2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 42
Sadismo e crueldade


Notas iniciais do capítulo

Preparem-se que esse capítulo ficou beeeem comprido, enorme. Mas acho que vai valer a pena.



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No capítulo anterior, Penha fez um pacto com uma entidade maléfica para saber onde Cebola estava guardando o dinheiro das passagens e conseguiu roubar tudo com a ajuda de um comparsa.

Ao chegar em casa, Cebola foi para o seu quarto a fim de planejar sua noite com a Mônica. Talvez ele devesse levar algum presente para ela. Quem sabe bombons? Não, ela tinha certa paranóia com seu peso. Flores seriam uma boa idéia, juntamente com um presente bonito. Não podia ser algo muito caro porque era preciso guardar o dinheiro, mas ele pensou que não haveria problemas em comprar um anel de prata para ela. Seria tipo uma aliança para namoro. Com certeza um presente que ia agradar muito.

Feliz com sua idéia, ele foi até o quarto da sua irmã onde tinha escondido o seu dinheiro e o dinheiro dos seus amigos. Ele tinha juntado uma boa quantia e sabia que poderia gastar uma parte sem problemas contanto que fosse cuidadoso para não ultrapassar o limite. No do armário de Maria, onde ele tinha feito uma espécie de fundo falso, Cebola foi procurar pelo pacote com o dinheiro e gritou de susto ao ver que não tinha nada ali.

– Como é que é? Calamba, o dinheilo sumiu!

Por pouco ele não arrancou os cabelos e ficou andando de um lado para outro pensando que talvez aquilo fosse uma brincadeira de mal gosto da sua irmã. E se não fosse? E se alguém tivesse entrado na sua casa e roubado o dinheiro? Tinham tentado fazer aquilo com a Mônica, poderiam ter feito a mesma coisa com ele.

Cebola sentou-se no chão do quarto se esforçando para não chorar de raiva e desespero. Era naquele dinheiro que estavam as chances de sobrevivência dele, dos amigos e das suas famílias. Sem aquilo, como eles iam conseguir fugir? O pior era a sensação de que não tinha conseguido corresponder a confiança dos seus amigos e da Mônica. Eles tinham confiado nele para guardar bem aquele dinheiro e aquela tragédia acontece? O que fazer? Onde procurar?

Dloga, eu tenho que pensar em alguma coisa. Vamos, Cebola, pensa! Pensa! – ele foi dando vários coques em si mesmo, tentando fazer seu cérebro pegar no tranco. Nada parecia funcionar e quanto mais o tempo passava, mais ele ficava desesperado. Talvez fosse melhor contar para a Mônica, mas como encará-la depois de ter perdido seu dinheiro? Como superar a vergonha de ter falhado com ela?

O celular tocou, anunciando a chegada de uma mensagem de texto. Quando viu o nome que apareceu no visor, seu sangue começou a ferver e por pouco ele não joga o aparelho no chão de tanta raiva. Só podia ser coisa daquela metida!

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Voltar para aquela mansão não lhe trazia boas lembranças. Da última vez que esteve ali, Sofia teve que enfrentar Penha e ainda apanhou da Agnes. Pelo menos tudo tinha dado certo, mas ainda assim ela não tinha a menor vontade de falar de novo com aquela francesa metida e só tinha aceitado o convite porque Penha tinha dito que era algo muito importante para a sobrevivência dela e de sua família.

Assim que entrou na sala, Penha a saudou com aquele sotaque irritante.

– Sofia, minha querrida! Seja bem vinda de volta.

– Humpt! Para de enrolação e fala logo o que você quer.

Orra, você não gostarria de fazer o lanche da tarde comigo?

Ela fechou a cara e Penha viu que aquela gorducha não estava com a menor disposição de confraternizar com ela. Paciência.

– Muito bem, querrida. Irrei dirreto ao assunto. Eu terrei... digamos... uma pequena reunião com a Mônica e o Cebola mais tarde.

– Como é? Você tá pensando em prejudicar a Mônica de novo?

– Não me interrompa, assombração! Como ia dizendo, eu irrei falar com eles e sabendo como a Mônica é uma estúpida, grossa e cabeça quente, eu precisarrei da sua proteção contra ela.

– Ah, claro... você quer que eu seja a sua bucha de canhão de novo, certo?

Exactement(1)! Com você do meu lado, eu querro ver a Mônica tentar vir parra cima de mim!

– Você acha mesmo que eu vou concordar com isso?

Clarro que vai! Se me ajudar, eu prometo esquecer da sua traição no passado e te aceitarrei de novo como minha amiga. O que acha?

– Eu acho que você ficou doida.

Penha levantou-se e encarou Sofia com o seu olhar do desprezo.

– Você vai fazer o que eu mandar agorra mesmo!

– Não, esse olhar de novo não! – ela fechou os olhos e virou o rosto para o lado tentando se desviar do poder de persuasão de Penha.

– Vamos, você não tem escolha! Passe parra o meu lado e serrá muito bem recompensada!

– Eu não quero!

– Se me ajudar, eu abrigarrei sua família na casa que eu comprei na Chapada dos Guimarães. Vocês irrão comigo e meus pais em nosso jato particular e poderrão viver na casa que fica aos fundos da propriedade. O que acha? Vocês poderrão trabalhar para minha família! Terrão emprego garantido, abrigo, comida e proteção. É perfeito.

– Pára com isso, me deixa em paz!

Sofia tentava lutar a todo custo, mas Penha estava usando aquele olhar do desprezo e fazendo promessas de abrigar ela e sua família, o que tornava aquilo ainda mais difícil de resistir.

– Vamos, parre de resistir! Pense na sua família!

– Eu... eu...

Sem que ninguém visse, Agnes acompanhava tudo pensando se devia ou não fazer alguma coisa para ajudar Sofia. Pensando bem... por que ela iria querer ajudar aquela traidora? Talvez fosse até bom deixar que aquela energúmena aceitasse a proposta e com isso comprometesse sua situação e fosse exilada no fim da sua vida. Ela bem que merecia. Mas não... ela não podia fazer aquilo. Tudo aquilo começou porque ela tinha revelado a verdade para Penha, então as conseqüências daquela história também poderiam recair sobre seus ombros. Só de pensar em ser atirada a um planeta primitivo e viver no meio da sujeira junto com um bando de selvagens, Agnes se arrepiava toda e um grande sentimento de repulsa tomava conta dela. Não valia a pena passar os próximos milênios vivendo na imundice só para ter alguns minutos de vingança.

“Droga... eu vou ter que ajudar...”

Sofia estava quase cedendo quando Agnes tocou sua cabeça com uma das mãos, lhe dando forças para resistir ao poder hipnótico da francesa. Ela abriu os olhos e a encarou com aquele olhar furioso de quem pretendia quebrar vários ossos e bradou batendo o pé no chão com força e fazendo os móveis tremer.

– Eu não vou te ajudar a fazer mal pra Mônica, pode esquecer!

– Como é? Você resistiu ao meu olhar? Ce n'est pas possible(2)! Só a Denise pode resistir ao meu olhar !

– Você é muito metida e acha que todo mundo tem que fazer suas vontades, mas comigo você não vai conseguir nada não! Eu vou embora daqui avisar pra Mônica que você quer aprontar com ela de novo!

O rosto da Penha se contorceu de pura raiva e antes que Sofia pudesse sair da sala, ela falou mostrando um pacote embrulhado com plástico preto.

– Está vendo isso aqui? É o dinheirro parra a Mônica e o Cebola fugirem daqui.

– Você roubou o dinheiro deles? Devolve isso já!

Rapidamente Penha sacou um maçarico e o acendeu.

– Se você der mais um passo, eu queimo tudo!

– Se você fizer isso, eu te quebro ao meio!

– Não se atreva a me ameaçar, Sofia! Não brinque comigo! Agorra senta aí parra apreciar o espetáculo da minha vingança. Daqui a pouco aqueles dois estarrão aqui parra sofrerrem pela humilhação que me fizerram passar.

Sem outra opção, Sofia sentou-se no sofá olhando Penha com um olhar furioso e pronta para voar no pescoço dela a qualquer momento. Penha sentou-se também colocando o pacote em uma vasilha de vidro que estava no chão e pronta para incendiar tudo com o maçarico.

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Dentro da sua guarita, o segurança estava lendo o jornal tranquilamente enquanto tomava o seu café. De repente, ele percebeu que o líquido dentro da xícara parecia tremer um pouco e o tremor foi ficando mais forte até uma garota aparecer na frente da guarita pisando duro e com o rosto vermelho de raiva.

– Grrrr! Eu vou arrebentar a cara daquela vagabunda! Vou partir ela ao meio, triturar, esganar, vou dar muita bifa!

Atrás dela, um rapaz tentava acalmá-la sem sucesso.

– Calma, Mô! A gente tem que ficar com a cabeça fria.

Ela o olhou com aquele olhar furioso e Cebola achou melhor deixar que ela continuasse resmungando a vontade. Quando ela estava daquele jeito, contrariar era sempre pior. o segurança tinha sido instruído para deixá-los entrar e não fez nenhuma objeção, aliviado por saber que não ia ter que enfrentar aquela garota.

Os dois entraram na propriedade da mansão, onde estiveram tempos antes quando confrontaram Penha pela primeira vez. Será que aquela maluca nunca desistia? O pior era que daquela vez ela estava jogando pesado.

Ao ler o SMS que Penha tinha lhe mandado, Cebola ficou apavorado quando ela exigiu a presença da Mônica. A última coisa que ele queria era dizer a ela que o dinheiro tinha sido roubado. Primeiro por causa da vergonha, segundo porque achava que a Mônica ia tentar partir para a violência e aquilo não ia adiantar de nada. Mas a mensagem tinha sido bem clara: ou a Mônica aparecia, ou ela destruiria todo o dinheiro. Não havia outra opção.

– Deixa que eu falo com ela. Você sabe que o troço é sério.

– Humpt!

Quando os dois entraram na sala, ficaram surpresos ao verem Sofia sentada no sofá.

– O que você tá fazendo aqui? – Mônica foi logo perguntando. Será que aquela garota tinha lhe traído de novo?

– Desculpa, gente... eu não consegui pegar o dinheiro de volta...

– Silêncio todos vocês! Eu vou falar e não querro ser interrompida!

– Grrrr! Eu devia quebrar a sua cara!

Penha soltou outro grito furioso, acendendo o maçarico e apontando para o pacote.

– Eu disse que não querro ser interrompida, sua dentuça! Agorra fica quieta e me escuta porque quem manda aqui sou eu e ninguém pode me contrarriar!

Todos ficaram em silêncio, duvidando seriamente da sanidade daquela criatura. Perto da poltrona, tinha um vidro de álcool que Penha despejou dentro da vasilha até cobrir boa parte do seu conteúdo. Com aquilo, se ela ateasse fogo no pacote tudo estaria perdido. Ao ver que eles estavam prestando atenção, Penha se acalmou e falou procurando manter um tom de voz calmo e ao mesmo tempo cruel.

– Vocês me humilharram, ferrirram meu ego. Me fizerram passar vergonha na frente de todo mundo! Por acaso tem idéia do quanto eu sofri por causa do atrevimento de vocês?

– Você sofreu? VOCÊ sofreu? Que piada!

– Cala a boca! – ela gritou novamente indo para cima da Mônica com o maçarico aceso. Cebola se colocou na frente da namorada e Penha acabou recuando. Ficar longe do dinheiro podia não ser boa idéia. – Se me interromperrem mais uma vez, queimo tudo! Estou avisando, não brinquem comigo!

Ela voltou a se sentar novamente e continuou seu discurso. Seu rosto estava vermelho e seus olhos brilhavam de pura insanidade.

– Vocês pensam que me derrotarram, não é? Pois bem: ninguém me derrota! Eu sou melhor que todo mundo, posso fazer tudo o que eu quiser! E agorra, terrei minha vingança! Vocês vão pagar por tudo o que me fizerram!

– Mas... – Mônica ia falar alguma coisa e calou-se quando Penha apontou a chama do maçarico para o pacote.

– O que você quer, Penha? Fala logo de uma vez!

– Eu querro justiça! Querro que vocês paguem por tudo! Especialmente você, Mônica! Por sua causa, o Cebola me deixou! Durrante várrios dias as pessoas me apontavam na rua, olhavam parra mim sabendo que eu tinha sido trocada por uma ninguém!

– Penha, pára com isso! – Cebola interrompeu tentando acalmar aquela maluca. – Eu não deixei você por causa da Mônica, te deixei porque você era muito chata! A Mônica não teve nada a ver com isso, é sério!

Mentirra! Depois que você terminou comigo, eu te vi andando atrás da Mônica fazendo aquela carra de bobo apaixonado! Foi por causa dela sim, pensa que eu sou cega?

– Poxa vida, você vai ficar bolada com isso até quando? Sai dessa, você pode ter o cara que quiser, pode ter tudo! Deixa a gente em paz e vai viver sua vida, caramba!

– Em parte você está certo. Eu posso ter tudo o que querro. E nesse momento, tudo o que eu querro é ver essa dentuça sofrendo aos meus pés.

– Você é louca! – Mônica falou cerrando os punhos e se esforçando para não partir para cima da rival.

– Olha lá como você fala comigo! A agorra em diante, querro... Não! Exijo mais respeito! Ou vocês fazem tudo o que eu mandar, ou eu queimo esse dinheiro.

Algumas lágrimas começaram a correr pelo rosto dela. Aquele dinheiro podia significar a salvação dela, dos amigos e de sua família.

– Penha, pára com isso! Não é só meu dinheiro que tá aí! Tem o dos meus pais também, do Cascão, da Magali, dos pais deles... Não precisa metê-los nisso. O que eles te fizeram?

– Os seus pais te colocarram no mundo. Parra mim, é suficiente parra odiá-los. Quanto aos seus amigos, é bom que sofram também! Todos que você ama irrao sofrer as conseqüências do seu atrevimento!

– Por favor, eu imploro, faz isso não! Deixa eles em paz!

Ela deu uma risada, sentindo-se no topo do mundo.

– Isso! Implorre! É isso mesmo que eu querro que você faça! Querro te ver se humilhando, implorrando pela minha piedade! Vamos, continue!

Mônica olhou para ela sem saber o que fazer e Penha ordenou.

– Ajoelhe-se, vamos! Aos meus pés!

– Como é?

– Faça isso ou eu queimo tudo!

A moça tremia de raiva, sentindo-se impotente diante da situação. Ela se ajoelhando para aquela patricinha metida e egocêntrica? Aquilo era totalmente absurdo e impensável, mas ela sabia que precisava engolir todo seu orgulho e se submeter aquela humilhação. Não se tratava somente da sua dignidade. A vida de outras pessoas estava em jogo.

– Pára com isso, deixa a Mônica em paz! Se você quiser, eu mesmo me ajoelho! – Cebola falou também com algumas lágrimas nos olhos.

– Se você quiser se ajoelhar parra mim, fique a vontade mon petit. Mas a dentuça tem que se ajoelhar de qualquer jeito!

– Deixa ela em paz, Penha! Foi tudo culpa minha, é a mim que você devia castigar!

– Você também está sendo castigado, tolinho! Pensou que eu irria te deixar de forra?

– Você não entendeu! Eu só comecei a namorar com você pra me livrar da surra da Mônica, porque eu vi que ela não batia nos meus amigos quando as namoradas estavam por perto! Foi tudo um plano meu, é culpa minha!

Ao invés de melhorar a situação, aquilo acabou piorando tudo mais ainda. Penha voltou a acender o maçarico e apontou para o pacote. Mônica gritou, pedindo para que ela parasse.

– Tá bom, eu faço o que você quiser, eu me ajoelho, mas não faça isso por favor!

– Então se ajoelha! Agorra! E me peça perdão por tudo!

Sem ter outra escolha, Mônica se ajoelhou diante da Penha e falou com a voz embargada.

– Por favor, Penha, me perdoa por tudo!

– Ainda não está bom! Peça perdão por ter me humilhado! – ela ordenou atirando para Mônica o seu melhor olhar do desprezo, fazendo-a se sentir totalmente derrotada.

Ela engoliu em seco e fez o que lhe foi ordenado.

Agorra peça perdão por ser uma dentuça horrorrosa e esfarrapada! Peça perdão por isso também!

Cebola ajoelhou-se ao lado da Mônica. Se ela tinha que passar por aquela humilhação, ele não ia deixá-la sofrer sozinha.

– Encoste a cabeça no chão também parra eu não ter que olhar essa sua carra feia!

Sofia assistia a tudo sentindo sua indignação aumentando cada vez mais. Se não fosse aquele maçarico na mão da Penha, ela teria quebrado todos os ossos daquela nojenta. Agnes também acompanhava a cena sentindo um imenso prazer ao ver aqueles dois sendo humilhados. Era tão bom, tão gratificante! Uma coisa ela tinha que admitir: Penha era uma mestra na arte de humilhar as pessoas. Quando queria, colocava qualquer um para baixo até o fundo do poço.

Quando mais a Mônica se esforçava para atender as suas exigências descabidas, mais Penha insistia em humilhá-la ao extremo. Nada parecia ser bom o suficiente e ela fazia com que Mônica repetisse as coisas mais absurdas e pedisse perdão até mesmo por ter nascido e estar respirando o mesmo ar que ela. Cebola também tentava pedir perdão a Penha por tê-la usado em seu plano na infância e começado aquilo tudo, mas o ego daquela criatura era tão grande que nada parecia conseguia satisfazê-la.

No auge da sua insanidade, Penha estendeu um dos seus pés até o rosto da Mônica e mandou.

Agorra beije a minha bota.

– O-o quê?

– Você é surda por acaso? Beije minha bota enquanto pede perdão por tudo! E admita que você é uma esfarrapada, desclassificada e que não vale nada!

– Aí você tá exagerando! Ela não precisa fazer isso! Eu faço!

– Não! Tem que ser a Mônica ou nada feito!

Mesmo sentindo seu estômago embrulhando e com os nervos a flor da pele, Mônica acabou fazendo o que lhe foi ordenado. Quando sentiu o couro da bota nos seus lábios, seu estômago se revirou mais ainda e por pouco ela não vomitou na bota da Penha, o que teria piorado tudo.

– Isso mesmo! Diga o quanto você é inferrior a mim. Não, melhor ainda! Diga o quanto EU sou superrior a você! Admita que eu venci e você perdeu! Fale que eu sou linda, invencível, perfeita e poderrosa! FALE!

Os três olhavam para ela assustados com tamanha megalomania. Aquela garota tinha definitivamente perdido todo o juízo, não sobrando mais nada a não ser loucura e maldade.

Penha deu outra risada, enquanto se divertia as custas da humilhação da outra. Aquele era definitivamente o melhor dia da sua vida. Uma pena ela não ter se lembrado de gravar tudo! Assim ela poderia assistir quantas vezes quiser e prolongar aquele prazer indefinidamente. Uma outra idéia ainda lhe passou pela cabeça.

– Dê outro beijo na minha bota!

– Você ainda quer mais?

Agorra!

Mônica fez o que ela ordenou e Penha lhe desferiu um chute no rosto com toda a força que pode reunir, fazendo com que ela fosse pega de surpresa com o golpe.

– Aaaiii! – e ela gritou esfregando o nariz que tinha começado a sangrar enquanto Penha ria histericamente com o que tinha acabado de fazer.

– Pronto, Penha! Agora já chega! Deixa a gente ir embora! – Cebola falou tentando socorrer a namorada.

– Já chega? Mon Cherry, isso é apenas o começo! Parra quê a pressa? Nós temos a tarde inteirra, não se preocupe! Agorra é a sua vez. Me peça perdão por ter me colocado naquele plano idiota! Vamos!

Cebola teve que fazer as mesmas coisas que a Mônica, inclusive beijar as botas da Penha. Ela ainda não estava satisfeita.

– Diga o quanto eu sou melhor e mais bonita que ela! Diga que ela é uma dentuça, baranga, horrorrosa e que você a odeia.

A garganta dele apertou de tal forma que ele não conseguiu articular nenhuma palavra. Dizer que odiava a Mônica? Nem se sua vida dependesse disso!

– Diga! Agorra mesmo!

Ao ver a dificuldade do namorado, Mônica tentou ajudá-lo.

– Tudo bem, Cê! Pode falar, eu entendo!

– Mônica...

– Vai, fala...

Muito a contra gosto, ele repetiu as palavras da Penha, sentindo muita raiva e angústia.

– Beije minha bota!

Quando ele se inclinou para beijar a bota da Penha, ela lhe deu um chute também fazendo-o cair de costas no chão.

Agorra eu não querro mais. Vou brincar de outra coisa. Vejamos... aqui está!

Os olhos da Mônica arregalaram quando Penha pegou uma tesoura e Cebola ficou apavorado.

– Se você machucar a Mônica de novo...

– Eu não vou machucar essa favelada, não se preocupe! O sangue dela irria sujar meu lindo tapete persa. Só vou cortar esse cabelo pavorroso! Eu odeio esse cabelo e vou tosar tudo!

– Não!

– Sim! Chegue mais perto!

As pernas da Mônica falharam e ela não conseguiu sair do lugar. Aquela garota era definitivamente maluca e pelo visto, aquilo estava longe de acabar. Penha segurava a tesoura em uma mão e o maçarico na outra, mostrando que não estava para brincadeira.

Agnes dava risadas só de imaginar a cena da Penha cortando os cabelos da Mônica. Como ela ia ficar depois?

– Você está se divertindo muito, não? – uma voz falou atrás dela, fazendo-a pular de susto.

– O que você faz aqui? Isso não lhe diz respeito!

– É claro que me diz respeito! Esses dois serão muito importantes na reconstrução do novo mundo e é meu dever protegê-los.

– Não se preocupe, a Penha não vai matá-los.

– Não me interessa. Você não devia nem ter deixado isso começar. Acabe logo com essa palhaçada ou nosso acordo acaba aqui e você será mandada para um mundo primitivo.

Ele falou num tom que não dava margem a nenhuma discussão e Agnes resolveu agir antes que sua situação ficasse pior ainda. De qualquer forma, ela já tinha se divertido muito e podia se dar por satisfeita.

– O que está esperrando, Mônica? Venha para o seu corte de cabelo ou eu queimarrei tudo! – Penha ameaçou segurando o maçarico aceso logo acima do pacote. Agnes chegou mais perto e fez com que a mão da moça afrouxasse, deixando o maçarico cair em cima do pacote mergulhado em álcool. Num segundo, tudo pegou fogo sem que Penha pudesse fazer nada para impedir. A gritaria foi geral, especialmente da Mônica. Todo o dinheiro estava sendo queimado e não havia nada que ninguém pudesse fazer.

Penha olhava o pacote sendo queimado enquanto ria da aflição dos três. Não era aquilo que ela queria, pelo menos não por enquanto. Seu plano inicial era fazer com que Mônica sofresse todo tipo de humilhação e a queima do dinheiro ficaria apenas para o fim. Mas tudo bem. Ela tinha se divertido bastante.

– Sua... sua vagabunda, desgraçada, piranha filha da... – cega de raiva, Mônica partiu para cima da Penha que não conseguiu se defender. A tesoura foi atirada para longe e Mônica encheu o rosto dela de socos, tapas, rasgou sua roupa e puxou seu cabelo com força, arrancando vários fios com as mãos e arranhou seu rosto. Ela também lhe dava muitos socos no estômago e nas costelas.

Foi com muito custo que Cebola e Sofia conseguiram tirá-la de cima da outra, que gritava pedindo socorro. Seu rosto estava coberto de sangue e marcas de unhas. Seus olhos começaram a inchar por causa dos socos e ela sentia grande dor nas costelas.

– Mô, calma! Não faz isso! – Cebola falava tentando acalmá-la.

– Eu vou matar essa desgraçada agora mesmo! Me soltem!

Penha conseguiu se erguer um pouco e mesmo toda machucada, ela ainda ria deles.

– Hahaha, pode fazer o que eu quiser, mas não vai mudar o fato de que eu venci e você perdeu! O dinheirro foi queimado, vocês não terrão como fugir!

– Penha, cala a boca senão eu deixo a Mônica te bater de novo!

Ela ignorou a ameaça e continuou.

– Vocês vão morrer! Vocês, sua família, seus amigos, todos! Eu estarrei segurra na minha linda casa e vocês...

– Cala a boca, sua vadia! Você já deu no saco! – ele gritou também com vontade de dar uma surra nela.

Mônica ainda se debatia tentando se soltar e continuar dando uma surra na Penha e os dois resolveram tirá-la dali antes que a coisa piorasse. Os três saíram dali sob os risos e insultos da Penha, que insistia em gritar a plenos pulmões que tinha vencido.

Quando pisaram fora da propriedade, Mônica se desmanchou em prantos, apavorada por ter perdido todo o seu dinheiro e o dinheiro dos amigos. Até a família de Toni ia ser prejudicada por causa da loucura daquela garota.

– Gente, desculpa... eu não pude fazer nada!

– Tudo bem, Sofia. Melhor a gente ir embora, eu vou levar a Mônica pra casa e pensar no que fazer.

– Vocês vão ficar bem? Se quiser, eu volto lá e dou outra surra nela.

– Eu quero!

– Não, Mô! Isso não vai trazer nosso dinheiro de volta. Vamos embora que é melhor. Vem, vou te levar pra minha casa, não deve ter ninguém lá agora.

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Agnes observava o grupo se afastando juntamente com Serafim que balançava a cabeça mostrando visível desagrado.

– Aquilo não era necessário.

– Você pediu para que eu acabasse com aquilo e foi o que eu fiz.

– E com todo prazer, não é mesmo?

– Eu sou assim, você sabe disso. Não tenho razão nenhuma para ser boa com ninguém.

Ele deu um suspiro cansado e ordenou em tom enérgico.

– Vá fazer seu trabalho. E de agora em diante, tome muito cuidado com suas atitudes. Um passo em falso e o acordo acaba. Não vou mais admitir esse tipo de coisa.

– Como queira.

Eles desapareceram dali, deixando Penha sozinha e ainda rindo como louca. Mesmo toda machucada, ela sabia que tinha vencido e se deu por satisfeita. Agora só lhe restava arrumar suas coisas e partir com sua família para a nova casa e viver o resto da vida com segurança e conforto. Essa era sua vitória.

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Quando chegaram na casa do Cebola, Mônica ainda chorava desconsoladamente e ele não sabia como resolver aquela situação. Aquilo era uma loucura total! Como a Penha tinha descoberto seu esconderijo? Era algo que ele não conseguia entender de jeito nenhum. A não ser que ela tivesse contado com a ajuda do fantasma da Agnes. De qualquer forma, não adiantava mais esquentar a cabeça com aquilo. Todo o dinheiro tinha sido queimado e não havia mais nada que ele pudesse fazer.

– Ué, o que aconteceu? – sua irmã perguntou saindo do seu quarto e vendo o estado da Mônica.

– É uma historia longa, Maria. Cadê a mãe?

– Ela chegou, mas saiu de novo.

– Melhor assim. Faz um favor e pega um copo de água com açúcar com a Mônica, tá?

– Tá bom.

Ele a levou para seu quarto e fez com que ela sentasse na beira da cama e sentou-se do seu lado, abraçando-a com força para lhe dar apoio. A situação era a pior possível.

– Tá aqui a água. O que aconteceu?

O rapaz respirou fundo e resolveu contar logo a verdade uma vez que a menina já sabia de tudo, inclusive que o dinheiro tinha sido escondido em seu quarto.

– O dinheiro foi roubado, Maria.

– É? O que aconteceu?

Ele contou toda a história, apenas ocultando a parte em que ele e a Mônica foram humilhados. A menina não precisava saber daquilo. Por fim, o rapaz disse que o dinheiro tinha sido queimado, não sobrando mais nada para eles.

Maria ouviu toda a explicação se alterar e Cebola então viu que aquela carinha travessa escondia alguma coisa. Ao ver a tranqüilidade da irmã, ele acabou matando a charada e perguntou dando um sorriso malicioso.

– Maria, onde foi que você escondeu o dinheiro?

Mônica teve um sobressalto e levantou seu rosto, olhando ora para um, ora para outro.

A menina deu uma risadinha e saiu do quarto, voltando logo em seguida segurando um grande urso de pelúcia que vestia uma blusa cor de rosa com desenhos de pássaros e flores. Diante do olhar assustado dos dois, ela tirou a blusa do urso e eles viram que na barriga do boneco havia uma espécie de corte que se mantinha fechado por vários alfinetes.

– Ah, eu não acredito! Maria, você é uma pestinha mesmo! – ele falou dando um tapa na própria testa.

– Hahaha, eu peguei vocês direitinho! – ela tirou os alfinetes, abriu a barriga do urso e tirou de lá um grande pacote envolvido em plástico preto, igual ao que a Penha tinha roubado. – Tá aqui, ó!

Com as mãos tremendo, Cebola abriu o pacote e viu que ali tinha embrulhos menores, todos com os nomes de seus respectivos donos. Mônica parou de chorar na mesma hora, levantou da cama e pegou a menina no colo lhe enchendo o rosto de beijos.

– Ai, você é linda demais, fofa!

Cebola também dava risadas, sentindo o maior alívio da sua vida. Oficial: toda aquela genialidade era mesmo de família, porque nem ele teria pensado em procurar o dinheiro dentro daquele urso. Uma pergunta lhe ocorreu.

– E por que você colocou o dinheiro aí?

– Hoje de manhã, perto da hora de eu acordar, sonhei com uma moça bonita me falando pra fazer isso.

– Éeeee? – os dois perguntaram ao mesmo tempo, espantados.

– É. Ela disse que se eu não fizesse, ia perder todo o dinheiro, então eu fiz outro pacote igualzinho e coloquei no lugar do verdadeiro.

Sue irmão coçou a cabeça e quis saber.

– Engraçado... como era essa moça?

– Muito bonita. Tinha cabelos loiros, presos com Maria-chiquinhas e... – a medida que Maria descrevia a moça do sonho, a imagem de Agnes foi aparecendo na mente deles. A descrição se encaixava perfeitamente e não havia como se enganar. E como sabia que sua irmã nunca tinha visto Agnes antes, Cebola viu que a menina estava mesmo falando a verdade.

Contra todas as probabilidades, Agnes os tinha ajudado. Por quê? Não fazia sentido ela ter se voltado contra Penha para lhes ajudar. Ou será que depois de Ângelo a ter levado para o céu, ela teria mudado e ficado boa? Não havia como saber, mas ambos ficaram muito aliviados ao verem que seu dinheiro estava a salvo.

A todo instante, Mônica agradecia Agnes em pensamento, feliz por ter recebido aquela ajuda e esquecendo tudo de ruim que aquele fantasma tinha lhe feito. Uma boa ação podia apagar muitas coisas.

“Obrigada, Agnes, obrigada de verdade!”


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Notas finais do capítulo

(1) Exatamente
(2) Isso não é possível