2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 11
A ira do astro-rei




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/279654/chapter/11

23 DE FEVEREIRO DE 2012

No capítulo anterior, a turma começou a matar  a charada de Ângelo, embora eles ainda estivessem relutantes em aceitar os fatos. Ramona descobriu o real motivo daquela viagem organizada pela sua mãe e acabou sendo presa dentro do seu quarto quando quis avisar a Nimbus sobre a tragédia iminente.

O sol emitia grandes rajadas, maiores do que qualquer coisa registrada na historia humana. A tela do computador mostrava a todos imagens vindas de um satélite que monitorava as atividades solares. Seus equipamentos registravam um aumento anormalmente grande da quantidade de neutrinos emitidos pelo sol e Franja percebeu que havia algo de diferente naquelas partículas, que pareciam dessa vez terem se tornado capazes de interagir com a matéria, coisa que não acontecia antes.

O que ele não sabia e não tinha como saber eram os efeitos daquilo na Terra. Seria mesmo algo suficiente para desencadear uma série de catástrofes? Se ele ao menos pudesse examinar o interior da terra, tudo seria mais fácil.

- Olha gente, parece que o sol tá estranho mesmo, mas eu não posso dizer quais efeitos isso está tendo na Terra.

Ainda olhando para o vídeo, Cebola perguntou

- Escuta, será que o Astronauta não pode ajudar?
- Infelizmente não. Ele, junto com o Zé Luis, está em uma missão diplomática no planeta de Usagi Mimi e só voltarão no fim do ano.
- Que pena...
- Uma pena mesmo, porque eles têm equipamentos mais avançados que permitiriam estudar melhor o que está acontecendo com a terra. De qualquer forma, esses terremotos não são normais. Olha só esse gráfico:

Franja mostrou para eles um gráfico indicando o aumento do número de terremotos pelo mundo.

- Em relação ao mesmo período do ano passado, em alguns lugares houve aumento de até 30% na incidência de tremores.
(Mônica) – E aqui no bairro? Anda aparecendo um monte de trincas nas paredes das casas de todo mundo.
(Franja) – Eu construí um sismógrafo nesse fim de semana e estou coletando os dados. Mais tarde eu ia falar mesmo com vocês.

Cebola perguntou, surpreso.

- Por que você resolveu fazer um sismógrafo?
(Cascão) – E dá pra fazer esse treco em casa? Sinistro, véi!
(Franja) – Na verdade, foi o Ângelo que me sugeriu porque... que foi, gente? – ele perguntou diante dos rostos assustados dos amigos. Mônica respondeu.
- A gente tá achando que o Ângelo quer nos contar algo.
(Franja) – Contar o quê?
(Cebola) – A gente não sabe ainda. Quer dizer, sabe mais ou menos, mas não tem nada confirmado. Ele tem deixado umas pistas com cada um da turma e a gente tá tentando juntar as peças. Olha só!

Ele mostrou para o amigo a lista de pistas deixadas pelo anjo, explicando cada uma delas. Franja ouvia em silêncio, bastante apreensivo.

- Isso é estranho... para vocês ele indicou um filme de terremoto e para mim ele falou para construir um sismógrafo?
(Cebola) – E o sismógrafo já tá funcionando?
- Está sim. Vamos dar uma olhada.

Ele levou aos amigos até o sismógrafo que tinha construído e eles ficaram fascinados com a sofisticação do aparelho, que tinha ficado muito bem construído apesar de ter sido feito em casa. Claro, dentro do laboratório do Franja tinha muitos recursos.

- Ele não é tão sensível quanto aqueles usados em universidades e centros de pesquisas, mas pro que a gente precisa vai servir.

Aquele aparelho deixou Cascão fascinado e ele quis saber como aquilo funcionava. Franja explicou.

- Ele grava o movimento do chão durante um terremoto. Se o chão treme, é registrado nesse papel aqui. Ele tá funcionando há dois dias e já tem bastante dados.
- E você já sabe dizer se tem ou não terremoto nesse bairro? – Cebola perguntou olhando os riscos feitos no papel.

Franja pegou um pedaço grande do papel que tinha sido preenchido olhou os resultados.

- Deixa eu ver... puxa... isso é estranho mesmo!
(Magali) – O que é estranho?
- Aqui diz que nas últimas quarenta e oito horas houve vários tremores acima de dois na escala Richter e até alguns acima de três!
(Magali) – E como a gente não percebeu nada?

Ele pegou uma prancheta com algumas anotações feitas antes e falou.

- Tremores entre 2 e 2.9 ninguém sente. Entre 3 e 3.9 é tipo aquela vibração que a gente sente quando um caminhão ou trem de carga passa perto. Então as pessoas acabam não percebendo também.
(Cebola) – Então foi isso que causou aquelas trincas nas nossas casas...
- Foi. Aqui no Brasil as construções não são preparadas para terremotos, então esses de pouca intensidade podem causar as trincas que a gente viu.

Magali engoliu em seco, sentindo uma coisa desagradável no estômago. Por mais que as evidencias saltassem aos olhos, ela ainda se recusava a acreditar naquilo.

- Vai ver sempre tiveram esses terremotos e a gente não notou!
(Cebola) – Então porque só agora as paredes da casa começaram a trincar?
- Er... eu não sei... vai ver depois de muitos anos e...
(Franja) – Não, Magali. Vem, vou mostrar uma coisa pra vocês:

O grupo foi até em frente a um grande monitor e Franja mostrou um mapa-múndi com várias linhas vermelhas atravessando os continentes.

- Essas áreas são o encontro das placas tectônicas. Quando duas placas se chocam ou se afastam ocorrem os terremotos.

Ao olhar bem o mapa, Cebola disse.

- Eu pesquisei que o Brasil fica em uma placa estável, então o numero de terremotos aqui é pequeno.
- Exato. No século 20, foram registrados cerca de 100 tremores no Brasil e nenhum chegou a 7. Nas últimas 48 horas, meu sismógrafo registrou, deixa eu ver... 14!
(Magali) – Não parece muito.
(Cebola) – Mas é, Magali. Isso representa mais que um décimo do total de terremotos do século 20...
– Num espaço de dois dias! – Franja completou ainda abismado com aqueles resultados.

Eles ficaram em silêncio e Magali oscilava entre o medo e a negação.

- Olha, vai ver isso não tem nada demais, sei lá! Esses terremotos são tão fraquinhos! Precisa da gente ficar com medo? – ela perguntou esfregando as mãos nervosamente. Franja respondeu.
- Aí eu não sei. Quer dizer, esses terremotos aumentaram de repente sendo que antes a gente nem percebia nada... o número de terremotos no mundo inteiro aumentou também.

Cebola acabou captando o raciocínio.

- Se antes não tinha esses terremotos aqui no bairro e agora tá tendo, então é bem capaz de ir aumentando com o tempo, não é?
- É possível. Vamos fazer assim: eu vou deixar o sismógrafo funcionando por mais uma semana pra ver o que ele pega. Assim a gente vai ter mais dados pra analisar.

O grupo concordou, ainda apreensivo com aquelas descobertas. Eles conversaram mais um pouco, analisaram as pistas coletadas e Franja assistiu algumas vezes o vídeo do blog do Licurgo. Quanto mais ele analisava aquelas evidencias, mais aquelas suspeitas sinistras se fortaleciam em sua mente. Aquilo não parecia nada bom.

__________________________________________________________


- Hum! Tá gostoso!
- Que bom! Nossa, você ficou com um bigodão de chocolate! – Carmen pegou um guardanapo para limpar a boca do seu primo, que se esbaldava com uma taça de Sunday que ela tinha comprado. Ela só tomava um copo de suco para evitar a ingestão de calorias desnecessárias.
- Carminha, nossa casa sente frio?
- Hã? Claro que não! Casas não sentem frio. 
- Então porque ela treme?

A loira deu um sobressalto.

- Nossa casa não treme, xodozinho! De onde você tirou isso?
- De noite ela tremeu, você não viu?
- Eu não! – geralmente ela dormia como uma pedra, não tinha como ter percebido nada.
- A casa tremeu de noite e eu fiquei com medo, aí pensei que ela tava com frio.

Ela deu uma risada.

- Seu bobinho! Você deve ter sonhado! Casas não tremem. Agora termine o seu sorvete que a gente vai dar uma voltinha na loja de brinquedos.
- Obaaa!

O menino terminou o sorvete rapidamente, lambeu a taça, chupou os dedos e Carmen teve que limpar seu rosto mais uma vez com o guardanapo, entre risos e piadas sobre seu bigode de chocolate. Ela estava tão distraída que não percebeu uma figura alta, sinistra e vestida de preto observando-a de longe.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!