2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 10
A loucura é de família?




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No capítulo anterior, enquanto Mônica e Cebola continuavam a reunir as pistas, Chico Bento e seu pai perceberam que algumas coisas estranhas estavam acontecendo, embora não pudessem entender a causa daquelas mudanças. Ângelo pediu a Dorinha que desse um recado seu para o resto da turma.

– Se o Ângelo me falou alguma coisa esquisita? No outro dia ele ficou falando sobre 21/12/2012, falou em solstício de inverno, que doze é vinte e um ao contrário, essas coisas.
(Cebola) - Solstício de inverno? Faz sentido. No hemisfério norte é inverno em dezembro enquanto aqui é verão.
(Mônica) – Eu acho que ele queria chamar a atenção para a data.
(Cebola) – Também acho.
(Xaveco) – É a data daquela profecia Maia que fala em fim do mundo.

Todos levaram um susto e Cebola bateu na testa com a mão num gesto irritado.

– Ai, porcaria! Por que eu não pensei nisso antes? O povo tá falando nisso aos montes e eu nem percebi!
(Magali) – O que os Maias dizem pra essa data?

Xaveco respondeu, feliz por estar sendo o centro das atenções.

– Pelo que eu pesquisei, não são só os Maias que falam dessa data. Egípcios, Celtas, Hopis, Nostradamus e diversos profetas, Chineses e Budistas, WebBots, cientistas e religiosos falam que algo extraordinário vai acontecer em 2012.
(Todos) – Éeee?
– Pois é. Na verdade, esse dia é apenas o fim do calendário dos maias e eles vêem isso como uma mudança de era, mas não falam em fim do mundo.
(Mônica) – Então por que estão falando em fim do mundo?
– Tem várias teorias sobre o que irá acontecer nessa data e muita gente acha que irão acontecer muitas catástrofes. Tem uns que até falam em invasão alienígena, desastre nuclear, vinda do messias, infestação de zumbis... tem cada coisa maluca!
(Cascão) – Então é pra isso que o Ângelo quer chamar a atenção da gente? O cara ficou doido!
(Magali) – Também acho. Além do mais, a gente não tá vendo ninguém falar nada nos jornais e nos noticiários! Se alguma coisa estivesse acontecendo, alguém já teria falado.

Eles seguiram para o laboratório de informática para assistirem ao vídeo do blog do Licurgo. Durante toda a aula, todos ficaram curiosos para saber que vídeo era aquele e assim que encontraram um computador vago, Cebola acessou o blog do Licurgo e colocou o vídeo para rodar.

No inicio o vídeo pareceu engraçado, mas em pouco tempo eles começaram a sentir o coração apertar. Eles liam as legendas enquanto acompanhavam as imagens e pairava no ar a dúvida se aquilo era ou não para ser levado ao pé da letra.

(Cascão) – Rapaz, que doideira! Só podia ser primo do Louco!
(Magali) – Isso deve ser de família.
(Cebola) – De família ou não, resta tentar juntar tudo e entender que angu de caroço é esse.

O clima tenso foi rompido quando Denise apareceu com seu jeito espalhafatoso de sempre.

– Oi, povo! Qual é o babado?
(Mônica) – Oi, Denise. E aí, você conseguiu mais alguma coisa?
– O Titi conversou com o Ângelo nesses dias.
– E?
– O Ângelo falou pra ele sobre as olimpíadas de Londres.
– ??? – agora todos ficaram realmente confusos.
– Estranho, né? Ele ficou falando que seria interessante se eles adiantassem as olimpíadas esse ano porque julho pode não ser uma boa idéia. Vai entender a cabeça dessa criatura com cérebro de passarinho!

Cebola levantou-se e ficou andando de um lado para outro coçando o queixo. Primeiro Ângelo chamou a atenção deles para a profecia maia que era prevista para acontecer em dezembro, depois falou sobre um evento em julho? O que ele queria dizer?

(Xaveco) – Será que ele quer ir ver as olimpíadas?
(Cebola) – Isso não faz sentido.

O rosto da Mônica empalideceu e ela cruzou os braços num gesto de auto proteção. Seu namorado percebeu na hora.

– Que foi, Mô?
– Sei lá, um pensamento que me ocorreu...
– Pode falar, linda!
– O Ângelo andou falando pra Cascuda que a melhor época pra viajar seria antes de julho, não falou?

Ele acabou matando a charada.

– Peraí, então quer dizer que aquilo que estava previsto para dezembro irá acontecer em julho?
– É o que eu tô pensando... – ela sussurrou olhando para o chão e ainda sentindo aquela coisa ruim em seu peito.

Todos ficaram em silêncio e Denise olhava o celular a procura de alguma mensagem mais interessante do que aquele papo maluco. Cebola pensou um pouco e viu que aquilo fazia sentido.

– E o que vai acontecer em julho? – Cascão perguntou quebrando o silêncio. - Você não tá acreditando nessa doideira aí, tá? Fala sério!

Mônica partiu em defesa do namorado.

– E como você explica todas aquelas trincas que estão aparecendo na casa de todo mundo? Um terremoto pode causar isso, não pode?
– Eu não senti terremoto nenhum! – Magali falou recusando a acreditar naquela loucura.
– Nem eu! – os outros concordaram.
(Cebola) – Nem todos os terremotos podem ser percebidos. Alguns são de pouca intensidade e a gente nem sente, mas podem afetar as construções.
(Xaveco) – E você acha que são mesmo terremotos?
(Cebola) – O que mais seria? Esse tipo de coisa nunca aconteceu no nosso bairro.
(Denise) – Falando em terremoto... parece que está rolando muita tremedeira em outros países. A Cacá falou que um vulcão lá na Itália tá soltando um monte de cinzas e parece que vai entrar em erupção. Foi por isso que os tios dela vieram pra cá.
(Cebola) – Eu também já reparei que as notícias de terremotos vem aumentando...

Mesmo com tantas coisas apontando naquela direção, eles custavam a acreditar que era mesmo aquilo que Ângelo queria lhes dizer. Havia uma grande vontade de saber a verdade e ao mesmo tempo receio de descobri-la. Mônica se lembrou de algo e teve uma idéia.

(Mônica) - Aqui, e sobre aquilo que a Carmen disse sobre ter cuidado com o sol?
(Denise) – Foi o Ângelo quem falou aquilo pra ela? Eu heim! Agora ela só anda pra cima e pra baixo com a cara branca de tanto passar protetor solar!
– Cebola, você sabe se o Franja não teria alguma condição de estudar o sol ou de pegar informações?
– É mesmo! O vídeo fala que o sol está emitindo grande quantidade de neutrinos (os tais bichinhos da Carmen) que irão deixar o centro da terra mais quente. O laboratório do Franja tem muito equipamento, de repente ele deve ser capaz de conseguir alguma coisa para nós! Tá aí um jeito de a gente tirar a prova.
(Cascão) – Ainda acho isso uma doideira. Se o sol estivesse mesmo emitindo essas paradinhas que derretem o núcleo da terra, muita gente já teria notado e colocado a boca no trombone!
– Seus bobos. Acham mesmo que tudo é assim tão simples?
(Cascão) – Louco?
– E eu não sou louco! Vocês viram o vídeo do meu primo, não é?

Todos concordaram com a cabeça.

– Eu acreditaria se fosse vocês. Algo muito grande vai acontecer nesse ano e vocês precisam se preparar.
(Cebola) – De onde seu primo tirou essas idéias?
– Ele estuda muito, pesquisa e sempre consegue boas informações.
(Denise) – Esse é dos meus!
– Ele me disse que o professor Meyers, que comandava o programa do ônibus espacial Atlantis, está sabendo de tudo e prometeu mandar para ele um mapa. Ele fala que o governo americano está organizando alguma coisa junto com os demais governos do G8.
(Cebola) – E você? Acredita mesmo que tudo isso irá acontecer de verdade?
– Acredito. E seu eu fosse vocês, acreditaria também.
– Então por que você não deu um jeito de fugir ou procurar um lugar seguro? – Cascão perguntou ainda desconfiado.
– Ainda tenho muito o que fazer aqui. Quero avisar as pessoas e salvar o máximo que eu puder.

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Suas malas estavam prontas com roupas, livros e outros itens essenciais. Engraçado... por que sua mãe queria que ela levasse tanta coisa? Ao ver a bagagem que ela tinha feito inicialmente, Viviane mandou que ela arrumasse TODAS as suas coisas, inclusive objetos mágicos, fotos e lembranças de família, presentes que tinha ganho... não era para deixar nada.

A própria bruxa estava fazendo uma bagagem monumental, como se quisesse levar a casa inteira. Quando questionava sua mãe, ela sempre recebia as mesmas respostas.

– Não faça perguntas. Arrume todas as suas coisas e tome cuidado para não deixar nada de importante para trás!
– E quando eu vou poder ver o Nimbus?
– Ainda não sei. Não quero que fique andando por aí.
– Então deixa ele vir até aqui.
– Verei isso depois. Primeiro termine de arrumar tudo!
– Ainda tenho que cuidar das flores.
– Deixe essas malditas flores pra lá! – a mulher falou rispidamente. – Trate de arrumar suas coisas primeiro. Irei conferir depois.

Ela caminhava pelos corredores da casa em direção ao laboratório de bruxarias da mãe. Normalmente ela não era proibida de entrar ali, muito pelo contrário. Viviane sempre a convidava a freqüentar o local para conhecer suas poções e feitiços. Daquela vez, no entanto, ela estava disposta a descobrir o que estava acontecendo e para isso era preciso tomar todo cuidado para que sua mãe não a pegasse desprevenida.

O local estava praticamente vazio. Antes, aquele laboratório vivia repleto de caldeirões, livros, vassouras, velas, várias estantes repletas com potes cheios de ervas, olhos de salamandra, gosma de sapo, escamas de dragões e outros materiais que sua mãe usava em suas poções. Por todos os lados, havia incenso, alguns athames e bollines. Também havia cristais de vários tipos e cores, alguns sinos e pentáculos. Com a viagem, Viviane tinha embalado os itens mais importantes deixando para trás apenas coisas velhas, quebradas ou de pouca utilidade.

Em cima de uma mesa havia vários pergaminhos que a bruxa ainda não tinha guardado. Ela pegou um deles, que estava debaixo de uma drusa e começou a ler rapidamente. Estava em uma linguagem mística que ela entendia muito bem.

“Então era isso? Céus, que horror!” Ramona foi lendo outros pergaminhos e ao ver instrumentos de adivinhação como runas e cartas, ela viu que sua mãe tinha consultado vários tipos de oráculos também. “Ela sabe que isso vai acontecer de verdade e quer tirar a gente daqui.”

Aquilo ela entendia. O que ela não conseguia entender e nem aceitar era sua mãe ter lhe escondido algo tão grave. “Aposto que ela não quer que eu avise a ninguém, só pode! Ah, não... eu tenho que avisar pro Nimbus!”

A moça largou tudo e correu em direção a porta, parando repentinamente ao se deparar com sua mãe parada no meio do caminho, com as mãos na cintura e os olhos faiscando de raiva.

– Então você andou xeretando onde não devia, heim?
– Mãe, como a senhora pode ter escondido isso de mim?
– É para o seu próprio bem.
– Eu preciso avisar ao Nimbus!
– Não, você não precisa. Toda a magia está se desestabilizando e eu não quero você andando sozinha por aí. É arriscado.
– Então deixa ele vir pra cá! Assim eu falo com ele! Por favor, mãe!
– Nada disso. Eu não quero que mais ninguém saiba disso, ouviu?
– Ele é meu namorado!
– Depois você arruma outro.
– O que? Eu não quero outro namorado!
– Não interessa. Vá agora para o seu quarto e só saia de lá quando eu chamar.

O rosto dela ficou vermelho de raiva e ela gritou a plenos pulmões.

– Eu não vou pra lugar nenhum! O Nimbus tem que ser avisado e eu vou até ele agora!

Ela tentou passar por Viviane e foi detida pela bruxa que segurou seu braço com força.

– Você não vai a lugar nenhum, mocinha!
– Mãe, me solta! Eu posso abrir um portal e...
– Você enlouqueceu? Eu falei que a magia está desestabilizada! Se você abrir um portal, poderá parar em lugares inimagináveis! Foi até bom você falar nisso!

Um raio saiu da mão dela ,cobrindo o corpo da filha. Ramona sentiu descargas elétricas no seu corpo e a sensação de algo dentro dela estar sendo bloqueado.

– Mãe, o que a senhora fez?
– Eu bloqueei sua magia. Agora você não poderá ir a lugar nenhum.

Não adiantou chorar, implorar ou ameaçar. Viviane foi arrastando a filha até o quarto dela e a trancou ali, tirando quaisquer meios que a moça pudesse usar para entrar em contato com o namorado.

– Por favor, mãe!
– Nada disso. Você ficará aí até chegar a hora de irmos embora.

Ela trancou a porta e procurou ignorar as batidas e os gritos desesperados da filha. Seu coração doía um pouco ao vê-la naquele estado, mas ela não queria correr nenhum risco.

– Você não acha que está sendo severa demais com a moça? O que tem de mais em avisar ao namorado?
– Tem muita coisa. Eu não quero que ela ande por aí com a magia instável desse jeito. É perigoso. Além do mais, existe o risco de ela cismar de ficar aqui com ele e eu não vou deixar isso acontecer de jeito nenhum!
– Não podemos levá-lo?
– Ficou louco? Claro que não! E mesmo que eu quisesse, ele deve ter família e eu não quero sair levando um monte de mortais junto comigo. Não, Boris. Assim é melhor. Um dia ela irá me agradecer. Quanto a você, fique de olho nela para que eu não tenha surpresas.
– Você é quem sabe...


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