2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 37
Medo e tristeza


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Desculpem a demora, é que eu estava esperando sair a ed. 52, sabe... dependendo da historia, eu poderia fazer algumas mudanças na fic, entao alterei algumas coisinhas. Espero que gostem!



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No capítulo anterior, Carmen começou a ter sonhos estranhos e assustadores, que irão mudar sua forma de enxergar as coisas.

28 DE JUNHO DE 2012

Mesmo ainda sendo junho, a turma já tinha entrado de férias. Geralmente, todos ficavam felizes e radiantes nessa época, mas o clima de toda a turma não era de festa e muito menos de alegria. Era de medo, insegurança e tristeza. A cada dia que passava, eles estavam mais próximos do fim. .

Depois de muita luta, muito esforço e até de alguns desvios, todos tinham conseguido o dinheiro necessário. Muitos precisaram de ajuda e tiveram de Carmen e também de Franja, que tinha conseguido uma boa quantia com a venda das máquinas do seu laboratório. Até Denise resolveu mostrar alguma solidariedade ao dar parte do que ganhou para Xaveco ajudar sua família. E de certa forma, ela estava agindo em interesse próprio. Afinal, não era justo ela finalmente conseguir um namorado só para vê-lo sendo morto logo em seguida.

O que preocupava aqueles jovens já não era mais conseguir o dinheiro e sim convencer seus pais e familiares. Seguindo os conselhos de Franja, todos tentaram falar com seus pais novamente e a resistência foi a mesma. Apesar de tudo o que já estava acontecendo no Brasil e no mundo, eles se recusavam a enxergar o que estava evidente.

Carmen tinha até tentado falar com outros parentes na esperança de algum deles acreditar e comprar uma boa casa para que sua família não tivesse que viver amontoada no abrigo do Licurgo. Nada resolveu e eles ainda acabaram contando tudo aos seus pais, todos preocupados com a sanidade da moça. Sua sorte era seus pais serem relapsos demais para lhe aplicarem algum castigo mais severo, de forma que a situação dela não tinha ficado tão ruim.

Os pais da Mônica ameaçaram deixá-la de castigo e proibi-la de ver o Cebola. Cascão, que já estava de castigo por causa das péssimas notas, ficou pior ainda porque seus pais acabaram cortando todas as suas regalias. Nada de mesada, vídeo-game, ir ao cinema, sair com os amigos, ver televisão, sobremesa e nem mesmo praticar o seu amado parkour. Só que essa não era a pior parte do castigo. O pior era que ele também passou a ser obrigado a fazer faxina na casa, limpar a garagem, cortar a grama e lavar o carro do seu pai.

E como se isso já não fosse ruim o bastante, ele também teve que tomar banho todos os dias. Não podia haver castigo pior para ele.

Cebola teve seu computador confiscado, assim como todos os seus jogos, celular e iPad. Ele sequer podia ver seus programas preferidos na televisão e teria que se contentar apenas em assistir o que seus pais ou sua irmã estivessem assistindo.

O mesmo aconteceu com vários outros membros da turma, exceto por um deles.

Magali entrou no quarto da sua tia, que estava deitada na cama ligada a alguns aparelhos. Ela assistia televisão e estava magra, pálida e abatida. Não lembrava em nada a tia Nena que ela tinha conhecido em sua infância.

– Tia, como a senhora está? – Ela perguntou segurando a mão da senhora.
– Vou indo, menina. Vou indo.
– Tem que melhorar, não pode ficar desse jeito!

Ela desviou os olhos da televisão e contemplou o rosto da jovem.

– Magali, eu acho que meu tempo aqui está acabando.
– Por favor, não fala assim!
– É a verdade. Desde que o Pepo se foi, eu perdi o gosto pela vida. Não chore, isso me deixa triste!
– Eu estou com medo!
– Medo de quê? Você já tem o necessário e se for o caso, posso te dar minhas economias também.
– Não é isso... – ela abaixou os olhos sem saber como dizer aquilo da maneira mais suave possível. Sua tia pareceu adivinhar suas preocupações.
– Você está preocupada comigo, não está?

O choro da jovem se transformou em uma torrente de lágrimas e Nena estendeu um braço, fazendo com que Magali inclinasse para a cama e pousasse a cabeça em seu peito.

– E-eu não posso te deixar pra trás! Se a senhora não for, eu também não vou!

A mulher deixou que sua sobrinha chorasse bastante, talvez estivesse mesmo precisando colocar tudo aquilo para fora. Depois ela fez com que a moça levantasse para olhar em seus olhos.

– Magali, escuta bem. Eu vivi minha vida, fui feliz e estou satisfeita. Não deixo nenhum arrependimento nesse mundo e sei que posso partir em paz. Você é nova, tem uma vida inteira pela frente. Não desperdice por causa de uma velha teimosa como eu.
– Mas...
– Se quer mesmo me fazer feliz, vá. Salve sua vida e recomece em outro lugar.
– Não sei se vou conseguir...
– Menina, o que é isso? Fraca eu sei que você não é! Vamos, coragem! Você precisa ser forte agora!
– Tia...
– Por favor, prometa que vai lutar para sobreviver!

Magali tentou enxugar as lágrimas, que teimavam em cair sem interrupção e falou entre soluços.

– Eu... prometo...
– Você sabe que uma promessa é algo importante. Se prometer, terá que cumprir. Você fará isso?
– Farei tia... eu prometo.

Quando acabou a hora da visita, Magali voltou para casa ainda soluçando. Seus olhos estavam vermelhos e ela nem se importava com as pessoas que a olhavam de soslaio. Chagando em casa, ela foi direto para seu quarto e viu seus gatos dormindo em cima da sua cama. Com sua entrada, mingau acordou e foi roçar em suas pernas. Aveia apenas levantou a cabeça e depois voltou a dormir com seus filhotes que já estavam crescidos. Olhando seus gatos, tão tranqüilos e despreocupados, seu coração apertou mais ainda.

O que ela ia fazer com eles? Deixá-los para trás estava fora de questão, mas ela também não sabia como fazer para levá-los. Dada as circunstâncias, ela nem sabia se seus pais iam querer levá-los, ou se isso seria possível. Ela ajoelhou-se no chão e debruçou sobre a cama desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo ou um grande alarme falso. Mas e se não fosse? Era a dúvida que lhe atormentava. Saber que seu mundo estava prestes a desmoronar era enlouquecedor e ela não estava sabendo o que fazer para lidar com tudo aquilo.

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– Isso vai, isso aqui... deixa eu ver... acho que não precisa. Esse aqui tem que ir, é importante!

Sob o pretexto de estar arrumando seu quarto, Cebola estava organizando suas coisas, tentando separar as mais importantes para levar. O que pode ser salvo em pen drives tinha sido entregue ao Franja para guardar em caixas especiais que não deixaria os dados serem danificados pela radiação do sol. O restante, que eram anotações, ele estava organizando da melhor forma possível para não perder nada.

Ao pegar em um dos cadernos, algo lhe chamou a atenção. No alto da primeira parte, estava o título “Nanitas”. Era o seu projeto para o futuro, que lhe tornaria imensamente rico e poderoso. Ele parou o que estava fazendo e sentou-se na beira da cama para olhar suas anotações.

No mesmo caderno, ele também tinha anotado toda sua experiência no futuro. O rapaz leu e releu tudo e depois ficou olhando o vazio.

“Puxa... eu tinha tantos planos... e agora? Eu achei que esse futuro fosse se realizar!” com a grande catástrofe mundial que estava por vir, ele não conseguia imaginar como prosseguir com seu projeto. Antes de qualquer coisa, tudo teria que ser reconstruído e isso poderia levar décadas. Ou não?

Ele procurou relembrar da paisagem, dos prédios e das construções. Apesar de tudo estar abandonado e parcialmente destruído, a aparência do local era bem moderna, com prédios que ele nunca tinha visto antes.

“É mesmo! Vai ver tudo foi reconstruído depois dos terremotos, só pode! Se bem que ninguém me falou nada sobre isso... bah, vai ver porque não era relevante ou então eles não quiseram me deixar assustado.”

O rapaz ficou um pouco mais esperançoso. Talvez, depois de tudo ser reconstruído, ele poderia implementar seu projeto e tornar o mundo um lugar ainda melhor. Ele deu um sorriso. Depois da tragédia, todos os governos iam cair e a sociedade entraria em colapso. O mundo certamente ia precisar de bons lideres para colocar ordem no caos e ele pretendia ser um deles. Ou, quem sabe, estar acima deles.

Com aquela idéia em mente, ele voltou a arrumar suas coisas já bolando em sua cabeça planos e estratégias para assumir a liderança quando tudo se estabilizasse. Com ele no comando, o mundo poderia ser reconstruído muito melhor do que antes.

“Hehehe! A Mônica vai ficar muito orgulhosa de mim, ah se vai!”

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– Titi, sai dessa cara! Você tá gastando todo seu dinheiro na gandaia? Ficou doido?
– Não encham o meu saco! Eu já guardei o da minha família, deixa eu viver um pouco!

Xaveco e Jeremias tentavam tirar o amigo do bar, que cambaleava e falava embolado indicando que estava bêbado.

– Eu quero arrumar uma garota bem bonita! Onde estão as gatinhas? Eu quero uma loira, com olhos bem verdes e uns peitões desse tamalho, ó! – ele fez um gesto com as mãos, como se estivesse segurando uma grande bola e Jeremias balançou a cabeça.
– A gente vai é te levar pra casa, isso sim!

Cada um foi levando Titi por um braço, ainda sob protestos do amigo. Pelo visto, ele tinha resolvido jogar tudo para o alto e cometer todo tipo de loucuras, o que podia ser preocupante.

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Após lavar a louça do almoço, Luiza resolveu ir até o quarto da Mônica para ver o que a filha estava fazendo. A porta estava aberta e ela viu a filha guardando várias coisas dentro de uma caixa.

– Você está arrumando seu quarto? Que milagre é esse?
– Tava precisando.

Ela ajoelhou-se no chão e viu que dentro da caixa estavam álbuns de foto, retratos e vários objetos que ela sabia serem de valor sentimental para a Mônica. Era como se ela estivesse tentando guardar ali tudo o que era mais importante e a mulher perguntou olhando para a filha com a expressão muito séria.

– Eu não acredito que você ainda insiste nessa história!
– Não é história, mãe. Vai acontecer mesmo. Já está acontecendo.
– Pois eu não vejo nada demais!
– É porque estão escondendo tudo da gente. Na televisão dizem que está tudo bem e o povo acredita!
– É porque está tudo bem mesmo, hora!
– E aquelas trincas na nossa casa? O Franja construiu um sismógrafo e está registrando um monte de terremoto aqui no bairro.
– Sim, você falou isso, mas ainda assim é absurdo demais para acreditar!
– Se a senhora for falar com o Franja, ele vai explicar tudo direitinho e mostrar todas as provas.

Luiza pensou um pouco, ainda com os olhos fixos no conteúdo da caixa.

– E quais provas ele tem?
– Um monte. – Ela enumerou para a mãe as evidencias que Franja tinha reunido e falou sobre as pistas de Ângelo.
– As evidências do Franja podem ter lá um fundo de verdade, mas você acredita mesmo nas pistas do Ângelo?
– E por que não acreditaria? Ele é anjo, sabe de tudo o que vai acontecer na Terra!

Ela se remexeu inquieta e sentou-se na beirada da cama.

– Ainda não sei... olha, o Brasil nunca foi de ter essas tragédias naturais, então pode ser que não aconteça nada aqui!
– Se fosse assim, o Ângelo não ia falar nada com a gente.

Sua mãe ainda não se deu por convencida.

– De qualquer forma, vamos esperar mais um pouco.
– Esperar? A gente já tá na última hora!
– Também não é assim, né filha? Até parece que essas coisas têm data certa pra acontecer!
– Dessa vez tem.
– Que bobagem!

Mônica desistiu de tentar discutir. Afinal, ela tinha herdado a teimosia da sua mãe e sabia que não ia conseguir convencê-la com argumentos. Ela só torcia para que não fosse necessária uma tragédia para fazer seus pais se darem conta do que estava acontecendo com o planeta.


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