpresa. Ele sempre tirava algo da cartola para deixá-la a mercê dos seus encantos.

Charles fechou a porta e tentou se controlar. Precisavam de fato conversar. Na verdade, isso era uma constante. E mesmo que conversassem, discutissem, se beijassem ou sequer fizessem amor, algo no final dava errado e eles brigavam.

— Isso já está se tornando constrangedor. – ela jogou seu chapéu e óculos em cima da poltrona – Você tendo a cara de pau de dar em cima de mim na frente de todo mundo do hotel. Dos nossos clientes...

— Alberto já se tornou amigo, antes de mais nada. Outro dia fomos pescar, eu, ele e Stolt. Foi divertido. – abriu uma garrafa de água ali perto e se encostou ao batente da porta – E quem disse que eu estava dando em cima de você?

— Mas é um desplante mesmo! – cruzou os braços – Eu vou embora.

— Não vai não! – ficou em frente a porta do quarto – Olha... Eu preciso te pedir desculpas.

— De que? – o olhou confusa.

— Pelo que aconteceu da vez que você foi ao meu apartamento. Não devia ter jogado aquilo na sua cara.

— Eu que devia pedir desculpas. – ela se encolheu – Agi feito uma idiota. – tentou se segurar para não chorar – Quando o Manoel disse que você sumiu, entrei em parafuso. Achei que tinha...

— Tinha ido fazer alguma merda. – ela assentiu envergonhada – Devido as circunstancias, quase fiz mesmo. – foi sincero. Ela o encarou alarmada – Isso é uma coisa que não posso negar a você. Emoções muito fortes podem me deixar em um estado critico e querer usar drogas. É algo que vou ter que conciliar pra sempre na vida.

— Mas você...

— Não usei. – respirou fundo – E nem pretendo. Um dos motivos para ter ficado com a Monalisa. Não podia me sentir mais sozinho do que já estava. E ela é uma boa ouvinte.

— Não quero saber dessas intimidades com ela.

— Teria sido com você, se não tivesse fugido do meu apartamento naquele dia.

— Lindo! – pensou várias coisas naquele momento – Então ficou com ela pensando em mim? Bem cafajeste não acha não?

— Eu acho engraçado esse seu jeito de colocar palavra na minha boca. – sentou no recamier e a encarou – Eu nunca deixo de pensar em você Diana. É como se você tivesse me marcado com fogo. – ela engoliu em seco e mudou a postura – Mas eu precisava de alguém pra conversar, pra me sentir melhor e sim, me sinto bem perto dela. Mesmo que tenhamos dormido juntos, somos amigos antes de tudo.

— Isso nunca dá certo. Alguém sempre se apaixona.

— E não fui eu. – ele encostou os cotovelos nas pernas – Eu te amo demais pra pensar em qualquer outra mulher nesse sentido. Será que isso você não entende?

— Entendo Charles. – se deu por vencida pela primeira vez em anos – Eu sei que tudo o que sente por mim é verdadeiro, assim como o que eu sinto por você também é. Não vê que involuntariamente eu fui atrás de você para falar que não tinha ficado com o Marcelo?

— Altas revelações. – ele sorriu.

— Mas nosso amor nunca foi suficiente. Você sabe disso também.

— Nós éramos novos, eu era irresponsável e fiz você sofrer. – ela foi chegando perto e sentou ao seu lado – Já estamos quase entrando na casa dos quarenta.

— Epa... – ela chiou – Ainda faltam quatro anos e meio pra isso acontecer comigo. Parou ai. – ele gargalhou – Não que eu ligue pra essa coisa de idade, mas acho que o tempo tá correndo rápido demais.

— E é isso que me preocupa. – ele se virou para encará-la – Quanto tempo mais vai levar para ficarmos juntos? – ela engoliu em seco e abaixou a cabeça – Deixa-me provar que mudei.

— Charles...

Ele não deixou que ela continuasse. Se era para dar cabo do momento, que fosse do jeito que eles mais entendiam... Se amando. E não adiantaria se segurar, porque ela queria aquilo sim. Segurou-a e a arrastou por cama a dentro subindo em cima dela logo em seguida. Os beijos eram toda a declaração de que precisavam para se acertarem. A conexão deles era tão incrível que só de encostarem um corpo no outro já tinham noção que era ali que eles dois deveriam estar.

— Por que não usou um biquíni hein? – ele reclamou enquanto tentava tirar aquela peça de roupa e ela gargalhou perto de sua boca.

— Assim fica mais atrativo.

— Não estou achando nada engraçado. – encaixou-se com as pernas em sua cintura e virou-os na cama ficando por cima dele.

— Nunca reclamou de nenhuma peça de roupa minha antes. – colocou os braços em volta de sua cabeça – Está ficando velho mesmo hein!

— Quando estamos com pressa, qualquer peça de roupa atrapalha. – respondeu meio nervoso – E eu vou te mostrar quem está ficando velho aqui. – puxou-a com rudeza pelo pescoço e beijou-a novamente com fervor.

FLORIANÓPOLIS

Outro casal também se entendia em meio aos lençóis. Tiago e Letícia estavam deitados, exaustos e sorrindo feito duas crianças. Tinham escolhido um local que sabiam que não seriam incomodados, exatamente para poderem se acertar. Letícia encostou-se ao seu peito feliz por finalmente estar tendo um momento tranquilo com ele.

— Estava sentindo saudades suas sabia? – ela riu e ele apenas mexia em seus cabelos soltos e cheirosos – Pensei que não quisesse mais saber de mim.

— Sabe muito bem que isso não é verdade. Estou atolado de serviço e agora você também. – ele a fez encará-lo – Um dos motivos que te trouxe aqui. Queria te dar os parabéns do meu jeito.

— Obrigada! Vou ganhar presente também?

— Quer melhor presente do que eu? – gargalharam – Mas tenho um pra você sim. – puxou a gaveta e pegou uma caixa retangular. Os olhos dela brilharam assim que a viu e sentaram para que ela pudesse ver melhor.

— O que é? – perguntou e ele apenas a incentivou a abrir quando colocou em sua mão. Assim que ela abriu, viu um colar de ouro com a letra "L" do seu nome. Sorriu e olhou para ele emocionada.

— Eu sei que não é o mesmo que você sempre usa, mas como você chorou quando o perdeu...

Nem deu tempo de terminar de falar. Ela o beijou e tentou transmitir toda a gratidão por ele ter lembrado daquela coisa tão pequena. Nunca pensou que ele fosse realmente ter esses tipos de recordações deles.

— Minha mãe tinha me dado quando eu pequena. Era dela. – ele colocou o colar em seu pescoço e ela acabou chorando mais um pouco.

— Não é o mesmo...

— Só o fato de você lembrar já é muito pra mim. Fiquei me sentindo muito mal quando perdi naquela boate.

— Me conta melhor essa historia. Nunca me falou de seus pais direito.

— Quando casaram, eles queriam ter um filho homem e uma mulher. Por uma brincadeira do meu pai com meu avô, tínhamos que continuar mantendo a inicial dos nomes. Meu avô era Bartolomeu, que chamávamos de Barto, meu pai era Bernardo, e por isso o nome Bruno. Minha avó era Livia, minha mãe Lilian e por isso meu nome é Leticia.

— Que coisa de doido.

— Nem fala. Eu lembrava que falava para o Bruno que nunca achei nenhum nome bonito com "L" e que provavelmente ia acabar com a tradição da família. Ele que disse que ia manter, porque era uma maneira de lembrar deles.

— Seu pai procurou alguém com a inicial da letra "L" propositalmente?

— Pior que não. Por isso a brincadeira. – eles riram – Era algo para ser só com os homens da família, acabou sendo dos dois lados.

— Legal. Nunca tive uma conexão assim tão forte porque pedi minha mãe muito pequeno.

— Eu sei, você me contou. – percebeu que ele ficou triste – Mas não viemos aqui para ficar mal não é? Viemos aqui para ter um momento só nosso. – ele riu – Que tal um banho quente em uma banheira bem gostosa ali no banheiro.

— Acho uma ótima ideia.


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