2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 50
Voando para quase longe


Notas iniciais do capítulo

É isso aí, pessoal... o fim do mundo mixou. Mas a história continua de pé. Só espero que vcs não percam o interesse só porque o mundo não acabou, né? Ainda vai acontecer muita coisa interessante na história.
E ainda bem que consegui chegar a tempo em casa, assim vou poder postar outro capítulo!



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No capítulo anterior, a família de Carmen resolveu tomar um rumo diferente, separando-se do resto da turma.

19:00

No aeroporto da cidade, o clima era de tristeza e despedidas. Parte da turma ia viajar naquele dia e o restante nos dois dias seguintes. A maioria estava ali e o restante ia chegar nas próximas horas. Ninguém queria correr o risco de não poder chegar a tempo para pegar o vôo.

Mônica olhou ao redor e perguntou para o Cebola.

- Cadê a família do Toni? Eu não tô vendo eles.
- Eu não sei... Eles devem chegar amanhã. Ou então marcaram pra outro dia.
- Que coisa, eles não podem demorar muito senão pode não dar tempo!
- Paciência... A gente fez o que podia.

Ela fechou a cara.

- Isso não tá certo! O Toni se matou pra conseguir esse dinheiro. Será que depois de tudo eles ainda vão fazer besteira?
- Deve ser de família - Pedala! – Ai!

O rapaz esfregou a nuca para aliviar a dor do tapa e resolveu não falar mais nada. Enquanto isso, Cascão e Cascuda se despediam entre lágrimas e beijos.

- Toma muito cuidado, linda! Eu vou estar te esperando, viu?
- Pode deixar, Cascãozinho!

Quim e Magali também se despediam um do outro sob o olhar impaciente de Carlito que não gostava muito de ver a filha se agarrando com o namorado.

- Não chora, Magá... Eu vou ficar bem, prometo!
- Promete mesmo fofucho? Você sabe como eu fico preocupada!
- Claro! Eu vou estar num avião, esqueceu? Mesmo que dê algum terremoto na terra, não vai acontecer nada com a gente.
- E se der um terremoto antes?

Ele colocou um dedo em seus lábios.

- Vamos pensar positivo, tá bom? Você tem que ter fé, vai dar tudo certo e daqui a pouco a gente vai estar junto!
- Tomara mesmo!
- E pense que amanhã mesmo você vai estar com os seus gatinhos. Você não tava preocupada com eles?
- E como! Só que agora eu vou ficar preocupada com você!

Antes que ela resolvesse cair no negativismo, Quim lhe deu mais um beijo para tranqüilizá-la. Pensar em coisas ruins não ia ajudar ninguém.

Cascão permaneceu abraçado a Cascuda até o último instante. Que azar ele não ter conseguido passagens para ela no mesmo vôo! Como a família dela era um pouco maior, não foi possível conseguir passagens para aquele vôo porque eles teriam que se separar, então tiveram que deixar para o dia quinze, o que deixava o rapaz bem preocupado.

- Cascão, está na hora do check-in! Vamos logo porque isso pode demorar!
- Já vou mãe! Então é isso, linda. Eu já vou.
- Quando você chegar, me liga viu?
- Xá comigo. E você se cuida.

Eles se beijaram mais uma vez e Cascão seguiu os pais junto com Magali, Mônica e Cebola. A família de Nimbus e DC também estava indo naquele vôo, assim como as famílias de Dorinha, Luca e também Cecília, Durval e Dudu. Eles olharam para trás com tristeza, vendo os amigos que tinham ficado para trás e torcendo para que eles conseguissem embarcar em seus vôos.

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Carmen deu uma olhada no relógio e viu que eram dez da noite. Tudo ali era tão silencioso e o único som que ela ouvia era o canto dos grilos ou o coaxar dos sapos. Ela estava na casa de campo do seu pai. Mas aquela não era uma simples casa de campo. Talvez o termo mais correto fosse mini-mansão de campo. Era uma casa enorme que ficava em um condomínio luxuoso, fechado e muito exclusivo. 

A casa era enorme, com uma grande sala para quatro ambientes com lareira, sala de TV, sala jantar e sala estar. A casa também tinha três suítes e quatro quartos de hóspedes, varanda, cozinha ampla e planejada e lavanderia além de um salão de jogos com mesa de bilhar, totó, ping-pong e mesa para jogar cartas.

E para o lazer dos moradores, uma grande piscina, churrasqueira, sauna, quadra de esportes, vestiário, playground e salão de festas. Tudo era bem cuidado pelos caseiros que trabalhavam ali há mais de cinco anos. Eles cuidavam dos jardins, do pequeno lago de carpas e do belo pomar. Eles também podiam contar com o lago do condomínio para uma boa pescaria ou então aproveitar o campo de golfe.

Geralmente Carmen gostava de ir para a casa de campo dos pais para relaxar. Ali tinha todas as comodidades da cidade grande em um local tranqüilo do campo. Tirando os mosquitos que de vez em quando lhe atormentava, aquele lugar era perfeito. Só que daquela vez ela não estava com estado de espírito para apreciar todas as coisas boas que aquela casa de campo oferecia.

Seus pensamentos estavam preocupados relembrando a última conversa que ela teve com D. Morte. Aquela baranga não tinha dito nada, mas Carmen entendeu que aquele lugar ia sim ter problemas uma vez que ela tinha lhe dito que ia precisar de sorte.

“Ai, que droga! O que eu faço? Se ao menos desse pra gente fugir daqui...” às vezes ela tentava bolar um plano de fuga para toda a família. Os planos em si eram bobos e simplórios. E ainda tinha uma grande falha: como fazer com que seus pais e tios saíssem dali espontaneamente? Todos pareciam muito a vontade, até Felipe e Luiza tinham deixado o medo de lado quando viram a beleza do lugar e o quanto a família ia ficar confortável.

Sra. Frufru providenciou uma grande compra de mantimentos, produtos de limpeza e higiene para o caso de precisarem passar um tempo sem poder sair do condomínio. Ela tinha providenciado uma grande quantidade de enlatados como caviar, alcaparras, cogumelos, escargots, foie grass, queijos finos, molhos e vários petiscos requintados de que ele gostava. Ninguém ali parecia preocupado com o que estava por vir porque todos pensavam que estavam seguros e protegidos.

Mas ela sabia que não era verdade. A primeira coisa que Carmen viu ao chegar a cidade foi que os emissários da morte também voavam por ali e também havia um grande portal no céu indicando que um grande numero de almas seriam levadas para o outro lado. E se ela não fizesse alguma coisa, a sua alma e as da sua família estariam incluídas na conta.

Como não conseguia dormir, ela levantou-se e ficou andando pelo quarto e acabou se deparando com a pequena bagagem de mão onde tinha guardado as passagens.

“Peraí... ela falou pra eu guardar quatro passagens. Por que só quatro? E seria pra quem? Aff! Ela nunca fala as coisas direito, deixa tudo pra eu adivinhar e ainda fica puxando o meu cabelo, aquela invejosa! Aposto que nem cabelo ela deve ter e fica invejando o meu! Não, Carmen! Mantenha o foco! Mantenha o foco!” ela pegou as passagens e ficou olhando uma a uma. Era o suficiente para sua família.

Quando Cebola foi comprar as passagens para a turma, ela pediu para que ele também comprasse para a família dela, só que com uma data mais adiante para lhe dar tempo de convencê-los. Assim, caso eles mudassem de idéia, ela já teria as passagens na mão para que todos pudessem ir embora sem problemas.

E então D. Morte aparece falando para ela reservar quatro passagens e aquilo não fazia o menor sentido para ela. o correto era guardar todas muito bem para que nenhuma se extraviasse. Todas tinham que ficar juntas, não tinha por que guardar um punhado aqui e outro ali.

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Eles só puderam suspirar aliviados quando subiram no avião. Finalmente eles estavam indo para um lugar seguro! Para economizar dinheiro, eles estavam indo de classe econômica. Bancos apertados, desconfortáveis, serviço ruim e comida pior ainda (para desespero da Magali). DC bem que tentou contrariar um pouco comendo aquilo como se fosse um manjar, mas o gosto era ruim demais e ele acabou descartando o resto com uma careta no rosto e a barriga roncando de um jeito estranho, como se estivesse anunciando uma possível diarréia.

- Puxa, tá um breu lá fora! – Mônica falou olhando pela pequena janela do avião. - Não tô vendo nem as estrelas!

Seus pais estavam tentando dormir um pouco e ela não quis incomodá-los. Sair dali para ir falar com os amigos também era meio complicado e ela imaginou que eles queriam relaxar também, por isso achou melhor ficar ali mesmo. A todo instante ela sentia um frio na barriga ao imaginar que eles estavam indo morar em um lugar estranho. Como seria a tal casa que Licurgo tinha preparado? Seria muito pequena? Todo mundo ia mesmo ficar amontoado?

Ela tinha pesquisado sobre a Chapada dos Guimarães pela internet e viu que era um lugar muito bonito com belas paisagens, lagos, cachoeiras e muitas outras coisas. Talvez fosse um bom lugar para se viver caso não fosse possível voltar para o bairro Limoeiro. Não... Mesmo que fosse um lugar muito bom, ela ainda preferia poder voltar ao seu bairro. Se fosse preciso reconstruir tudo, não tinha problemas. Trabalho duro não a assustava. Ela só não queria pensar que nunca mais veria seu bairro novamente.

Na outra fileira de bancos, Lurdinha tentava ler um livro enquanto Cascão e Antenor dormiam profundamente. Seu marido apenas cochilava, acordando de vez em quando, mas seu filho parecia ter entrado em coma. Cascão dormia com o rosto inclinado para o lado, com a boca aberta e babando um pouco. Ela sorriu para seu filho e limpou sua baba com um lenço de papel.

“Pobrezinho”, ela pensou, “Trabalhou tanto para nos salvar! Agora eu sei por que ele batalhava lavando aqueles carros, deve ter sido um sacrifício enorme para ele!” o rapaz virou-se um pouco para o lado e voltou a ressonar tranquilamente e ela continuou sua leitura feliz por eles terem conseguido fugir a tempo. Dentro de algumas horas, eles estariam seguros em seu novo lar e poderiam reconstruir a vida sem problemas.

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Ângelo seguia o avião de longe e viu, para seu desgosto, os emissários da D. Morte voando junto a ele.

- Você acha que vai ser pra quando? – ele perguntou para um deles.
- D. Morte nos disse que será para depois de amanhã.
- Caramba, tão cedo assim?
- A transição já começou. A crosta da terra está se desestabilizando aos poucos e os próximos terremotos acontecerão por esses dias.
- Quero só ver como as autoridades vão continuar escondendo isso do povo!

O emissário deu de ombros.

- Eles sempre escondem. As pessoas só irão perceber o que está acontecendo quando for tarde demais. Enquanto for apenas um tremor aqui e ali, ninguém dará a devida importância.
- D. Morte tem razão. – outro emissário falou voando mais perto dele. – Os humanos são muito alienados e nunca prestam atenção no que acontece ao seu redor. Tenho pena deles...

Ângelo não falou mais nada e continuou voando seguindo o avião. Mesmo não gostando de ouvir aquilo, no fundo ele concordava que as pessoas realmente eram muito distraídas. Poucas eram capazes de pensar fora da caixa e enxergar além dos seus mundinhos fechados. O resto ainda vivia imerso na ignorância. 

- Atenção, vai começar! – um dos emissários o alertou e Ângelo se colocou em guarda.

Dentro do avião, Mônica acordou num sobressalto ao sentir a aeronave sacudindo um pouco. Os outros passageiros também foram acordando e murmurando entre si. O avião sacudiu de novo, dessa vez mais forte. Seu corpo começou a tremer de medo e ela se agarrou a sua mãe.

Os outros também ficaram assustados e segundos depois eles ouviram a voz da aeromoça no alto-falante.

- Atenção senhores passageiros, por favor apertem os cintos pois estamos passando por uma área de turbulência.


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