2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 82
Fim do isolamento




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No capítulo anterior, D. Morte poupou a vida de Fabinho, dando mais tempo para que eles pudessem esperar por socorro.

- Então a mamãe foi pro céu?
- Foi, Xodozinho. E o papai também, o Lipe, a Lu... todo mundo!
- E por que a gente não foi?
- Porque conseguimos fugir.
- Eles não?
- Não. Estavam longe demais e eu não consegui buscar eles. Eu tentei, lindinho, tentei mesmo! Mas eles foram pra um lugar muito longe e eu não sabia chegar até lá pra salvar todo mundo!
- Por que a mamãe não me levou?
- Porque ela tinha medo de que você ficasse doente. O lugar é cheio de plantas, bichos, essas coisas. Aí ela pensou que um bicho ia te morder.

O menino ficou quieto por um tempo e voltou a perguntar.

- A mamãe gostava de mim?
- Nossa, um monte! Não lembra como ela vivia preocupada até com o que você comia, com o que vestia e um monte de outras coisas? Você era o tesouro dela!
- Mas ela não ficava comigo!
- Bem... ela não era perfeita, mas te amava do jeito dela. Aposto que ela deve estar feliz lá no céu por saber que você tá salvo e até com um novo papai e uma nova mamãe!

Fabinho acabou sorrindo, feliz por não se sentir mais tão rejeitado quanto antes. Até que a vida dele ali era boa. Agora ele tinha pais que lhe davam atenção, podia brincar com as outras crianças, andar descalço na terra, nadar no córrego (sempre com a supervisão de Carmem) e até pegar nas galinhas, patos e cães que tinham por lá. Ele já não se sentia mais sozinho e rejeitado como antes.

Alguém bateu na porta e Ângelo pos a cabeça para dentro.

- Posso entrar?
- Oi, Ângelo! Alguma notícia?
- Não dá pra saber. Eu acho que eles já devem ter detectado o sinal, mas não tem como responder de volta. O jeito é esperar. Eu vim saber como o Fabinho tá.

Ela voltou-se para Fabinho e falou.

- Xodozinho, você não quer ir brincar lá fora com seu carrinho?
- Quero!
- Então pode ir, só não vai pra muito longe, tá?

O garoto saiu dali satisfeito por poder brincar e eles puderam conversar melhor.

- Ela deu mais tempo de vida pra ele, sabe?
- O pessoal me falou. Acho que não era a hora dele.

Carmem evitou entrar em detalhes sobre o que tinha acontecido, imaginando que D. Morte iria querer que aquilo fosse um segredo.

- É, acho que não era mesmo.
- Parece que vocês duas estão se entendendo.
- Hump! Se puxar o cabelo, insultar, falar palavrão, bater e arranhar é se entender... então sim, a gente tá se entendendo muuuuito bem!

Ele deu uma risada.

- Liga não, ela tem um jeito meio estranho de demonstrar afeto. De vez em quando eu levo umas tablefes na cabeça!
- Vixe, então ela me ama de verdade! Hahaha!

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Astronalta entrou rapidamente na sala de comunicações, sendo chamado por Zé Luis.

- Alguma novidade, alferes? – ele perguntou ansioso.
- Sim senhor, estou detectando uma onda de rádio vinda do Mato Grosso!

- Uma onda de rádio?
- São ondas emitidas por celulares. Muitos deles! E parecem que estão discando por um número. Veja!

Os números apareceram na tela e Astronauta reconheceu o telefone da Xabéu.

- Então devem ser Franja e os amigos dele! – o capitão falou empolgado. – Estão vivos e tentando entrar em contato! Você consegue determinar a localização exata?
- Sim senhor. Eles estão na Chapada dos Guimarães. Já tenho as coordenadas e podemos ir para lá quando o senhor mandar.
- Então vamos agora! Ajuste o curso da nave para essas coordenadas e vamos o mais rápido possível!

Quando soube que tinham encontrado a localização de Franja e seus amigos, Xabéu quase deu pulos de alegria, se contendo apenas porque estava em um ambiente profissional e precisava manter a compostura. Será que ela ia encontrar Xaveco e seus pais? Será que o resto da turma tinha sobrevivido? Ela sentia alegria e ao mesmo tempo medo de saber a verdade.

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Bem no horizonte, Ângelo conseguiu ver algo que foi se tornando mais nítido até ele reconhecer a nave Hoshi. O rapaz vibrou de alegria e voou de volta para o solo.

- Pessoal, eles encontraram a gente!
(Mônica) – Sério? Ai, não acredito!
(Jeremias) – Uhuu!!! Da hora!

A alegria foi geral e todos se puseram a olhar para o céu esperando a nave aparecer a qualquer momento. Titi foi correndo avisar a Carmem de que o socorro estava chegando.

- Ai meu santo! Eles estão chegando mesmo?
- Estão sim, vamos logo!
- Que bom! – ela deu um abraço no rapaz, que correspondeu de muito boa vontade e os dois foram abraçados até uma grande área vazia onde eles imaginavam que a nave ia pousar.

Dentro de alguns minutos, a grande nave estava sobrevoando o abrigo, quase cobrindo boa parte do céu. Todos acenavam alegremente e Licurgo também foi recebê-los.

Como não havia espaço para a nave pousar, uma nave menor desceu levando astronauta, Xabéu e Zé Luis. Quando viu sua irmã, Xaveco não se conteve e correu até ela com lágrimas nos olhos, sendo seguido pelo seus pais. Ela também chorava como criança, aliviada por sua família ter sobrevivido.

- Franja, como vocês estão? – Astronauta perguntou saudando o amigo.
- Agora estamos bem, apesar de algumas perdas.
- Era sobre isso que eu queria falar...

Ele entendeu a preocupação do outro e disse.

- Não se preocupe, seus pais estão a salvo. Já mandei chamar eles. Ainda bem que eles acreditaram na gente, só assim foi possível salvá-los.
- E meus pais? - Zé Luis.
- Eles também foram avisados, mas preferiram ir para a Chapada dos Veadeiros. Não sei como estão agora.

O alferes ficou entre a tristeza e a esperança, torcendo para que seus pais tenham conseguido se salvar.

O grupo entrou no abrigo para que Franja pudesse lhe contar tudo o que tinha acontecido nos últimos meses, contando com a ajuda de Licurgo, Mônica, Cebola e também do Ângelo. Astronauta ouvia tudo com assombro. Como eles não tinham percebido que algo de grave estava acontecendo? Aquilo acabou custando a vida de bilhões de pessoas.

- Mandei buscar ajuda no planeta de Usagi Mimi. Eles devem chegar dentro de poucas semanas com remédios e suprimentos.
- As perdas foram muito grandes? – Cebola quis saber. – Daqui não deu pra gente ficar sabendo de nada!

Astronauta ficou sério e respondeu.

- Nossas estimativas indicam que pelo menos 95% da população da terra foi dizimada.

Silêncio mortal. Ele explicou.

- As áreas mais populosas do planeta são as que ficam no litoral e foram exatamente essas áreas as mais afetadas pelos terremotos e tsunamis. A Índia foi totalmente devastada e somente lá havia cerca de 1,2 bilhões de pessoas. Grande parte da China também foi destruída, assim como o Japão. Esses países eram altamente populosos. E muitos outros países foram totalmente devastados.

Eles ouviram cabisbaixos e Astronauta continuou.

- O estado do Havaí foi totalmente destruído pelos vulcões. Quando sobrevoamos o local, vimos que ficou todo coberto de lava. A América do Norte também perdeu grande parte do litoral e eles sofreram por causa da erupção do vulcão de Yellowstone. A destruição foi inimaginável.
(Cebola) – O que a gente faz agora?
- O jeito é tentar reconstruir a sociedade. Seria bom fazer um levantamento dos sobreviventes em diversas partes do mundo, talvez reunir as pessoas ou realocá-las para locais melhores.

Ângelo falou.

- As arcas aportaram na África. São quase quatrocentas mil pessoas. Eles reuniram todo o conhecimento da terra, sementes, cientistas...
- Então eles podem ser de grande ajuda. Devemos entrar em contato.
(Franja) – Ainda assim vai levar muitos anos para reconstruir a sociedade...
(Mônica) – Humpt! Trabalho não me assusta. A gente põe a mão na massa e conserta tudo aos poucos.

Astronauta sorriu com a disposição da moça.

- Você está certa, vamos precisar de pessoas habilidosas para reconstruir a humanidade e também de lideres...

Cebola logo se manifestou.

- Opa, é comigo mesmo!
- Quem disse que ele estava falando de você?
- De você é que não foi! Eiiii não aponta essa mão pra mim!

Eles deram uma risada com a discussão daqueles dois. Pelo visto, o fato de estarem namorando não diminuiu muito as brigas entre eles.

A equipe da nave circulou pelo acampamento procurando por pessoas que precisassem de tratamento médico e Fabinho foi logo atendido, recebendo o tratamento necessário. Quando ele foi levado pela equipe médica, Carmem finalmente pode suspirar aliviada.

- Ocê acha qui eles vão cuidá bem do meu mininu? – Cotinha perguntou torcendo o tecido do avental com nervosismo.
- Vai sim, preocupa não. Ele vai ficar bem agora. Graças a D. Morte!
- Vixe Maria, aquela muié mi dá muito medo!
- Não precisa ter medo dela não, D. Cotinha! Ah, e não fica falando pra todo mundo que ela come criança com batata, viu?
- I num comi?
- Ela tava só brincando!
- Arriégua sô! I eu querditei!

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Quando ela entrou em seu escritório, Serafim logo ficou apreensivo achando que ia ser depenado mais uma vez. No entanto, ele se acalmou ao ver que o rosto dela estava tranqüilo.

- E então, o trabalho está feito?
- Sim. Eu dei mais tempo de vida ao garoto pra que ele pudesse ser socorrido.  
- Fui informado agora a pouco que ele já recebeu atendimento. Agora tudo vai ficar bem.
- Vai sim. E Serafim...
- Sim?
- Acho que agora eu entendi por que você me fez aturar aquela pirralha durante esse tempo todo.
- Sabe? – Por um instante ele ficou preocupado.
- Acho que eu preciso aprender a viver um dia de cada vez e aproveitar o que aparece de bom... acho sim...

Ele engasgou um pouco para disfarçar o embaraço e deixou quieto.

- Isso vai te fazer muito bem. Aliás, sobre aquele assunto...
- Sei... não dá mais para adiar, certo?
- Na verdade, eu andei conversando com o pessoal das esferas superiores e eles disseram que você poderá esperar mais um tempo. Talvez uns duzentos anos. Não precisa ser para agora.

O rosto dela se iluminou.

- Sério? Por que eles resolveram isso?
- Você não está pronta e pelos nossos cálculos, o novo mundo ainda está no estágio inicial e vai levar dezenas de milhares de anos até que a espécie dominante apareça. Há tempo.

D. Morte ficou mais aliviada por aquele assunto ter sido adiado, já que ela não fazia a menor idéia de quem escolher como seu aprendiz. Ângelo estava fora de questão, o pobre rapaz não seria capaz de agüentar um único dia. Entre seus emissários, nenhum pareceu qualificado o suficiente para esse trabalho e ela não conseguia vislumbrar mais ninguém. O melhor mesmo era esperar até que a pessoa certa aparecesse.

- E sabe... se tudo der certo, acho que você poderá tirar umas férias daqui a uns oitenta anos.
- Tão pouco tempo? Isso vai ser ótimo!
- Sim, claro! Talvez dê para tirar uns dez ou quinze dias de férias.
- Eu nunca fiquei de férias por tanto tempo! Mal posso esperar!

Ela saiu dali muito satisfeita e Serafim ficou aliviado por tudo aquilo ter tido um bom desfecho. Seu assistente entrou no escritório logo em seguida e perguntou.

- Você não disse a verdade a ela?
- Não. Ela pensou que aquela garota foi colocada em seu caminho por outras razões e eu achei melhor deixar assim.
- Parece que o relacionamento delas está um pouco menos... digamos... agressivo.
- Sim, mas ela não está pronta para isso. Nenhuma das duas está. A moça também precisará de mais um tempo aqui na Terra, pois ela ainda tem muito o que aprender.
- Muito mesmo, céus! – o assistente falou olhando para o alto. Apesar de ter evoluído muito, Carmem ainda era bastante imatura e inexperiente para se tornar aprendiza de D. Morte. – Eu só não entendo por que essa moça, justamente essa moça, foi escolhida!

Serafim deu um sorriso enigmático e falou.

- Foram ordens do alto. A única coisa que me revelaram foi que ela faria com que D. Morte se lembrasse de alguém do passado, de um passado muito distante.
- Mesmo? Quem?
- Ela mesma. Foi o que me disseram.

Os dois não falaram mais nada e aquele assunto foi encerrado momentaneamente para ser retomado quando chegasse o momento oportuno. 


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