Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Capitulo 3

SEXTA FEIRA

Era de manha e Aline já estava em polvorosa. A mala e as roupas estavam espalhadas pela cama, e ela parecia ainda um pouco perdida quanto ao que levar. Olhava em volta e respirava fundo. Era a primeira vez que fazia parte de um projeto tão grande na empresa. Sentia como se as coisas fossem começar a mudar em sua vida.

Tudo bem que já era assistente da Diana há um tempo e já tinha ido para a França uma vez por conta de uma campanha, mas ela sentia um ar de diferente naquele projeto. Perdida em pensamentos, estava agradecendo a Deus por ele ter sido bom e ter tirado aquele traste do ex-namorado da vida dela.

- Pelo visto tem alguém animada com a campanha. – Leticia e Dominique entraram no quarto dela já arrumadas para ir trabalhar.

- Ah meninas me desculpem por não ter tomado café da manha com vocês, mas ainda estou vendo o que levar.

- Isso mesmo, se preocupa mais com isso, porque além de São Paulo estar um frio daqueles, você ainda tem que estar linda para o próximo cara que você conhecer. – Leticia continuou e elas riram.

- Até parece que eu vou ter tempo para saber de homem nessa viagem.

- Meu amor, um final de semana todo num hotel de luxo em São Paulo? – Dominique arqueou as sobrancelhas – Pelo amor de Deus Aline, acorda. Homens lindos vestidos de terno, turistas a rodo e claro muitas outras diversões. Vai me dizer que Diana vai te prender até na madrugada? Vai curtir a noite, São Paulo é conhecida por isso.

- Verdade. – ela parou para pensar enquanto colocava o ultimo casaco e bota na mala – Prontinho! – ela sorriu satisfeita e depois percebeu que estava atrasada, e as meninas também.

Ela se arrumou rápido, mas foi depois para o escritório. Ao chegarem, Dominique partiu logo para seu setor para não perder tempo. Ainda tinha muita coisa pra resolver. Letícia também saiu correndo e quando perguntou para uma das meninas que trabalhava, Diana ainda não tinha chegado. “Claro, é a dona, pode chegar a hora que quiser”, ela pensou.

O trabalho corria bem, Aline acabou encontrando com Diana no elevador e elas subiram juntas. Chegaram rapidamente, deixaram alguns afazeres por conta das outras pessoas do administrativo e Aline pediu a Leticia que resolvesse uma pendência de um relatório para um cliente de Minas. Coisa rápida, mas um pouco chata de fazer. Ela também deixou claro que se precisassem, poderiam ligar para o celular dela para resolver as coisas.

Então, elas partiram para o aeroporto, já que o vôo seria por volta de três horas da tarde e o transito para lá já não estava muito bom.

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Enquanto isso, Tiago e Charles estavam terminando uma reunião no escritório para pegar informações sobre o cliente Stolt. O vôo deles estava marcado para as quatro, mas Charles queria chegar antes no aeroporto, correndo o risco de esbarrar acidentalmente com Diana. Ele já sabia do vôo delas porque tinha conversado com Aline na quarta feira sobre o hotel onde iriam ficar. Tiago não entendia direito porque o primo estava ansioso demais, mas mesmo assim imaginava que fosse devido a conta nova na empresa. Manoel, pai dos meninos também estava na reunião.

- Sim, eu gostaria que vocês soubessem que eu confio muito em vocês dois. – Manoel estava na ponta da mesa conversando com os meninos – Assim como confio que o Dennis vai conseguir segurar as pontas aqui esse final de semana.

- Não é todo dia que abro a empresa num sábado. – ele olhou para o teto e resmungou um pouco – Tudo bem que eu preferia não fazer isso, mas pelo visto não tem como ir contra o senhor não é? – ele deu um sorriso de criança e o pai dele fechou o rosto.

- Quem é a menina nova que você quer viajar? – ele já sabia que quando Dennis reclamava, era porque tinha alguma garota.

- Nenhuma... – ele disfarçou – Já to cansado de ser previsível sabia? – todos riram na sala e Charles se levantou.

- Acho melhor irmos Tiago. Eu realmente não quero perder o vôo.

- Ah que isso Charles? Quer apostar que a Diana ainda está em casa se arrumando? – ele levantou também e estava pegando as pastas.

- Diana já esta indo para o aeroporto, falei há pouco com a secretaria dela, Aline. – Manoel olhou para Charles de supetão e disfarçou para que os meninos não vissem. Agora sim ele entendia o motivo de tanta pressa para ele ir ao aeroporto cedo.

- E essa Aline é bonita? – Tiago e Dennis começaram a rir e Manoel balançou a cabeça negativamente.

- Vocês não mudam mesmo.

- Já aviso logo que não é pra ficar em cima da menina. Pelo amor de Deus! – Charles reclamou antes de sair da sala de reunião acompanhado dos outros.

- Que isso primo, de vez em quando é bom relaxar. Um final de semana todo trabalhando não dá.

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Ao chegarem ao aeroporto Diana já teve uma ma noticia. Seu vôo tinha sido cancelado e passado para outro horário. Ela chiou ate não querer mais e Aline foi com ela resolver o problema. Ela descobriu que ficaria no mesmo vôo que o Charles e isso para ela não era nada legal. Ela não queria muita aproximação. No final das contas para não perderem a hora da reserva no hotel, Diana foi mantida na classe executiva e Aline preferiu partir para a classe econômica. Uma hora de vôo não mataria ninguém.

Elas foram para a parte do embarque e Diana foi fazer umas compras. Aline não estava muito interessada e preferiu ir a um café e ler um livro que estava em sua bolsa.

Tiago e Charles chegaram uma meia hora depois, e descobriram que  o vôo deles sofreria um atraso de vinte minutos por conta do outro que foi cancelado. Algumas pessoas iriam embarcar com eles e como Charles não era bobo nem nada, sacou logo que o vôo era o da Diana.

- Por favor, estamos aqui para o check-in. – Charles entregou as reservas para a recepcionista e Tiago estava conversando com um conhecido perto da fila. Dois minutos depois, Charles chegou perto dele rindo e entregou as confirmações.

- O que aconteceu? – ele não entendeu nada.

- Quem comprou as nossas passagens?

- Eu tive que comprar. Dennis ocupou a secretaria com um monte de coisa e a pobre não tinha tempo para isso. Por que? – Charles continuava rindo.

- Ainda bem que o vôo é de uma hora apenas. Você vai ficar na classe econômica.

- COMO? – Tiago se assustou e pegou os bilhetes da mão do primo – Não acredito e olha que eu li o troço não sei quantas vezes. – ele bufou e depois deu de ombros – Como você disse, um hora apenas. Isso não mata ninguém.

Eles foram para a ala e embarque e Charles resolveu comprar um jornal. Enquanto isso, Tiago foi a um café ali, coisa que ele achou nova, porque toda vez que ele viajava não tinha nenhum, e resolveu esperar pelo vôo ali mesmo. Os bancos eram bem confortáveis e lembravam aquelas lanchonetes dos anos 80, ele parou para ficar deslumbrando o lugar, até que parou seus olhos numa forma feminina, delicada e estonteante. Os cabelos presos num rabo de cavalo, deixavam seu rosto desenhado mais atraente do que ele poderia imaginar. A roupa de inverno, mesmo parecendo grossa, não deixava de mostrar que ela tinha belas curvas. Ela parecia muito compenetrada no livro que lia e todos os seus movimentos eram sincronizados, mesmo que involuntariamente. Um mecha de seu cabelo caiu em seu rosto, e ela parou sua atenção ao celular em cima da mesa. Ela parecia distraída com o que lia e sentiu uma forte vontade de ir perguntar qual era o vôo dela para poder ir atrás.

Sim, ele seria capaz de ir atrás dela ou de pelo menos tentar. Era muito incomum para ele sentir uma atração tão forte porque uma mulher tão desconhecida em sua vida. Algo ali não lhe dava a vontade apenas de tê-la em seus braços, mas sim de conhecê-la melhor, saber seus gostos, se aquele livro era realmente seu preferido....

Ela levantou, pegou suas coisas, deixou um dinheiro em cima da mesa e foi embora. Algo lhe motivou a levantar e nem sequer terminar o café tinha pedido há uns minutos antes. Na verdade, ele nem se lembrava de ter pedido o tal café.

- Tiago, estou te procurando há um tempo. Qual o seu problema? Não avisa mais não? – Charles sentou bem a sua frente e assim que ele olhou para o primo, deu um sorriso sem graça e voltou a sua atenção a porta do café, ela já não estava mais lá.

- Que droga Charles, perdi a oportunidade. – Tiago chiou e Charles não estava entendendo nada.

- Seu café vai ficar frio e já vão nos chamar para entrar no avião. – eles se levantaram, Tiago deixou o dinheiro do café e o primo não se agüentou – Mas de que oportunidade você estava falando?

- Tinha uma mulher linda sentada na mesa um pouco a frente. – Charles revirou os olhos – E eu nem fui lá convidá-la para se juntar a mim num café.

- Por que não estou surpreso com isso? – ele meneou a cabeça negativamente – E por acaso ela notou sua existência?

- Estava tão compenetrada no livro dela que ela não prestou atenção a nada em volta. Só no celular que depois começou a tocar, motivo que me fez achar dela ter ido embora tão rápido.

Continuaram conversando e Tiago teve que deixar Charles embarcar primeiro no avião. Já estava de saco cheio antes mesmo de embarcar. Ele viu Diana embarcar ao mesmo tempo e tomar um susto com Charles falando ao ouvido dela. Bem típico da família mesmo, chegar de mansinho. Ela reclamou alguma coisa e os dois entraram juntos.

Ficou sentado num banco próximo até que viu novamente a morena de olhos castanhos. Dessa vez ele pode ver seu rosto de frente. Ficou tão preso aquela visão que nem se tocou de quando ela o encarou sem entender nada.

Aline estava meio perdida. Já tinha sentido a sensação de estar sendo olhada por alguém, mas não tinha dado muita importância a principio. Percebeu que era o primo do Charles que estava sentado no café muito tempo depois, quando estava quase indo embora de lá. E mais ainda, agora se sentia quase despida com aquele olhar penetrante vindo dele. Mas ela pensava o que ele poderia estar achando demais nela, já que existiam muitas mulheres mais bonitas do que ela em volta, e claro todas as mulheres com quem ele era fotografado, sem duvida eram lindas.

Encarou-o por um momento e logo em seguida percebeu que estava flertando com ele. Como assim? Era errado sair flertando e justamente com ele. Achou por um momento que talvez fosse coisa da imaginação dela e ele estivesse apenas se lembrando que ela era assistente de Diana.... Mas eles nunca tinham se visto pessoalmente, só se falaram uma vez ao telefone e mesmo assim não durou nem vinte segundos...

Saiu de perto dele. Aquela sensação dele estar a olhando daquela maneira era excitante para não dizer gostosa demais. Mas não podia misturar os negócios com prazer. Logo, logo os dois se falariam pessoalmente e ela queria ver qual seria a reação dele. Isso sim seria uma situação cômica e claro constrangedora.

Os dois entraram no avião e se acomodaram. Tiago percebeu que ela estava bem próxima dele, e ate cogitou a possibilidade de chegar nela e falar algo, mas duas senhoras sentaram uma de cada lado dela. Mesmo assim, inclinando-se um pouco ele poderia olhar para ela.

Aline sentiu-se novamente observada e quando percebeu que era ele, tentou segurar um sorriso. Ele parecia um adolescente agindo daquela maneira, não um homem que chefiava uma empresa como a PP. Tiago tentou olhar novamente para ela, mas a senhora ao lado puxou assunto e a fez mudar de direção.

No final das contas acabou rindo, porque ela chegou a retribuir aquela tensão no olhar as duas vezes que se encararam, mesmo que isso tenha durado apenas alguns segundos. Percebeu que ela não tinha noivo ou marido, já que não usava aliança. Cogitou se ela tinha namorado, mas a maneira como o encarou só levava a três conclusões: o relacionamento dela estava uma merda, ou ela não tinha muita fidelidade no relacionamento, ou então estava livre. Ele preferia no momento a terceira opção, porque de alguma maneira que nem ele estava mais entendendo, ela não saia da sua cabeça e claro ele queria conhecê-la. Coisa que não acontecia com as mulheres a sua volta.

Aline finalmente se sentiu mais confortável e menos vermelha quando sua atenção mudou para as senhoras ao seu lado. Elas eram amigas e estavam reclamando do mau atendimento feito pela empresa. Elas queriam ficar juntas e acabaram ficando no meio de alguém. Para resolver o problema, Aline bondosamente trocou de lugar com uma delas, ficando exatamente na ponta, bem no corredor.

 Tiago descobriu que essa era a oportunidade perfeita para puxar um assunto, mas com um cara enorme como aquele ao seu lado, quase bloqueando a visão, tudo iria por água abaixo.

- Senhor... – ele o chamou e a cara do homem não era muito boa – Poderia mudar de lugar comigo? – Aline ouviu ele falando com o homem e de rabo de olho prestou atenção no que iria se suceder ali.

- E por que eu faria isso?

- Eu... – ele coçou a cabeça e Aline estava se contendo para não rir – Eu tenho medo de ficar na janela, sabe lugares altos, olhar e não ver o chão... Me dá calafrios.

- Por que então comprou esse assento? – o cara não entendeu nada, geralmente pessoas com medo preferiam ficar no meio do avião, não nas pontas.

- Não tinha mais vaga, eu preciso muito ir a São Paulo e bem...

- Desculpa meu filho, mas eu também tenho medo de sentar ai. Já estou suando frio só de sentar aqui, então se acostuma ou fala com a aeromoça para te tirar daqui. O que eu acho bem difícil já que o avião esta lotado.

- Sim, mas...

- Vai tentar me convencer mesmo? – o cara era grande, isso tanto Aline quanto Tiago tinham certeza disso. Ele engoliu em seco, porque quando o cara fechou a mão em punho, a única coisa que ele foi capaz de fazer foi dar um sorriso amarelo de volta para o cara. A mão do cara dava quase o tamanho da cabeça de Aline. Ou seja, um soco e você veria estrelas, literalmente.

Na classe executiva, Charles estava tentando manter uma conversa calma com Diana. Ela não estava na verdade nem querendo dar muita trela para o papo, mas ele não parava de falar e isso já a estava irritando.

- Charles, por favor, você poderia calar a boca? Eu quero muito mesmo descansar porque amanha o jantar é importante.

- Sim, mas hoje você pode dormir bastante. Será que pode me ouvir? – Diana olhava para o céu e perguntava onde tinha se enfiado, se cuspiu na cruz e depois ainda dançou salsa em cima, porque aquilo era castigo divino, só podia.

- Se eu te ouvir por dez minutos, você se cala nos outros quarenta? E afinal de contas porque você está sentado exatamente ao meu lado?

- Correção: Você que sentou ao meu lado. Eu estou no meu vôo, você que invadiu.

- Eu não invadi nada. – ela bufou – Também não quero mais ouvir.

- Ah não, agora você vai me ouvir sim. – ele a puxou e a levantou para ficar sentada, já que ela já tinha se acomodado para dormir. Todos olharam para eles e os dois ficaram sem graça e vermelhos.

- Fala logo, já que eu passei vergonha em frente a todo mundo mesmo.

- Eu descobri umas coisas sobre o Stolt que vão interessar e muito.

- E o que seria? – ela bocejou o que fez com que ele o fizesse também. Afinal, os dois estavam cansados, trabalharam demais a semana toda.

- Ele teve problemas com a ultima empresa que trabalhou. Parece que quando ele cisma com alguma coisa fica bem difícil as coisas mudarem. – Diana parecia perdida – Digamos que temos um projeto em vista, ele é muito difícil de se impressionar. Se ele quer que o projeto dele saia da maneira que ele acha que está certo...

- Temos que persuadi-lo a pensar da nossa maneira para que o projeto va adiante. Já entendi. Esta querendo dizer que é provavel chegarmos com a idéia e ele já ter uma pré estabelecida e querer que façamos do jeito dele?

- Isso. – ele quase batia palmas.

- Se eu já achava que isso era trabalhoso, imagina agora... – ela bufou e olhou para ele – Terminou?

- Sim... Bem... Eu queria...

- Até daqui a pouco Charles... – ela se virou de um forma bem mal educada e fechou os olhos – Negócios tratamos mais tarde, ou amanha no almoço.

- Grossa. – ele cruzou os braços e ela nem deu atenção.

---

Quando o avião pousou, Tiago estava tentando olhar para a morena e descobrir para onde ela estava indo. Aline se levantou e ao mesmo tempo em que não queria falar com ele, estava se divertindo com a situação. Como as meninas disseram, talvez fosse divertido se envolver com alguém assim.

Diana acordou e percebeu que estava sozinha. Charles já tinha se levantado e ido embora. “Mal educado, nem para me acordar...”, pensou. Mas Charles realmente não queria fazer isso. Tinha ficado tanto tempo se deslumbrando com aquela beleza dela ate dormindo, que sentiu que seria melhor não ficar perto na hora de acordá-la. Já era muito complicado para ele ficar perto dela, e não poder fazer absolutamente nada.

Ao chegarem ao desembarque Tiago saiu correndo atrás de Aline, e ela tentou escapar pela multidão em volta. A vontade era grande de dar um “oi” e conversar, mas flertar logo com ele não estava nos seus planos. Tomou coragem e pensou que iria sim se divertir com alguém aquele final de semana, mas não ele. “É errado!”, ela repetia como um mantra na cabeça.

Ela conseguiu despistá-lo, o que o frustrou ainda mais. Charles já estava esperando por ele num café próximo e assim que lhe passou um rádio, ele atendeu e foi atrás do primo.

- Pelo visto o vôo na classe econômica não foi legal não é? – Tiago não estava com uma cara nada boa.

- Tinha um cara grandão que me tratou super mal, mas se eu revidasse ficaria desfigurado. – Charles começou a rir – Mas o que me irrita é que não consegui falar com a tal morena.

- De novo isso? Tsc, Tsc, Tsc.

- Que foi? Vai me dizer que nunca sentiu atração assim por ninguém? Algo meio incontrolável, você não consegue parar de olhar para a pessoa...

- Já senti sim. – Charles respondeu convicto – Mas pelo menos eu falei com ela depois.

- Eu bem que tentei, e ela estava me paquerando também que eu sei. Mas além do louco do meu lado, das velhinhas que tomaram o tempo dela, ela ainda teve a audácia de me despistar.

- Então ela não estava bem te paquerando. De repente te achou apenas bonito e depois largou de mão.

- Vamos embora.- Tiago girou nos calcanhares irritado, e Charles andava atrás dele apenas rindo.

Diana e Aline já tinham se encontrado e partiram primeiro para o hotel. O transito em São Paulo era um inferno como sempre, e até os meninos se atrasaram um pouco. Na recepção do hotel, Diana foi primeiro para o quarto dela, enquanto Aline resolvia uma pendência na recepção. Mal chegaram e já tinha inúmeras ligações e recados do escritório sobre alguns problemas. Ela pediu uma sala reservada com telefone e wi-fi e a recepcionista pediu que ela aguardasse. A mala dela foi levada para o quarto e ela sentou e aguardou.

Charles entrou no hotel primeiro e partiu direto para a recepção com medo de ter pedido a reserva. Mas estava tudo bem. Tiago entrou logo em seguida e resolveu analisar  como era a recepção do hotel.

- Tiago eu estou indo para o meu quarto. Já pedi para levarem nossas coisas. Aqui esta sua chave, quarto 515. O meu é o 510. Mesmo andar, mas não é o mesmo corredor. Então qualquer coisa...

- Eu não tenho mais 10 anos Charles. – Tiago pegou a chave da mão do primo rindo – Eu sei que eu ligo o numero do seu quarto. Ou então eu bato mesmo na sua porta. Se tiver alguma mulher eu não atrapalho. Só colocar a plaquinha na porta, ou a toalha mesmo pra todo mundo entender.

- Muito engraçado Tiago. A probabilidade de isso acontecer com você é muito maior.

- Não entendo Charles, você não fica com nenhuma mulher e... – Charles o parou com a mão.

- E isso não é momento para discutirmos isso. Ok? Fui.

Tiago suspirou e olhou o primo de maneira desolada. Ele não entendia como Charles conseguia viver daquela maneira, era algo muito estranho. “ Ele deve ter seus casos escondidos por ai sim!”. Assim que virou o rosto, não acreditava na imagem a sua frente.

- Ah não pode ser, três vezes no mesmo dia é sorte demais! – ele olhou para o céu e riu – Já entendi, é para eu deixar de ser burro e ir logo falar com ela não é? Ok. Ok.

As pessoas em volta não entenderam muito quando perceberam que ele falava sozinho. Mas tudo bem, acontece.

Aline estava entretida com seu celular, esperando a recepcionista lhe dar a sala para resolver aquilo o mais rápido possível. De repente sentiu uma sombra logo a sua frente, tapando a luz que ela usava para ver a tela do celular.

- Desculpa, mas está bloqueando a.... – ela levantou o rosto e engoliu em seco.

- Não vou tomar muito seu tempo, só gostaria de saber se tem uma meia hora pra tomar um café ou um chocolate quente. – Aline continuou olhando meio estática para ele – Meu nome é Tiago, e o seu? – ele estendeu a mão.

- Srta. Resende, sua sala está pronta. – a recepcionista chegou ao mesmo tempo em que Aline pegava na mão dele para cumprimentar. Tiago aproveitou e a puxou com força, fazendo com que ela levantasse e ficasse bem próxima a ele.

- Eu... – ela ficou vermelha como um pimentão, envergonhada e soltou sua mão da dele.

- Desculpa. – ele falou soltando um sorriso encantador. Aline  engoliu em seco e a recepcionista percebeu que estava segurando vela por ali.

- Tudo bem, eu preciso resolver uns problemas. – ela foi saindo e ele delicadamente segurou o seu braço.

- Posso saber o seu nome? – ela sorriu, voltou-se de frente para ele e o encarou.

- Vai ficar nesse hotel? – ele assentiu com a cabeça – Então a gente se esbarra por ai. – ela piscou e pediu a recepcionista que a levasse para a outra sala.

Tiago apenas riu. Pelo visto ela também ficaria por lá e ele com certeza faria de tudo para encontrar com ela.

Depois de um tempo, Aline percebeu que estava muito cansada. Uma reunião de negócios se realizaria na sala onde ela estava e a recepcionista perguntou se ela poderia usar o wi-fi do quarto dela. Ela disse que sim, e se surpreendeu quando dois ajudantes vieram buscar suas coisas e levar para o quarto. Ela não estava muito acostumada com esse tipo de atenção e quase pediu para que levasse tudo sozinha.

Ao chegar ao quarto, ela percebeu que ainda teria muito trabalho pela frente. Dominique não parava de falar ao telefone e ela já estava realmente ficando cansada. Após umas duas horas resolvendo problemas, ela resolveu tomar um banho e ir dormir. O dia seria longo, mas do que o necessário e ela precisava estar com as forças em dia para não desabar na frente de ninguém. Diana a chamou pelo ramal e pediu para que ela fosse lá rapidamente. Depois do banho relaxante e de comer alguma coisa que tinha pedido no serviço de quarto, ela foi ao quarto dela.

Tiago não agüentava mais de ansiedade. Entrou no quarto de Charles e ficava andando de um lado para o outro sem parar. Degustava de  uma taça de vinho que o primo tinha pedido, e tinha um ar perdido pelo quarto.

- Desse jeito você vai acabar com o chão. Por que não para de andar e tenta pensar um pouco?

- Eu não consigo entender como alguém pode te deixar assim, meio louco. Se ela ainda tivesse feito algo, não sei... Quem sabe se ela tivesse piscado pra mim, mandado um beijo...  Não... A única coisa que aconteceu é que ficamos próximos um ao outro, ela me deu um sorriso que eu não consigo esquecer e pra piorar parece que ainda sinto o cheiro do perfume dela em mim. – Tiago bufou uma, duas, três vezes e finalmente largou a taça na cabeceira e se jogou na cama.

- Pelo visto ela te enfeitiçou. Como ela é? – Charles agora estava curioso. Não era todo dia que acontecia isso e logo com Tiago.

- Então, ela é bem branca, cabelos castanhos,  uma boca delineada, um corpo todo perfeito, mas não foi isso que me prendeu nela apenas sabe? – Tiago mandou que o primo prosseguisse – Ela tem um olhar bem profundo, percebi isso quando ela me encarou no embarque. Tem um sorriso diferente, chamativo. Um cheiro maravilhoso e um jeito de se mexer... Não sei te explicar...

- Parece que faz tudo com perfeição.

- Isso. – ele se empolgou – Não sei se é o momento, o tipo de roupa que ela usava que a fez formal, mas ao mesmo tempo delicada...

- Ou que você criou uma ilusão em cima de tudo isso nela... Tiago, ficou apaixonado pela garota que você nem nunca conversou? – Charles se divertia, era impressionante perceber como ele parecia um menino de 14 anos. Encantado por uma mulher mais velha... Isso o lembrava de Diana e como “ele” parecia daquela maneira quando estava com ela, quando a viu pela primeira vez...

- Só estou um pouco...

- Deslumbrado. – Charles já gargalhava.

- Charles, não tem graça. – Tiago bufou – Eu quero pelo menos ter uma conversa com ela, porque eu preciso saber... Se é tudo coisa da minha cabeça.

- Estão no mesmo hotel não é? Procura por ela. – Tiago não acreditou no que o primo estava falando.

- Claro... – ele levantou e ficou perto do primo – Esse hotel tem sei lá uns vinte andares... Isso só pra começar. E pelo visto uns vinte quartos por anda. Óbvio que eu vou ficar procurando por ela, Charles! – ele alterou a voz, o que fez o primo se divertir ainda mais.

- Então espera por ela na hora do jantar. Esse é um dos poucos hotéis que incluem o jantar na diária. Ou então pelo café da manha, pelo almoço... Não sei. Se ela disse que vocês se esbarram, provavelmente vocês vão se encontrar de novo.

Tiago concordou com o primo e resolveu descer para tomar um banho na piscina aquecida do hotel. Nada que uma natação não fizesse bem. Tudo bem que era quase uma hora da manha e que provavelmente eles não iriam deixar, mas ele daria um jeito.

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Depois de uns trinta minutos tentando convencer a gerencia a pelo menos dar um mergulho, Tiago conseguiu que o deixassem na piscina por uns vinte minutos apenas. Ele agradeceu e foi dar um mergulho. Depois de um tempo na piscina, ele ficou boiando e procurando por alguma solução em sua mente.

Aline poderia agradecer, porque a vista que tinha naquele momento da porta do seu quarto era maravilhosa. Ela sabia que era ele que estava ali na piscina, ela estava hospedada no terceiro andar, e tinha uma visão boa da área da piscina. Ouviu seu celular tocar e eram as meninas.

- Estamos no viva voz. – alertou Dominique.

- Tudo bem, podem falar... Por que estão me ligando a essa hora da noite? – Aline estranhou e elas gargalharam.

- Pensamos que estivesse curtindo a noite em algum lugar. – Aline revirou os olhos e pensou que elas não mudariam mesmo.

- Temos uma reunião importante amanha, sabem muito bem que preciso dormir.

- E por que está acordada? – Leticia estranhou e depois riu – Admite que está com um gato lindo ai no seu quarto esperando pelo momento certo.

- Deixa de palhaçada mulher! – Aline ralhou e elas voltaram a gargalhar.

- Sério, Aline, tudo bem que amanha você tem trabalho, mas e depois? Se eu fosse você curtiria e dormiria apenas quando voltasse pra casa. Sei lá, vai encontrar um cara bacana para passar o ultimo dia ai, aproveita. Esquece aquele maltrapilha que nem te merece. – Dominique finalmente falou e no fundo Aline concordou. Ela merecia um pouco de diversão.

- Mas eu não estava pensando em ninguém. – isso era verdade – Estou tão focada no projeto que não tenho tempo nem para pensar em mim.

- Tudo bem então, vai fundo. Aproveita ai enquanto pode e vai dormir já que disse que amanha o dia será longo. – Leticia disse.

- Boa noite meninas.

- Boa noite.

Aline desligou o telefone e suspirou. Ficou olhando um pouco para Tiago e riu quando um segurança o praticamente o expulsou da piscina.

Então, uma idéia bem louca se instaurou em sua cabeça. Já que ele era conhecido por não ter relacionamentos sérios, de repente sair com ele uma vez não faria muita diferença... Abanou a cabeça, achando que aquilo poderia ser o absurdo dos absurdos. Resolveu dormir um pouco para acabar com essas ideias loucas de sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

Então, semana que vem estou postando o capítulo 4 e se der o 5.
Existe os links dos locais onde eles trabalham, dos apartamentos e tal... Mas vou colocar ao longo da história, porque estou tendo sérios problemas com meu blog pra deixar organizado do jeito que eu quero... sahusahusahushuahusahusahusahusahusahuhsaushauusahusa
Quando eu me entender com ele, eu pretendo colocar os links aqui....
Depois será outra luta pra me entender com a edição do Nyah! auhsahusahusahuhsuahusausa