2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 18
Trabalhando duro




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No capítulo anterior, a Turma foi até a casa de Licurgo em busca de conselhos. Vendo que já tinham um lugar para ficar, eles resolveram concentrar seus esforços em chegar até lá, o que estava mostrando ser um grande desafio.

As garotas estavam reunidas no quarto da Mônica para o que, aparentemente, era apenas uma inocente festa do pijama. Todas as garotas da turma estavam ali e Mônica tomou o cuidado de colocar uma música para tocar e assim disfarçar o assunto daquela noite.

Aninha estava distribuindo vários folhetos para as amigas.

- Esses empregos aqui são muito bons! O salário não é assim uma fortuna, mas considerando que é de meio período, acho que dá para ajudar.

Ninguém melhor do que ela para dar dicas sobre onde e como trabalhar. Ela tinha feito vários cursos, teve muitos empregos e conhecia os melhores locais para trabalhar. Com sua experiência, ela foi dando vários conselhos para as amigas que ouviam tudo com muita atenção.

- Primeiro, vocês têm que prestar atenção à imagem. Nada de roupas espalhafatosas, curtas ou decotadas. No local de trabalho, a gente tem que aprender a se vestir de acordo com as regras da empresa. Eu sei que é só temporário, mas eles precisam acreditar que estamos mesmo comprometidas!

As outras meninas foram anotando e Cascuda quis saber.

- Eles fazem entrevista?
- Às vezes sim, às vezes não... depende do trabalho. Eles sabem que para a maioria de nós é o primeiro emprego, então nem sempre tem entrevistas. Mas caso tenha, vocês precisam saber do seguinte.

Enquanto isso, na cozinha, Luiza preparava alguns salgadinhos para Mônica servir as amigas. Souza entrou e furtou um da bandeja, ignorando os protestos da esposa.

- Hum... gostoso! Faz muito tempo que a Mônica não dá nenhuma festa do pijama aqui em casa. Acho que vamos custar a dormir com essas meninas tagarelando sem parar.
- Ah, deixa disso. Até que elas estão bem comportadas hoje. E vamos deixar nossa filha se divertir. Antes isso do que ela ficar com aquelas idéias malucas de fim do mundo.
- Isso é verdade. – ele falou afanando mais um salgadinho antes que a esposa conseguisse dar um tapa em sua mão.

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Cebola tinha pesquisado o preço das passagens em várias agencias, visando somente a classe econômica. Apesar de ser a empresa mais barata de todas, os preços ainda o assustaram bastante.

- Caraca! Isso tudo? Não é melhor buscar só classe econômica? – Cascão falou também abismado com aqueles preços.
- Mas é classe econômica!

O susto foi geral. O site mostrava que o custo das passagens para três adultos e uma criança era de R$ 803,00 sendo que o preço ainda podia aumentar até julho. Como alguém poderia juntar aquela quantia em tão pouco tempo?

- Porcaria, viu? – Titi exclamou irritado. – Por que o Ângelo não avisou a gente com mais antecedência?

Os outros rapazes concordaram e ficaram reclamando daquele aviso praticamente em cima da hora. Já era março e faltavam quatro meses, talvez menos porque ninguém sabia se os eventos iam ser no início, no meio ou no fim de julho. Se Ângelo tivesse ao menos avisado antes de janeiro, eles teriam ganhado mais dois meses.

- Agora não adianta nada reclamar, a gente tem que pensar em alguma coisa. – Cebola disse tentando fazer silêncio antes que seu pai aparecesse na porta do seu quarto reclamando do barulho.
(Quim) – Pensar em quê, Cebola? Não tem como a gente reunir essa quantia até julho. Não sem a ajuda dos nossos pais!
- Só que eles não acreditam na gente e não vão acreditar, então o jeito é ir trabalhando por conta própria.

Ele não queria demonstrar para ninguém, mas por dentro Cebola também estava muito assustado com aquela situação. Várias alternativas passaram por sua cabeça e nenhuma foi boa o suficiente. O melhor meio de transporte ainda era o de avião. De ônibus poderia sair mais caro e também não era seguro por causa dos terremotos. De fato, sem a ajuda dos pais não havia muitas opções. O jeito era trabalhar duro e juntar o máximo que pudesse. No futuro, talvez seus pais mudassem de idéia e ajudassem com o resto.

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- Filho, tu não precisas trabalhar tanto, ópá! Vais acabar morrendo de cansaço!
- È que eu preciso de uma graninha extra, pai.
- Por acaso tu pretendes comprar um carro?

Quim tentou disfarçar.

- É, no futuro sabe...

Seu Quinzão deu um sorriso, orgulhoso por ver o filho se tornando um adulto.

- Ora, pois! Então juntes o dinheiro. Quando chegar a hora, veremos o que fazer.
- Valeu, pai.

Ele voltou a confeitar o bolo procurando disfarçar o que sentia por dentro. Era tão difícil acreditar que em poucos meses todo aquele bairro não ia existir mais! Quim sonhava em se tornar um grande chef de cozinha, expandir a padaria do seu pai, talvez até dar cursos de culinária e, claro, casar-se com a Magali e formar uma família. O bolo de casamento seria feito por suas próprias mãos.

O bolo estava quase pronto e o resultado com certeza ia agradar ao cliente. Pena que aquilo era tão demorado e trabalhoso! Dependendo do tamanho e do tipo, ele podia levar várias horas para preparar um bolo inteiro. E o ganho era pouco já que era um negócio familiar. Seu pai só lhe pagava um salário mínimo e ainda assim ele não recebia férias e nem décimo terceiro.

“Deixa eu ver... ainda tem o salário desse mês e um resto do mês passado que eu ainda não gastei... é, acho que se eu não gastar nada, vai dar pra comprar passagens. Hum... melhor eu fazer umas encomendas extras, isso deve ajudar bastante! Puxa, tenho que pensar na Magali também! Será que ela vai conseguir o dinheiro?”

Sua namorada também o preocupava bastante e seu coração apertou ao imaginar a possibilidade de ela não conseguir o dinheiro no tempo certo. Como ele ia fazer?

Quando o bolo ficou pronto, ele contemplou o resultado com um olhar triste imaginando se algum dia poderia voltar a confeitar bolos novamente.
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- Hum... isso parece interessante... você acha mesmo que essa máquina irá economizar energia elétrica na minha empresa?
- A economia prevista é de pelo menos uns 75%.

O homem voltou a examinar a máquina com interesse e acabou fechando o negócio. Sua empresa tinha grandes gastos com energia elétrica e apesar de aquele equipamento estar saindo caro, ele sabia que teria o retorno em poucos meses. 

Alguns homens colocaram a máquina em uma caminhonete enquanto o empresário assinava um cheque no nome do Franja. Só com a venda daquele equipamento, as passagens para sua família e para a de Marina estavam garantidas e ainda sobrou uma boa quantia que daria para várias outras passagens. Ainda assim ele decidiu continuar vendendo suas máquinas. Não havia como levar aquilo tudo embora e também aquele dinheiro poderia ajudar seus amigos. Isso, claro, somente depois de ter garantido a salvação dele, de Marina e suas famílias.

O inventor voltou a olhar para seu computador a fim de monitorar as atividades do sol e do campo magnético da terra. A taxa de neutrinos continuava aumentando e o campo magnético diminuía cada vez mais. Se continuasse naquele ritmo, em julho ele poderia ficar em menos de 20% do tamanho normal. Como seus pais não eram capazes de acreditar naquelas evidencias? E por que ninguém falava nada? A cegueira das pessoas era mesmo impressionante!

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Marina estava em uma feira exibindo suas telas enquanto muitas pessoas interessadas examinavam seus quadros. Eram bonitos, tinham belas cores e os desenhos muito bem feitos. O problema era que a maioria gostava, mas poucos compravam. O que tinha de errado nas pessoas? Ou será que eram seus quadros que não caiam no gosto do público? Ela lembrou-se de ter lido na internet a reportagem de um pintor que vendia suas pinturas por até dez mil dólares. Embora ela respeitasse todos os tipos de arte, aqueles quadros lhe pareciam apenas um monte de manchas e respingos sem sentido nenhum.

Aos dez anos, ela pintava muito melhor do que aquilo. Às vezes a vida era injusta... Ela tinha feito belas paisagens, pássaros, flores, etc. e seus quadros estavam quase encalhados. Outros faziam apenas um monte de rabiscos e vendiam a quantias enormes.

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Cascão olhava para o carro, que parecia olhar de volta para ele com um ar de deboche. Em sua cabeça, o rapaz até chegou a ouvir risadas que pareciam vir do veículo.

“Vamos lá, Cascão! Você consegue, você consegue! Faça de conta que você é o Cosmo-Guerreiro consertando a nave para poder continuar em sua missão de exploração espacial. Anda logo, vai!”

Ele respirou fundo várias vezes, estalou os dedos, alongou o seu corpo, respirou fundo mais uma vez e finalmente conseguiu reunir coragem para pegar o sabão e o balde com água para poder lavar aquele carro. Aquilo não foi nem um pouco fácil. Por mais que ele tomasse cuidado, a água acabava espirrando em sua roupa e no fim do serviço, ele tinha ficado todo molhado. Mas pelo menos o carro estava limpo por dentro e por fora. E para completar, graxa, cera e um bom polimento. Até os pneus estavam brilhando de limpos.

Seu corpo estava todo moído quando o proprietário do carro veio lhe dar o pagamento pelo serviço. Apenas trinta e cinco reais por todo aquele trabalho? Ele não pode reclamar muito já que era autônomo e não dono de um lava-jato. Pelo menos o dono do carro tinha ficado satisfeito e se prontificou a recomendar seus serviços para amigos e conhecidos.

- Apenas tente ser um pouco mais rápido, a maioria das pessoas não gosta de esperar muito.
- Beleza.

Ele voltou para casa contando o dinheiro que ganhou naquele dia.

“Poxa, eu só lavei dois carros hoje... pena que não dá pra lavar mais...” o serviço era difícil e demorado, já que ele fazia tudo completo. Nos fins de semana, dava para lavar apenas dois carros por dia. Talvez, ganhando pratica e experiência, ele conseguisse lavar mais. Durante a semana, ele poderia lavar somente um porque tinha que continuar indo a escola. “Fala sério, pra que eu vou ter que estudar se o mundo todo vai pras cucuia? Se eu não tivesse que ir a escola, ia sobrar mais tempo! É... acho que posso matar aula de vez em quando...”

A idéia parecia boa. Afinal, a escola ia estar totalmente destruída antes do fim do ano, então por que se preocupar com as notas vermelhas?

“Deixa eu ver... se der pra lavar um carro por dia durante a semana, dois no sábado e dois no domingo, acho que dá... peraí...” um pouco de fumaça saiu da cabeça dele e seu cérebro travou. Fazer contas era a praia do Cebola, não dele. O melhor era esperar até chegar em casa para usar a calculadora. Assim daria para ter uma idéia do quanto ele ia ganhar lavando carros.

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Magali deu um passo para trás e contemplou satisfeita o resultado do seu trabalho. O gato estava bem limpo, escovado, com as unhas cortadas e um bonito laço em volta do pescoço. A dona do pet shop veio analisar seu trabalho.

- Bom, bom... Parece que você leva jeito com gatos! Todas as vezes que minha cliente traz esse gato, é um sacrifício conseguir dar banho nele!
- Obrigada. E aí? O emprego é meu?
- Sim, está contratada.

Ela deu pulinhos de alegria. Depois de anos, cuidando do Mingau, Magali acumulou grande experiência para lidar com gatos difíceis e temperamentais. Se ela dava conta do Mingau, podia perfeitamente lidar com qualquer outro gato.

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- Vamos lá meus lindinhos! Todos correndo!

Os cães, amarrados pela coleira, correram pelas ruas levando Mônica que estava de patins. Eram seis no total. Dois labradores, um husky siberiano, um dálmata e dois pit bulls. Todos cães grandes, fortes e cheios de energia que seus donos tinham dificuldade em gastar.

Ela já tinha levado cães para passear antes quando precisava de um complemento para a mesada, só que daquela vez ela viu que ia precisar de um grande diferencial para atrair mais clientes. A idéia veio quando ele viu um senhor sendo arrastado pela calçada por um grande cachorro que parecia muito ativo. Dessa forma, ela decidiu divulgar seus serviços para donos de cães muito ativos, fortes e cheios de energia. Ela reunia a todos e os levava para passear de patins. Os cães corriam, se divertiam e no fim do passeio ficavam cansados e bem dóceis, como seus donos queria.

Foi difícil divulgar o serviço porque já havia outros passeadores de cães no bairro, mas ela conseguiu driblar a concorrência pegando cães difíceis, hiperativos e problemáticos, daqueles que os outros passeadores não queriam ou não conseguiam levar.

- Isso! Vamos correr! – ela incentivava aos cães, que corriam felizes e satisfeitos. Cada um valia dez reais que os clientes pagaram de bom grado porque não conseguiam mais ninguém que pudesse levar seus cães para passear e eles mesmos não tinham tempo.

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Ele levantou-se um pouco para aliviar a dor nas costas. Aquele site estava quase pronto para entregar. Que cliente difícil aquele! Cada hora o sujeito queria uma coisa diferente e nunca estava satisfeito com nada!

“É isso aí! Essa belezinha vai me render uma boa grana!”

- Cebola, a mãe falou pra você desligar o computador antes das dez!
- Poxa, eu ainda não acabei!

A menina deu de ombros e tornou.

- Problema seu! A mãe falou, você vai ter que obedecer. – ela mostrou a língua antes de sair dali correndo, deixando-o irritado tanto com as chatices da irmã quanto com as implicâncias da sua mãe. Por que justo naquele momento de extrema necessidade ela tinha resolvido controlar seu tempo e horários na frente do computador? Não dava para trabalhar daquele jeito.

Como não tinha muita escolha, ele fez o que podia e desligou o computador antes que sua mãe aparecesse para lhe dar uma bronca. Só que ele tinha um plano e pretendia colocá-lo em ação. Primeiro, ele apagou as luzes e foi para a cama como sempre fazia e aguardou um tempo até que seus pais fossem para a cama também. Ao ver que tudo estava tranqüilo e todos dormindo, ele levantou-se tentando não fazer nenhum barulho e ligou o computador novamente. Para não ficar totalmente no escuro, ele ligou a luminária e voltou a trabalhar.

“Hehehe! Eu sou mesmo um gênio!” ele pensou envaidecido com sua inteligência. Cebola também tinha se preparado para desligar tudo rapidamente e correr para a cama caso fosse necessário, assim não levantaria suspeitas de ninguém.

E assim todos trabalhavam do jeito que podiam. Isa trabalhava duro dando aulas de dança com a ajuda de Maria e Aninha tinha arranjado dois empregos. Mesmo que isso prejudicasse seus estudos, isso não tinha importância. Era preciso reunir todo o dinheiro possível.

DC tinha vendido suas baterias, bonecos raros de ação, revistas e todos os seus itens de colecionador. Embora tivesse ficado triste por desfazer dos seus tesouros, ele sabia que aquilo era por um bem maior. E para complementar a renda, ele também estava cortando grama, limpando quintais, piscinas e garagens para os vizinhos. Nimbus ganhava dinheiro fazendo shows em festinhas de aniversário. Jeremias tinha arrumado um emprego de meio período em um escritório de contabilidade como Office boy e Xaveco trabalhava em uma lanchonete. Até Toni estava fazendo alguns bicos como modelo. Com sua beleza perfeita, não foi difícil arrumar trabalho nesse ramo.

Carmen não precisou de nenhum emprego, bastava guardar a generosa mesada que recebia dos pais juntamente com o dinheiro extra que ele lhe dava para fazer compras no shopping. Apesar de não gostar nem um pouco de fazer tantos sacrifícios, o medo de morrer acabava falando mais alto.



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