Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 30
Capitulo 30


Notas iniciais do capítulo

Mais um pra vocês!



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Capitulo 30

Charles olhava pela janela, sentado em uma poltrona e bebendo uma taça de vinho. Já tinha uma semana que tinha se afastado de tudo e todos. Não queria que ninguém soubesse onde estava, mas contou apenas a Stolt que precisava tirar uma folga de sua vida, no sentido de que precisava muito respirar ar puro com relação aos seus problemas. O único que sabia que ele tinha viajado era ele, mas não sabia para onde.

Não quis contar ao tio, porque sabia que se houvesse a mínima possibilidade de Diana querer saber, ela seria persuasiva o suficiente para que ele acabasse contando. Stolt foi discreto e entendeu Charles. Por alto, lhe disse que tinha muitos problemas mal resolvidos e que há anos ele fugia deles. E que se quisesse permanecer naquela evolução no projeto, precisaria mesmo ficar um pouco sozinho.

Estava na antiga casa de seu pai, em uma ilha de Alagoas, no lago Manguaba. Não eram locais próximos do centro e só dava pra chegar à cidade de balsa.

Odiava ir contra os conselhos de Jay de ficar sozinho. Mas era inevitável. Seus pensamentos só o faziam querer se isolar ainda mais. Como a área ali não era boa, devido a quantidade de árvores em volta, só havia o telefone fixo, mas ele tinha desligado para não ter maiores problemas. Procurou se distrair lendo um livro, mas não sabia o que faria da vida.

Diana correspondia a ele em tudo, e cismava em se manter longe para não sofrer. Ela não percebia que ele também sofria com essa separação?

RIO DE JANEIRO

Diana estava desesperada. Aline olhava para o telefone sem entender, Charles não era do tipo que fazia uma coisa dessas. Respirou fundo e acabou pedindo a servente para trazer um copo de água pra ela. Assim que ela pegou o copo, ela tremia, o que deixava Aline ainda mais preocupada.

Dennis e Marcelo já estranhavam a demora. Já se passavam mais de quinze minutos, eles dois já estavam praticamente comendo e Dennis resolveu ir ao banheiro pra descobrir se estava tudo bem.  Mandou uma mensagem para o celular de Aline avisando que estava na porta preocupado. Ela respirou fundo e saiu de lá para falar com ele.

— Está tudo bem? Eu sei que vocês costumam demorar, mas já tem uns vinte minutos. – ela o olhava séria e ele percebeu que alguma coisa tinha acontecido – Aline?

— Sabe onde está o Charles?

— Charles?

— É Dennis, Charles, seu primo, sobrinho do seu pai. – ele tentou se manter sério, mas acabou rindo do deboche.

— Olha, quando ele não está em casa ou viajando a trabalho, ele costuma ir ao Golfe na Barra, por que?

— Ele não foi pra lá. – ela o puxou para longe do banheiro – Diana recebeu uma mensagem do seu pai dizendo que ele sumiu.

— Sumiu? – ele alterou um pouco a voz e ela percebeu que algumas pessoas olharam pra eles dois – Desculpa.

— Isso, sumiu. Ele não sabe onde ele está e não deixou nenhum recado, nem nada.

— Estranho. Charles nunca fez isso. Vou ver o que posso descobrir.

Diana olhava-se no espelho depois de ter jogado água no rosto várias vezes. Já se sentia culpada por essa historia. A discussão com Charles, pelo visto, tinha surtido um efeito que ela não gostaria. E o maior medo dela era que ele se afogasse os problemas novamente nas drogas. Secou o rosto, ajeitou a maquiagem e assim que colocou as mãos na porta do banheiro, levantou o rosto, respirou fundo e procurou não demonstrar a preocupação excessiva que sentia.

Aline e Dennis estavam ao telefone ligando para Deus e o mundo tentando descobrir onde ele estava. Assim que a viu, veio na sua direção tentando manter o controle. Dennis não sabia deles dois e não era o momento de descobrir.

— Melhorou? - ela sorriu e manteve a serenidade.

— Ah claro. Nada que um dedo na goela não resolva.

— Informação demais. – Dennis chegou perto – Está passando mal Diana?

— Mais cedo comi algo que não me fez bem. – deu um sorriso mais aberto – Mas já resolvi meu problema.

— Estamos tentando descobrir onde Charles está. – ele comentou e ela sentiu a pontada no coração – Tem alguma noção?

— Não sei. – ela mostrou sinceridade, porque alem de tudo, era verdade – Mas não tenho contato com ele fora do escritório, fica difícil eu responder.

— Poxa Dennis, mas você não o vê por uma semana. – Aline o repreendeu – Você não percebeu nada não?

— Aline... – ele estava calmo – Conheço o Charles... Deve ter ido espairecer as ideias em algum lugar e não quer ser incomodado. Ele já fez isso várias vezes, então já me acostumei.

— Ele sempre faz isso? – Diana já o olhou séria – Some assim, sem mais nem menos?

— Não é sem mais nem menos. Ele só viaja. Daqui a pouco ele volta. Se não foi pra ver nenhum cliente, foi só tirar umas férias.

— Mas seu pai está preocupado. – Aline comentou. Marcelo já tinha levantado e ido na direção deles.

— Aconteceu algo?

— Charles sumiu. – Diana olhou pra ele – Ninguém sabe onde ele está.

— Entendi. – Dennis se afastou para atender outra ligação e ela pediu com o olhar para que Marcelo não comentasse nada. Ele entendeu e ficou quieto esperando alguma resposta – Vocês vão voltar pra mesa?

— Vamos.

Sentaram novamente e Diana aproveitou que Dennis não estava perto para contar o que tinha acontecido e que ninguém fora do circulo deles, alem de Aline sabia da historia toda.

— E por que não contou aos primos?

— Não sei. – Aline começou – Talvez para preservar a imagem do pai dele. E os meninos eram bem mais novos naquela época.

— Ele tinha dito que um dia contaria a eles, mas que estava apenas esperando o momento certo.

— Entendi. – Dennis estava chegando e Marcelo apontou com a cabeça – Ele está vindo.

— Falei com todo mundo, perguntei até a Stolt. Ele sabe onde Charles está... – todos o olharam ansiosos – Mas disse que ele pediu pra não dizer onde está. Que precisa de privacidade.

— Privacidade? – Diana comentou e Marcelo chutou sua perna delicadamente embaixo da mesa – Temos um monte de coisas pra resolver do projeto e ele precisa de privacidade? – mudou o tom antes de demonstrar alguma coisa.

— Olha, qualquer coisa nós resolvemos. Não tem problema, o Stolt disse que tinha conversado com ele e estava tudo certo.

— Que bom. – Aline sorriu e olhou para a comida – Acho melhor a gente começar a comer, já está tudo esfriando.

****

Dominique estava em casa terminando de arrumar o quarto. Sem querer pegou a caixa com as fotos antigas que tinha da época da faculdade. Ficou tentada em abrir, mas sabia que sempre que o fazia, algo ruim vinha a sua mente, e ela terminava o dia abraçada a uma garrafa de vinho, chorando e pensando na vida. Largou a caixa para o lado e ouviu o telefone tocar.

— Alô.

— Oi minha filha.— parou de fazer qualquer coisa ao ouvir a voz da mãe — Está tudo bem?

— Tudo mãe. – sentou na cama – E a senhora?

— Ah sim, está tudo bem. Estou ligando porque tem um tempo que não nos falamos.

— É verdade. – engoliu em seco, há tempos não ligava para a mãe – Alguma novidade?

— Queria saber se você pode tirar umas pequenas férias.

— Férias? – estranhou.

— Sim. Estou reformando a casa e queria que viesse me ajudar. Daqui a pouco a primavera está chegando e temos aquela festa anual aqui, estou cheia de coisas pra fazer e preciso de uma força.

— E quando a senhora quer que eu vá ai?

— Que tal hoje mesmo? Eu tenho um bônus de passagem, posso passar pra você e depois você só marca a volta.

— Preciso ver se consigo folga no trabalho mãe. Qualquer coisa, no final de semana eu to ai.

— Poxa filha...— ela respirou fundo ao ouvir a mãe falando com aquela voz carente de sempre – Sua irmã também sente sua falta.

— É... – Nique olhou a foto da irmã na cômoda do quarto. Engoliu em seco de novo e olhou para as mãos – Eu sei mãe.

— Niqueee!— ouviu a voz da irmã do outro lado quase arrancando o telefone da mãe — Você vem hoje?

— Vou ver se consigo, Aninha. – sorriu.

— To com saudade.— ouviu aquela voz de criança tão fofa e quase chorou de alegria — Quero ver você.

— Também quero, meu amor. – uma lágrima correu pelos seus olhos – Se eu conseguir, de noite estou ai tá bom?

— Ai que legal!— a mãe dela pegou de novo o telefone.

— E então?

— Como ela consegue ser tão eloquente pra idade dela?

— É... Ela é um amor não é?

— Te ligo pra dizer como vou fazer.

Desligou o telefone e se deitou na cama. Respirou fundo várias vezes e imaginou o rostinho da irmã que ela não via há quase dois anos. Sabia que muito era por sua culpa e que estava fugindo de Minas sempre que tinha oportunidade, mas já não podia ficar adiando isso tanto tempo. Resolveu ligar para Diana para saber se podia fazer alguma coisa.

— Oi Diana.

— Diga Dominique.

— Minha mãe me ligou e pediu pra eu ir hoje a Minas, parece que ela está precisando de mim. Teria como eu ficar uns dois dias por lá? Na quarta de manha eu volto pro escritório.

— Claro. Sempre que sua mãe liga é algo importante. Ela está bem?— Diana parecia preocupada do outro lado da linha.

— Eu não sei. Ela não falou nada, mas pra ter me ligado pedindo urgência, deve ser e não quis me preocupar.

— Pode ir sim. Eu peço pra Aline e pra Mariana que trabalha com você tomarem conta até você voltar.

— Obrigada.

Desligou o telefone e saiu do quarto quando viu Leticia e Aline chegando ao apartamento. Falaram algo e ela depois voltou da área de serviço com uma calça nas mãos. As duas estavam na cozinha e antes de saírem, ela as parou.

— Falei com a Diana hoje e pedi dois dias para ir a Minas.

— Aconteceu alguma coisa com a sua mãe? – Aline a olhou preocupada também.

— Não sei. Ela só me pediu pra ir. Diana permitiu e terça a noite eu estou aqui, ou quarta de manha vou direto pro escritório. Ela disse que vai pedir pra você e pra Mariana tomarem conta.

— Claro, dois dias não matam ninguém.

— E como está aquela fofura da Aninha? – Leticia se pronunciou sentada ao balcão comendo uma fruta.

— Ah parece ótima. – sorriu forçada – Reclamou que eu não apareço mais por lá.

— Isso é verdade. – ela concordou – Nem ouvi mais falar da menina. Você não foi mais lá, não liga...

— Muita coisa não acha Leticia? O trabalho tem me consumido ao extremo.

— E meu irmão também. – comentou rindo e Aline também.

— Muito engraçadas as duas. Vou arrumar as minhas coisas que é mais lucro. – saiu de perto delas e foi para o quarto.

Aline se virou procurando alguma coisa na geladeira e Leticia continuou comendo até que percebeu aquele silencio mortífero.

— Aline.

— Hum...

— Tudo bem? – sorriu e Aline se virou com uma garrafa de suco sorrindo também.

— Tudo e você?

— Aham... – levantou e levou a faca a pia – Como estão as coisas com Dennis?

— Estão ótimas e você com o Tiago? – ela parecia sincera e Leticia engoliu em seco.

— Tudo bem também.

— Que bom. – saiu da cozinha e estava indo para o quarto.

— Aline... – ela parou no meio do caminho – Por que não conversamos mais como antes?

— A culpa não é minha. – ela sorriu – Me dá só um tempo. Depois tudo se acerta. – entrou em seu quarto e fechou a porta.

— To vendo.

LAGO MANGUABA – ALAGOAS

Charles estava  terminando de arrumar as roupas no armário quando ouviu um barulho de barco. Saiu a espera de vir alguém que não conhecia, quando viu Monalisa chegando com a guarda costeira.

— Como assim? – ele olhou para ela quando o barco parou na ponte ao lado e a ajudou a subir – Pensei que viria de táxi.

— Pois é. – ela sorriu – O meu barco parou e tivemos que chamar a guarda costeira.

— Entendi. – olhou para o piloto – Tudo bom Eduardo?

— Tudo Charles. Muito tempo que não te vejo por aqui. – ele assentiu – O chefe já falou com você das obras que precisam ser feitas?

— Ele falou comigo mês passado. Ficaram prontas há pouco tempo.

— Que bom, agora não precisa usar mais o barco pra chegar aqui. Tem a balsa.

— Também achei uma boa. Só preciso reformar a garagem, por enquanto venho de barco mesmo.

— Ainda deixa na marina?

— Deixo sim. Ele disse que não tinha problema.

— Não. – sorriu – Sempre dou uma vigiada por lá pra ver se tem algum problema.

— Obrigado. – pegou a mala dela que estava presa na vista – Vamos?

— Vamos.

Entraram na casa e ela ainda olhava encantada para o lugar. A empregada apareceu e pegou a mala. Olhou para ele e perguntou onde poderia deixar e ele disse que no quarto dele mesmo. Foram para a cozinha e ele terminava de colocar duas taças de vinho quando ela sentou e ficou olhando para ele.

— Ainda estou querendo saber porque me pediu para vir.

— Não gostou daqui? – entregou a taça a ela e os dois brindaram.

— Não. – negou veemente – Achei lindo. Mas pensei que ia querer ir pra Paris. Lá está lindo também essa época do ano.

— Bom, eu tentei. Mas é complicado com tantas coisas envolvendo o projeto. pensei que você não viria.

— Consegui adiantar muita coisa e minha prima está tomando conta das coisas no escritório. Então não tem problema. – sorriram – Gostei mesmo foi daqui. Mas... Você ainda não me respondeu a pergunta.

— Não posso ficar sozinho. – ela sorriu e ele também.

— É um argumento bom, mas tem mais coisa ai que você não me disse.

— Eu te conto, se você prometer não contar a ninguém. – ele já parecia sério e ela percebeu que tinha muito mais coisa do que podia imaginar por trás daquele isolamento dele.

— Prometo.

Uma hora depois, Monalisa mudava a feição de surpresa para apavorada. Charles contou por alto, mas não deixou de colocar os detalhes mais importantes na mesa. Conversaram um bom tempo e ela acabou entendendo muita coisa, principalmente da postura dele com relação a tudo que ela via e conhecia.

— Sério Charles, você é tão reservado que nunca ia imaginar nada disso. Sério, estou mesmo surpresa.

— Imaginei. – ele sorriu sem humor – Entende por que não posso ficar sozinho?

— Mas não seria certo vocês dois se acertarem de vez? Já imaginou, e Deus o livre disso, você acaba afogando suas magoas de novo nas drogas? Como ela não vai ficar?

— Ela vai se culpar pra sempre. Mas em parte, a culpa não é dela.

— Charles... – ela se aproximou dele – Só ela que não vê que você a ama? Que foi disposto a isso tudo por ela?

— Eu não contei todos os detalhes a ela depois disso. Só pedi uma chance.

— E ela não te deu. – ele negou – Se vocês dois não tiverem uma conversa séria, nada disso vai adiantar, porque ela foge e você não deixa claro o que realmente tá acontecendo.

— Pra completar, ela voltou a andar pra cima e pra baixo com o ex-namorado.

— Vocês dois estão parecendo adolescentes sabia? – ela riu.

— Também penso nisso. Parece que voltamos a faculdade. – bagunçou os cabelos – E isso só me frustra.

Monalisa levantou e foi para trás de Charles. Suavemente passou as mãos em seus ombros e apertou com uma força comedida, para sentir até onde a tensão dele ia. Começou a massagear seus ombros delicadamente e foi chegando perto de seu pescoço, até abaixar e dar uma leve mordiscada em sua orelha.

— Você esta tenso. – sussurrou – Eu posso te ajudar.

— Se continuar desse jeito, vou ficar ainda mais. – ele virou e a puxou para sentar em seu colo – Você não se importa com nada do que falei?

— Que você ama outra mulher? – deu um selinho nele e riu – Nesse momento, quem está sentada no seu colo sou eu... – foi se aconchegando mais a ele – Quem está sentindo o seu perfume sou eu... – foi chegando perto do seu pescoço e mordiscou sua outra orelha. Charles sentiu o corpo todo tremer e apertou suas pernas com certa força – E quem foi chamada para vir pra cá fui eu.

Não precisa falar mais nada. Charles a beijou ali mesmo. Puxou-a e rapidamente ela se ajeitou ao seu colo. Ele enfiou suas mãos dentro de sua blusa e foi sentindo cada pelinho de seu corpo eriçar, deixando-o ainda mais tenso, se é que podemos dizer assim. Não era Diana, e não adiantaria, porque ele poderia dormir com todas as mulheres do mundo, que nunca nenhuma a superaria, mas ia aproveitar de novo aquele momento. Afinal, ele também tinha procurado, e não ia fazer feio com ela.

Pegou-a no colo e mesmo ela com as pernas envoltas em sua cintura, carregou-a até o balcão da cozinha. Ela foi afastando todas as coisas que tinham ali em cima, e foi se deitando enquanto ele tirava a blusa e já abria os botões da calça. Tirou sua blusa também e o puxou com as pernas para ficasse em cima dela. Voltaram a se beijar e ela já colocava as mãos dentro de seus cabelos pedindo por mais.

— Se continuar desse jeito... – ele parou o beijo e a olhou – Não vou relaxar nunca.

— Deixa comigo Charles, vou fazer você ficar relaxado rapidinho. – riram e voltaram a se beijar.

BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS

Dominique estava no desembarque esperando por suas coisas. Foi para esteira de bagagem e enquanto as malas não eram liberadas, olhava para ela girando e imaginava o que estava fazendo da vida e como reagiria ao ver a mãe depois de tanto tempo. Não podia negar que estava mesmo evitando esse encontro e só de pensar que seus esforços foram por água abaixo, suspirou. As bagagens apareceram e pegou a sua. Puxou a alavanca, colocou-a no chão e começou a andar pelo aeroporto.

Chegou perto de uma empresa de aluguel de carros, mas assim que virou ao saber que tinha que esperar uma hora e meia para o próximo carro estar disponível, viu sua mãe com sua irmã acenando. Tomou um susto, primeiro porque não sabia que elas estariam ali, e segundo por ver sua irmã já crescida e enorme. Mesmo tendo a foto da pequena em seu quarto, pessoalmente ela parecia muito maior.

— Minha filha, que saudades! – foi abraçada e ainda estava em estado de choque, até finalmente abraçar a mãe em revide – Você está linda.

— Obrigada mãe. – ela sorriu – A senhora parece estar muito bem também.

— Ah, estou caminhando todo dia cedo para levar essa mocinha para escola. Está me fazendo muito bem. – ela sorriu. Quando percebeu, sua roupa estava sendo puxada pela pequena ao seu lado.

— Não vai falar comigo também não? – Ana, sua irmã de quatro anos e que parecia muito com ela já a olhava de braços cruzados.

— Claro que vou, meu amor. – abraçou a irmã com mais saudade ainda – Como senti sua falta sabia? – lágrimas correram de seus olhos, e sua mãe também ficou emocionada – Tem se comportado direito?

— Tenho. Mamae falou que se eu me comportar ainda mais, vou ganhar uma bicicleta no final do ano.

— Que isso hein! Eu não ganhei, isso é injusto.

— Mãe... – Ana puxou o vestido da mãe – Dá uma bicicleta pra ela também. – elas gargalharam.

— Dominique já passou dessa idade.

— Tá me chamando de velha dona Cristina? – cruzou os braços também e ela ficou surpresa.

— Sabe o que me deixa surpresa toda vez que te vejo?

— O que? – não entendeu.

— Como você e a Ana se parecem. – Dominique rapidamente abaixou os braços e coçou a cabeça. Fez um nó no cabelo para disfarçar o nervosismo e viu Ana pegando sua mala.

— Ta tentando fazer o que hein pequena?

— Puxar sua mala. – falou fazendo força – Mas é muito grande.

— E pesada para a senhorita. – tirou suas mãos da mala e ajeitou a bolsa.

— Vamos, eu estou de carro.

— Mae, não é bom a senhora dirigir.

— Tá me chamando de invalida? – Cristina a olhou irritada.

Isso foi motivo para tomar bronca dela meio caminho até o bairro. Tentou argumentar, avisando que ela não poderia ficar longas horas dirigindo, principalmente sozinha, mas não adiantou. Ela falou pelos cotovelos, dando sermões de mãe. Depois de um tempo, acabou se distraindo com algo no rádio e Dominique pode voltar sua atenção para a irmã que já dormia no banco de trás do carro. Ela era definitivamente linda e esse era o único momento que ela se arrependia de não dar noticias e de não ir para Minas.

— Ela está dormindo mesmo? – sua mãe falou.

— Parece que sim.

— Que bom, preciso te contar o que ela fez semana passada. Quase te liguei para contar.

— O que foi? – encostou melhor no banco e mais de lado para prestar atenção na mãe.

— Lembra do nosso sitio? – ela assentiu – Eu fui lá pra ver como estão as coisas porque vou vender, acho que já tinha mencionado isso. – ela assentiu de novo – Então... Lembra aquelas suas brincadeiras de quando era pequena, suas escapadas para o curral, quando você me inventou de fazer aquela casa da arvore que eu queria por abaixo e seu pai não deixou?

— Lembro. – ela sorriu – Mas não to entendendo aonde você quer chegar.

— Ela fez o mesmo que você. – ela se assustou – Levou todos os brinquedos para a casa da arvore, fez o mesmo céu de estrelas que você fez quando era pequena, acho que esse ai ela achou dentro daquele deposito do curral.

— Mas ela só tem quatro anos.

— Eu sei. E me deu o mesmo susto que você me deu. Quando fui procurar, ela estava dormindo com seus brinquedos e com seu urso de pelúcia do mesmo jeito que você dormiu quando te achei daquela vez.

— Sério mãe, estou perdida.

— Não está vendo que ela tem a mesma personalidade que você? – Dominique engoliu em seco. Virou para olhar a estrada e olhou para a mãe de novo – Nem parece que é adotada. – sussurrou e ela deu um sorriso sem graça.

— A senhora deu sorte, achou uma menina que parece comigo. – virou e olhou para Ana dormindo. Parecia mesmo estar apagada, pois a cabeça chega estava jogada pro lado.

— O rosto dela até lembra um pouco você. Só que tem os olhos castanhos. Fora o fato de que tem horas que ela me lembra um pouco o Augusto e isso sim me dá nos nervos.

— Se a senhora pelo menos não quiser contar que ela é adotada, ninguém vai desconfiar.

— Todos os vizinhos sabem. – foi quando ela se atinou.

— Falando em Augusto... – já mudou o tom de voz para desgosto – Ele vai estar lá?

— Nós brigamos.

— Vocês sempre brigam. – ela a corrigiu e já parecia séria – Não sei porque ainda está com ele.

— E eu não vou discutir com você. – deu de ombros antes que se estressasse com sua mãe.

Continuaram o caminho todo de volta e resolveram conversar sobre como ela ia na escola. Assim que entraram na casa e o portão foi fechado, Dominique saiu do carro e a pegou no colo. Dormia um sono bem pesado, então não teria problema em ser acordada.

Assim que entrou no quarto, se encantou. Estava lindo, do jeito que ela sempre sonhou para seus filhos. Colocou-a na cama, tirou seus sapatos a cobriu.

Desceu e estranhou só o quarto dela estar no segundo andar da casa, que pelo visto tinha sido pela reforma.

— A senhora fez só o quarto dela? – chegou a cozinha, enquanto a mãe abria a porta para a área e começava a esquentar o leite.

— Não. Fiz só o dela. Mas ela acaba dormindo comigo às vezes. Como amanha é dia de escola eu durmo com ela lá em cima, porque ai já a empurro para tomar banho. Outra coisa que ela é parecida com você. Um martírio para ir pra escola.

— Imagino. – ela sentou e pegou uma maçã – Pelo visto a casa está ficando boa. – mudou de assunto – Quando vai terminar a reforma?

— Só mês que vem, quiçá dois meses. Eu vou transferir um quarto lá pra cima e fazer um escritório do meu. Depois vai lá, já deixei a cor do jeito que eu quero. Só reformei os quartos e banheiros por enquanto, e ai quando o meu estiver pronto lá em cima, só levo os móveis e coloco os de escritório lá.

— Entendi. – levantou – Vou dar uma olhada e aproveitar e ligar para minhas amigas, elas devem estar preocupadas.

— Ok.

Dominique saiu da cozinha e foi passear pela casa. Já tinha visto o quarto de Ana, só faltava ver o resto. Andou de um lado para o outro e achou a decoração nova dos quartos muito bonita. Resolveu logo pegar sua mala no carro e sua bolsa e ligar logo para as meninas. Estava cansada e queria dormir também. Assim que saiu da casa e chegou a garagem, outro carro estava estacionando e seu corpo todo tremeu assim que ele desligou.

Largou a mala no chão e ficou olhando um tempo. O motorista não saia dali e ela sentia que estava sendo observada. Só podia ser uma pessoa e ela odiaria essa estada se fosse quem estava pensando.

Assim que decidiu sair do carro, ela foi se afastando milímetros. Mesmo tensa, não acreditaria que era um bandido ou algo do tipo.

— Dominique? – ouviu a voz e teve a constatação do que não queria.

— Augusto. – afirmou. Não teria porque perguntar, ele já estava fora do carro e olhando intensamente pra ela.

— O que faz aqui? – perguntaram ao mesmo tempo.  


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