Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 31
Capitulo 31


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it!



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Capitulo 31

O silencio se fez depois da pergunta. Dominique não sabia se continuava ali ou saia correndo para dentro do quarto e trancar a porta. Ele foi chegando cada vez mais perto e ela não conseguiu nem sair do lugar.

— Por que veio?

— Não foi para ver você, pode ter certeza. – conseguiu se recuperar assim que ouviu sua voz. Ele se limitou apenas a se afastar – Minha mãe me pediu pra vir aqui.

— Entendi.

— E o que você faz aqui? Não tinha brigado com ela? – cruzou os braços e ele coçou a cabeça sem graça.

— Tinha sim. Mas vim aqui conversar, não posso deixar as coisas como estão.

— Pois veio numa péssima hora. – reclamou e ele riu. Ela se incomodou com aquilo e virou para ele – Não tem graça.

— Senti sua falta sabia? – chegou perto e ela se afastou irritada.

— Merecia que eu te atropelasse isso sim. – virou para ir embora, mas ele a segurou. Puxou-a e a abraçou por trás – Está maluco? – tentou se desvencilhar – Minha mãe está lá dentro.

— Desculpa. – soltou-a bruscamente e se afastou mais – Eu só...

— O que está fazendo aqui? – Cristina chegou bem a tempo e olhou para os dois. Dominique estava de braços cruzados e dando graças a Deus de estar de costas pra ela com o cabelo solto. Assim ela não veria como ela estava vermelha de vergonha – Estou perguntando Augusto. – ela o encarou firme. Ele a olhou e chegou um pouco perto.

— Vim conversar com você. Precisamos nos acertar.

— Não tenho nada pra falar. Já não resolvemos antes? Você não disse que não me queria mais?

— Eu estava louco... – ela ia entrando e ele foi atrás. Dominique andou devagar atrás dos dois – Cristina, estou falando sério, pelo bem da nossa filha.

— Minha filha. – ela se virou irada – Ela é minha filha.

— Eu que a adotei. Ela é minha também. – tomou um tapa na cabeça de Dominique.

— Fala isso baixo, imagina se ela está acordada e ouve. – reclamou e ele não gostou de ter tomado o tapa dela.

— Não se mete.

— Me meto sim. – ela o fuzilou com os olhos – Ela é minha irmã. – fixaram novamente o olhar. Augusto sabia que tinha muito mais coisa envolvida do que apenas aquele olhar. Apenas engoliu em seco e virou para Cristina.

— Vamos conversar em outro lugar.

Saíram e deixaram Dominique sozinha olhando para as paredes. Quase chutou os móveis com uma vontade louca de quebrar o pescoço dele. Odiava-o e só o fato dele ter tentando agarrá-la há poucos minutos estava deixando-a ainda mais nervosa e enjoada. Como a mãe dela não via que ele não valia nada?

Uma hora depois, estava na cozinha ansiosa. O que tanto que eles faziam lá por dentro da casa que não se resolviam logo? Queria tanto que sua mãe visse que ele não era homem pra ela, mas parecia uma macumba muito bem feita, que não importasse o que acontecesse, ele sempre estaria de volta. Só não se arrependia totalmente de voltar para Minas, porque viu novamente Ana. E ela estava tão linda.

Olhou para a geladeira e procurou algo para beber. Depois que abriu, fechou imediatamente. Não queria estar com nível alcoólico no sangue junto daquele ser desprezível. Isso só trazia más recordações.

— Ainda está acordada? – sua mãe apareceu apenas de roupão e com o corpo um pouco avermelhado.

— Não acredito que a senhora e aquele... – fechou os punhos em ódio – Como a senhora pode?

— Ele é meu marido Dominique. Conversamos e voltamos. – ela virou novamente para a geladeira e pegou a primeira garrafa de cerveja e abriu. Bebeu quase que de um gole só e quase mandou tudo a merda pensando em ir embora.

— Onde eu durmo?

— Filha...

 - Não quero gritar com a senhora e muito menos me estressar. Onde eu durmo?

— Coloquei sua mala no quarto de hóspedes. – ela saiu em disparada e quando percebeu que o quarto ficava de frente para o da mãe, voltou para a cozinha e pegou o resto de cerveja que tinha lá dentro – Com licença. – passou direto e nem percebeu o estado de choque que sua mãe estava.

Entrou no quarto, chutou a mala que estava na porta para um canto e se trancou. Queria mandar os dois para tudo quanto era lugar, mas preferiu fazer isso no silencio do seu quarto, resmungando e reclamando da vida. Ele era um idiota. Mas a mãe dela conseguia ganhar o premio de imbecil MOR.

SEGUNDA FEIRA

RIO DE JANEIRO

Aline e Leticia estavam tomando café. Começaram a conversar como duas adultas e tentaram manter o rumo sem que nenhuma das duas se revoltasse com algo fútil. A campainha tocou e Leticia abriu a porta. Bruno estava esperando por ela, para levá-la para empresa e perguntou se Aline não queria uma carona. Ela prontamente aceitou.

Foram para o carro e no meio do caminho pegaram um leve engarrafamento. Enquanto conversavam, Bruno notou a falta de Dominique e antes que o ciúme falasse mais alto e começasse a perguntar de maneira meio grossa, respirou fundo e olhou para a irmã.

— E a amiga de vocês?

— Ela tem nome, Bruno. – Aline olhava pela janela quando respondeu. Ele a olhou de canto de olho e voltou o olhar para o transito.

— Ela foi pra Minas. – ele quase bateu no carro da frente – Que isso! – sentiu o baque e machucou a mão – Ficou doido?

— Desculpa. – tentou se recompor – Ela foi fazer o que lá?

— Ela tem mãe lá ué. – Leticia cruzou os braços – Vem cá, qual o problema lá em Minas, me diz? Porque primeiro ela que fica xoxa de ir, agora você que tem essa crise.

— Eu não tive crise nenhuma. – respondeu sereno e Aline se conteve para não gargalhar.

— Ah para Bruno. Sério, ela tem alguém lá não tem? Ou não sei, tem algum problema e vocês dois sabem e não querem nos contar.

— Eu não sei de nada Leticia. – ele já a olhou irritado – Para de tentar se meter na vida dela.

— Eu não...

— Leticia. – Aline a cortou – É melhor deixar essa historia quieta.

— Você também. Deve saber de algo... – Aline e Bruno se olharam pelo retrovisor.

— Eu não sei de nada. – abaixou a cabeça – E se soubesse só contaria com a permissão dela.

— Que saco viu?

Um tempo passou-se desde a conversa e o transito já fluía melhor. Letícia continuava olhando pela janela afora. Bruno olhou pelo retrovisor e depois de muito se sentir avaliada, Aline virou já bufando para ele.

— Que foi Bruno? – o olhou irritada.

— Desculpa. A mãe dela está bem?

— Acho que sim. Ela não comentou muita coisa.

— E quando volta? – ela soltou um sorriso de canto de boca.

— Acho que terça feira ou quarta de manhã.

— Ok. – virou novamente para o transito e o silencio se fez. Leticia dormiu e Aline se prendeu em um livro que estava terminando de ler.

Quando chegaram a empresa, Bruno estacionou o carro e pensou em ligar para saber se estava tudo bem. Olhou para o celular e desistiu. Será que seria certo?

MINAS GERAIS

Dominique sentia uma presença perto de si. Presença essa que ia se aconchegando em seus braços com um cheiro tão característico que só fez sorrir. Abriu os olhos aos poucos e viu Ana encolhida em seus braços embaixo das cobertas, tentando dormir.

— Não era para a senhorita estar na sua cama?

— Uhum. – ouviu o murmúrio baixo e sorriu – Só um pouquinho.

— Pode ficar quanto quiser. – abraçou-a melhor e passou as mãos em seus cabelos enquanto a via dormir novamente. Não tinha como negar que parecia e muito com ela quando era criança. Queria entender como sua mãe nunca tinha perguntado nada de concreto, mas enquanto esse assunto não viesse à tona, preparava toda e qualquer ideia de como se explicar.

Dez minutos depois vendo Ana dormir, seu celular tocou. Virou para ver e era Bruno. Respirou fundo e pensou se deveria atender ou não. Achou melhor, por ora, não atender. Desligou a ligação e fez movimentos leves para não acordar a menina. Não levou dois minutos para ele ligar novamente. Já não sabia se ele estava ligando porque queria conversar do outro dia, ou se já sabia que ela estava em Minas.

Não atendeu de novo.

****

Bruno estava impaciente. Como ela não atendia a ligação dele? E ainda por cima desligava. Será que tinha acontecido algo e ela não podia atender? Encostou a cabeça no banco do carro e suspirou. As lembranças do passado vieram automaticamente a sua mente.

Flashback

 

Ele andava de um lado para o outro dento do apartamento. Estava tão irritado que não aguentava mais ouvir o choro de Dominique. Ela permanecia encolhida no sofá e olhando para a janela, mas cada vez que se lembrava das palavras de seu padrasto, seu corpo todo tremia e chorava rios.

 

— Aquele infeliz teve essa audácia? – ela continuava chorando – Para de chorar Dominique! – ela o olhou irritada.

— Como acha que eu devo ficar? Ele destruiu minha vida.

— E você ajudou. Por que mentiu? – falou em uma voz sofrida, mesmo sua feição parecendo irritada – Já tinha me contado parte da historia, custava confiar em mim?

— Você ia correndo resolver esse problema. E minha mãe... – não aguentou terminar e as lágrimas caiam como cascatas de seus olhos – Ela não vai aguentar saber disso.

— Onde essa criança está? – ele perguntou já irritado – Onde? – ela demorou a responder e a ira dele foi maior – Onde ela está Dominique?

— Ela morreu. – disse por fim.

 

Fim do Flashback

****

Só de olhar Ana dormindo e lembrando que tinha mentido descaradamente para Bruno, Dominique sentia um aperto forte no peito. Sabia que se ele soubesse dessa história toda, provavelmente viria e mataria Augusto o quanto antes.

Foi para cozinha fazer algo para comer e quando chegou, viu sua mãe e o padrasto se  beijando. Fez uma cara de nojo e saiu empurrando os dois para pegar algo na geladeira pra comer.

— Bom dia filha. – sorriu ao vê-la – Ana está no seu quarto?

— Está mãe. – virou com a jarra de suco – Bom dia.

— Bom dia. – ele respondeu e logo em seguida sentou à mesa – O café está pronto. Só se servir.

— Não estou com muita fome. E quando vamos começar a resolver as coisas? – olhou para Cristina – Agendei minha viagem para amanha à noite. Então temos pouco tempo.

— Poxa filha. – ela olhou para ela – Pensei que fosse ficar mais tempo.

— Eu sei mãe, mas eu gerencio o setor, não posso simplesmente abandonar.

— Não é abandonar Nique! – já a olhava séria – É questão de você se organizar. Há quanto tempo não vem aqui, não liga, não da noticias.

— Eu sei mãe. – se emudeceu e Augusto olhou-a de relance – Tive meus contratempos. Da próxima me organizo melhor.

— Ok. Come bem que vamos passar o dia todo na rua. Vou acordar a pequena lá, senão ela não vai pra escola.

— Se é que ela vai querer ir. – Augusto comentou e todos riram – Se ela quiser ficar com a irmã dela Cristina, deixa. Eu passo na escola e explico pra professora.

— Tudo bem. – ela sorriu e foi atrás de Ana.

Ficaram sozinhos na cozinha. Por pouco não se encararam firmemente, mas Dominique permanecia olhando e se concentrando na comida.

— Eu queria pedir desculpas por ontem. – ele disse finalmente. Ela apenas assentiu – Eu não devia ter feito aquilo.

— Ainda bem que sabe. – ele riu – O que foi?

— Não mudou nada não é mesmo? Como você está?

— E isso te interessa? – ela o olhou indiferente e começou a passar manteiga no pão.

 - Estou sendo educado. Custa você também ser?

— Eu sou, só não me peça pra ser mais, porque estou com uma faca na mão. – ele se assustou – Ai sim, você vai ver minha educação.

— Sabe muito bem que não pode fazer isso. – ele se irritou e cerrou os punhos. Ela apenas sorriu em deboche e antes de levar o pão a boca o encarou.

— Duvida?

Enquanto isso, Cristina separava a roupa de Ana para ir a escola. Ela olhou para a mãe chorosa, pedindo para ficar em casa e ela acabou aceitando. Disse que pelo menos ela deveria ir tomar banho para sair com as duas.

****

Bruno estava no trabalho terminando de assinar uns projetos, mas sua mente não estava na empresa. Por mais que fosse um passado difícil de mexer, ele precisava saber como Dominique estava.

— Bruno... – o projetor olhou pra ele – Hei, cara. Tá tudo bem?

— Desculpa. – ele sorriu sem graça – Estou com alguns problemas.

— Sérios?

— Um pouco. Mas a gente precisa terminar essas projeções, porque depois os grandões virão aqui pra ver o andamento.

— Claro. Já esta tudo praticamente pronto. O escritório já está todo reformado e já vamos nos mudar semana que vem. – ele assentiu – Só a sala de reuniões e sua sala que estão com os retoques finais.

— Entendi. Mas de qualquer forma, esse projeto é grande. Já ligou para o setor de despacho pra saber se a carga com os produtos chegaram ao estaleiro?

— Ah sim, o Breno disse que a reunião está marcada pra amanha e que já está tudo certo com a empresa lá. Só precisamos terminar esses aqui, assinar mais algumas papeladas e depois você pode tirar o dia livre.

— Valeu cara.

Quando seu colega saiu para ir ao banheiro e se viu sozinho na sala, seu celular parecia brilhar em frente aos seus olhos. Uma hora ela teria que atender. Ligou de novo.

— Alô.— ouviu uma voz de criança e estranhou.

— Quem fala?

— Quem fala?— a voz da menina era linda e ele apenas riu.

— É o telefone da Dominique?

— É sim. Quem fala?

— Bruno, um amigo dela.

— Minha irmã tem amigos meninos?— ele riu ainda mais ao imaginar que ela deve ter franzido o rosto. Depois assimilou o que a menina disse. Dominique tinha irmã?

— Sim, ela tem. – falou se recompondo – Posso falar com ela?

— Não sei onde ela está.— depois ouviu uma voz ao longe – Mãe, tem um moço querendo falar com a Nique.

— Quem é? — Cristina pegou o telefone — Alô. Quem fala?

— Oi Cristina, é o Bruno. – ela olhou para Ana.

— Filha, vai lá pro chuveiro, já estou indo.

— Mãe, não quero ficar com frio.— ele riu — Eu quero que a senhora vá.

— Vai logo mocinha. Senão não sai com a gente.

— Fui.

— Quantos anos ela tem? – ele perguntou curioso.

— Tem quatro. Mas tem horas que parece que tem dez. – viu que estava sozinha — Como você está?

— Voltei para o Brasil. – ele olhava para os papeis na mesa.

— Pensei que fosse morar de vez na Europa.

— Era essa a ideia, mas a persuasão das pessoas foi maior. – ela riu.

— Que bom que voltou.

— Quando eu ouviria isso de você? – ele riu também – Como você está?

— Na medida do possível, bem. Está tudo estabilizado agora.

— E você pode engravidar? – ele estranhou.

— Não.— ela sorriu e olhou para a foto da filha no quarto — Achei que Dominique tivesse conversado com você.

— Achei que ela tivesse falado com você. Nosso reencontro não tem sido dos melhores.

— Ainda não tive tempo de conversar com ela direito. Mas hoje quem sabe...?

— Então ela é adotada. – ele afirmou. Cristina engoliu em seco e deu graças por não estar cara a cara com ele – Cristina...

— É sim. Você acertou. Olha, eu preciso ir. Por favor, conversa direito com a Dominique, muita coisa ficou mal resolvida entre vocês dois.

— Pode deixar. Fala com ela também. Vai que te ouve, por ser mãe dela.

— Vou sim.

— Mas eu queria falar com ela. – ele finalmente conseguiu dizer o motivo da ligação – Só que o rapaz que trabalha comigo chegou. Depois eu ligo de novo.

— Tudo bem. Tchau.

Bruno desligou o telefone e continuou o encarando por um tempo. Precisava saber que historia era essa de irmã que ela tinha, já que nem Leticia tinha comentado nada sobre isso. Será que ela tinha sido adotada há pouco tempo?

****

Cristina desceu as escadas já pronta. Ana estava em seu quarto desenhando e ela só pediu a Dominique que se apressasse logo. Foi para fora e viu Augusto arrumando algo no motor do carro. Assim que sentiu sua presença, virou para ela e lhe deu um selinho.

— Parece que você acertou. Ela quer sair com a gente. – ele sorriu.

— É óbvio, quer ficar perto da irmã.

— Não sabe quem ligou. – ele virou de novo para o carro – Bruno. – e deu com a cabeça no capô.

— Ele ligou aqui pra casa?

— Não. Ligou para o celular da Dominique. Ana que atendeu. – ele sentiu ma batida falhar.

— Como?

— É... Imagina? O pobrezinho falando com ela sem saber de nada. – ele virou imediatamente para ela sério – Calma, não contei nada. Dominique que tem que conversar com ele.

— Conversar o que? Não acha que eles dois estão conversados não? – ela franziu o cenho – Digo, ele foi morar lá fora por causa disso não é?

— Ele está de volta.

— Que ótimo. – virou e foi para perto da porta do carro. Mexeu na chave e viu que o carro estava ligando normalmente – Só quero ver onde isso vai dar.

Dominique terminou de se arrumar e foi ver sua irmã. Chegou lá e ela estava tentando cantar uma música em inglês, claro que tudo errado e desenhando feliz. Escorou-se no batente da porta e ficou ali admirando-a. Cristina chegou ao eu lado em seguida, e abraçou de lado.

— Vamos? – ela apenas assentiu – Ana? – a menina virou – Levanta e vamos.

— Tá, mãe.

Entraram no carro e foram embora. Passearam pela cidade para Dominique ver como muita coisa tinha se mantido com o tempo, depois foram ao mercado comprar algumas coisas. Depois de Dominique e Ana fazerem uma algazarra com os carrinhos e tomarem bronca da mãe, entraram no carro felizes, porque estavam se divertindo. Chegaram a praça onde estavam distribuindo os afazeres para o evento da primavera, e ela começou a dar falta de seu celular. Ninguém tinha gritado do trabalho até agora? Muito estranho. Começou a procurar pela bolsa, na esperança de tê-lo colocado ali dentro, quando se deu conta de que tinha esquecido em cima da cama.

— Nique. – Ana puxou sua roupa – Tá procurando o que?

— Oi meu amor, meu celular, deixei em casa.

— Ah. – ela virou para sua bolsinha e o tirou de dentro – Esse aqui NE?

— Esse sim. Por que está com ele?

— Ah... – ela abriu o maior sorriso maroto – Um moço ligou pra você. Bruno, eu acho. Ele falou com a mamãe também. – saiu correndo deixando Dominique estática. Quando olhou, ela estava brincando com as crianças da vizinhança.

Começou a hiperventilar. Ele tinha falado com ela. Até onde se lembrava, ele não sabia da existência dessa menina. Ou Letícia tinha contado algo? Ela tinha uma boca grande, bem capaz de ter contado tudo para ele, mas...

— Dominique... – Cristina chegou perto dela – O que foi?

— Bruno falou com a Ana. Sabia que tinha que ter deixado o telefone longe. Ele já estava ligando desde cedo, e eu não atendi. Eu...

— Calma, vai ficar sem ar. – ela esfregou suas costas – Respira. Eu falei com ele também.

— A senhora... o que? – parou de respirar de vez.

— Calma, Nique. – olhou para uma colega da vizinhança – Sonia, traz um copo de água com açúcar.

— Aconteceu alguma coisa?

— Só traz a água, por favor.

Dez minutos depois, ela já tinha tomado todo o copo de água, e olhava pra mãe sem acreditar na conversa. Mais ainda por ela não ter falado nada a ele que o afugentasse ou qualquer coisa do tipo.

— Desde quando você é amiga dele?

— Desde que vocês dois tem uma responsabilidade e você não conta nada a ele. – ela olhou para mãe confusa, mas depois entendeu. Ela realmente achava que aquela menina era filha dele.

— Mãe...

— Eu não quero discutir com você. Fiz o meu dever de mãe, mas acho melhor você aproveitar enquanto ela ainda é pequena. Não sei o que te levou a agir desse jeito, mas Augusto me falou que você estava perdida na época. eu não entendo, poderia ter pedido minha ajuda...

— Não é tão fácil assim.

— Mas você voltou pra ele depois.

— Mãe... – levantou – Olha, acho melhor deixarmos a história enterrada ok? Está tudo indo bem do jeito que tem que estar.

— Ele é o pai dessa criança Dominique. Ele precisa saber.

— A senhora vai contar? – riu – E desde quando Augusto se mete nessa historia? – se revoltou.

— Você tem que agradecer que ele ajudou e resolveu assumir isso tudo. Não seja ingrata!

— Olha, mãe. A senhora poderia ter me dito que sabia de tudo... – entre aspas, porque a mae dela não sabia de missa metade – E agradeço por estar fazendo isso por ela... Mas essa historia não tem como se resolver nem tão cedo. E não quero a senhora contando nada para o Bruno.

— Tudo bem. Não vou me meter. – ela chegou perto e a abraçou – Só acho que o tempo está correndo, e você depois não vai mais conseguir contar a verdade. Ela é esperta. Não faça besteiras.

Ela olhou para a mãe e pediu para irem logo resolver as coisas. O caminho já não era o que ela queria. Respirou fundo várias vezes para não chorar e se sentir ainda pior. Tinha escolhido viver de outra maneira, e voltar para lá só estava lhe deixando mal por ter feito isso. Compraram tudo que estava faltando, passearam no shopping, almoçaram por lá e Cristina encontrou mais duas amigas que ajudariam em tudo.

Ao chegarem em casa, a obra já estava sendo feita e o barulho era enorme. Cristina comentou com os pedreiros que queria deixar a parte da varanda livre, para poder abrir o portão da garagem e receber as pessoas. Todos ajudaram a limpar e eles foram fazer barulho na parte de dentro da casa.

Dominique estava na rede pensando. Essa era a única coisa que de fato fez durante todo o dia, já que não conseguia se concentrar em tudo. Pensar. Olhou para o celular e tentou reunir toda a coragem do mundo para ligar para Bruno. Por mais que os dois tivessem tido problemas, e principalmente a ultima discussão, ela sabia que esse assunto era muito mal resolvido e ele, no fundo, merecia saber disso. Mas não ia conseguir contar tão cedo, algo que levou anos para esconder.

— Alô. — ele atendeu de pronto.

— Tava grudado no celular? – estranhou e ele riu.

— Estou o dia inteiro resolvendo problemas pelo telefone. Até que enfim me ligou. Pensei que fosse me ignorar o dia inteiro.

— Essa era a intenção. – tentou conter o choro – Por que me ligou?

— Fiquei preocupado. — ignorou o que ela disse — Leticia me contou que você foi a Minas. Está tudo bem por ai?

— Está. – respondeu e secou algumas lágrimas – Não precisava se preocupar.

— Olha Nique, independente de estarmos juntos ou não, o que acontece ai me preocupa sim. E você sabe porque.

— Agradeço Bruno, mas não quero discutir. Só liguei de volta por educação.

— Ele está ai não é? — um silencio se fez— Nique.

— Não quero falar sobre isso. – ele sabia que sim – Eu... Preciso desligar, minha mãe está chamando.

— Antes de desligar... Por que não contou que tinha uma irmã?

— Porque não te interessa. – falou ríspida. Ele apenas respirou fundo.

— Eu não vou ficar bravo e nem discutir. Você está abalada por ter ido ai e encontrado com esse traste. E só age desse jeito quando quer afastar as pessoas. – droga, ele a conhecia bem demais — Mas vou ser paciente. Quando você voltar a gente conversa.

— Não vamos conversar nada, Bruno. – a mãe dela já estava perto e a olhando séria – Tchau.

Desligou o telefone e sua mãe sentou na rede também. Ela olhou para a mãe, pediu uma hora de descanso e se trancou novamente no quarto. Quando a culpa e o remorso te atingem em cheio, fica difícil até mesmo respirar. Deitou na cama e tentou com lágrimas sanar a dor que sentia dentro do coração.


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