2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 72
Uma traíra entre nós


Notas iniciais do capítulo

Boas notícias: agora eu vou poder postar dois capítulos por dia.



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No capítulo anterior, parte do plano de Cascuda acabou funcionando, pois Quim tinha terminado com Magali.

Em cima de um pé de manga, Cascão se esgueirava entre seus galhos visando uma das frutas mais bonitas que estavam bem no topo.

- Ô Cascão, vê se toma cuidado, cara! – Cebola falava no lado de baixo, torcendo para que o amigo não esborrachasse no chão.
- Tranqüilo, véi! Tô quase pegando... peguei! Ahhhh! – o galho onde ele estava se quebrou e a manga acabou escapando das suas mãos. Felizmente ele conseguiu se segurar em outro galho e assim evitou a queda fatal. A manga tinha caído no meio de algumas folhas e após examiná-la bem, Cebola disse que a fruta não tinha sido danificada.
- Rapaz, você quase morreu hoje!
- Até parece que o papai aqui vai perder o rebolado por causa de um galho que quebrou! Deixa eu ver essa manga... poxa, tá boa mesmo! Aposto que a Magali vai adorar!

Cebola deu de ombros.

- Sei lá, cara... do jeito que ela tem andado ultimamente... nem uma melancia inteira é capaz de deixar ela feliz!
- Você não tá achando isso muito cabuloso? Eu sei que ela tá deprimida, mas esse desânimo dela tá estranho demais, véi!
- Eu já li que pessoas deprimidas ficam assim mesmo. A coisa fica tão feia que algumas até cometem suicídio.
- Vira essa boca pra lá, careca! Se a Magali se matar, eu nem sei o que faço!

O rapaz assustou-se ao ouvir aquilo e perguntou olhando bem para o sujinho.

- Ô Cascão, por acaso você tá gostando da Magali?

Ele levou um susto com aquela pergunta.

- Eu?
- Não... eu... claro que é você, cabeção! Todo dia você fica arrumando coisas pra ela comer, vai visitar, tenta reanimar ela, fica todo cheio de dengo...
- Peraí, cheio de dengo não, tá me estranhando?

Cebola deu umas risadas e continuou.

- Ué, e o que tem de mais nisso? Você tá solteiro, ela acabou de levar um fora do namorado...
- Grrr! Nem me fale daquele balofo filho duma égua! Vocês deviam ter deixado eu quebrar a cara dele, isso sim!
- Bah, esquece isso! Agora a Magali tá livre!
- E daí?

Ele deu um tapa na própria testa e falou impaciente.

- Daí que você pode chegar nela, ô inteligência!
- Eu? Por quê?
- Dai-me paciência, senhor... Porque se me der forças eu mato! Ô Cascão, se você tá gostando da Magali, é sua chance de conquistar ela! Se quiser, eu posso bolar um plano infalível da hora pra...
- Ô, peraí! Você tá viajando demais, careca! Ela nem consegue sair da cama e você fica pensando besteira? Eu tenho que cuidar dela primeiro!

Diante do sorriso malicioso do amigo, Cascão tentou consertar.

- Cof, cof... quer dizer... a gente tem que ajudar ela a melhorar e... e...
- Tá bom, não precisa falar nada. A gente ajuda a Magali e depois você se resolve com ela.

O rapaz ficou com o rosto vermelho. Será mesmo que ele estava gostando da Magali? pensando bem... ultimamente ele tem se sentido muito próximo a ela, até mais do que com Cascuda. Será? Para disfarçar seu embaraço, ele resolveu falar de outra coisa.

- Escuta, como você tá indo com a Mônica? Vocês dois já... er... você sabe.

Cebola torceu o nariz e respondeu.

- Ainda não deu, cara! Aqui não tem nenhum lugar pra gente ficar junto, só se for no meio do mato! Mas a Mônica não quer, tem medo de insetos.
- Paciência, ué! Já pensou se uma aranha pica a sua bunda?
- Lá vem você pensando besteira!
- Hahaha!

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Que decepção... ela tinha ensaiado várias vezes escolhendo as palavras certas para dar aquela notícia bombástica. Denise se preparou, tomou fôlego e até fez um gargarejo para fortalecer a garganta. E depois de dar aquela grande notícia, as garotas não pareceram nem um pouco impressionadas.

Pior do que isso, algumas até sabiam o que tinha acontecido e ela levou um tremendo balde de água fria ao saber que o chifrão ao qual Cascuda tinha se referido fora apenas um beijo dado no momento em que a turma estava deixando o bairro. Todo aquele bafafá só por causa daquilo? Na cabeça dela, um simples beijo sequer podia ser visto como traição. Mesmo depois de namorar o Xaveco, ela trocava beijos com Titi sempre que aparecia uma oportunidade.

- A louca! Vocês sabiam disso e nem me falou? – ela ralhou com as amigas. Dorinha respondeu.
- Bem, isso não é uma coisa que a gente espalha por aí, né?
(Marina) – E foi uma vez só pra nunca mais. Você não vai ficar espalhando isso por aí, vai?
- Humpt! Agora vocês tiraram a minha graça!

As outras garotas riram e Marina perguntou.

- Escuta, quem te falou isso? Dorinha...
- Nem olhe pra mim, eu não falei nada!
- Estranho... a Magali eu sei que também não foi.
(Maria) – E a gente só tá sabendo agora!
(Isa) – É mesmo, eu é que não fui!
(Carmen) – Nem eu!

Elas voltaram a olhar Denise com um olhar inquisidor e a ruiva foi logo cortando.

- Sem essa, eu nunca revelo minhas fontes!
(Marina) – Blé, que fonte mais furada essa sua, heim? Nem soube te dar a notícia direito!
- Ela falou que ouviu a Dorinha conversando com o DC!
- “Ela”? – Dorinha perguntou. – Então foi uma garota?
- Er... bem...
- Seja lá quem for, ela distorceu tudo! Eu conversei com o DC sobre isso, mas hora nenhuma a gente entrou em detalhes sobre o que aconteceu!
(Marina) – Denise, quem foi a cretina que falou isso?
(Isa) – Aposto que ela falou só pra você sair espalhando pra todo mundo!
- Por que ela pensou que eu ia fazer isso?
(Carmen) – Nem faço idéia, né fofa? Você é tão discreta! Aff! Denise, fala logo quem é a traíra que andou falando essas coisas. Isso é muito sério! Já pensou se o Cebola fica sabendo?

Ninguém ali reconheceu a Carmen. Desde quando ela era capaz de raciocinar daquele jeito?

- Não mesmo! Você falou certo, eu sou discretíssima! Não falo minha fonte nem sob tortura.
- Ah, não? Então esperem um pouco que eu já volto.

Carmen saiu correndo dali e dois minutos depois voltou trazendo uma pequena caixa que fez Denise arregalar os olhos.

- Sabe... eu nunca gostei muito dessa marca...
- Gsuis me abana! Isso é... é...
- Mas até que tem umas coisinhas legais aqui, ó! – ela foi falando abrindo a caixa para que Denise visse o seu conteúdo. Por pouco a ruiva não avançou contra ela.
- Cacá, não me tortura desse jeito, mulher!

Carmen tirou um batom da caixa e cheirou.

- Hum... que cheirinho bom isso tem!

As outras meninas davam risadinhas com a cara de fome que Denise fazia olhando o estojo de maquiagem. Ela não ia conseguir agüentar por muito tempo.

- Me dá, me dá, me dáaaaaaaa! – ela implorou com as mãos estendidas.
- Claro, eu ia te dar isso mesmo, mas só com... er... – ela olhou para Marina como que pedindo socorro.
- Duas condições. – a outra completou.
- É isso, duas condições. (Ai, contar não é meu forte).
- E o que você quer?
- Primeiro, você tem que jurar pela alma do Maicou Jeca que não vai contar pra ninguém o que contou pra gente. Isso é muito sério, pode destruir a reputação da Mônica! – Marina se adiantou antes que Carmen se atrapalhasse de novo.
- Tá bom, eu juro. Essa fofoca não é de nada mesmo! E o que mais? – Carmen respondeu.
- Você tem que dizer quem foi a traíra que te falou da Mônica.
- Ah, isso não!
- Olha, tem máscaras para cílios também!

Denise não agüentou e foi logo disparando.

- Foi a Cascuda! Eu juro que foi a Cascuda, foi ela quem me disse! A Cascudaaaa! Agora me dá, rápido!

Sob as risadas das meninas, Denise agarrou o estojo com toda força e o apertou junto ao peito enquanto falava como uma louca.

- É meu, lindo, maravilhoso, vitaminado! Todo meu! Meu precioso! Hahahaha!

No plano invisível, Serafim e D. Morte acompanhava tudo achando graça da forma como Carmen conseguiu subornar Denise.

- Você em um jeito estranho de resolver as coisas, mas até que deu certo!
- Humpt! E você achou que eu não ia conseguir? Até parece! Essa pirralha não é tão burra quanto parece.
- Engraçado, parece que você gosta dela... ei, espera! Não precisa apontar essa foice para mim, que coisa!
- Então pára de falar besteira, senão eu depeno suas asas de novo!

Eles saíram dali, deixando as garotas conversarem em paz. O plano da morte funcionou em perfeita sincronia. Ao dar aqueles produtos de beleza para Carmen, ela acrescentou aquele estojo da marca preferida de Denise confiando que Carmen saberia agir no momento certo oferecendo aquele estojo em troca de informações e do seu silêncio. Procurar a ajuda dela foi mesmo uma decisão acertada.

Enquanto Denise mexia no seu novo estojo, mais feliz do que pinto no lixo, as outras meninas tentavam entender por que Cascuda tinha soprado aquela fofoca no ouvido dela.

(Dorinha) – Tá na cara que ela fez isso pra Denise espalhar pra todo mundo!
(Isa) – Faz sentido... assim ia acabar chegando no ouvido do Cebola!
(Carmen) – Ué, mas por que ela tá fazendo isso? Não entendi...

As outras meninas também não tinham entendido. Por que a Cascuda iria querer acabar com o namoro da Mônica? E será que ela queria fazer aquilo mesmo ou apenas tinha falado com Denise por falar, sem nenhuma intenção de fazer mal? Aquilo também era possível.

(Marina) – Melhor a gente ir com calma, né? Vai ver a Cascuda só quis fofocar mesmo. Não vejo razão pra ela querer prejudicar a Mônica.
(Denise) – Ué, e a briga que ela teve com eles por causa dos pais do Cascão?
(Marina) – Eu lembro, só que depois ela fez as pazes com todo mundo! Então não deve ser isso, vai ver a gente entendeu errado.
(Maria) – É, pode ser...

Dorinha não estava muito convencida.

- Pode até ser, mas é melhor a gente ficar de olho! Se ela quer mesmo fazer mal a Mônica, pode acabar contando pro Cebola coisa que não deve. A gente não pode deixar!
(Isa) – Não seria melhor a gente falar com ela de uma vez?
(Marina) – Melhor não. Vai que ela endoida e resolve contar pro Cebola! Aí danou tudo! Por enquanto, vamos só vigiar.
(Denise) – Opa, é comigo mesmo! Vou grudar nela que nem cílio postiço!

Quando viram Mônica chegando, seguida pela Cascuda, elas mudaram de assunto rapidamente e foram falar de outra coisa. Para ajudar a disfarçar, Carmen buscou os outros presentes que pretendia dar as amigas e foi uma grande festa entre elas. Cosméticos e produtos de beleza estavam se tornando raros e valiosos naqueles tempos de dificuldades.

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Cascão estava sentado na beira da cama velando o sono de Magali. Foi com muito custo que ele conseguiu fazê-la comer da manga que ele tinha levado. Realmente, havia algo de errado com ela. Aquele desânimo não era normal. Mesmo uma pessoa deprimida era capaz de se levantar para comer, coisa que ela mal conseguia.

“Caramba, e não tem nem um médico por aqui!” aquilo também dificuldava as coisas. Havia vários profissionais entre os abrigados e nenhum deles era médico. Licurgo não entendia nada de medicina, mas entendia de problemas como depressão e também ficou preocupado com o estado da Magali.

- Parece que ela perdeu a vontade de viver. – ele falou após dar uma olhada nela.
- E não tem como resolver isso? – Seu pai perguntou torcendo as mãos aflito.

- Ela precisaria de tratamento psicológico e talvez antidepressivos, coisas que não temos aqui. Acho que só podemos esperar e torcer para que ela melhore com o tempo.
- Mas e se ela não melhorar? – a mãe dela perguntou com a voz chorosa. E Licurgo não soube responder.

“E se ela não melhorar?” Cascão perguntou a si mesmo, com o coração apertado. O que ele ia fazer se a perdesse? E por que ele tinha tanto medo de perdê-la? Só de imaginar que ela poderia morrer a qualquer momento, seu coração apertava e ele se sentia impotente por não poder fazer nada por ela.

Cascão sempre gostou de cuidar da Magali e de protegê-la. Quando ela chorava, ele ficava com o coração partido. Se alguém tentasse feri-la, ele ficava furioso. Tanto que quando Cascuda era grosseira com Magali, ele sempre ficava a favor dela e contra a namorada.

Ele sempre gostou de conversar com ela e na escola faziam os trabalhos juntos. Na hora dos estudos, ela o ajudava com toda paciência do mundo e muitas vezes ele até tomou banho só para não incomodá-la com o seu cheiro, cuidado que ele não costumava ter com a Cascuda.

Magali virou-se na cama e continuou dormindo. O rapaz deu um suspiro triste e ficou afagando os cabelos dela, agora meio ensebados por ficarem dias sem lavar. E pensar que ela sempre foi tão limpa e asseada! Como aquilo foi acontecer? Olhando melhor, ele viu que o rosto dela estava muito pálido e tinha olheiras profundas em seus olhos. Ela tinha emagrecido muito e sua pele perdeu todo o brilho e a vitalidade.

Ali perto, o emissário observava o cuidado com que o rapaz vigiava o sono dela e sentia pena dele. Se as coisas continuassem daquele jeito, aquela moça não ia sobreviver.


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