2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 83
Despedindo-se da Terra




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No capítulo anterior, a nave de Astronauta chegou ao acampamento e a turma pode ter uma visão do que tinha mesmo acontecido com a Terra.

Anheuser terminou seu almoço dando um último gole em sua taça de vinho. Era um vinho caro, envelhecido por quinze anos. Ele tinha acabado de abrir a garrafa e tomado a primeira taça.

A sua refeição tinha sido frugal, muito diferente das comidas requintadas com as quais ele estava tão acostumado. Nada mais de lagosta, caviar, carnes exóticas ou pratos preparados por grandes chefs de cozinha.

A maior parte das suas refeições consistia em comida liofilizada reidratada com água quente. Era basicamente comida de astronauta, que fora estocada nas arcas porque ocupavam pouco espaço e assim poderiam estocar grandes quantidades. E também porque esse tipo de comida durava muitos e muitos anos sem se deteriorar. Ainda assim o gosto não era tão bom quanto ele gostaria que fosse.

As arcas estavam aportadas na África e eles tentavam entrar em um acordo diplomático com a população local, o que não estava sendo fácil. Apesar de não ter sido inundado, o continente africano foi muito castigado pelos terremotos e a população ali estava passando por dificuldades.

Os governantes planejavam negociar com esse povo e assim ajudar a reconstruir uma nova sociedade que fosse mais igualitária e sem as mazelas da sociedade anterior. Mas ele não queria nada disso. Era muita humilhação ter que se associar com aqueles mortos de fome e ele fazia todo possível para atrapalhar as necociações. O correto seria refazer a nação americana que tinha sido destruída e um dia eles se tornariam a maior potencia mundial. Poderiam até espalhar seus domínios pelo resto do globo, por que não? Todas as nações tinham sido devastadas, não havia mais armas e nem exércitos para defender país nenhum. Havia apenas pessoas desesperadas e aflitas por qualquer esperança de salvação. Seria muito fácil dominar essas pessoas.

Ele precisava era arrumar um jeito de tirar aquele Adrian do seu caminho, que aliado com a filha do presidente dos EUA tinha se tornado uma pedra em seu sapato.

A taça foi enchida mais uma vez e ele fez um pequeno brinde aos seus planos ambiciosos de dominação mundial. Após dar um bom gole, ele saltou de susto ao ver que tinha mais alguém sentado à mesa junto com ele.

– Q-quem é você? Como entrou aqui? Saia agora mesmo ou eu...
– Ou você o quê, seu idiota? Eu entro e saio na hora que eu quiser. E por falar em hora, a sua já chegou.

Ela ergueu uma grande foice, fazendo com que Anheuser arregalasse os olhos.

– O-olha, v-você pode levar o que quiser, certo? Não precisa apelar para a violência! – ele tentou negociar achando que aquela mulher estava ali para saquear seus suprimentos.
– Tudo o que eu quero, é a sua alma! Espero que tenha aproveitado bem a refeição, porque essa foi a última! – dito aquilo, ela golpeou o peito dele com a foice, fazendo com que o homem gritasse de dor.

Anheuser agonizou por alguns minutos, tentando pedir por socorro e finalmente caiu morto no chão. Seu espírito foi tirado bruscamente de seu corpo e D. Morte chamou seus emissários.

– Levem-no daqui. Ele deve ir com os outros exilados que estão destinados ao mundo primitivo.
– Sim senhora!

Os emissários desapareceram dali com o espírito do arrogante Anheuser, deixando D. Morte sozinha. A primeira coisa que chamou sua atenção foi a garrafa de vinho sobre a mesa. E de uma marca que ela gostava, que conveniente! Ela tirou a tampa, deu um gole e falou satisfeita.

– Acho que tá na hora de fazer uma visita pra pirralha. - ela falou para si mesma. Beber sozinha não tinha graça nenhuma e o Ângelo era certinho demais. Nina então, não era capaz de colocar uma única gota de álcool na boca. Ambos eram adoráveis, mas para rir alto, falar palavrão e trocar alguns tapas Carmem era melhor.

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Em um lugar distante da terra, situado no plano espiritual, o espírito de uma jovem olhava com repulsa as pessoas ao seu redor, que também estavam condenados ao exílio. A única coisa que a confortava um pouco era saber que estava destinada a um mundo menos pior do que os outros.

De onde estava, Agnes pode ver a Terra. Os continentes tinham mudado de lugar e ela imaginou que tudo ali também tinha mudado bastante. O bairro das Pitangueiras deve ter deixado de existir, assim como a sua antiga casa.

Pelo que lhe falaram, seus pais já tinham sido levados a um mundo primitivo. Embora lamentasse um pouco por eles, ela não quis segui-los. Viver na imundice era algo que ela não faria por nada e nem por ninguém.

O som de gritos lhe chamaram a atenção e ela viu uma garota sendo arrastada por uma legião de espíritos trevosos que também estavam destinados a um mundo primitivo. Olhando melhor, ela reconheceu Penha entre eles. Seu rosto mostrava puro pavor, os cabelos estavam desgrenhados e ela não usava mais o seu costumeiro chapéu. Em seu peito, Agnes pode ver a marca de um tiro e o sangue ainda escorria.

– Sua tonta... por que você foi se meter nisso? Por que não seguiu meu conselho? – ela murmurou para si mesma, sabendo que não tinha como Penha ouvir aquilo.
– Você não se sente responsável pelo destino dela? – Um emissário perguntou se colocando ao seu lado.
– E por que me sentiria? Ela foi avisada. Eu falei para que não fosse por esse caminho. Se ela quis assim, é responsabilidade dela.
– Ao avisá-la, você desencadeou uma série de eventos que a levaram a fazer aquele acordo. Teria sido melhor se você não tivesse lhe falado nada e apenas tentado interceder junto a Serafim para que ela fosse mandada para o mesmo mundo que você. Seria mais simples.

Agnes deu de ombros.

– Queria apenas que ela tivesse mais tempo de vida.
– Não adiantou de nada. Ela morreu de qualquer jeito.

Quando estavam procurando por uma casa, Penha escolheu uma que ficava em um grande centro urbano, perto de todas as comodidades das quais ela gostava e não queria abrir mão.

O que ela não tinha previsto era que em tempos de grandes tragédias, os centros urbanos eram os piores lugares para se ficar porque o caos se instalava de maneira mais forte. A casa era a melhor da região, mas quando a transformação planetária começou , faltaram água, eletricidade e telefone. Como eles não tinham estocado comida suficiente, com o tempo começaram a passar por dificuldades.

Para piorar, ondas de saques começaram a varrer as cidades e sua casa, por estar situada em uma região nobre, acabou sendo atacada e sua família morta por saqueadores desesperados por qualquer migalha de comida. O mais irônico de tudo foi que eles não tinham mais nada em casa a não ser dinheiro, jóias e outros itens que naquela altura do campeonato já não tinham mais valor para ninguém.

– Talvez tivesse sido melhor você não ter falado nada.
– Pelo menos ela teve mais um tempo de vida.
– Um tempo de vida que não acrescentou nada de bom.

Agnes não falou mais nada, pois não teve como argumentar contra aquilo. Ainda assim ela não sentia a menor culpa ou remorso pelo destino da amiga. Mesmo que Penha tivesse morrido pouco depois, pelo menos ela teria tido um destino melhor se não tivesse sido tão burra e arrogante ao querer se vingar da Mônica e do Cebola. A culpa tinha sido dela.

– Está na hora. – O emissário anunciou, indicando que ela devia se juntar aos outros. Agnes deu uma última olhada na Terra. Ela estava indo embora sem deixar nada naquele planeta. Nenhum afeto, nenhum amigo e nenhuma lembrança. Nada a que se apegar.

Seus olhos estavam secos e ela não sentia nada. Seus braços apertavam sua bíblia, única coisa que ela ainda insistia em levar. Em algum lugar longínquo da sua mente, ela até se perguntava por Sofia. Das três, foi a única que seguiu um caminho diferente e por isso conquistou o direito de continuar na Terra. Por fim ela deu de ombros e seguiu com o restante do grupo. Nada mais do seu passado importava.

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1 de janeiro do ano 0001

Quando foi anunciado o ano novo, todos gritaram e comemoraram a virada do primeiro ano após a transformação da Terra.

A comemoração não era tão sofisticada e extravagante quanto costumava ser nos velhos tempos. Não havia fogos de artifício, cascatas de luz, telões, trios elétricos e nem grandes multidões. Eles estavam comemorando a passagem do ano no abrigo, tomando suco e comendo frutas, nozes e cenouras, cortesia de Usagi Mimi que tinha enviado ajuda e suprimentos para ajudar as pessoas em dificuldades.

Mônica e Cebola comemoravam abraçados, sendo imitados por outros casais da Turma. O tempo passou, alguns casais se desfizeram e outros se formaram. Cascão ainda estava namorando com Magali e apesar das diferenças, eles estavam se dando bem. Com o tempo, Magali foi se curando da depressão embora ainda tivesse recaídas de vez em quando, que de qualquer forma não duravam muito tempo.

Se no início eles estavam fingindo para convencer o Cebola, com o tempo o falso namoro de DC e Dorinha foi se tornando cada vez mais verdadeiro até que eles acabaram ficando juntos de vez. Quando os amigos perguntavam como ele tinha passado a gostar de Dorinha, DC só respondia.

– Adoro garotas diferentes. E ela é diferente mesmo, incrível! – ele respondia feliz por ter conseguido encontrar alguém que aceitasse suas esquisitices e também tivesse as dela. Embora ainda tivesse sentimentos pela Mônica, ele sabia que com o tempo aquilo ia se tornar apenas uma lembrança agradável. Mônica tinha escolhido ficar com o Cebola e ele aprendeu a aceitar.

Quim continuava com Raquel. Ele bem que pensou em terminar aquele namoro, mas seus pais não aceitaram, especialmente seu Quinzão que não queria ver seu filho correndo atrás de Magali novamente. E como não tinha coragem para contrariar a família, Quim acabou se conformando apesar de ainda gostar da ex-namorada e sentir saudades dela.

Após receber tratamento adequado, Fabinho se recuperou totalmente e nunca mais mostrou nenhum sintoma de asma. Ele se fortaleceu e tornou uma criança normal, sendo criado por Cotinha e Tonico. Carmem ainda vivia com eles, ajudando em tudo o que podia e cuidando do seu primo. Suas visões tinham acabado e ela deixou de ver o que acontecia em outras partes do mundo, o que foi ao mesmo tempo um alívio e uma tristeza. Ela estava até gostando de poder ver coisas que ninguém mais via.

Titi ainda estava se esforçando para reconquistá-la, o que não estava sendo nada fácil. Devido a sua antiga fama de galinha e conquistador, Carmem estava com um pé atrás e preferiu dar tempo ao tempo, só reatando o namoro quando ele provasse que tinha realmente mudado. Mesmo tendo mudado de vida, ela ainda era uma Frufru e não ia aceitar ser chutada novamente.

Por enquanto, ela preferia continuar escrevendo. Licurgo e várias outras pessoas tinham lido suas anotações e disseram que era um valioso registro de tudo o que tinha acontecido. Um dia, por que não? Aquelas anotações até poderiam se transformar em um livro. E o louco também ficou surpreso com as coisas que Carmem dizia sobre D. Morte, fazendo-o ter outra visão dela.

Embora ainda estivesse magoado com a perda do passado, ele já não sentia tanto ódio pela morte quanto antes. No fundo, ele sabia que ela não fora a verdadeira culpada.

De vez em quando Ângelo trazia notícias de Cascuda, que estava vivendo como podia. Ela sentia muita falta dos amigos e especialmente do Cascão. Mudar tinha sido muito doloroso e ela ainda não tinha conseguido fazer novos amigos. A vida tinha se tornado dura para ela, que precisava batalhar todos os dias para sobreviver.

Licurgo olhava as pessoas comemorando com um sorriso no rosto. Aos poucos as coisas estavam se ajeitando e dentro de um tempo, Cebola e Mônica pretendiam fazer uma viagem com Astronauta até a África com o objetivo de negociar alguma relação diplomática com os moradores das arcas.

O grupo de Tikara e Keika foram trazidos ao Brasil depois de alguns meses  os imigrantes japoneses estavam fazendo um excelente trabalho cuidando da terra e tornando aquele lugar ainda mais belo do que já era.

– E aí, linda? Pronta pra mais um ano? – Cebola perguntou passando o braço ao redor do ombro da Mônica.
– Claro! Mal posso esperar! E você?
– Também tô ansioso! Já pensou se eu acabo virando um novo líder mundial! Hahaha! Vai ser da hora!
– Nhé, convencido!
– Aí você será minha primeira dama. – ele falou galanteador, fazendo com que ela se derretesse na hora.

Eles se deram um longo beijo e ela falou.

– A gente vai ter muito trabalho pela frente, viu? Você não vai virar dono do mundo de um dia pro outro.
– Eu sei... ah, o Astronauta falou que vai me ajudar com aquele projeto dos Nanitas. Isso pode ajudar muito as pessoas!
– Tomara que dê certo. Puxa, de onde você tirou essa idéia?
– Daqueles momentos inexplicáveis de inspiração. – ele falou misterioso. Explicar sobre sua viagem ao futuro seria complicado.

Quando os dois iam se beijar novamente, Cascão apareceu entre eles todo empolgado.

– Aê! O Franja conseguiu consertar o aparelho de som e tá tocando umas músicas iradas. Oppa gangnam style! Uhuuuu!!!!!

Magali veio logo atrás balançando a cabeça.

– Desculpa, Mô, não deu pra segurar esse sem noção!
– Tudo bem. Ah, vamos dançar que é melhor! Faz um tempão que a gente não dança!

Eles foram se juntar ao grupo e por um instante esqueceram das dificuldades que iam enfrentar ao longo do tempo para reconstruírem a civilização. Ia ser difícil, a turma teria que se separar por um tempo, cada um iria para um lado fazer a sua parte, eles iam enfrentar muitas decepções, dores e medos. A Terra tinha sido dizimada, grande parte da população morreu durante os terremotos e outra parcela morreu nos meses seguintes por fome ou doença.

Muitas terras tinham ficado inférteis por causa das inundações pelas águas do mar e as ninfas estavam tendo trabalho para restaurar os ecossistemas. Todo lixo havia se espalhado, exigindo limpeza e atenção para não se tornar um grande foco de doenças.

E havia os sobreviventes, traumatizados pelas tragédias e temerosos quanto ao seu futuro. Eram pessoas de várias culturas, línguas e nacionalidades. Não ia ser nada fácil fazer com que todos aceitassem trabalhar juntos.

De onde estavam, D. Morte e Serafim contemplavam a Terra iniciando mais uma orbita ao redor do sol. Mais um ano tinha começado, o primeiro de muitos que ainda estavam por vir. A tempestade tinha passado. Agora era tempo de limpar os destroços e no futuro, se fizessem tudo direito, os humanos poderiam passar por um período de paz e prosperidade.

Claro, se soubessem recomeçar da forma correta. A vida era sempre uma grande surpresa.

Fim


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Notas finais do capítulo

Pois é gente... acabou! Espero que tenham gostado da história e da conclusão dela. Tentei não deixar nenhum fio solto, espero que tenha conseguido!
Agora é hora de seguir em frente e pensar na minha próxima fanfic. Ai, que dificuldade! Eu estou com duas idéias em mente e não sei qual delas implementar. Quer dizer, com o tempo eu vou escrever as duas histórias, mas como eu só posso me dedicar a uma fanfic de cada vez, então tenho que decidir qual dos temas eu vou desenvolver primeiro.
Depois de decidir é que eu vou escrever e só aí publicar, então vai levar um tempinho, viu?