2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 16
Uma luz no fim do túnel




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No capítulo anterior, ninguém conseguiu convencer seus pais e Ângelo sentiu-se desolado por ver seus amigos angustiados sem poderem fazer nada. 


Ramona estava deitada em sua cama, no seu novo quarto, abraçada ao travesseiro e acariciando o bonito anel que tinha ganhado de Nimbus no dia do seu aniversário. As garotas tinham lhe falado que a jóia custara a ele três meses de mesada e vários trabalhos e bicos extras. Aquela poderia ser a última lembrança do seu namorado.

Viviane observava a melancolia dela e não falava nada. Não havia nada a falar ou fazer. Todos estavam seguros em outra dimensão e conforme ela previra, os portais se tornaram instáveis a ponto de não serem mais capazes de levar ninguém a um destino certo. Se eles tivessem esperado só mais um dia para partirem, teria sido tarde demais.

- Eu acho que você deveria ter sido mais branda com a menina.
- Foi melhor assim. Eu não queria correr nenhum risco de perdê-la.
- Nossa filha precisa aprender a tomar as próprias decisões.
- Até lá eu terei que protegê-la. Um dia ela irá entender.
- Talvez, mas é pouco provável que te perdoe.

Ela não quis falar mais nada. Seu marido não entenderia mesmo.

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Nova reunião de emergência, só que daquela vez na casa do Cebola. Todos estavam preocupados porque ninguém ali conseguiu convencer seus pais e familiares. Mônica foi a primeira a falar.

- Eu acho que buzinei no ouvido dos meus pais por mais de meia hora e eles não acreditaram em mim. Acham que não vai acontecer nada!
- Os meus acham que eu ando lendo muito gibi do Cosmo Guerreiro e também não acreditaram em nada.

Os outros contaram as mesmas histórias. Ninguém tinha conseguido convencer seus pais.

- E olha que eu falei até sair espuma da minha boca, mas os velhos não acreditaram em nada, vê se pode? Logo eu, que sempre tenho notícias quentes e confiáveis?
- Humpt! Pois eu chorei até meus olhos caírem e ainda assim não adiantou. O máximo que eu consegui foi meu pai dizer que talvez levaria a gente para passar uma semana ou duas na Chapada dos Guimarães.

Cebola se interessou.

- Pelo menos vocês terão uma chance.
- Que nada! Você não conhece meu pai. “Talvez”, na linguagem dele, quer dizer “não”. Pode apostar que quando julho chegar, ele vai arrumar alguma desculpa para a gente não ir.
(DC) – Só que aí não vai ter mais jeito. É quando o bicho vai pegar pra valer.

Carmen nem conseguiu chorar mais. Todo seu estoque de lágrimas tinha se esgotado no dia anterior.

- No fim ele acabou me dando um cartão de credito ilimitado e falou – ela engrossou a voz - “Meu docinho, compre o shopping inteiro e deixe o papai trabalhar”. Humpt! Eu não quero comprar o shopping inteiro! Bom, até quero, mas de que adianta se tudo vai acabar e eu não terei como usar todas as roupas e sapatos que comprei?

Seus amigos balançaram a cabeça com o estranho critério que ela usava para estabelecer as prioridades. Claro, ela era a Carmen Frufru. Não dava para esperar mais dela.

Titi ficou meio enjoado daquele assunto e resolveu perguntar algo mais prático.

- E agora, Cebola? O que a gente faz?

O resto da turma ficou olhando para ele esperando por uma resposta.

- Sem nossos pais não podemos fazer nada. Se eles não querem sair daqui, nós também não poderemos ir embora e deixá-los para trás. Eu não conseguiria fazer isso.
(Aninha) – Eu também não, isso seria cruel demais!
(Quim) – Nem eu.

Os outros concordaram. Deixar os familiares para trás estava fora de cogitação. Cebola voltou a falar sentindo-se muito desanimado.

- Olha gente, acho que vamos ter que esperar mais um pouco. Talvez eles acabem vendo por si só que as coisas estão piorando.

Como não conseguia pensar em mais nada, Cebola acabou tendo que encerrar a reunião ali mesmo. Era preciso esperar mais um pouco para conseguir pensar em algo. De repente, ele ouviu Carmen falando para Denise.

- Vem, Dê. – ela disse mostrando o cartão de crédito. – É hora de afogar as mágoas lá no shopping. Se meu pai quer que eu compre tudo, então vou comprar tudo mesmo até zerar a conta dele!

Mônica deu um sorriso meia boca e falou com ironia.

- Talvez você devesse comprar equipamentos de sobrevivência também. Acho que vamos precisar disso...

Cebola ouviu um estalo dentro de si mesmo e uma luz se acendeu sobre sua cabeça.

- Carmen, peraí! Não compra nada não que eu tive uma idéia!
- É?

O resto do pessoal que estava indo embora logo voltou para trás.

- Se nossos pais não querem fazer nada, então NÓS vamos fazer.
- O que você tá pensando, Ce?
- Seguinte, primeiro a gente tem que combinar pra onde vamos. Chapada dos Guimarães ou dos Veadeiros?

Uns sugeriram o primeiro, outros o segundo e por fim a chapada dos Guimarães acabou ganhando por maioria de votos.

- É importante que a gente trabalhe junto, só assim pro plano dar certo. E pra isso vamos precisar de dinheiro também.

DC levantou uma sobrancelha.

- E onde vamos conseguir esse dinheiro? Das nossas mesadas?
- Eu tenho o cartão de crédito do papai e posso conseguir mais se for o caso. 
- Da minha parte, eu posso vender algumas das minhas invenções.
- E eu posso vender meus quadros. Sei que posso conseguir um bom dinheiro com isso.

Cada um foi sugerindo formas de conseguir o dinheiro. Uns dando a mesada, outros fazendo trabalhos extras. Magali perguntou.

- Cebola, pra que vai ser esse dinheiro?
- Para todo mundo fugir daqui com suas famílias. Deixa eu planejar isso melhor pra dar tudo certo. Vamos precisar de passagens de avião e suprimentos. Eu vou ver se estudo isso direito. Franja, acho que vou precisar da sua ajuda.
- Certo.
- Carmen, por favor... se você puder guardar esse dinheiro, é muito importante.
- Er... tá... – Carmen falou sem muita convicção e Denise retrucou, apontando para os olhos com os dois dedos e depois apontando para a amiga.
- E pra garantir, vou ficar de olho nela!
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Fazia mais de duas horas que eles tentavam traçar um plano, mas esbarravam com muitos obstáculos. Em primeiro lugar, eles precisavam arrumar um jeito de alcançarem o destino, o que por si só era muito difícil. O preço das passagens de avião, mesmo sendo classe econômica, era proibitivo.

Cebola ficou desolado ao ver o preço das passagens. Para a sua família, que teria de pagar o preço de três adultos e uma criança, o preço mínimo era de R$419,00 reais. Como ele ia conseguir todo aquele dinheiro até julho?

(Mônica) – E de ônibus? Tem uma empresa que vende passagens de ônibus para Cuiabá.

Cebola olhou os preços, fez as contas e disse balançando a cabeça.

- Fica mais caro ainda que de avião porque a gente ia ter que pagar passagem pra Mariazinha também. Ai, porcaria! Eu não tô conseguindo pensar em nada!

Franja levantou-se um pouco para esticar as pernas e falou.

- Mesmo que a gente consiga dinheiro para as passagens, o que é pouco provável, O que a gente vai fazer quando chegar lá? Vamos ficar ao relento?
(Magali) – O Franja tá certo, Cebola! Se a gente não consegue nem dinheiro pras passagens, nunca vamos conseguir um lugar pra ficar!
- Dloga, sei disso! Argh!
- Se nossos pais não fossem cabeça dura – Mônica falou – a gente poderia vender as casas e os carros. Aí daria para cada um ter sua casa lá.
(Magali) – Meus pais não vão fazer isso de jeito nenhum!
(Cascão) - Nem os meus!
(Cebola) – É por isso que nós temos que arrumar um jeito de fazer isso sem a ajuda deles.

Franja tentou trazer o careca de volta a realidade.

- Cebola, como a gente vai fazer isso se nem dinheiro nós temos? Nem com a ajuda da Carmen vamos conseguir o valor necessário!

Ele ficou pensativo por um tempo e uma idéia lhe ocorreu. Era loucura, aquilo lhe causava imensa repulsa e ele preferia qualquer coisa a fazer aquilo, mas a situação era de sobrevivência.

- Franja, e se nós... bem...

Cascão arregalou os olhos ao ver que o Cebola estava com aquela cara amalucada de plano infalível.

- O que você tá pensando aê, careca?
- Cartões de crédito, contas em banco...
- ???
- Olha, eu sei que vocês vão odiar essa idéia, mas vou falar assim mesmo. O caso é de vida ou morte e nós precisamos do dinheiro.

Não foi preciso continuar para que todos entendessem e Mônica discordou na hora.

- O que? Nem pensar! Não somos ladrões para sair roubando as pessoas!
- Mônica, a grande maioria dessas pessoas nem vai mais precisar desse dinheiro.

Magali também ficou horrorizada.

- Credo, que jeito de falar!
- É a verdade. Gente, eu também estou odiando isso, mas temos que fazer alguma coisa para sobreviver. Além do mais, não vamos pegar grandes quantias de uma pessoa só. Podemos fazer de forma a debitar quantias pequenas de cada conta ou cartão. Assim ninguém ficará prejudicado e resolve nosso problema.
- Cebola, roubar pouco ou muito dá no mesmo. – Franja falou balançando a cabeça negativamente.
- Nós vamos fazer o que então?

Mônica deu um sorriso e seu rosto se iluminou.

- O prof. Licurgo!
- Heim? Você acha que ele vai ter esse dinheiro?
- Claro que não, Ce! Mas ele pode dar alguma idéia. Afinal, é o único adulto que acredita na gente e sabe o que vai acontecer.
- É mesmo...

Eles ficaram mais aliviados. Mesmo sendo meio louco, Licurgo já tinha dado grandes mostras de lucidez e era bem provável que fosse capaz de apontar alguma direção que eles pudessem seguir. Pensando nisso, os cinco planejaram de irem a casa do louco no dia seguinte para poderem conversar melhor com ele. Finalmente uma luz no fim do túnel.


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