2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 19
O tempo segue...




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No capitulo anterior, cada membro da turma estava trabalhando como podia para conseguir o dinheiro necessário.

Denise saiu da loja triste e desanimada. Procurar emprego não estava nada fácil e ela não sabia mais o que fazer. Aquele era o segundo emprego do qual ela era demitida por causa do seu gênio ruim. Denise odiava seguir ordens e ser tratada como subalterna. E também não gostava dos horários, de ter que chegar e sair na hora certa, controlar suas roupas e seus modos. Como é que as pessoas agüentavam aqueles empregos sufocantes todos os dias?

Ela entrou em uma lanchonete e comprou uma garrafa de água mineral para matar a sede. Enquanto bebia, ela ia pensando em sua situação nada favorável. O mês de março estava acabando e Denise não tinha conseguido juntar praticamente nada, o que era bem preocupante.

 “Droga... agora eu sei por que meu pai reclama tanto por causa de dinheiro. É difícil demais! Será que não tem outro jeito mais fácil?” Se tinha, ela não conhecia. A não ser se assaltasse um banco, mas isso estava fora de cogitação. Não era por escrúpulos e sim por medo de ser presa. Aquilo poderia piorar a situação e ela tinha calafrios só de imaginar em passar o fim do mundo trancada em uma cela numa instituição para menores. Um fim trágico e nada glamoroso.

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A la nanita nana
nanita ella nanita ella
mi niña tiene sueño
bendito sea
bendito sea

Fuentecita que corre
clara y sonora
ruiseñor que a la selva
cantando llora
calla mientras la cuna se balancea
A la nanita nana nanita ella



O menino logo pegou no sono com a canção que Carmen cantava para ele. Um dia, quando tinha quatro anos, ele tinha ouvido algumas moças cantando aquela música em um filme que Carmen estava assistindo e acabou gostando da canção. Tanto que Carmen se esforçou para aprender a cantar em espanhol. Desde então, ele sempre dormia quando ela cantava para ele.

Ao ver que o menino estava dormindo, ela o cobriu carinhosamente e ficou contemplando seu xodozinho, como ela o chamava. Seu coração apertou ao lembrar-se do que ia acontecer em julho. Por que seus pais tinham que ser tão teimosos? Se eles tivessem acreditado nela, a família inteira já estaria segura longe dali e vivendo bem. Agora ela teria que aceitar morar de favor na casa do Licurgo e com certeza todos teriam que ficar amontoados. Ela não teria mais seu próprio quarto, nada de empregados e eles não seriam a família mais rica e importante da cidade. Seriam apenas refugiados.

Algumas vezes Carmen tentou convencer seu pai a comprar uma casa na chapada dos Guimarães e ele continuava irredutível.

- Meu docinho, eu sempre te dou tudo o que você quer, mas por favor, peça apenas coisas razoáveis, está bem? – era o que ele dizia antes de lhe empurrar mais dinheiro para fazer compras. Era sempre assim que eles lidavam com ela.

Para que conversar e esforçar para dar educação, limites e afeto se era mais fácil sacar o talão de cheques, desembolsar algumas notas ou lhe dar um cartão de crédito?

Carmen deu um longo suspiro e voltou a olhar para seu primo com muita preocupação. Tão novo e prestes a presenciar uma grande catástrofe! Como ela ia protegê-lo? Se dependesse dos pais dele, o coitadinho poderia até ser deixado para trás. Assim como seus pais, seus tios só pensavam em ganhar dinheiro. Não que ela não gostasse de dinheiro, muito pelo contrário, mas daquela vez a situação era diferente.

O menino começou a respirar um pouco diferente, deixando-a em alerta. Durou pouco tempo e ele logo voltou a respirar normalmente. Aquele era outro problema. Ele tinha asma e ela não sabia como fazer para cuidar dele quando tudo viesse abaixo.

- Ah, meu xodozinho... eu vou cuidar de você, tá? – a moça sussurrou após dar um beijo suave no seu anjinho.

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- I ocê vai memo pra capitar ano qui vem?
- Vou sim. Eu tô istudando muito pra poder entrar na faculdade.
- Vô sentir sardade...
- Eu também... mas quando voltar, vou ser professora da nossa escola. Não é bom?
- Isso é!

Chico e Rosinha continuaram andando a beira do ribeirão de mãos dadas e fazendo planos para o futuro. Era sonho dela ir para a faculdade e se tornar professora. Embora não gostasse da idéia da namorada ficar longe dele por vários meses, ele acabou aceitando ao saber que ela ia trabalhar na escola da vila, o que não ia atrapalhar em nada o futuro deles juntos.

Rosinha estudava com afinco e tinha perdido grande parte daquele sotaque interiorano, falando quase como uma pessoa da cidade. Já Chico preferia continuar ali na roça mesmo, apesar dos seus pais também insistirem para que ele fosse estudar na cidade.

- O pai i a mãe tão querendo qui eu vá istudá na cidade grande, mais eu num quero saí daqui!
- Pruquê?
- Ara, ocê sabe qui eu num mi acostumo cum a cidade!
- Também num é assim, Chico! Ocê num vai ficar lá pra sempre!
- Inda ansim eu num sei si quero. Eu vô istudá o quê?
- Ocê pode estudar agronomia.
- I o qui é isso?

Ela explicou brevemente sobre a profissão de agrônomo, deixando o rapaz levemente interessado. Então havia faculdade para aquele tipo de coisa? Ainda assim ele não pode evitar um muxoxo. O que eles ensinavam nas faculdades ele já tinha aprendido desde a infância. Não havia necessidade de virar doutor para cultivar a terra.

- Ocê pode cultivar melhor a terra, pode até virar fazendeiro que nem o seu Genésio.
- Eu num quero ficá qui nem aquele goiabão do Genesinho!
- Claro que não, Chico! O Genesinho é daquele jeito porque os pais dele num educam direito, o qui num vai acontecer com a gente.
- Isso é...
- Num preocupa de decidir tudo agora não, pensa mais um pouquinho, com mais calma e aí você vê.
- Tá bão.

Ele voltou a olhar para o rio, que tinha diminuído muito nos últimos anos e também ficado mais poluído. Antes, dava para nadar, pescar e até andar de barco nele. Agora, ele não entrava ali de jeito nenhum e tinha medo de comer os peixes dali e acabar adoecendo. Infelizmente, tudo ali estava mudando e na opinião dele, mudando para pior.

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Aninha trabalhava incansavelmente no balcão de uma loja arrumando os produtos, organizando as vitrines ou limpando alguma coisa. Do lado de fora. Titi observava a ex-namorada tentando tomar coragem para falar alguma coisa.

“Vamos lá, cara! É só entrar lá e chamar ela pra sair! O que custa!” ele repetia para si mesmo várias vezes e não se decidia.

Uma bela ruiva usando vestido curto passou perto dele, lhe lançando um olhar provocante, e ele acabou esquecendo um pouco da Aninha. Pensando bem, a vida era curta demais e precisava ser aproveitada. Por que perder tempo com uma garota só se ele podia perder com várias? Além do mais, ele tinha esperanças de que todos fossem sobreviver. Então, quando tudo tivesse acabado, ele poderia reatar o namoro com ela.

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Radar dormia calmamente ao lado da mesa de Dorinha enquanto ela atendia telefones e transferia chamadas. Ela tinha conseguido um emprego de meio período como telefonista na escola, graças a ajuda de Licurgo. Se tudo desse certo, ela acabaria conseguindo guardar dinheiro para si mesma e para seus pais. Ainda assim, algo a preocupava. E o resto da família?

Se fosse somente ela e seus pais, tudo ficaria bem, mas ainda havia seus avós por parte de mãe, tios e primos. Quando teve uma folga, ela foi junto com Radar até o filtro para beber água enquanto tentava não se preocupar em demasia e prejudicar seu trabalho. Ela precisava mostrar que era capaz de trabalhar sem prejudicar seus estudos, do contrário seus pais a forçariam largar o emprego, coisa que ela não queria. Mesmo com toda aquela preocupação, ela procurou manter uma atitude positiva.

“Tudo vai acabar dando certo... vai sim...”

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Nina estava totalmente desacordada nos braços de Ângelo, que voava rapidamente de volta para o Santuário. Um bom banho no lado ia recompor as energias dela.

Mesmo depois do banho, ainda levou alguns minutos até que ela despertasse.

- Puxa, que alívio! Você tá bem?
- Estou, obrigada...
- Acho que você forçou demais hoje...
- É assim mesmo. Agora estou bem melhor.

Ele não ficou totalmente convencido e algo o preocupava muito. Com tantos terremotos, tsunamis e outras tragédias, como iam ficar as industrias, navios petroleiros, usinas nucleares, etc? Aquilo poderia causar um desastre ecológico de proporções imensas que Nina e suas amigas não teriam condições de controlar.

- Você está preocupado...
- Estou mesmo, Nina. Como vocês vão dar conta de tudo isso quando as coisas acalmarem? Aqui no Brasil tem usinas nucleares... como elas vão ficar depois dos terremotos?
- Nós vamos cuidar disso e também dos outros desastres.
- Não seria melhor deixar tudo ir se ajeitando?
- Levaria séculos, talvez milênios. Além do mais, é nosso trabalho e não vamos deixar isso de lado.
- Ainda assim...
- Eu vou ficar bem, Ângelo. Eu sempre fico bem. Só estou preocupada com a turma... eu não sei como eles vão fazer...
- Nem me fale! Alguns estão indo bem e vão conseguir o dinheiro, mas outros estão com dificuldade.
- Uns não podem ajudar os outros?
- Aí eu não sei... cada um vai querer salvar a si mesmo e a própria família, não sei se eles vão querer cooperar entre si.
- Isso vai ser um grande teste para a união deles, não acha?
- E como!


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