2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 39
Tem início a contagem regressiva




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No capítulo anterior, Agnes contou a Penha sobre o destino da Terra e revelou que ambas seriam exiladas para outro mundo.

1 DE JULHO DE 2012

Pela vitrine ela podia ver diversos tipos de tortas. Chocolate, floresta negra, pêssego, morango, de limão e holandesa. Havia as tortas inteiras e também eram vendidas em pedaços individuais dentro de graciosas caixas de plástico transparente. Também havia quindins, brigadeiros com o chocolate granulado tradicional, brigadeiros brancos, cobertos com amêndoas ou confeitos coloridos. A variedade de bombons também era enorme, assim como a de bolos e donnuts.

Maria olhava tudo da vitrine com a boca cheia d'água. A todo instante ela lambia os lábios, imaginando como seria comer aquelas iguarias.

“Não! Eu tenho que resistir! Essas coisas têm milhões de calorias, vou virar uma porca grotesca! Ai, melhor sair daqui!” ela pensou ainda se mantendo no mesmo lugar. Aquelas guloseimas eram tão tentadoras que pareciam mantê-la presa ao chão como se fosse a própria gravidade.

O que mais lhe chamou a atenção foi uma linda mini-torta com chantilly, cerejas e raspas de chocolate por cima. Que gosto teria? Ela mordeu os lábios imaginando como seria comer uma colherada e sentir o chantilly derretendo em sua boca, misturando com o doce sabor da cereja e com o recheio da torta. Sua boca salivou ainda mais e ela fechou os olhos com força tentando resistir.

O mais importante ali era realizar o seu sonho de ser modelo, desfilar nas melhores passarelas vestindo as roupas dos mais famosos e badalados estilistas do mundo. Esse era o sonho que ela estava se esforçando para realizar.

“Eu preciso manter o foco! Preciso me esforçar e... e... pra quê?” Maria abriu os olhos e voltou a contemplar os doces, refletindo sobre o seu sonho e pensou que se o mundo estava mesmo para acabar, então era pouco provável que ele fosse realizar. Tudo seria destruído e não haveria mais passarelas para ela desfilar e nem estilistas para vesti-la. Tudo perderia a importância diante da grande calamidade que estava por vir. Será mesmo que valia a pena se privar de comer coisas gostosas por um sonho que talvez nunca viesse a se realizar?

Seu corpo, que até então estava tenso, relaxou aos poucos e sua mente serenou. Não valia mais a pena continuar se privando de comer coisas gostosas. Pensando bem, era até idiotice continuar fazendo aquele regime de faquir indiano sendo que um dia, não haveria mais confeitarias e nem quem fizesse aqueles manjares. E então ela nunca mais teria a chance de provar aquelas delícias novamente.

Maria voltou a olhar a torta de chantilly com cerejas e pensou que provavelmente aquela seria sua última chance de provar o doce e entrou na loja decidida. Passar fome, nunca mais!

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– Cascão. Ô Cascão! Tá surdo, criatura?
– Hum? Oi, careca, beleza? Tá um dia lindo, não?
– Como é?

Cebola olhou para o rosto do amigo, estranhando aquele sorriso abobalhado que ia de orelha a orelha.

– Escuta, onde você estava ontem que eu não te achei de jeito nenhum? E que cara de bobo é essa?
– Ah, nada demais. Só tô feliz, é isso.
– Feliz? Como você consegue ficar feliz sabendo que um dia isso aqui vai pras cuicuia? E você ainda não respondeu: onde estava ondem?

O sujinho hesitou um pouco, olhou para os lados para ver se tinha alguém ouvindo a conversa e depois voltou-se para o amigo falando com a voz baixa.

–Sabe, é que os pais da Cascuda viajaram ontem e... hã... eu fui dormir na casa dela.
– Você fez o quê? – o rapaz falou um pouco mais alto e logo abaixou o tom. – Cara, sério mesmo que você e a Cascuda...
– Pode crer!
– E aí? Como é? O que vocês fizeram? Foi uma vez só ou mais de uma?

O outro fechou a cara e tratou logo de cortar a torrente de perguntas que o amigo estava despejando sobre ele.

– Sai dessa, cara! Vê lá se eu vou ficar expondo a Cascuda desse jeito?
– Ah, qualé! Vai amarrar agora? Fala aí, vai! Eu não sou bocudo que nem você pra sair contando pra todo mundo!
– Nem vem! Se quiser saber mesmo como é, então dá um jeito de se entender com a Mônica!

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As duas estavam sentadas em cima da cama, com as pernas cruzadas e de frente uma para a outra. Era dia de fofocas e conversas intimas que só podiam ser feitas entre super-melhores-amigas.

– Não! Você teve mesmo sua primeira vez com o Quim? Gsuis! E como foi?

À medida que Magali contava os detalhes da sua primeira noite, Mônica arregalava os olhos, escondia o rosto com as mãos ou fazia alguma exclamação de surpresa.

– Ah, Mô! Foi bom demais! Ele é tão carinhoso!
– Magali, como foi que você criou coragem?
– Não foi difícil. A gente conversou e viu que não dá pra ficar esperando indefinidamente. Ninguém sabe mais do amanhã. Falando nisso, acho que está na hora de você pensar em algo assim com o Cebola.
– Eu? Ah, não! Eu não quero fazer nada assim correndo! Quero que minha primeira vez seja especial!
– Pra mim foi especial e a gente não fez nada correndo. Pensa bem, Mô. Quando tudo isso vier abaixo e a gente estiver lá na casa do Licurgo, ninguém vai ter privacidade pra mais nada.

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– Pelo que o Louco falou, vai acontecer de duas, talvez três famílias ocuparem o mesmo quarto.
– Então todo mundo vai ficar amontoado?
– Pode crer! É por isso que você tem que aproveitar com a Mônica agora, porque depois não vai dar mais não! Só se vocês fugirem pro meio do mato, mas você sabe como as meninas são sensíveis. Ela não vai querer ter a primeira vez dela no meio do mato.
– Eu também não ia querer isso, credo!
– Então dá um jeito de falar com a Mônica, cara.

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– Aproveita, Mô, que aqui vocês ainda vão ter privacidade, uma cama quentinha e macia e nenhuma preocupação. É hora de se esbaldar!
– Quer saber? Você tem razão, viu? Se não for agora, eu não sei quando é que vai ser e pode demorar muito!
– Pode mesmo.
– Só que eu fico sem jeito de falar com o Cebola sobre isso.
– Quando aparecer uma chance, vocês conversam. Tenho certeza de que não vai demorar! Agora é melhor a gente ir, tá na hora de encontrar as meninas lá no shopping.
– Ah, é... puxa... já pensou que esse pode ser nosso último passeio?
– É por isso que a gente tem que aproveitar. Amanhã pode não dar mais.

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Aninha checou os folhetos daquele curso, feliz por finalmente ter aparecido aquilo que ela e Carmen tanto queriam. Pelo menos passava perto. Era um curso para acampamento que ensinava a fazer fogueira, pescar, montar barracas e outras coisas que poderiam ser úteis.

– Oi, Aninha.
– Oi... vixe, que cara é essa?

Carmen fez sinal para que as duas fossem ao seu quarto. Ali dentro estava somente Fabinho que assistia televisão sem prestar atenção a conversa das duas. Ela sempre procurava manter o primo por perto o máximo possível para poder cuidar dele.

– Deixa eu adivinhar: é aquele sonho maluco de novo.
– Está repetindo todas noites sem parar! Por que isso tá acontecendo?
– Nem faço idéia... ah, fica assim não! vai ver você só está impressionada com isso tudo e fica imaginando coisas. Aqui, eu consegui aquele curso que você queria. Dá uma olhada!

Ela se animou um pouco e pegou um folheto, lendo cuidadosamente o conteúdo do curso.

– Parece bom! Quando é que abrem as matrículas?
– No dia cinco.
– A gente não pode perder essa. Eu vou passar na sua casa bem cedinho pra... pra...
– Carmen? Que foi?

Seus olhos foram ficando cada vez mais pesados até ela cair na cama inconsciente.

– Ai minha nossa! Fabinho, o que aconteceu com a Carmen?

O menino levantou-se do puff e chegou perto da prima.

– Ela está dormindo.
– Dormindo? Como assim? Agora a pouco ela estava acordada e agora cai no sono?
– De vez em quando a Carminha dorme e depois acorda.
– Eu heim! Ela nunca foi assim!
– Agora é.

De repente, Carmen acordou apavorada e ficou correndo pelo quarto falando coisas sem sentido. Foi com muito custo que Aninha conseguiu acalmá-la.

– Minha nossa, o que houve criatura? Você quase me mata de susto!
– A-aquele sonho de novo! Ai que droga! Eu não posso nem fechar os olhos que tudo começa outra vez!
– Como é? Você já está me assustando!
– Tô falando sério! Quem tá ficando assustada sou eu! O que é aquela coisa em cima da cidade? E aqueles anjos de asas negras? Por que são tantos? E aquela mulher esquisita que...
– Ai, calma! Não precisa ficar assim. Tive uma idéia. Você diz que tem anjos de asas negras no seus sonhos, não é?
– É...
– Então tá! Vamos perguntar pro Ângelo pra ver se ele sabe de alguma coisa!
– Oh! Nem tinha pensado nisso, que coisa! e onde o Ângelo está agora?
– Deve estar lá no céu...

Carmen foi até a janela e começou a gritar freneticamente o nome do Ângelo, chamando a atenção dos criados que trabalhavam no jardim.

– Ei, pára com isso, ficou doida?
– Ué, sempre funciona com a Mônica!
– Mas não tá funcionando com você. Bom, agora eu tenho que ir, preciso fazer umas coisas. Depois a gente vê como falar com o Ângelo. E até lá, tenta ficar tranqüila viu?
– Viu...

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“Que coisa chata... por que eu tenho que ficar fazendo isso o tempo inteiro?” Agnes perguntou a si mesma saindo do quarto da Carmen. Como se não bastasse entrar na cabeça da loira durante a noite, agora ela tinha que fazer durante o dia também.

Ela levantou vôo e logo encontrou-se com um anjo que a esperava com um ar grave.

– E então? Fez o seu serviço?
– Fiz sim. Por que eu tenho que fazer isso?
– Não lhe diz respeito. Apenas faça. E tome cuidado para que ela não te veja fazendo isso, senão...

Agnes tremeu de medo só de imaginar aquela possibilidade. Para espantar a impressão ruim, ela mudou de assunto.

– E a Penha? Dá pra fazer alguma coisa por ela?
– Mais ou menos. Quer dizer, vai depender muito de como ela agirá daqui por diante. Se ela souber aproveitar bem a vida que lhe resta, acho que terá sim uma chance de ir para o mesmo mundo que você. do contrário, irá para um planeta primitivo.

Aquilo não a deixou muito animada. Conhecendo a Penha como ela conhecia, era bem provável que aquela tonta fosse tentar algo para se vingar da Mônica e suas amigas. Se fizesse isso, tudo estaria perdido para ela.

– Melhor você ir. Daqui a pouco ela chega e não é bom que te veja rondando a propriedade.
– Está bem.

Pouco depois de eles terem ido embora, D. Morte apareceu sobrevoando a propriedade, olhando tudo rapidamente antes de seguir seu caminho. Ela não pretendia vigiar aquela garota outra vez, não era mais necessário. Outra coisa a incomodava e ela pretendia ter uma conversa séria com Serafim.

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Será que Maria Melo tinha trocado de corpo com a Magali? Ou ela estaria com algum parasita esfomeado dentro dela? Talvez seu estômago tivesse triplicado de tamanho? Isa não sabia dizer. Ela, junto com as outras garotas apenas observava a amiga comendo de uma forma que nem ela mesma comia quando não cuidava da sua alimentação.

Cachorro quente, pastéis, coxinhas, bombas de chocolate, brigadeiros e cajuzinhos que Isa levado, refrigerante (comum, nada de diet!).

– Hum... ohhhhh... ahhh, que delicia!

Marina não agüentou.

– Ô Maria, você tá comendo ou fazendo sexo?
– Acho que os dois, isso aqui está um êxtase!
– Cuidado que o pessoal da outra mesa tá olhando esquisito!

A moça virou-se e encarou os outros jovens que a olhavam espantados.

– Bah, vão pro inferno vocês! Nunca viram alguém comer?

Antes que uma briga começasse, Magali tentou apaziguar os ânimos.

– Calma, gente... é que ela bateu com a cabeça hoje, sabe...

Os outros continuaram seu lanche e as meninas repreenderam Maria.

(Cascuda) – Você enlouqueceu?
(Denise) – A louca! Já pensou se eles partem pra cima de você?
– Eu não tô nem aí, só quero comer. E isso aqui tá ótimo. Ai, eu nunca fui tão feliz assim em toda a minha vida!

Mônica tentou chamá-la a razão e só havia uma forma de fazer aquilo.

– Cuidado que com isso aí você vai engordar pelo menos três quilos!
– E daí! Ah, gente! Deixa eu ser feliz ao menos um pouco!

As meninas acabaram se conformando. Depois de tanto tempo quase morrendo de fome, era normal que ela quisesse extravasar um pouco. Elas deixaram a amiga comendo e voltaram a falar sobre uma festinha de despedida que Carmen pretendia dar naquele fim de semana. A última festa que a turma ia ter em muito tempo.


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