2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 26
Desconfianças




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No capitulo anterior, a filha do traficante conhece os amigos de Toni e junto com ela um dos espiões do criminoso descobre sobre os preparativos da turma.


Mônica e Cebola estavam na frente do laptop de Denise, que mostrava para eles algumas fotos que tinha conseguido no dia anterior.

- É ela mesmo, impossível existirem duas pessoas com o mesmo péssimo gosto para roupas. – a ruiva falou.
(Mônica) – Gente, como é que o Toni foi se envolver com essa garota?
(Cebola) – Logo com a filha de um traficante? Peraí! Ele tá mexendo com traficantes?

No dia em que Ângelo conversou com eles, Denise lembrou-se de ter ouvido Toni falar um pouco sobre seus negócios e o anjo tê-lo avisado de que ele estava lidando com pessoas perigosas. Então era mesmo verdade?

- Parece que o bonitão aí resolveu arrumar outros meios de conseguir o dinheiro.

Mônica balançou a cabeça.

- Não pode ser possível! Ele já não ganha muito trabalhando como modelo?
(Cebola) – Esse babaca só sabe arrumar encrenca, nunca vi!
- Não fala assim, Cebola! a gente tem que ajudar ele!
- Ajudar? Nem vem! Ele entrou nessa sozinho, que saia sozinho! Eu não vou mexer com traficante por causa dele!
- Ué, você não tentou evitar que Bianca levasse ele embora?
- Eu fiz isso só por você, não por ele. E vem cá, por que você tá tão preocupada em ajudar o Tonhão? Que negócio é esse?

Ela deu uma risadinha com aquele pequeno ataque de ciúmes e tentou tranqüiliza-lo.

- Deixa de ser bobo, Cê! Eu só tô com pena dele, é isso! E já pensou se a encrenca sobra pra gente?

Denise concordou.

- Gente, eu vi como aquela garota olhava te olhava e acho que ela não foi muito com sua cara não. Também, com esse ouriço morto em cima da cabeça e essa pele oleosa e cheia de cravos!
- DENISE! Ah, se eu te pego!
- Hahahaha!

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- Vem cá, me conta de novo que eu não entendi nada. Que conversa maluca foi essa?
- Eu também não entendi nada, chefe. Só sei que aquelas duas ficaram falando de terremotos que vão acontecer no fim de julho, início de agosto... foi isso que eu entendi.
- Terremotos? Desde quando tem terremoto aqui no Brasil?
- Eu li no jornal outro dia que deu um no interior...
- Sério mesmo? Ainda assim isso é meio estranho. E elas ainda tinham uma mochila de sobrevivência?
- Tinham sim. A loirinha diz que treina todos os dias pra conseguir carregar a mochila nas costas. Acho até que eles estão tentando convencer os pais a fugirem pra outro lugar. Elas não falaram muita coisa não.

Armandinho levantou-se do sofá e foi olhar a paisagem pela janela. A vista era apenas um mar de barracos sem fim. De repente, ele lembrou-se de um dos seus aliados falando sobre os barracos que estavam desmoronando sem nenhum motivo aparente. Isso, mais as trincas que apareciam nas paredes das casas e os leves tremores que sentia de vez em quando, fez com que ele ficasse levemente desconfiado de alguma coisa.

- Chefe, será que aquele almofadinha tá sabendo de alguma coisa?
- Aposto que sim e ele vai ter que me explicar esse troço direitinho! Quando ele vier aqui pegar outro pacote, a gente vai ter uma conversa. Só que agora eu estou interessado em outra coisa. Olha só!

Ele mostrou para o capanga a foto de uma moça em roupas bem insinuantes.

- Eu fiquei sabendo que eles vão leiloar a ruivinha e que ela tá zero quilômetro!

O sujeito arregalou os olhos e apontou para a foto.

- Chefe, peraí! Eu vi essa garota na festa de ontem!
- Você viu? Como assim?
- Ela tava lá no meio dos amigos do almofadinha!

Ele ficou indignado.

- E minha filha tá andando com esse tipo de gente? Não estou gostando nem um pouco! Amanhã mesmo vou falar pra Valeska cortar essas amizades.
- Eu tô lembrando de uma coisa aqui... a garota que tava com a loirinha deu a entender que eles estão juntando dinheiro pra alguma coisa.
- Mesmo? Dinheiro pra quê?
- Acho que é pra todo mundo fugir dos terremotos...
- Que mané terremoto! Esses jovens devem estar fumando maconha estragada, isso sim! É o que dá comprar bagulho de traficante pé de chinelo!

O capanga deu de ombros.

- Pode ser, mas parece que eles acreditam mesmo. Vai ver é por isso que a ruiva tá fazendo essas coisas.
- É... faz sentido... bom, de qualquer forma eu vou mesmo conseguir dar o maior lance e a gente vai se divertir um monte. Acho que não vai ter nenhum problema fazer algumas perguntinhas depois.
- E o almofadinha?
- Primeiro eu vou falar com a ruiva. Dependendo do que ela me disser, eu vou espremer o almofadinha. 

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Titi seguia de longe, atento aos passos do amigo. Durante os últimos dias, o rapaz tinha reparado que alguma coisa estava acontecendo entre ele e Aninha. Embora não mostrassem explicitamente, ele percebeu que os dois pareciam mais próximos, trocando olhares e sorrisos. Suas desconfianças aumentaram ainda mais quando ele viu Jeremias beijando a mão de Aninha durante a festa da Carmen. Certamente devem ter pensado que não havia ninguém olhando.

Jeremias entrou em uma lanchonete e Titi ficou olhando através da grande janela de vidro. Aninha estava sentada em uma das mesas e quando ele chegou, ela abriu um enorme sorriso e os dois deram um beijo apaixonado. O sangue subiu a sua cabeça e ele não conseguiu ver mais nada a sua frente.

Aninhas e Jeremias tinham acabado de se beijar quando levaram um susto ao verem Titi entrando na lanchonete como um touro raivoso e desgovernado.

- Seu traidor, desgraçado, filho da... – ele partiu para cima do amigo, lhe dando socos e chutes enquanto gritava ensandecido.

Houve um tumultuo, Aninha gritava pedindo ajuda e alguns homens tentavam separar aqueles dois. Jeremias tinha dado vários socos na cara de Titi, arrancando o sangue do seu nariz. Ambos estavam muito machucados e nem isso foi suficiente para fazê-los parar.

Foi com muito custo que vários homens conseguiram separar aqueles dois. Conter Jeremias foi fácil porque ele não queria mesmo brigar. Mas Titi precisou ser contido por quatro homens e mesmo assim ele gritava como louco.

- Seu desgraçado! Quem mandou mexer com a minha garota?
- Sua garota uma virgula! – Aninha gritou com o rosto vermelho de raiva. – Eu faço o que quero da minha vida e você não tem nada a ver com isso!

Titi foi colocado para fora da lanchonete e não pode mais entrar. E quando o dono do estabelecimento ameaçou chamar a polícia, ele acabou tendo que sair dali para não ir preso.

“Eu acabo com aqueles dois, acabo mesmo! E aquela Aninha, vagabunda sem vergonha! Ela não tinha nada que ficar se engraçando pro Jeremias! Grrrr! Que raiva!”

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- Toni, como é que você apronta uma dessas? Você ficou louco?
- Quem te contou isso? Aposto que foi aquele Ângelo dedo-duro!
- Ele não falou nada, a gente reconheceu aquela garota vendo fotos dela na internet. Eu não acredito que você tá mexendo com a filha de um traficante!
(Cebola) – E aposto que anda vendendo droga também! Cara, você é burro mesmo!

Toni só não partiu para cima do Cebola por medo de apanhar da Mônica. Mesmo assim ele falou.

- Burros são vocês que ficam aí ralando feito malucos pra juntar uma miséria. Eu sou muito mais esperto porque já juntei muita grana!
(Mônica) - Ah, tá! Dinheiro de drogas, não é? O Licurgo falou...
- Eu não tô nem aí pro que o Licurgo falou! Ele fica com esse moralismo todo, mas quem vai se ferrar é a gente!
(Cebola) – Você falou que já tem muito dinheiro, então não tá na hora de parar?
- Agora que eu tô caindo nas boas graças do chefão? Nem pensar! Eu vou é ganhar muita grana e quando chegar a hora, vou embora daqui e ainda quero levar a Moniquinha comigo!

Daquela vez foi preciso que Mônica segurasse o Cebola antes que os dois saíssem rolando pelo chão trocando socos.

- Eu não vou com você pra lugar nenhum, seu tosco! Já tenho pra mim e pros meus pais, não preciso desse seu dinheiro sujo!

Ele deu de ombros.

- Você é quem sabe, gatinha. Mas se mudar de idéia, é só dar um chute nesse mané e me procurar. Fui!
- Ei, espera! Eu ainda não terminei!
- Mas eu terminei. Você é uma gracinha, mas não quero ninguém se metendo nos meus negócios, nem mesmo você!

Toni saiu dali rapidamente e não adiantou nem Mônica e nem Cebola tentarem enfiar algum juízo na cabeça dele.

- Fala sério, aquele ali é mais teimoso do que você!
- Como é?
- Glup! Quelo dizer... er...
- Aff, ninguém merece! A gente tenta ajudar e ele fica desse jeito!
- A gente fez o que podia fazer. Se ele não quer ouvir, problema dele!

Ângelo os acompanhava do alto, triste por seus amigos também não terem conseguido convencer Toni a mudar de idéia. Ele estava mesmo irredutível.
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- E os dois brigaram feio, nunca vi coisa igual!
- Minha nossa, sério mesmo? Que horror! Ah, também! Quem mandou o Titi ficar dando bobeira? Quem não cuida, perde!
- Só que agora eu tô com medo dele querer vir pra cima de mim!
- Então vamos falar com a Mônica. Com ela por perto, duvido que ele vai ter coragem de fazer alguma coisa.
- Pode ser... – Aninha enxugou as lágrimas e quando conseguiu se acalmar um pouco, quis saber. – E você queria falar o quê comigo? Nossa, eu comecei a falar sem parar e nem te dei chance...
- Tem problema não. Eu só queria perguntar se você sabe de algum curso rápido de sobrevivência, coisas assim. Ou de primeiros socorros... qualquer coisa. Eu estou com medo de não poder cuidar do meu primo, sabe.

Aninha ficou surpresa ao ver Carmen se preocupando com alguém além dela mesma. Então aquela garota tinha um coração de verdade batendo no peito?

- Curso de sobrevivência eu não conheço não, mas de primeiros socorros eu conheço sim. É um curso rápido, deve durar duas semanas. Só é caro, você sabe...
- Tudo bem, onde eu me inscrevo?

Aninha procurou na sua pasta de folhetos e entregou um para Carmen.

- Você vai nesse endereço e faz a inscrição. Tem que pagar na hora.
- Eu vou mesmo. Você não quer ir também?

Ela falou, sem jeito.

- Estou juntando dinheiro e não posso gastar.
- Bobagem, eu pago pra nós duas!
- Não sei se devia...
- Deve sim. Se tiver outra pessoa comigo, fica mais fácil pra eu criar coragem.

As duas continuaram conversando e Aninha mostrava para Carmen outros folhetos de cursos rápidos que ela também conhecia. Algum deles pareceram bem úteis e interessantes.

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O celular tocou e Denise atendeu.

- Alô?
- Ruivinha? – uma voz familiar falou do outro lado da linha.
- O que foi?
- Um dos meus sócios deu um bom lance por você.
- De quanto?
- Ele vai pagar trinta mil. Nesse caso, como é sua primeira vez, vai ser dez mil pra mim e vinte pra você. O que diz? Alô?

Denise ficou muda por um tempo e voltou a falar com a voz trêmula.

- Você disse vinte mil? Tá falando sério?
- Claro que sim, garota. E aí?
- Quando é que vai ser?

O homem deu uma risada e respondeu.

- No dia cinco de maio, às sete da noite. Pode ser?
- Pode. E vai ser aonde?
- Você me espera no mesmo lugar de sempre que eu te levo e depois trago de volta. Não tem erro. Eu te pego as seis que é pra você ter tempo de tomar banho e se arrumar.
- Está certo então. E quando vou receber?
- Quando ele terminar. Não se atrase.

Denise desligou o celular sentindo uma coisa ruim no estômago. Ela procurou não pensar mais naquilo. Não tinha mais volta uma vez que ela já deu sua palavra. Só restava torcer para que o sujeito pelo menos não fosse um velho feio e babão.


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