2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 64
Começa a destruição




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No capítulo anterior, DC pensa em tomar medidas drásticas para conseguir ter sucesso com a Mônica. A picuinha entre Magali e Raquel piora e D. Morte decide que está na hora da transformação planetária.

Apesar de Tonico estar cuidando da horta a pouco tempo, o aspecto das plantas ficou muito melhor. Elas cresceram mais, estavam mais fortes e viçosas. Carmen aguava o canteiro conforme tinha sido ensinada. Até que não era tão ruim assim. Pelo menos era melhor que catar esterco e revirar a terra. Ela ainda não estava preparada para aquele tipo de coisa.

Sua vida de patricinha tinha definitivamente terminado. Ela não era mais a Carmen Frufru, filha de uma família rica e importante. Agora ela era somente uma garota comum, nem melhor nem pior do que as outras. Apesar de estar estranhando muito essa mudança, ela tentava se adaptar do jeito que podia. Acordar cedo não era nada fácil e Cotinha precisava sacudi-la várias vezes até conseguir acordá-la. Sem falar que ela não sabia lavar roupa, arrumar uma casa ou qualquer outra coisa que fosse útil. Pelo menos seu treinamento constante caminhando com a mochila nas costas lhe deu algum preparo físico.

– De novo... que coisa! – ela falou em voz baixa ao sentir aquela eletricidade estranha percorrendo seu corpo.

A moça tinha percebido que não havia emissários ali e nem um portal. Era por isso que ela se sentia segura. Só que aquela eletricidade que de vez em quando percorria seu corpo estava lhe incomodando. Seu coração batia de forma acelerada e às vezes ela suava frio. No entanto, Carmen não falava nada com ninguém e se suas amigas notavam algo de estranho, logo diziam que era pelo seu excesso de frescura.

– Ocê cabô di aguá as pranta? – Tonico perguntou chegando com a enxada sobre um ombro.
– Acabei sim. Olha como estão bonitas!
– Uma belezura qui só vendo! Agora qui ocê cabô, pru quê num vai proseá cum suas amiga?
– Er... acho que tem uns matinhos ali que...
– São só uns matinho, sô! Deixa eles lá qui aminhã eu dô um jeito. Vai tomá um banho i discansá qui ocê tá trabaiando dimais.

Ele estava certo. Apesar de não saber fazer nada e da sua dificuldade em acordar cedo, Carmen parecia ter adquirido uma espécie de compulsão pelo trabalho. Ela precisava estar fazendo alguma coisa o tempo inteiro e parecia ficar aflita quando não tinha nada para fazer. Ela estava até pensando em aprender a lavar a roupa para ter mais distração. Assim a culpa não lhe doía tanto. Todas as vezes que pensava em sua família, ela tinha vontade de chorar e a todo instante se perguntava se não haveria mesmo alguma forma de salvá-los.

Tonico e Cotinha diziam que não, mas ela não se conformava e muitas vezes se achava a criatura mais fria, cruel e egoísta do mundo por ter fugido e tê-los deixado para trás. Era por isso que ela não tinha dito aos amigos maiores detalhes sobre sua fuga. Ela tinha medo de dizer a verdade e ser julgada. Principalmente pela forma cruel como Cascuda tratava Mônica, Cebola e Magali por achar que não fizeram o suficiente para salvar os pais do Cascão.

“Se ela faz assim com eles, imagine como vai ser comigo!” ela pensava todas as vezes que via a amiga falando mal dos outros.

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Depois de muita peleja, finalmente eles conseguiram fazer as adaptações na nave para conseguirem fugir. E bem a tempo, já que vários terremotos já estavam ocorrendo no Japão e era só questão de tempo até o país ser inundado pelos tsunamis.

– Pronto, agora temos que chamar todo mundo! Será que já estão prontos? – Keika falou quando terminou de testar os equipamentos. Tikara respondeu.
– Eu vou checar o pessoal. Vocês fiquem aí e estejam prontos pra decolar a qualquer momento. A gente não sabe o que pode acontecer.

Sentado em cima da nave, Ângelo olhava por eles pronto para protegê-los em caso de perigo. Ele tinha falhado em salvar seus amigos e não queria vacilar daquela vez. Já que não era a hora deles, então havia esperança de fazer com que eles chegassem em segurança ao Brasil. A viagem ia ser muito difícil e complicada, mas ele estava pronto para fazer o que fosse preciso.

“Se a Nina estivesse aqui, até que ia ajudar um bocado.” Sua namorada estava atuando em algumas áreas com risco de vazamento de petróleo para evitar uma tragédia ambiental. Outras ninfas se posicionaram perto das usinas nucleares e também tinha o grupo encarregado de impedir que as cinzas do vulcão de Yellowstone iniciasse um inverno nuclear na Terra. Era muito trabalho a ser feito.

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– Ei, Mônica, eu preciso falar com você! – DC falou segurando seu braço enquanto ela passava em frente a uma árvore.
– Agora eu não posso, DC! Marquei com as meninas pra gente fazer tipo uma festinha do pijama. A gente tá precisando disso.
– Não custa nada elas esperarem um pouco. Não vou demorar.

Mônica o encarou bastante irritada.

– Então fala logo.
– Sobre o que aconteceu com a gente...
– Isso não vai mais se repetir, DC! Foi uma vez só e chega! Você sabe que eu amo o Cebola.
– Não precisa terminar com ele.
– Ué, então você tá querendo o quê?
– Digamos que eu não sou ciumento e se pra ter você é preciso dividi-la com o ceboludo, então tá tranqüilo. Eu posso me acostumar com isso.
– Você tá louco? – ela falou alto e logo diminuiu o tom. – DC, você quer que eu traia o Cebola?
– Ué, você já começou, então siga em frente!

O rosto dela ficou vermelho de raiva e vergonha de si mesma por ter deixado aquilo ir adiante.

– Pra começo de conversa, foi você quem invadiu meu terreiro me beijou!
– E você deixou. Fraquinha você não é, poderia ter me afastado com um empurrão só. Se não fez, foi porque gostou.
– Isso não vem ao caso. Acabou e você precisa entender. Não quero deixar o Cebola por sua causa e nem ficar com você escondido dele!

Ela ia sair dali quando ele segurou novamente seu braço e a puxou de volta.

– Se fosse você, não decidia nada agora. Pensa primeiro e depois me fala.
– Eu não preciso pensar em nada!
– Precisa sim. Já pensou se o Cebola fica sabendo que você andou dando uma escapadela?
– Você não ousaria!
– Não duvide, porque você sabe o quanto eu gosto de contrariar! Até que pode ser engraçado ver a cabeça dele explodindo ao saber que eu andei te dando umas beijocas. Posso até, quem sabe? Aumentar um pouquinho só!
– Vai ser sua palavra contra a minha! Ele não vai acreditar!
– Quer pagar pra ver? Ciumento do jeito que o Cebola é, não duvido nada de terminar tudo com você.
– Seu filho duma...
– Tá, não vem dar chilique agora não.
– Olha que eu quebro sua cara! Se você fizer o Cebola terminar comigo, eu te arrebento!

Ele deu de ombros.

– De qualquer forma, terei vencido. Se você não quer ficar comigo, com ele também não fica. Você decide.

Ele saiu correndo dali antes que Mônica tivesse tempo de lhe dar um soco e ela foi para o quarto da sua família chorando de medo e raiva. Se aquele cretino resolvesse falar alguma coisa, seu namoro com o Cebola estava perdido. E depois de tanto trabalho, tanta luta, sofrimento e lágrimas!

– Ai, droga, o que eu faço?

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– Depois ela ficou implicando com os meus gatos só porque as meninas estavam brincando com eles, vê se pode? Essa garota tá ficando chata demais! – Magali reclamou irritada. E por não ter nada para comer, sua irritação tinha se multiplicado por dois.
(Marina) – Que garota mais atrevida, credo! Quando é ela que põe a comida, parece que faz com uma dó!
(Denise) – Também reparei isso! O Quim capricha pra nós, mas ela coloca uma miséria que até a Maria Melo acha pouco! Aff! E aquele cabelinho horroroso dela!
(Maria) – Ué, você também é ruiva!
– Só que o meu ruivo é muito mais bonito, fófis! O dela parece feito num salão de quinta categoria! E fala sério, vocês repararam que ela parece um colchão amarrado no meio? A Isa é gordinha mas tem um corpo mais bonito e ajeitado que o dela!

Denise começou a destilar todo o veneno e aproveitou para colocar em dia todas as fofocas daquele abrigo. Era impressionante como ela dava notícia de coisas que aconteciam até no outro lado da propriedade, que não era nada pequena. Como não dava mais para assistir televisão, elas acabaram tendo que se conformar com Denise que fazia quase o mesmo serviço de um noticiário.

Carmen ouvia tudo em silêncio, não conseguindo prestar atenção em nada do que a ruiva falava. Seu coração palpitava com cada vez mais freqüência, como se algo muito grande estivesse chegando. Uma gota de suor escorreu pela sua testa e logo seu rosto estava todo suado.

Mesmo não enxergando nada, Dorinha pressentiu que havia alguma coisa de errado com a amiga. E ela também sentia algo estranho no ar, como se algo estivesse se aproximando. Carmen parou de lixar as unhas e se pôs a fitar o vazio, como se estivesse esperando por algo. Dorinha fez a mesma coisa, o que chamou a atenção das outras.

(Magali) – O que deu em vocês?

O corpo da loira começou a tremer e ela respondeu com a voz chorosa.

– Já começou!

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Estava um caos na Terra. As pessoas corriam apavoradas por todos os lados enquanto o chão se desfazia sob seus pés.

Prédios inteiros desmoronavam como se fossem castelos de areia. Viadutos se partiam derrubando carros e pessoas. O chão se abria, pedaços de terra se elevavam e outros eram rebaixados, engolindo pessoas, casas, prédios e tudo o que estivesse pelo caminho. Os emissários de D. Morte voavam por todos os lados levando as almas das pessoas que morriam as dezenas.

Fogo, explosões e gritos se misturavam com o som ensurdecedor da terra tremendo. Enormes crateras foram abertas por todos os lados e do alto, dava para ver grandes placas de terra se separando do continente e mergulhando no oceano, tratando de matar as pessoas que tinham escapado do terremoto.

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– Os terremotos começaram! O chão treme muito, buracos são abertos por todos os lados e as pessoas estão morrendo! Eu vejo os emissários da morte levando todo mundo!

As garotas ouviam em silêncio Carmen falando sem parar. Ela tinha o olhar perdido, como se estivesse em transe. Será que ela tinha ficado louca?

– Gente, vocês não vão acreditar! – Cascão falou entrando quarto adentro sem bater e sem pedir licença. – O franja falou que o troço tá feio! Venham ver!

Dentro do seu quarto, o sismógrafo do Franja dava pulos a ponto de o aparelho não ser mais capaz de registrar tantos terremotos acontecendo pelo globo. A turma entrou no seu quarto e ele falou.

– Gente, eu nunca vi coisa igual na minha vida! Isso ficou uma loucura!

Licurgo também entrou no quarto dele junto com os jovens, atraído por toda aquela agitação.

– Você não consegue ver nada no seu computador?
– Mais ou menos. O satélite da nave Hoshi ainda está agüentando apesar do aumento das tempestades solares. Peraí...

Ele digitou alguns comandos e seus olhos arregalaram.

– Céus! De acordo com o pessoal de Havard, um terremoto de 10.9 dizimou a cidade de Passadena! Acabou tudo! E olha! Um canyon enorme apareceu no vale de Coachella! Minha mãe do céu! A falha de San Andreas está se movando!
– Então começou mesmo! – o professor falou abismado.
– Não é só isso não! Toda a placa do pacífico está se desestabilizando!

As garotas olharam novamente para Carmen sem falar nada e Mônica notou que havia algo estranho.

– O que tá pegando com a Carmen?
(Magali) – Você não vai acreditar, Mô! A Carmen adivinhou tudo!
(Denixe) – Me quebra um ovo que eu tô chocada! Antes do Franja falar qualquer coisa, ela já tinha percebido os terremotos! E até falou das pessoas que estavam morrendo!

Licurgo olhou diretamente para Carmen coçando o queixo e perguntou.

– É verdade? Você está mesmo vendo isso?
– E os emissários da morte também.

Ele levantou uma sombrancelha. Não era normal uma garota como Carmen ver aquele tipo de coisa e ele achou que devia ter o dedo da D. Morte naquilo tudo.

– São tantas pessoas morrendo, é horrível demais! – Carmen falou chorando. – Como eu faço pra parar de ver isso? Eu não quero ver!

Ao ver que ela estava ficando muito agitada e nervosa, Licurgo resolveu tirá-la dali antes que o desespero se espalhasse entre as pessoas. E também porque ele queria ter uma conversa com ela sobre aquele estranho fenômeno. Aquilo podia ser interessante.


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