2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 5
Esquentando os tamborins




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18 DE FEVEREIRO DE 2012

– Nossa, amiga! Essa fantasia ficou um luxoooo!
– Você acha mesmo? Deu um trabalhão pra fazer!
– Ficou linda e vai combinar direitinho com a fantasia do Cebola!
– Tomara, né? Foi por isso mesmo que eu fiz.

Mônica se olhava no espelho, acertando os últimos detalhes da sua fantasia de pirata que ela tinha feito para combinar com a fantasia do Cebola. Os dois iam arrasar na festa. Magali tinha se fantasiado de feiticeira (vide edição 13 – o dono do mundo).

Assim que colocou o chapéu, Mônica se deu por satisfeita. Todos os detalhes estavam perfeitos.

– Prontinho! Vamos? Os meninos já devem estar esperando a gente.

Quando elas apareceram no topo da escada, Cascão teve trabalho para fazer Cebola acordar do seu transe ao ver a Mônica com a fantasia mais bonita do mundo. Ele estava vestido com sua clássica fantasia de Jack Sparrow e os dois juntos formavam uma bela dupla de piratas.

– Puxa... adolei a fantasia!
– Obrigada, fofo! – ela deu um beijinho na ponta do nariz – Então? Vamos? Eu não quero perder nada da festa!

Os quatro foram em direção ao colégio, onde estava sendo organizado o baile de carnaval que tinha, entre ouras atrações, concurso de melhores fantasias em diversas categorias como criatividade, engraçadas, bonitas, etc. Todos queriam ter a chance de vencer em uma delas. Apesar de o carnaval naquele ano ser no dia 21 de fevereiro, a direção do colégio decidiu adiantar a festa para que caísse no sábado. Assim os alunos teriam chances para viajar durante o feriado prolongado.

No meio do caminho, Mônica perguntou.

– Ce, por acaso você lembrou de entregar o convite pro Ângelo?
– Lembrei, só que ele não pareceu lá muito empolgado não, sei lá.
(Cascão) – Ele tem andado muito estranho. Desde o ano novo eu não vejo ele.
(Magali) – É mesmo! Porque será que ele tem andado tão sumido?
(Mônica) – A Dorinha falou que ele tava muito esquisito naquele dia, só que ela não soube explicar. Será que ele tá com algum problema?
(Cebola) – Deve ser isso. Que coisa, porque ele não conversa com a gente?
(Cascão) – Sei lá, deve ser coisa de anjo.

Assim que eles chegaram ao colégio, o assunto foi temporariamente esquecido quando viram que a festa já estava bem animada, do jeito que eles gostavam. Era carnaval, tempo de muita folia, festa e alegria. O grande salão do colégio estava todo enfeitado para o baile. Havia uma grande variedade de balões metalizados em forma de estrelas, corações, redondos, ovais e até em forma de borboletas, peixes e flores. Vários tipos de guirlandas coloridas também estavam penduradas no teto, junto com serpentinas metalizadas que chegavam quase até o chão. Um globo colorido pendurado no meio do teto iluminava o lugar, junto com outros holofotes de várias cores.

As mesas também estavam decoradas, forradas com toalhas coloridas e com desenhos de carnaval e repletas de doces, salgados, refrigerantes, ponches e refrescos. Também havia uma máquina de sorvete para refrescar o calor. O DJ contratado especialmente para a festa tocava várias músicas diferentes, alternando as de carnaval com as músicas da moda.

O restante da turma já estava na festa, dançando e pulando ao som da música.

– Magá, como você tá linda!
– Você também, meu fofucho! – Quim usava uma fantasia de gladiador romano que tinha ficado bem nele apesar do seu físico nada musculoso.

Cascuda tinha se fantasiado de mulher maravilha, usando uma saia ao invés do short super curto (para alívio do Cascão). Ele estava fantasiado de Seya, dos Cavaleiros do Zodíaco, embora sua fantasia mais parecesse um amontoado de papel alumínio.

Eles não perderam tempo e foram logo dançar ao som da música, apesar de Magali ter que parar de vez em quando para fazer uma boquinha.

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Preparar os portais para levar as almas para o outro mundo não era tarefa fácil. Normalmente não precisava de tantos, mas aquela era uma situação extraordinária e ela não queria ver almas perdidas vagando pela terra por falta de portais. E ainda era preciso treinar e preparar as equipes de emissários para darem conta da grande demanda de almas que teriam de ser levadas para o outro mundo. Deu muito trabalho para conseguir se manter dentro do cronograma e ela se sentia mentalmente esgotada.

Em um local isolado, encolhido num canto, ela viu Ângelo triste e com a cabeça entre os joelhos. O que tinha dado nele? D. Morte chegou mais perto e viu um convite no chão, ao lado dele.

– Ângelo? O que está fazendo aí? Você não devia estar numa festa com seus amigos?
– Devia, mas eu não posso. Não sei se vou conseguir olhar pra cara deles e segurar minha língua. Se eu for, vou acabar falando coisa que não devo.
– Entendo. Deve estar sendo muito doloroso pra você, não é?
– Muito! Eles são meus amigos desde criança! A gente cresceu junto, brincou, tivemos muitas aventuras! Eles me ajudaram várias vezes, eu os ajudei em outras... e agora todos eles poderão...

Ele calou-se antes que começasse a chorar de novo. Ela tinha entendido. D. Morte sentou-se ao lado dele e começou a polir a lâmina da sua foice com a barra da sua capa.

– Você faz bem em seguir a lei.
– Ainda tenho minhas dúvidas.
– Não pode. A lei é muito clara: Você não pode dar nenhum aviso DIRETO sobre a catástrofe que está por vir.
– Eu sei, já me martelaram isso centenas de vezes!
– Nunca é demais lembrar. Nenhum aviso DIRETO.
– Eu ainda não entendo como eles podem achar que aquelas profecias vagas e incompletas vão prevenir alguém lá na terra!
– É assim mesmo. Ao longo da historia da humanidade, sempre houve momentos em que não era bom dizer a verdade de maneira direta. Então foram criadas várias formas de se dizer essas verdades de maneira indireta e velada.
– Sei disso, mas ainda assim...
– Às vezes não tem jeito, Ângelo. Nos momentos em que falar a verdade de maneira direta é arriscado e até perigoso, as pessoas tiveram que usar a criatividade para inventarem outras formas de falar aquilo que não podia ser dito abertamente.

Ângelo olhou para ela, que continuava polindo sua foice tranquilamente.

– Você deve seguir a lei, meu jovem. Nenhum aviso DIRETO pode ser dado aos humanos. Se seus amigos tiverem que descobrir algo, terão que pesquisar e entender por si mesmos. Você não pode falar nada a eles DIRETAMENTE.

Uma luz se acendeu sobre sua cabeça e ele finalmente entendeu por que D. Morte estava insistindo demais naquilo. Era sua forma de ajudá-lo mostrando um jeito de driblar aquela lei. Afinal, havia mesmo vários sinais, profecias, pesquisas... bastava direcionar a atenção dos seus amigos às pistas corretas e eles acabariam descobrindo sozinhos, o que não era contra a lei.

– Bem, agora que você entendeu, o que está esperando? Você não vai querer perder essa festa, vai?
– Claro que não, só que... sei lá! É certo eu ficar numa boa sabendo que uma coisa horrível vai acontecer com a humanidade?
– Faria sentido se deixar de comparecer a festa impedisse tal evento. Como isso não vai acontecer, então não vale à pena ficar se martirizando por causa disso. Pense que essa será a última festa de carnaval que você terá com eles.

O rapaz ficou mudo novamente.

– Ângelo, eu sei o quanto está sofrendo por causa disso, mas você não pode se afastar dos amigos por causa desse sofrimento. Nós estamos em contagem regressiva e o fim está mais perto do que o previsto. Conviva com seus amigos o máximo que você puder, aproveite essa amizade e seja feliz com eles. O amanhã ninguém sabe.
– Você está certa! Farei isso mesmo. Só que acabei nem fazendo minha fantasia...
– É mesmo... vejamos, levante-se.

Ele obedeceu e ela levantou-se também, empunhando a foice.

– Experimente isso. – uma luz forte saiu da foice dela, trocando as roupas do rapaz.
– Uai! Eu não sabia que você podia fazer isso!
– Digamos que ao longo do tempo, eu fui incrementando minha foice. O que acha?
– Que maneiro!!! Eu vou arrasar na festa! – o rapaz falou muito empolgado com sua fantasia de Archangel, dos X-Men. Combinava muito bem com suas asas. – Valeu, D. Morte, você ajudou um monte!
– De nada. Agora vai logo antes que a festa acabe.

Ângelo saiu dali rapidamente, sentindo-se melhor e mais leve enquanto ela ficou parada ali, vendo o rapaz se afastando.

– Eu espero que você saiba o que está fazendo.
– Serafim?

O velho anjo se aproximou, com a fisionomia séria.

– Bem, eu apenas dei uma dica ao rapaz.
– Você o ensinou a driblar a lei.
– Entenda como quiser. Só acho que ele merece uma chance para salvar seus amigos.
– Ele não poderá salvar a todos e você sabe disso muito bem.
– Isso não é motivo para não deixá-lo salvar nenhum.
– Se eles descobrirem o que irá acontecer, poderão desencadear um caos enorme!
– A terra já está um caos há décadas.

Ele deu um sorriso meia-boca.

– Você é mesmo manteiga derretida, confesse! Só está ajudando porque não consegue ver esse rapaz chorar.
– Eu heim! Tá me estranhando?

Serafim deu uma risada com a cara que ela tinha feito, tentando se fazer de durona quando na verdade tinha o coração mais mole que ele conhecia.

– Humpt! Acho que vou dar mais uma olhada nos portais só para ver se está tudo em ordem. - Como não queria perder a pose, D. Morte saiu dali pisando duro e resmungando qualquer coisa que ele não pode entender.

Quando viu que estava a uma distancia segura, ela deu uma risada também. O anjo estava certo, ela realmente tinha um coração mole.

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Ao chegar à festa, Ângelo fez o maior sucesso com sua fantasia, principalmente porque suas asas eram verdadeiras. Dorinha veio ao seu encontro, vestida de melindrosa. Seu coração voltou a apertar um pouco, mas ela viu que ele parecia muito melhor do que antes, no dia de ano novo.

– E a Nina, ela não vem?
– Não. Ela não gosta muito de festas e locais cheios de gente... você sabe.
– Ah, que pena. Vem, vamos dançar!

Ele dançou com os amigos e pelo menos naquela noite deixou a tristeza de lado. Não era hora de pensar naquilo. Pelo menos não por enquanto.


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