Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 29
Capitulo 29


Notas iniciais do capítulo

Epa, depois de um bom tempo, estamos de volta! Espero que consiga postar logo tudo! Desculpem a demora, contratempos! Beijos!



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Capitulo 29

Aline entrou em estado de choque. Não esperava em tão pouco tempo ouvir isso de Dennis. Chutou-se mentalmente por naquele momento querer ter ouvido isso de outra pessoa...

Mas tinha decidido seguir em frente não era? Por que estava se sentindo mal por ouvir isso de uma pessoa com quem ela já tinha uma conexão incrível? Dennis valia a pena. Era o tipo de cara que iria até o fim se possível, se ela lhe desse essa oportunidade.

— Por isso que não queria falar nada. Olha como você ficou. – ele se virou chateado e foi em direção a sua cadeira. Sentou ali mesmo e encostou a cabeça já sentindo algumas pontadas.

Ela continuou ali parada pensando em tudo ao mesmo tempo. Seria possível a vida de uma pessoa ter uma reviravolta tão grande em tão pouco tempo? Pelo visto parecia que sim.

— Tudo bem Aline, eu te entendo, ainda tem muita coisa envolvida. Não precisa me responder nada agora.

— Não. – ela chegou perto da porta dele e a trancou – Agora vamos nos acertar.

— Sério, não precisa, e eu estou cheio de coisas pra fazer, acredito que você também.

— Claro que estamos. Mas você começou, agora tem que terminar. – andou em sua direção e ficou bem na sua frente. Dennis não conseguia mais esconder mesmo o que sentia. Ele a olhava carinhoso, apaixonado, tudo o que ela sempre sonhou. Queria mesmo retribuir aquilo tudo e sabia que poderia. Ela sentia toda a atração possível por ele, carisma, era algo inexplicável, mas que a atraia a ele impetuosamente.

— O que vai fazer? – ela levantou sua saia, sentou em cima dele e sorriu.

— O que pensa que vou fazer? – beijou-o ali mesmo. Abraçou-o com uma intensidade ainda maior do que da noite que eles experimentaram se conhecer mais intimamente. Ele correspondeu claro, mas não queria apenas aquilo. Não era a resposta totalmente aceitável para ele, mas sabia que não poderia pedir mais do que aquilo.

— Desculpa. – disse ao cortar o beijo dos dois – Eu não deveria ter dito nada a você. A gente mal se conhece e... – ela o calou de novo com um selinho. Ele sorriu, mas depois ficou sério – Aline, deixa eu terminar de falar.

— Ok, mas eu vou falar primeiro. – ele assentiu – Eu sei que é recente e que tudo aconteceu muito rápido. Sei que combinamos ir devagar, mas eu mais do que ninguém sei que não mandamos no coração. E isso acaba entrando em contradição em todos os sentidos. – riram – Mas eu estou disposta a te dar essa chance, em investir na gente... – os olhos dele brilharam – Você é encantador, e eu já gosto de você tanto que também não quero que isso acabe. Não vai ser nenhum pouco difícil eu me apaixonar por você...

— Ah é? – ele sorriu já convencido – Quer dizer que eu sou apaixonante? – eles gargalharam – Isso me deixa bem feliz sabia?

— E super prepotente também. – ela o olhou – Da pra ver que o sorriso quer sair assim descaradamente – ele afirmou veemente com a cabeça. Ela gargalhou – Quanto tempo temos?

— Uns cinco minutos. Eu to cheio de coisa pra fazer e ainda tenho uma reunião em outra empresa.

— Ok.

Dominique e Tiago estavam na cafeteria conversando e rindo de algumas coisas que aconteciam no local. Ele perguntou sobre muitas coisas relacionadas a namorada e ela respondia até onde dava. Falou que muita coisa ele deveria querer aprender sozinho e que não seria muito difícil já que Letícia gostava muito dele.

— Eu sei, mas sabe quando a gente tem aquela ansiedade de poder descobrir tudo logo para tentar fazer tudo dar certo e não errar? – ela percebia essa ansiedade nos olhos dele, mas sabia que tinha algo estranho.

— Entendo. Mas posso te fazer uma pergunta e espero que você não se ofenda?!

— Claro que não. – ela olhou para os lados e ele acabou fazendo o mesmo sem entender nada.

— Por que você desistiu da Aline? – aquilo o sobressaltou, pelo menos ela não enrolava quando queria saber de alguma coisa – Desculpa. Eu sei que não deveria perguntar, sou amiga das duas.

— Não. – se ajeitou na cadeira – É até compreensível me perguntar isso. Mas foi porque eu conheci a Leticia. – ela o olhou e o analisou um pouco, aquilo era uma maneira de se esquivar.

— Conhecer a Leticia não quer dizer nada. Você conhece milhares de mulheres...

— Dominique...

— Nique.

— Ok, Nique. – ele se consertou, pigarreou e chegou perto – Eu conheço um monte de mulheres e escolhi a Leticia. Deu pra entender? – soltou um sorriso de canto de boca e ela continuou séria.

— Isso não me convenceu.

— Não acha que ela seja mulher pra mim? Que não seja boa o suficiente? – franziu o cenho e ela suspirou.

— Nada disso, senhor eu sei de tudo. – ela levantou assim que viu Aline vindo com Dennis – Só não acho que vocês dois são um verdadeiro casal.

— E porque... – Tiago não gostou do que ela disse, mas se conteve ao ver o irmão vindo de mãos dadas com Aline. Droga, aquilo incomodava demais.

******

Charles chegou em casa exausto. Por ter resolvido levar Monalisa no aeroporto, seu trabalho todo desandou e ainda por cima perdeu a reunião na clinica. Foi no outro dia e acabou passando o dia inteiro ajudando seu supervisor com alguns casos mais específicos. Desde o seu problema, procurava manter a mente o mais ocupada possível para não cometer uma besteira, e depois que manteve esses contatos diretos com Diana, as visitas ao psicólogo eram constantes.

— Boa noite senhor Roich. – o porteiro sorriu e entregou sua correspondência – Tem uma pessoa esperando por você.

— Esperando por mim? – estranhou, seu tio e os primos tinham acesso direto a sua casa. Pegavam a chave reserva que ele deixava com o porteiro e apenas isso – Disse quem era?

— É uma mulher. Loira, do cabelo curto. Disse que esperaria pelo senhor na varanda ali atrás. Perto do play.

— Ok.

Ele já desconfiava quem podia ser. E não entendeu o que ela fazia ali. Foi andando devagar e a viu sentada, sentindo a brisa do vento vindo de fora. Sem dúvidas, ela era linda. Sempre foi e seria assim até a morte. Tinha saído da reunião na clinica, e o psicólogo disse que ele deveria começar a cuidar de sua própria vida antes que esse sentimento dele por ela virasse obsessão. Mal sabia ele que já tinha virado.

Claro, ele não era louco e queria ela sim pra ele, mas tinha noção da realidade a sua volta, e se ela definitivamente desse um fim ao que eles tiveram, ele deixaria seu caminho em paz.

Só que ele sabia que isso não era verdade. Ela correspondia a ele em tudo, tudo mesmo. Será que ela estava ali pela nota no jornal?

— Boa noite. – falou um pouco rouco, o que a fez estremecer. Que mania de dar susto nela!

— Boa. – virou apenas o rosto e quando ela o viu encostado na balaustrada, quase surtou. Desde quando ele tinha aqueles músculos todos e ela não viu? Como pode isso? Ele não pode ter inchado em tão pouco tempo? Ou era aquela camisa que deixava tudo mais evidente e a estava enlouquecendo por dentro? Não, tinha que manter o semblante sereno e calmo naquele momento – Não foi a reunião hoje.

— Não. – ele andou e sentou de frente a ela – Estive resolvendo alguns problemas.

— Devem ter sido bem importantes. – falou seca.

— Meu tio estava lá pra resolver as coisas. Ele me passa tudo depois. Afinal ele é o dono da empresa. – desencostou da cadeira e apoiou os braços na perna – Não foi por isso que veio aqui.

— Claro que foi. – ele riu – O que é tão engraçado?

— Sua obviedade. – ela bufou – Sem joguinhos e esquivas de respostas Diana. O que você quer? – falou calmo, mas ela não entendeu daquele jeito.

— Vim em missão de paz e é assim que você me trata? – ele já tinha percebido que o humor dela não estava bom, mas ele não tinha falado nada demais. Olhou-a confuso, o que a irritou ainda mais – Não me olha assim, sabe muito bem o que eu estou querendo saber.

— Mulheres... – levantou, colocou as mãos nos bolsos e começou a caminhar pela área externa. O vento era um pouco frio, mas nada que não se pudesse agüentar – Vocês acham que a gente precisa adivinhar o que vocês pensam. Eu já desisti há muito tempo.

— Ué, não é você que diz que eu sou óbvia? – ela levantou e foi atrás dele – Por que não diz o que eu quero? Provavelmente você vai saber me dizer já que enche a boca pra falar que me conhece tão bem.

— Esse seu lado debochado estava demorando a voltar. – ele a olhou sério – E sim, eu sei o porque veio aqui, só que se eu disser você vai mentir e dizer que estou inventando coisas, que sou doido... – mexeu nos cabelos e pegou sua bolsa, que estava em cima da mesa – Não vou conversar aqui, vamos lá pra cima.

— Não precisa. – ele já estava indo para o elevador e não lhe restou muita opção a não ser ir atrás – Droga.

Chegaram ao elevador e ele já segurava sua bolsa possessivamente. O porteiro olhava para os dois discretamente e assim que a reconheceu, deu um sorriso de canto. Esse meio sempre tinha esse tipo de coisa.

Ela nunca tinha ido ao apartamento dele. Na verdade, nem imaginava que isso iria acontecer algum dia. Ficaram em silencio até a hora que ele abriu a porta do apartamento, entregou sua bolsa e a indicou para entrar primeiro.

Assim que os dois entraram e a porta se fechou, Charles a pegou com rudeza e a prensou na parede.

— Não era disso que eu estava falando. – afastou-o com força e ele sorriu.

— Pensei que tivesse vindo aqui pra isso. – ela ajeitava a blusa, que ele já tinha subido rapidamente e o encarou séria.

— O que significa aquela porcaria de foto no jornal?

— ALELUIA! – levantou os braços em gloria – Finalmente ela disse Meu Deus!

— Isso não tem graça. – rugiu e ele a olhou insinuante.

— Que foi querida? Está com ciúmes? – piscou e ela pulou em cima dele querendo bater.

— Ai Charles, eu te odeio, te odeio, te odeio!

— Se eu acreditasse nisso... – correu pela sala tentando desviar dos tapas – Para Diana! Para! – segurou seus braços e a jogou em seu sofá – Não temos mais 18 anos. Chega, parou!

— Ah é, mas querer me fazer ciúmes saindo com aquela loira de quinta você saiu não é?

— Olha, não é todo dia que eu vejo você perdendo a compostura e é até interessante sabia? – debochou – Mas ela não é de quinta, muito pelo contrário, é uma amiga do meu tio e cliente em potencial.

— Ah claro, depois que dormiu com ela, capaz dela querer te dar até a empresa pra você administrar.

— Sou tão bom assim? – falou prepotente, o que a irritou ainda mais.

— Por que fez aquilo?

— Eu não tenho que te dar satisfações do que faço da minha vida não é? – ela o olhou assustada – Não sou virgem, nem celibatário, não fiz voto de castidade e nem pretendo. Já que você quer ficar fugindo de nós dois, e ainda por cima ficar andando pra cima e pra baixo com seu ex namorado, eu tenho todo o direito de conhecer quem eu quiser.

— Não levei o Marcelo por mal. – baixou o tom da voz e se acuou no sofá – Nos encontramos por acaso.

— Não estou pedindo explicações. Já o levou, ponto e acabou. Se quiser enrolar o quanto pode pra ficar comigo, não vou ficar chupando dedo.

— E depois vem no meu apartamento falar toda aquela baboseira de que vai me esperar.

— Mas eu vou, é o que eu pretendo. – se encararam – Não estou dizendo que vou casar e ter filhos com outras mulheres, mas tudo tem limite. Eu sou homem e tenho as minhas necessidades...

— Claro que tem! – levantou revoltada – Esse papo machista de homem é só uma desculpa para transarem com todas as mulheres da face da terra.

— Eu não sou santo! E nem estou dizendo isso por ser machista, veja bem, eu nem posso me manifestar com relação ao seu ex-namorado que já deve ter te levado pra cama, e agora vem apontar o dedo dizendo que não posso? – Diana lhe deu um tapa forte o suficiente para que ele virasse a cara. Charles sentiu queimar e se irritou – Pra que isso?

— Você não tem o direito de falar isso sobre mim. Está repetindo o mesmo que disse naquele dia no seu dormitório.

— Eu estava drogado, e não sabia o que ia dizer. Era um imaturo e irresponsável que se irou por ter te perdido, mas aqui não, estou muito maduro e tenho certeza do que estou falando.

— Eu não dormi com ele. – a voz dela era uma mistura de raiva e mágoa.

— Não quero saber disso Diana. – ele chegou perto e ela se afastou – Por que veio me dizer isso?

— Eu não vim... – ela balançou a cabeça – Eu ia... – bufou e sentou quase chorando – Eu te odeio.

— Essa conversa não vai levar a lugar nenhum. – ignorou o ultimo comentário, a fez sentar novamente e sentou na mesinha de centro de frente pra ela – Vamos falar as coisas sensatas aqui.

— Eu vou embora.

— Ah não, chegou, vamos nos acertar. Não chora, por favor. – aquilo doía nele. Ela chorando era reviver todas as lembranças ruins do passado e isso o matava por dentro – Te ver sofrer só me faz ver que por mais que eu tente, sempre te magoo, sempre faço as coisas erradas...

— Não. – ela se desesperou. Aquele caminho não era o que ela queria – A culpa não é sua, é minha.

— Não Diana. A culpa sempre foi minha. – acariciou as mãos dela – Todo o nosso sofrimento foi por minha causa, pelos meus erros, por eu ser sempre um fracassado que não conseguia se recuperar...

— Para Charles. – ela pegou seu rosto e o encarou – Aquilo é passado.

— É mesmo? – agora era ele que tinha um semblante sofrido – É ele que nos impede de ficar juntos. É ele que faz você achar que eu sempre vou errar, vou voltar a fazer minhas besteiras... – ela largou seu rosto e se afastou – Viu? – riu sem humor. Levantou e foi em direção ao mini bar que tinha feito na sala – Pode ir Diana. Se quiser ficar com o Marcelo, vai fundo, ele é um bom homem, vai te fazer feliz.

— Não vim aqui te pedir permissão para seguir com a minha vida Charles.

— Então o que é? – ele já se virou angustiado – Entrar pela minha porta e dar crises de ciúme para depois me rejeitar como se eu fosse descartável não é o que eu quero.

— O que você quer eu não vou te dar.

— MERDA! – ele já estava irritado – Então o que você quer? – ela se assustou com o grito. Ele era sempre muito centrado e vê-lo se irar daquela maneira não era normal.

— Não sei. – pegou suas coisas e já chorando saiu pela porta afora do seu apartamento.

Charles voou o copo na porta irritado por ter tido aquela discussão sem sentido com ela. Pegou a garrafa e a virou direto até perder o fôlego.

*****

Som de fundo

(coloca em um volume mais baixo)

Damien Rice – Cannonball

Diana chegou a seu apartamento soluçando, com o rosto inchado e a vontade de esganar qualquer um que passasse na sua frente. Era horrível reviver aquele momento que ela tentou tantas vezes apagar de sua mente. Ia ligar para Aline, mas aquela hora não iria incomodar mais ninguém. O tempo já tinha fechado. O frio  havia voltado e cada calafrio que passava pelo seu corpo devido ao vento gelado era o mesmo que estar novamente há anos atrás, saindo em disparada com o carro para o primeiro buraco que pudesse se enfiar.

Flashback

Diana PDV

 

 Frio. Sensação de que o mundo desabava em minha cabeça. E não era apenas pela chuva torrencial que vinha do céu, mas tudo. A minha vida escorria pelas mãos junto com a água que caía pelo meu corpo. Já tinha largado o carro em algum canto e comecei a andar sem rumo pela estrada escura, ensopada dos pés a cabeça. Mas eu não ligava.

 

Queria que a chuva pudesse lavar todas as minhas malditas dores. Todos os meus pensamentos ruins. As lágrimas que caiam como cascata dos meus olhos, mas que se misturavam tao perfeitamente, que não fazia diferença. Por um momento eu era apenas a chuva. A cada trovoada, eu sabia que alguém lá em cima sentia as pontadas de dentro de mim e se revoltava também. Porque era isso que eu sentia. Revolta.

 

Revolta por ter as minhas mãos tão atadas e não poder reverter as coisas. De prever todos os meus problemas, meu sofrimento, minha dor e mesmo assim negar até que eu finalmente sentisse em sua plenitude. De me arrepender em ter ido até o fundo num relacionamento que já estava fadado ao fracasso, só por imaginar que o amor seria capaz de destruir qualquer barreira e obstáculo.

 

Mas sentia ainda mais revolta de mim por estar me sentindo uma desgraçada em abandoná-lo no momento que ele mais precisava de mim.

 

Cai no chão da estrada de joelhos e com os olhos fechados, sentindo a chuva em mim de outra maneira. A câimbra nas minhas pernas e a sensação estranha nas palmas das mãos, o aperto no coração e o tremor no meu corpo não eram devido a chuva e muito menos ao frio que fazia, mas sim ao turbilhão de pensamentos e sentimentos que perpassavam cada artéria e veia dentro do meu corpo.

 

Por que eles não me matavam logo?

 

Fim do Flashback

 

Diana olhava pela janela e tremia mais do que queria. Via-se naquele instante, bem ali, ajoelhada, pedindo socorro mentalmente, querendo alguma esperança ou tentando criar uma dentro de si. Queria poder ter o poder de ir até si mesma e dizer que tudo ficaria bem e que no futuro ela estaria feliz e contente.

Mas isso era verdade? Olhou pelo seu reflexo na janela, o semblante inchado, vermelho, o olhar triste e desamparado.

Não, ela não estava bem. Muito menos feliz.

****

Charles olhava para o teto do seu quarto, deitado em sua cama e como única companhia, a garrafa de bebida que já estava praticamente no final. Aquela noite tinha sido a pior de todas. A bebida não ajudava em casos assim. Ela só aliviava a vontade de querer usar só mais um pouco do que foi sua companhia por muito tempo. Encolheu-se na cama sentindo uma dor pelo seu corpo tão forte e uma secura na boca tão grande, que não acreditou que depois de tantos anos iria ter uma crise de abstinência, como se tivesse parado de usar drogas por apenas três dias.

Levantou da cama em um pulo e se desesperou. Não queria aquilo nunca mais na vida dele, mas era um chamativo mais forte do que sua própria força de vontade. Foi para a cozinha e procurou tudo que pudesse comer dentro da geladeira. Teria que esquecer aquela sensação senão faria alguma besteira.

****

Charles PDV

— Mas eu já disse pra você não ter bebida em casa, será que não entende? – Jay, meu supervisor, psicólogo e adicto como eu – Isso só vai estimular o desejo de usar cocaína ainda mais.

Ele andava pela sala revoltado com minhas atitudes. Tinha ligado para ele porque saberia que iria me dar uma bronca tamanha que me faria acordar pra vida. Isso era verdade. Como o álcool é considerado outra droga pra nós, ex-dependentes, somos incentivados na clinica ou em qualquer grupo que não haja o uso dele.

O incrível era que eu conseguia me controlar bastante com relação a bebida. Só bebia em ocasiões especiais e vez por outra pra relaxar em casa. E era a primeira vez em anos que eu sentia a necessidade de usar cocaína por consequência do meu torpor da bebida.

— Você não se recupera do vicio agindo dessa maneira. É quase uma recaída isso, você sabia? – ele continuava andando de um lado para o outro e me olhou mais sereno – É a primeira vez que se sente assim não é? – apenas assenti – Impressionante isso. Na primeira vez que tive um problema e enchi a cara, não levou meia hora pra me afundar na cocaína.

— Eu te liguei exatamente pra isso. Não quero usar. Estou ficando maluco. Acho que comi toda a comida da geladeira.

— Algum incidente depois que saiu da reunião?

— Sim. Alguns na verdade. – bufei – O que está me matando é por pensar que eu sou um fracassado mesmo.

— Não, Charles, você não é. – ele sentou de frente pra mim – Se fosse mesmo já estaria morto. Olha tudo isso, aonde você chegou, nós conversamos sobre isso o tempo todo. Precisa pensar nas coisas positivas da vida. Foram os pensamentos negativos que te levaram a derrocada no passado. Isso não pode acontecer de novo.

— Ela esteve aqui Jay. Estava tudo indo muito bem até que eu consegui lembrá-la daquela noite que eu tive a overdose. Não queria ter feito isso, foi involuntário. Ela me deixou confuso, pensando em um monte de coisas ao mesmo tempo. Estou perdido.

— Entendo. Lembro bem daquela noite que você está falando.

— Toda vez que lembro, mesmo que não muito, porque só flashes de quando eu estava sendo atendido vem a minha cabeça, as sensações voltam pra mim. É absurdo e apavorante.

— Olha, eu tenho que voltar pra casa. Minha mulher está me esperando. Mas antes eu vou esperar você tomar um banho e quem sabe relaxar um pouco. Vou fazer um café também e levar essas bebidas comigo.

— Eu vou acabar comprando de novo e você sabe disso.

— Assim como também sei que você tem quase 40 anos e não é nenhuma criança. Então trate de se levantar, tomar um banho e ir dormir que amanha você trabalha e eu também. E não vai beber mais. Não vou me responsabilizar por você se tornar um alcoólatra. Está me ouvindo?

Ele parecia irritado mesmo comigo. Também estaria se estivesse no lugar dele. Apenas respondi com um sonoro sim, me levantei e fui tomar um banho. Jay estava certo. Eu nunca tinha usado a bebida como fuga, como estava fazendo agora. E como eu já tinha problemas, seria difícil me manter sóbrio e limpo dessa forma. Acabaria misturando as coisas e tendo uma recaída.

Algum tempo depois, ele levou uma xícara de café no meu quarto, falou que já tinha levado as garrafas de bebida para fora eu que tinha deixado uns sanduiches pra eu comer depois.

— Não estou bêbado, Jay. – ele sorriu.

— Eu sei. Mas fiz mesmo assim, você parece cansado demais pra preparar algo. Seria bom que amanha você fosse a clinica. Poderíamos conversar melhor.

— Ok.

Assim que deitei na cama e ouvi a porta se fechando, abracei o travesseiro esperando que o sono viesse. Mas ele não vinha. A única coisa que vinha a minha cabeça eram as poucas cenas daquele dia fatídico, de saber que Diana tinha sofrido muito e que mesmo agora, anos depois, ela estava em algum lugar por ai sofrendo de novo por aquilo.

Fim Charles PDV

DUAS SEMANAS DEPOIS

Bruno estava conversando com Leticia em seu apartamento, em um pequeno jantar para os dois. Enquanto servia a comida, ela não parava de falar das ultimas saídas com o namorado, os lugares e pessoas que conheceu.

— Que bom que está gostando desse relacionamento.

— Tiago é incrível sabia? – ela parecia realmente fascinada – A gente briga um pouco, mas casais sempre costumam brigar. – deu de ombros.

— Geralmente depois de três, quatro meses de namoro... – ele arqueou as sobrancelhas – E vocês brigam por que?

— Coisas banais sabe? – ela ia fugir do assunto – Nada demais.

— Sei...

— Sério, Bruno. – ele continuou a encarando – Você não me conta da Nique, porque eu deveria falar de mim?

— Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. – ela continuou comendo e o ignorou – Então tá, só sei que se ele te fizer mal eu sei onde ele mora. – ela riu.

— Fica tranquilo, ele não me fez mal nenhum.

— Que bom.

Assim que terminaram de comer, foram para a sala ver um filme.

— E a Aline? Vocês duas estão bem?

— Ah sim, já passou tudo. Agora ela ta namorando o Dennis, quase não a vejo. As vezes durmo na casa do Tiago. Então...

— Eu acho isso errado.

— O que?

— Mal começaram a namorar e você já vai dormir direto com ele. – ela riu.

— A culpa não é minha. Ele que me pede. Vou negar porque? – falou maliciosa e o irmão balançou a cabeça.

— Sem detalhes.

****

Aline estava com Dennis em um restaurante. Domingo, dia de almoçar fora. Conversavam amenidades, quando viram Diana entrando no restaurante com Marcelo. Acabaram se cumprimentando, e sentaram para comer com eles.

Um tempo depois, elas decidiram ir ao banheiro.

Cada uma em sua cabine, até que Aline saiu primeiro e ficou esperando por Diana.

Ela estava terminando de se arrumar, quando recebeu uma mensagem de celular de Manoel.

 

"Bom dia. Não queria atrapalhar, mas sabe do Charles? Estou preocupado."

Ela não entendeu da mensagem e andou até a pia para lavar as mãos. Apenas respondeu que não e perguntou se tinha acontecido algo. Aline estava retocando a maquiagem, quando viu que Diana praticamente se apoiou no mármore da pia.

— Ta passando bem? – Diana se escorou nela e Aline a colocou pra sentar em uma poltrona ali perto – Diana... – ela lhe entregou o celular com a resposta de Manoel. Ela estava tão branca que parecia que seu sangue tinha ido para as pernas.

 

"Charles sumiu há uma semana."


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