2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 30
Um pouco de solidariedade




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No capítulo anterior, a turma sofreu a dor de perder o seu primeiro membro.

22 DE MAIO DE 2012

Aquela situação estava ficando irritante demais para sua paciência. Os gritos do rapaz no portão da sua casa chegavam a doer seus ouvidos e Aninha não sabia mais o que fazer. Titi continuava o mesmo escandaloso de sempre, só que daquela vez ele não queria o chip do seu celular, queria algo mais sério. 

- Aninha, por favor, me escuta! Vem falar comigo. Aninhaaaaa!

Depois de mais de uma hora ouvindo aquele escândalo, ela não agüentou e resolveu ir falar com ele, se mantendo do lado de dentro do portão por questões de segurança.

- Que coisa, Titi! Eu já disse que não temos mais nada pra conversar!
- Mas eu tenho! Volta pra mim, por favor! Eu ainda gosto de você!

Ela deu um suspiro e falou olhando-o com tristeza.

- Por que você só viu isso agora? Eu estou namorando o Jerê.
- Nem me fale daquele traidor!
- Se for pra falar assim dele, então o assunto está encerrado!
- Não, peraí! Eu não vim aqui falar dele não, vim falar de nós! Olha, acho que tá na hora de a gente voltar a namorar!
- Só porque VOCÊ decidiu? Tem sempre que ser assim, não é? Só você controlando tudo, tomando decisões e implicando com as minhas roupas?
- Humpt! Uma garota comprometida não pode andar por aí com essas saias curtas! O Jeremias tá facilitando demais porque é um bundão! Quando a gente voltar a namorar, eu...
- Ei, ei, eeeei! Quem disse que vamos voltar a namorar?
- Vai dizer que me esqueceu? É mentira! Você nunca me esqueceu! Só tá com ele porque eu não te dei bola!
- Engano seu! Eu estou com ele porque quero! Vai ter que se acostumar com isso!
- Não tenho que me acostumar com nada! Você vai terminar esse namoro e voltar pra mim! E nada de ficar andando por aí com essas saias curtas e eu vou ficar de olho em você o tempo inteiro!

O rosto dela ficou vermelho de raiva e se tivesse algo bem pesado ali para jogar nele, ela não teria pensado duas vezes. Quem aquele folgado pensava que era?

- Vai nada! Quem manda na minha vida sou eu! Você não é, nunca foi e nunca será o meu dono, ouviu?

Titi deu um soco no portão e por um instante ela teve medo de que ele fosse invadir a casa e se preparou para gritar por socorro.

- Sua cachorra, vagabunda! Quem você pensa que é?
- Cachorra vagabunda é a sua mãe, que não soube te dar educação ouviu? Olha lá como fala comigo! E sai daqui senão eu chamo a polícia! Vai lá atrás das outras mulheres, vai! Quando estava com elas, nem pensou em mim!
- Mas eu sou homem, caramba! Você queria que eu ficasse a vida inteira só por sua conta? Eu preciso variar mesmo, você não entende?
- Então vai variar o quanto quiser, mas não me procura nunca mais seu tosco, machista, sem vergonha!

Os dois começaram a trocar insultos, chamando a atenção dos vizinhos e de quem estava passando por perto. Ao ver que não ia convencê-la pela força, ele tentou contemporizar.

- Aninha, você sabe que eu posso ficar com outras, mas eu te amo!
- Se me ama, então por que tem que ficar atrás de outras garotas?
- Porque eu só sei amar assim! Elas são só pra diversão, não significam nada! Minha verdadeira namorada é só você!
- Pois esse tipo de amor eu dispenso, ouviu? Não nasci pra viver num harém. Você é folgado demais, nunca vi! Acha que pode fazer tudo enquanto eu fico trancada dentro de casa e vestida que nem uma freira?
- O mundo sempre foi assim!
- E vai ser destruído em pouco tempo! Agora vai embora, vai! Não quero te ver nunca mais! Some da minha frente!

Ele deu outro soco no portão, alguns chutes e voltou a gritar.

- Quer saber de uma coisa? Eu tinha juntado dinheiro pra te ajudar, mas não vou te dar nada!
- E nem quero! Eu já tenho minha parte e não preciso da sua ajuda, ouviu?
- É bom mesmo! Por mim, você pode morrer que eu não vou dar um único centavo pra te salvar!
- Vai embora! Some!
- Morre, desgraça! Tomara que o terremoto te engula!

Eles trocaram mais alguns insultos antes de ele ir embora e ela voltar para dentro de casa aos prantos. Por que tudo teve que terminar daquela forma? Ela o amava tanto, mas depois do que tinha acabado de acontecer, o resto de sentimento que ainda vivia em seu coração acabou morrendo de vez. Não havia como amar alguém tão insensível, machista e egoísta como ele.

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Nimbus conferia seu material de mágica para o show que pretendia dar naquele dia. Seu rosto estava bastante triste de saudades de Ramona. Será que ela estava bem? Dc procurava tranqüilizá-lo, dizendo que sua namorada estava segura em outra dimensão e não ia sofrer com a catástrofe mundial.

- Ela vai ficar bem, mano. A gente é que tem que se esforçar pra sair vivo dessa. Aí você vai poder reencontrar com ela.
- Tomara, DC, tomara.

O que lhe consolava era saber que ele e DC tinham estavam conseguindo reunir todo o dinheiro necessário. Com dois trabalhando, o dinheiro entrou mais rápido. Ele só torcia para que todo aquele trabalho não fosse em vão e que seus pais acabassem acreditando neles.

Vendo que tudo estava em ordem, ele vestiu sua capa de mágico, colocou a cartola e procurou estampar um belo sorriso no rosto. Ele estava ali para divertir e entreter as pessoas, aquele era seu trabalho. Vendo a platéia que o recebia com aplausos, ele sentiu uma ponta de tristeza imaginando todas aquelas pessoas que iam morrer sem nem ao menos terem uma chance. Aquele podia ser um dos últimos divertimentos delas.

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- Ai, meu pé tá cheio de bolhas! Vou ter que dar um jeito nisso. Maria? Você tá bem?

Isa viu que a amiga cambaleava um pouco e deduziu que aquilo era fome, para variar.

- Que coisa, Maria! Ficou sem comer outra vez? Você não pode ficar doente, sabia? Tem que trabalhar!
- Eu não vou ficar doente! Olha só como eu emagreci! Dar aulas de dança foi mesmo uma boa idéia! Até você perdeu uns quilinhos!
- Humpt! Isso não é o mais importante.

Maria deu de ombros. Claro que perder peso era importante! Talvez não tanto quanto sobreviver, mas ainda assim era prioridade em sua vida. E Isa tinha emagrecido com tantas aulas e também por causa da preocupação que tirava seu apetite. Se ela continuasse assim, estaria tão magra quanto as outras garotas da turma.

- Eu vou lá pra casa dar um jeito nessas bolhas. De tarde vamos ter que dar outra aula de dança.
- Nossa, viu como nossa turma ficou cheia? Ainda bem!
- Ainda bem mesmo!
- E o seu namorado, Isa? Como ele tá indo? Você tava tão preocupada com ele!
- Ele já conseguiu todo o dinheiro e até vai me mandar algum!
- Sério? Como ele fez isso?
- Ele conseguiu convencer o irmão dele, sabe? Os dois têm um terreno que meu sogro deixou no nome deles antes de morrer. Então eles venderam e compraram uma casa lá na Chapada dos Guimarães. A família toda vai se mudar no fim de junho!
- Gente, que sorte! Eles vão ter uma casa?
- Não é muito grande, mas o terreno é de bom tamanho e no futuro pode dar pra fazer alguma coisa pra minha família também.
- Que bom! Nós é que vamos ter que ficar amontoados lá na casa do Licurgo...
- Só por um tempo, depois vamos dar um jeito. Ah, antes que eu esqueça, a Carmen chamou as meninas pra uma festa do pijama amanhã a noite. Você vai?
- Vou sim, a gente precisa se divertir um pouco. Eu tô puro stress e posso acabar comendo o que não posso!

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D. Frufru ainda estava meio hesitante. Por que sua filha cismou de querer fazer aquilo? Não seria melhor só deixar as roupas dentro do armário onde sempre estiveram?

- Ah, mãe! Você não está usando essas roupas e elas ficam aí pegando poeira! O que custa? É pra caridade!
- É que essas roupas custaram muito caro, sabe? Algumas eu só usei uma única vez!
- E pretende usar de novo?
- Claro que não, elas saíram de moda!
- Então por que ficar guardando? Olha como o seu armário está abarrotado! Tem roupa, sapato, bolsa, cinto, lenço e um monte de outras coisas que a senhora não usa há um tempão! Acho até que tem coisa aí de quando eu era pequena!

Carmen estava certa. Além do enorme closet no quarto dos pais, também havia roupas no quarto de despejo, no porão da casa e até em um dos quartos de hospedes que ficava perto do quarto de casal. E não somente roupas como também sapatos, bolsas e vários acessórios que sua mãe tinha usado somente uma única vez. Alguns nem tinham sido usados porque foram comprados apenas pelo prazer de comprar.

No armário dela também havia uma grande quantidade de roupas sem uso que ela pretendia se desfazer.

- Eu ainda não sei... dá dó vender tudo isso, sabe?
- Eu sei... é que assim a senhora vai ter mais espaço nos armários pras roupas novas. Já não está chegando a hora de renovar seu guarda roupa?

Os olhos da mulher se iluminaram.

- Isso é verdade, eu pretendo comprar tudo novo e da melhor qualidade!
- Só que não vai poder guardar direito porque o armário já está abarrotado! Daqui a pouco nem eu vou mais ter espaço pras minhas coisas! E você não quer que eu fique andando por aí usando roupa velha, quer?
- Cruz credo! Você é minha filha, tem que honrar o nome dos Frufrus! Argh, está bem! Chame a empregada para gente separar as roupas desse armário. As que estão nos outros você pode levar, eu já sei que não vou usar mesmo.
- E as do papai? Deve ter muita coisa aí que ele não usa.
- E tem mesmo! Fica tudo aí ocupando espaço no armário que eu poderia usar pra guardar minhas coisas. Você está certa, querida, vamos dar um jeito nas coisas dele também. 
- Isso mesmo, mãe! Guardar velharia não tá com nada, é coisa de pobre!

A mulher deu um salto.

- Éeeee? De onde você ouviu isso?
- Ficar guardando essas coisas dá a entender que você não tem dinheiro pra comprar outras novas e melhores, sabe? Só pobre é que fica acumulando quinquilharia. Gente rica sempre compra tudo novo!
- Ai meus sais! Temos que limpar tudo o quanto antes!

Sem esperar pela empregada, ela mesma invadiu o armário e começou a jogar as roupas no chão, ansiosa por ficar livre de toda aquela velharia. Carmen acompanhava tudo tentando disfarçar o riso. Se tinha uma coisa que sua mãe odiava era fazer “coisas de pobre”. Bastava ser comparada com a “ralé” para ela ter um ataque de nervos e Carmen sabia usar aquilo quando era conveniente.
D. Frufru ficou tão impressionada que autorizou a filha a se desfazer de tudo o que tinha no quarto de despejo. O que não pudesse ser vendido, teria que ser jogado fora. Carmen adorou a idéia, pois havia muitas coisas de valor ali que só precisavam de uma limpeza para ficarem em condições de vender. Aquela ia ser o maior bazar que o bairro tinha presenciado!

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- Como assim é a última entrega? – o homem perguntou irritado por perder outra de suas melhores garotas.
- É isso mesmo, já parei. Meus pais estão começando a desconfiar e eu não quero que descubram.
- Droga, não acredito!

Primeiro tinha sido Denise, que depois de aceitar o programa com Armandinho Ribamar, resolveu que não queria mais participar daqueles negócios. Agora era Irene?

- Você não pode despistar seus pais?
- Não. Outro dia minha mãe me pegou tirando fotos só de calcinha e quase me bateu. Já pensou se ela descobre o que eu tô fazendo?
- Não diga isso nem de brincadeira! – ele falou assustado. Seu negocio era totalmente ilícito e também envolvia moças menores de idade. Se os pais daquela garota descobrissem tudo, ele poderia ter grandes problemas. – Está bem, tá aqui seu pagamento. Uma pena, eu já tinha recebido boas ofertas por você, sabia? Não quer nem mesmo tentar só mais esse programa antes de parar?
- Não, eu não quero.

Ele insistiu mais um pouco, mas Irene manteve-se irredutível. Atrás dele, Ângelo lhe inspirava a desistir da garota, colocando em sua mente imagens do seu negócio sendo descoberto pela polícia e ele indo para a cadeia. Apesar da sua ganância, aquelas imagens acabaram fazendo com que ele desistisse. Aquela garota era bonita, mas não valia a pena arriscar seu negocio por causa dela. Havia muitas outras por aí dispostas a lhe dar um bom lucro.

Quando o carro foi embora, ela respirou aliviada por ter ficado livre daquele homem para sempre. Por um instante, ela teve medo de que ele começasse a persegui-la e torceu para que aquilo não acontecesse.

- Que susto, heim moça?
- Ai, Ângelo, eu quase morri de medo! O que você fez pra ele ir embora?
- Coisas de anjo, preocupa com isso não. E aí? Agora que você conseguiu o dinheiro, não vai mais mexer com essas coisas, vai?
- Nem! Acabou, quero mexer com isso mais não. Dá pra acreditar que a Denise me ajudou?
- Sério? – ele se fez de surpreso.
- Pois é! Ela deu três mil reais pra me ajudar. Agora eu tenho a quantia que preciso! Juntando isso com o meu salário vai dar tranqüilo pra salvar minha família!
- Que bom!

Para Irene tinha sido uma grande surpresa quando Denise lhe deu um envelope recheado com notas de cem.

- Aqui, é pra você não ter que mexer mais com essas coisas.
- Denise, eu não acredito! Por que tá fazendo isso?
- Foi você quem me ajudou a arrumar esse trampo. Sem isso, eu ainda estaria limpando aquela cozinha nojenta e gordurosa daquele restaurante e ganhando miséria. Nada mais justo.
- Ai, obrigada amiga! – Irene agradeceu lhe dando um grande abraço, que Denise correspondeu meio sem jeito.
- Só não fala pra ninguém, tá? É segredo nosso.
- Claro, pode deixar!

Ângelo ficou observando Irene indo embora, feliz por ver mais uma amiga saindo do mal caminho. Penando bem, três em quatro não tinha sido tão ruim assim.

“Três mil reais? Engraçado... Licurgo tinha dado dois e quinhentos. Então a Denise completou? Até que ela não é tão ruim assim.” O plano do louco também tinha dado certo. Ele chamou Denise e pediu a ela que desse aquele dinheiro a Irene.

- Entregue para ela e diga que é seu.
- Mas não é...
- Bem, uma mentirinha não vai fazer mal a ninguém, certo? Temos que ser solidários também!

E no fim Denise também tinha dado lá alguma mostra de solidariedade, mostrando que não era tão ruim quanto parecia ser.


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